Desde que eu comprei meu primeiro aparelho de som, com o dinheiro do primeiro emprego, eu ouvia som alto. Adorava me trancar no meu quarto e ouvir o som dos preferidos discos de rock a todo volume. Para desespero de meus pais que viviam na mesma casa, eu era um jovem de 20 anos de idade, no começo dos anos noventa, que gostava de música barulhenta, deixando estourar as caixas de som escutando os discos de bandas de hard rock ou heavy metal como Metallica, Iron Maiden e, principalmente, AC/DC.
Passados vinte e cinco anos, eis que sou surpreendido com a notícia divulgada nos meios de comunicação que o AC/DC cancelou parte dos shows de sua turnê de 2016, por conta da perda de audição do seu vocalista, o cantor Brian Johnson. Segundo os médicos, se Brian continuasse a se apresentar ininterruptamente com sua banda em apresentações pelo mundo afora, a tendência é de que ele ficasse completamente surdo até o final do ano. Quem é fã de rock de verdade, e acompanhou grandes grupos de antigamente, desde o comecinho dos anos oitenta e final dos setenta do século passado, naturalmente associava a famosa banda australiana não só com seu carismático guitarrista, Angus Young, mas também com seu vocalista, com seu indefectível boné de caminhoneiro. Pois é, quem soube que o cara estava ficando surdo, não deixou de ficar triste e chocado. Brian passou os últimos 36 anos de sua extensa e barulhenta vida cantando com o AC/DC e vê-lo fora dos palcos é realmente lamentável.
A história de Brian Jonhson, sua dedicação ao rock'n roll e a forma como está perdendo a audição, não deixa de se identificar com a minha. Há mais ou menos um ano, quase dois meses antes de nascer o meu filho, fui diagnosticado com perda auditiva. O sintoma que em mim decorreu afeta diariamente muitas pessoas que trabalham com som alto (principalmente músicos), e é chamado na medicina de tinnitus. Trata-se de um zumbido característico, com sons diversificados, dependendo de cada um que tenha o problema, que só a pessoa consegue escutar. Pode vir sob diversas formas, sob a forma de um chiado como uma panela de pressão ou um antigo televisor fora de sintonia, ou mesmo se assemelhar a um tambor ou canto de uma cigarra. Isso se deve pelo fato de que uma parte das células auditivas já não responde mais ao estímulo externo, e para compensar o ouvido fabrica sons próprios para suprir o espaço vazio deixado por alguns sons que não são mais percebidos no ambiente, fazendo com que o cérebro leia isso como um zumbido.
Em casos avançados, com a falta do tratamento devido e com o passar dos anos, o zumbido pode tomar o lugar da audição por completo, até o indivíduo ficar totalmente surdo. Um dos casos mais célebres, é do guitarrista Pete Towshend, da icônica banda de rock, The Who. Segundo Towshend, ele sofria do problema desde os trinta anos, mas só foi ligar pra valer nos anos mais recentes, quando viu que sua saúde auditiva estava realmente prejudicada, chegando ao ponto de ele só ensaiar os sons de sua guitarra, se estiver bem próximo do amplificador. Recentemente, o ex-guitarrista do Oasis e atual líder do Hying Flying Birds, o britânico Noel Gallagher, também declarou a imprensa que padece do mesmo problema. No meu caso, os primeiros meses foram dramáticos, e tive que me acostumar com uma nova medicação para aliviar algo que permanecerá no meu ouvido até o final de minha vida, além de ter de usar esporadicamente aparelho para surdez. É chato, mas nunca tão terrível como perder a audição definitivamente, como se deu com compositores da estirpe de Ludwig Beethoven; mas é suficientemente desagradável para você poder rever o tempo que passou estragando sua audição, maltratando seus ouvidos, ouvindo som no volume máximo, seja dentro de casa, usando um fone de ouvido, escutando música dentro do carro, ao lado de potentes caixas de som durante shows de rock, ou até mesmo frequentando diariamente uma barulhenta sala de aula.
Brian Johson já está com 68 anos e, praticamente demitido do AC/DC, não se sabe se ele buscará a justa aposentadoria ou ainda se envolverá em outras aventuras sonoras, cantando altos rocks com seu falsete inesquecível. Sei que sentirei falta de um cantor como ele nos palcos, mas sentiria muito mais a falta de qualquer coisa se eu não pudesse simplesmente mais escutar. Que minha mensagem sirva de alento para quem sofre do mesmo problema, mas que lhe traga também esperança e tranquilidade, pois, ao me tornar "amigo do silêncio", convivendo relaxadamente com minha perda auditiva, fui me descobrindo uma pessoa melhor, chegando a ignorar por completo alguns ruídos estranhos que aparecem de vez em quando no meu ouvido, principalmente porque reaprendi a escutar. Isso mesmo, pra quem gosta de som alto, e não perde de jeito nenhum assistir a um show do Metallica, do Ozzy ou do Ramstein no mais alto e bom som, não custa nada levar um protetor auricular, caso você não queira realmente se afastar do palco, pra proteger os ouvidos. Trata-se de uma autêntica reeducação sonora. Agora, pensando melhor, creio que custa, sim, muito caro, ir para um show desses com as orelhas desprotegidas ou escutar som no seu fone, sem adotar as devidas precauções. Trata-se do custo de sua audição ficar definitivamente comprometida, como agora comprometeu tristemente nosso querido Brian Johnson. Que isso sirva de lição, a todos nós, e que o som não deixe de rolar nas caixas por conta disso! Boa sorte, Brian!!
A história de Brian Jonhson, sua dedicação ao rock'n roll e a forma como está perdendo a audição, não deixa de se identificar com a minha. Há mais ou menos um ano, quase dois meses antes de nascer o meu filho, fui diagnosticado com perda auditiva. O sintoma que em mim decorreu afeta diariamente muitas pessoas que trabalham com som alto (principalmente músicos), e é chamado na medicina de tinnitus. Trata-se de um zumbido característico, com sons diversificados, dependendo de cada um que tenha o problema, que só a pessoa consegue escutar. Pode vir sob diversas formas, sob a forma de um chiado como uma panela de pressão ou um antigo televisor fora de sintonia, ou mesmo se assemelhar a um tambor ou canto de uma cigarra. Isso se deve pelo fato de que uma parte das células auditivas já não responde mais ao estímulo externo, e para compensar o ouvido fabrica sons próprios para suprir o espaço vazio deixado por alguns sons que não são mais percebidos no ambiente, fazendo com que o cérebro leia isso como um zumbido.
Em casos avançados, com a falta do tratamento devido e com o passar dos anos, o zumbido pode tomar o lugar da audição por completo, até o indivíduo ficar totalmente surdo. Um dos casos mais célebres, é do guitarrista Pete Towshend, da icônica banda de rock, The Who. Segundo Towshend, ele sofria do problema desde os trinta anos, mas só foi ligar pra valer nos anos mais recentes, quando viu que sua saúde auditiva estava realmente prejudicada, chegando ao ponto de ele só ensaiar os sons de sua guitarra, se estiver bem próximo do amplificador. Recentemente, o ex-guitarrista do Oasis e atual líder do Hying Flying Birds, o britânico Noel Gallagher, também declarou a imprensa que padece do mesmo problema. No meu caso, os primeiros meses foram dramáticos, e tive que me acostumar com uma nova medicação para aliviar algo que permanecerá no meu ouvido até o final de minha vida, além de ter de usar esporadicamente aparelho para surdez. É chato, mas nunca tão terrível como perder a audição definitivamente, como se deu com compositores da estirpe de Ludwig Beethoven; mas é suficientemente desagradável para você poder rever o tempo que passou estragando sua audição, maltratando seus ouvidos, ouvindo som no volume máximo, seja dentro de casa, usando um fone de ouvido, escutando música dentro do carro, ao lado de potentes caixas de som durante shows de rock, ou até mesmo frequentando diariamente uma barulhenta sala de aula.
Brian Johson já está com 68 anos e, praticamente demitido do AC/DC, não se sabe se ele buscará a justa aposentadoria ou ainda se envolverá em outras aventuras sonoras, cantando altos rocks com seu falsete inesquecível. Sei que sentirei falta de um cantor como ele nos palcos, mas sentiria muito mais a falta de qualquer coisa se eu não pudesse simplesmente mais escutar. Que minha mensagem sirva de alento para quem sofre do mesmo problema, mas que lhe traga também esperança e tranquilidade, pois, ao me tornar "amigo do silêncio", convivendo relaxadamente com minha perda auditiva, fui me descobrindo uma pessoa melhor, chegando a ignorar por completo alguns ruídos estranhos que aparecem de vez em quando no meu ouvido, principalmente porque reaprendi a escutar. Isso mesmo, pra quem gosta de som alto, e não perde de jeito nenhum assistir a um show do Metallica, do Ozzy ou do Ramstein no mais alto e bom som, não custa nada levar um protetor auricular, caso você não queira realmente se afastar do palco, pra proteger os ouvidos. Trata-se de uma autêntica reeducação sonora. Agora, pensando melhor, creio que custa, sim, muito caro, ir para um show desses com as orelhas desprotegidas ou escutar som no seu fone, sem adotar as devidas precauções. Trata-se do custo de sua audição ficar definitivamente comprometida, como agora comprometeu tristemente nosso querido Brian Johnson. Que isso sirva de lição, a todos nós, e que o som não deixe de rolar nas caixas por conta disso! Boa sorte, Brian!!