quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

COMPORTAMENTO: O triste destino das estrelas pornôs

Pornografia sempre existiu, desde o começo dos tempos. Durante séculos, ao lado dos preceitos morais contra a nudez e a prática sexual, vemos menção a pessoas que se despem em situações moralmente constrangedoras, que poderiam gerar todo tipo de interpretação. Há até uma passagem na Bíblia, no Antigo Testamento, em Gênesis, onde Noé repreende seus filhos, após ter se embriagado no acampamento, após o dilúvio, e ter dormido pelado em sua tenda;numa passagem que poderia fazer corar muita gente de vergonha, pois, por muitos séculos, a própria nudez era considerada pornográfica. Assim, na literatura, nos escritos marginais, nos muros da cidade antiga, ou na alcova dos aristocratas que liam as obras do Marquês de Sade durante o Renascimento, a pornografia se desenvolveu. Com o surgimento das artes visuais e a invenção do cinema, não demorou para que corpos desnudos também surgissem na tela grande, além do surgimetno das histórias em quadrinhos (no Brasil, chamados de "catecismos", dentre os quais os mais famosos eram do cartunista Carlos Zéfiro) e do cinema pornô que se consolidou na década de 70 do século passado, e que foi retratado no ótimo filme Boogie Nights, do diretor norte-americano Paul Anderson, com o ator Mark Walbergh interpretando um icônico ator pornô do período (uma homenagem ao finado ator pornô, John Holmes). Nos anos oitenta chegou a era do videocassete e com eles as fitas em VHS que popularizam uma indústria extremamente lucrativa que gerou as suas lendas, entre astros, atrizes e diretores. Uma nova meca do entretenimento sexual surgia com base na cultura da sacanagem. Depois, na década de noventa chegou o DVD, e nos anos dois mil a internet consolidou a pornografia de forma maciça, sendo impossivel encontrar hoje, um mísero computador que, mesmo a despeito de seu dono, já não tenho acessado conteúdo erótico, nem que seja por mera curiosidade. Mas o que aconteceu com as pessoas que viveram dessa indústria?

Recentemente, navegando no Youtube, por curiosidade abri um vídeo, com tom musical dramático, rendendo uma homenagem às antigas estrelas dos filmes pornográficos, famosas ou nem tanto, que já partiram daqui pro andar de cima. Fiquei impressionado com a quantidade de mais de cinquenta pessoas, homens e mulheres que alguma vez na vida atuaram nesses filmes, e o destino trágico que tiveram. Em sua maioria, os homens, principalmente aqueles que atuavam em filmes pornôs gays, da década de oitenta, morreram de AIDS, ou foram encontrados mortos, violentamente assassinados (a tiros ou facadas). Já no caso das mulheres eram comuns os suicídios, ou as mortes acidentais por overdose de drogas ou mediamentos. Recordei-me de uma famosa atriz pornô do começo da década de noventa, Savannah (na verdade, Shannon Wilsey era seu nome de batismo), uma linda moça loira, de seios fartos e sensualidade estonteante, que com seu rosto angelical, fez o prazer de muitos garotos adolescentes, que viam escondido dos pais fitas de vídeo pornográficas, que mostravam estrelas daquela época, como as hoje cinquentonas Ashlyn Gere, Angela Summers e Jeana Fine. 
Savannah foi uma das das que morreram, contaminadas pela fama.

Um documentário sobre a vida de Savannah pode ser visto no History Channel, e nele vemos o quanto existem bases sociólogicas que explicam a opção de algumas pessoas de, exercerem um tipo de prostituição visual, ao despirem seus corpos e transarem com outras pessoas na frente das câmeras. Savannah (que, naturalmente, como toda atriz pornô, usava nome falso), fazia parte de um contingente de jovens rapazes e garotas bonitas, oriundos de famílias pobres ou interioranas, que, no caso do Brasil vinham das regiões sul e sudeste, e no restante do mundo, principalmente no hemisfério norte, vieram do interior dos Estados Unidos ou do Leste Europeu. Eram jovens que tentavam vencer na vida pela aparência, e numa sociedade urbana e industrializada, escolhiam o mercado do sexo como uma opção para se tornarem, ao seu modo, "estrelas de cinema". Savannah matou-se após entrar numa espiral perigosa de sexo, muito dinheiro ganho com filmes e prêmios, muitas drogas (seu vício em cocaína era célebre), álcool e, sobretudo, o gosto pela velocidade. Foi num acidente de carro que Savannah encontrou seu fim, escapando de um terrivel desastre automobilístico, mas ficando com seu rosto seriamente deformado. Sem conseguir suportar ver-se no espelho, com seu rosto outrora angelical e lindo, agora desfigurado, Savannah acabou por dar um tiro na própria cabeça, encerrando uma triste história que, estatisticamente, acontece há muitas das pessoas que vivem nesse meio. Com exceção de atrizes veteranas, que conseguiram superar o vício e constituíram família como Jeana Fine (uma das poucas de origem abastada, que afirmou que fazia filmes pornográficos não pela grana, mas porque gostava muito de sexo), a grande parte dos homens e mulheres que entraram no esquema dos filmes adultos acabou por encontrar um triste fim, quando não saíram dessa indústria cedo.

John Holmes morreu de AIDS em 1988.
Alguns diretores de cinema entendem a pornografia como uma forma de arte. O finado Bob Guscione, dono da revista Penthouse, foi um dos que, obcecado por arte, apesar de afundado até o pescoço na indústria pornogràfica, financiou do próprio bolso e arcou com o prejuízo da realização de um filme de época: Calígula, com o celebrado ator Malcom MacDowall (então, famoso por sua atuação elogiada no famoso filme de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica). Diretores italianos como Tinto Brás, achavam mais do que normal explorar a nudez e a sexualidade de seus personagens, em filmes dotados de altas cargas de erotismo, com personagens fazendo sexo abertamente diante das câmeras, em cenas de nu frontal, por entender que fazia parte do contexto e daquele peculiar estílo de arte, fazer aparecer corpos, peitos e bundas, ou o falo avantajado de alguns de seus ragazzi, como forma de exprimir uma mensagem artística.

Marilyn Chambers:encontrada morta em casa.
O problema é que o cinema pornô funciona como o futebol: começa-se cedo na carreira e também se pendura as chuteiras cedo; mais precisamente por volta dos trinta anos, e por mais que tenha vários jogadores sonhando com o estrelato, são poucos os que conseguem se estabelecer no ramo, e se tornar autênticos astros e estrelas, bem resolvidos com sua prosperidade econômica, sem cair num mundo de depravação e drogas. Uma das poucas jovens (e lindas) atrizes pornôs norte-americanas que fez sucesso dentre a nova geração foi Sasha Grey. Com sua beleza exótica, misto da ascendência armênia e grega, misturada com antepassados indígenas, fez com que a menina de vinte e dois anos se tornasse uma das artistas mais cultuadas fora do universo das celebridades pornôs (feito só realizado timidamente por Traci Lords, há mais de vinte anos), contracenando no filme Confissões de uma Garota de Programa, filmado pelo oscarizado diretor, Steven Soddenberg. Bonita, bem articulada, e, sobretudo, intelectualizada (leitora de Rimbaud e apreciadora dos filmes de Godart), a jovem e sexy atriz norte-americana, que já foi matéria da badalada revista de música e cultura Rolling Stone, consegue ser bem eclética, frequentando, com desenvoltura, festivais de cinema, assim como transa com vários homens e mulheres ao mesmo tempo em seus filmes eróticos, dando altos gemidos, com a maior tranquilidade do mundo. Entretanto, o sucesso  e o desembaraço de atrizes como Grey é raro no ambiente pornô.

Linda Lovelace foi símbólo de uma época
Um forte exemplo de ex-artistas do ramo do sexo explícito que sairam das telas e tornaram-se famosos por sua história de degradação e redenção, mas que acabaram por cair no buraco, foi o caso de Linda Lovelace, atriz de filmes pornô da década de setenta, como o filme clássico que, hoje, tornou-se cult e até objeto de teses acadêmicas: Garganta Profunda, e a que transformou em verdadeiro símbolo pop. Nos anos oitenta, Linda acabou lançando um livro, onde revelava ter sido explorada sexualmente pelo ex-marido que a ameaçava de morte, caso não fizesse os filmes, tornando-se uma das mais severas ativistas contra a indústria pornográfica, até a sua morte, em 2002, por complicações na aplicação de silicone nos seios, no tempo de estrela pornô, e outros sérios problemas de saúde. Já sua colega de filmes dessa época, Marilyn Chambers, é outro caso clássico de ex-estrela pornô que encontrou um triste fim. Chambers ficou famosa em 1972, ao realizar o primeiro filme de sexo explícito com história e conteúdo dramático: Atrás da Porta Verde. Depois disso, ela até tentou se lançar na política, sem sucesso, vivendo sues últimos anos com dificuldade. Em 2009, ela foi encontrada morta em casa por sua filha, aos 56 anos, por causas desconhecidas. Ela tentou se firmar no cinema convencional durante um tempo, mas não deu certo, terminando a vida endividada, fazendo apenas pequenos comerciais.

No Brasil, temos o exemplo de atores e atrizes, que já ficaram famosos trabalhando em novelas, mas, que no final da carreira, acabaram fazendo filmes pornográficos. Foi o caso de Leila Lopes, revelada nas novelas da rede Globo nos anos noventa, mas, que, aos cinquenta anos, preferiu fazer filmes pornôs, até encontrar seu fim, após se suicidar em seu apartamento com o consumo de veneno para ratos, deixando apenas uma carta de despedida para a família. Leila revelou o triste caso de artistas que apenas aprofundaram sua decadência, enveredando pela obscura indústria do sexo explícito.

Sasha Grey foi um dos raros casos de quem sobreviveu.
Acredito que as pessoas são livres em suas opões, principalmente no que tange as suas opções íntimas, e  lhes é lícito ingressar nos caminhos que escolheram para desenvolver sua sexualidade, seja ela paga ou não. Sou um crítico do sexo pago, mas nem por isso recrimino quem, constitucionalmente, tem o direito de fazer ou deixar de fazer algo se a lei não proibir. Entretanto, no caso da prostituição ou dos filmes pornográficos, acredito que exista um enorme contingente de rapazes e meninas, alguns ingênuos, outros não, que continuamente são seduzidos a ingressar nessa suposta forma de "arte", apenas como pretexto para serem explorados sexualmente. Entendo que, assim como nas demais opções do mundo capitalista, a pornografia só segue a lógica mesquinha do mercado, no esquema capitalista do lucro a qualquer preço, e nesse processo algumas pessoas são moídas numa máquina trituradora de almas, chamada indústria. Nesse sentido, vejo que o lado negro da realização desses filmes para quem os conhece, não confere mais prazer algum a quem os assiste, mas sim, ao contrário, pode produzir até uma certa indignação. Cabe a cada um saber onde está pisando! No caso de muitos homens e mulheres que pisaram neste terreno arenoso, acredito que pisaram num campo minado. Uma fileira de atestados de óbito está aí para comprovar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ODE A NIEMEYER: O brasileiro que tornou a arquitetura Pop



104 anos de vida e a história do Brasil construída pelas maõs.

104 anos. Fez 104 anos que um século de história do Brasil foi carregado por um único homem. Este homem era Oscar Niemeyer. Arquiteto de formação, artista por vocação. Se foi da vontade de Deus a construção de Brasília, a materialização dessa vontade se deu pelas mãos de um comunista militante e ateu convicto. Com a morte de Niemeyer, ocorrida na última quarta-feira, dia 05 de dezembro, segundo o que conversei com meu amigo arquiteto Luciano, professor da UFRN,  com a morte de Niemeyer vê-se o fim de um século de modernismo na arquitetura. Vamos ver o que vai rolar de novo a partir de agora, e o que de contemporâneo e inovador pode surgir nos dias de hoje. 

Durante um século a obra de Niemeyer foi referência no mundo inteiro, sendo ele responsável pelo desenho da sede das Nações Unidas, sediada em Nova York, nos Estados Unidos, ou de obras espalhadas pelo mundo, como na Espanha, Venezuela, França, Itália e Argélia. Niemeyer criou muito durante todos esses anos, e mesmo após completar cem anos de idade, não perdia a vitalidade e continuava encaminhando os seus projetos. Entretanto, sua realização mais incomparável foi, sem dúvida, a construção de Brasília.

Prédio do Congresso Nacional:Niemeyer tornou Brasília cult.
Brasília talvez seja a única capital de um país do mundo totalmente planejada, e submetida ao projeto arquitetônico de um só homem. Na verdade, contando com a parceria do urbanista Lúcio Costa, Oscar Niemeyer projetou Brasília em todos os seus contornos de uma metrópole futurista, com seus desenhos suaves em curvas e arcos, como que saindo de um filme de ficção científica. São suas as arcadas do Palácio da Alvorada, a sede do Congresso Nacional e a famosa Praça dos Três Poderes. O gênio da arquitetura brasileira era um seguidor fiel das escolas modernas de arquitetura, em especial da escola francesa, capitaneada por Le Corbusier. Assim como tinha um apego aos seus referencias teóricos na arquitetura, Niemeyer tinha uma paixão pela sua área diretamente proporcional a sua militância de esquerda. Na juventude, Niemeyer conheceu o célebre líder comunista, Luiz Carlos Prestes, na década de 40, e encantado com o antigo “Cavaleiro da Esperança”, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, donde nunca retirou a filiação. Até o final da vida, ele tecia severas críticas ao sistema capitalista e suas desigualdades sociais; não obstante, paradoxalmente, ter recebido tanto dinheiro e homenagens de governos onde imperava o capital que ele tanto insistia em denunciar. Por conta de suas obras, encomendas nos mais diversos países e nações, Niemeyer tornou-se um mito.

A catedral de Brasília, nos traços do velho Niemeyer.
Mas foi no Brasil, em sua própria pátria, que Niemeyer mais produziu. É possível encontrar em todo o território nacional, ao menos em alguma capital ou localidade, prédios e monumentos desenhados por ele, ou que receberam a sua colaboração. Foi assim no Sambódromo, na cidade do Rio de Janeiro, e no começo de Niterói, no Museu de Arte Contemporânea, em plena orla fluminense. Também são obras suas a Cidade Administrativa em Minas Gerais, a Catedral de Brasília e o Memorial da América Latina, em São Paulo. Até mesmo em pequenas capitais do Nordeste, como Natal/RN, é possível ver os traços de Niemeyer, no Parque da Cidade, num obra tristemente mal investida por parte do poder público local. Por todos esses lugares é possível até para os mais jovens, de tenra idade, reconhecer os traços famosos do arquiteto que deixa a notoriedade em vida para se tornar uma lenda, com sua morte. 

Niemeyer não esteve a salvo de críticas. Considerado excessivamente idealista por uns, que caçoavam de sua ideologia política e individualista por outros, que reclamavam de seus traços arquitetônicos, Niemeyer conseguiu, ao menos, ser um artista completo, reconhecido por seus admiradores e detratores como um dos profissionais mais influentes do século que já passou. Apesar da delicadeza das formas, as edificações desenhadas por Niemeyer requeriam muitas vezes uma estrutura pesada, complexa para muitos engenheiros e que cobrava um salgado investimento financeiro. Ele também foi criticado por investir muito mais em construções majestosas que funcionavam mais como esculturas, do que propriamente em locais habitáveis. De qualquer forma, o que é certo é que, após sua morte, poucos virão como ele, mas de grandes gênios a humanidade nunca pôde se inflacionar, não é mesmo?!
Museu de Arte de Niterói.Fotografado por mim em nov 2012.
É possível não somente nas universidades, nas faculdades de arquitetura, mas também nas escolas de arte, nos colégios e até mesmo no ensino básico, observar nas aulas de história algumas figuras desenhadas pelo célebre arquiteto, que nunca vão nos deixar esquecer de seu legado. Niemeyer era tão consagrado que, não obstante sua ideologia, nem mesmo os militares, em plena ditadura, conseguiram calá-lo. Na verdade, segundo relatos de seus amigos que vem à tona após sua morte, o governo militar tinha medo de Niemeyer, temendo a repercussão negativa no mundo inteiro, até no seu principal parceiro na época, os Estados Unidos, acerca da prisão do artista conhecido mundialmente. Se um homem de tal envergadura e prestígio era tão intocável, porque então Niemeyer não peitaria os militares? A mesma Brasília tomada por tanques, com o golpe de 64, foi a Brasília a comemorar a redemocratização, e com a multidão em festa, pedindo Diretas Já para Presidente, em 1984, ou na posse do primeiro presidente de origem operária, em 2003, lá estava Niemeyer, acompanhado de um séquito de amigos e fãs tão famosos quanto ele, como o cantor e compositor Chico Buarque, que lhe rendeu uma singela homenagem no dia de sua morte. Niemeyer era uma unanimidade, no que tange a sua contribuição para o Brasil.

A homenagem em formato de cartoon, do cartunista Galvão.
Talvez o que mais eu considere de interessante na obra de Niemeyer foi ele ter tirado a arquitetura do gueto acadêmico, tirando-lhe o ar de mero exercício da técnica ou ciência da construção, garantindo-lhe um status de arte. Com as peças e monumentos desenhados por ele, podemos hoje vislumbrar de longe esses prédios como verdadeiro deleito estético da pujança de largas construções que, desafiando a gravidade e as leis da matemática, conseguem se manter firmes, imunes ao tempo e destinadas a se eternizar durante anos, enquanto se preservar a memória da história de uma nação. Não só pelo futebol, mas pela arte de Niemeyer sinto-me mais brasileiro, identifico-me no mundo, genuinamente dotado de devido orgulho nacional, ao anunciar: o Oscar é nosso! Podemos não ter o Oscar do cinema, mas o Oscar da arquitetura mundial ficou conosco. Não foram pessoas ou governos que o retiraram de nosso convívio, e sim a longevidade do tempo, que assim como leva aqueles que não mais mereceriam permanecer aqui, também carrega aqueles que deveriam ficar. Oscar Niemeyer foi no seu tempo, após um século de muita vida a esbanjar com seu talento, um verdadeiro Pelé da arquitetura. Agora, só resta a nós relembrá-lo e saber que ele permanece eterno, em tudo o que construiu, ou ajudou a construir. O corpo é etéreo, mas a alma do grande artista tende a se solidificar a partir de suas grandes obras. Que seja assim eterno, Oscar Niemeyer!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MEMÓRIA: O que Hebe Camargo e Eric Hobsbawm tem em comum, além de terem morrido no mesmo final de semana?

O mundo das celebridades está de luto. É só ligar a TV e ficar de olho nos programas de auditório para ver apresentadoras inconsoláveis e chorosas, locutores de programas dominicais aos prantos, animadoras de auditório com os olhos em lágrimas, cantoras e dançarinas de axé-music desesperadas, soluçando em voz alta de tanta tristeza. Até o Silvio Santos está despido de seu sorriso e também fechou a cara e assoprou lenços. Tudo porque nesse final de semana, o Brasil perdeu a sua diva, uma das mais antigas, idosas e carismáticas estrelas da televisão: morreu no sábado, dia 29 de setembro, em São Paulo, aos 83 anos, Hebe Camargo.

Hebe vinha de uma luta de dois anos contra o câncer. Durante o período, ela não parou de trabalhar, nem de esbanjar o sorriso botocado, as plásticas na face e a risada que lhe eram característicos. Hebe representava um Brasil antigo,  de glamour, de uma estética luxuosa e cafona, mas também representativa de uma classe média urbana, e de um país de desigualdades sociais, onde as classes D e E, o "povão", ligavam a TV nas noites de terça-feira para ver o programa de sua diva, uma espécie de "Dalva de Oliveira das telas" e não mais das rádios. No auge, seu programa chegava a render bons índices do Ibope, e passava a velha loira a ser disputada por emissoras de televisão a cada temporada, nunca voltando para a Rede Globo, de um  finado Roberto Marinho que nunca a valorizou como mereceu, mas a fez ganhar brilho próprio em outros canais, como a Record, a Band, o SBT e até a Rede TV.

Mas, no mesmo final de semana que morre a Hebe, e o Brasil inteiro parece chorar (ao menos segundo a apelação dos meios de comunicação) a morte da famosa apresentadora, no ambiente acadêmico, a morte de uma grande personalidade do mundo das ideias parece não ter tido tanta repercussão, ou parece não ter ganho a explosão midiática que se deu na morte de Hebe Camargo. Trata-se do falecimento do historiador britânico Eric Hobsbawm, aos 95 anos, no dia 1ºde outubro, apenas dois dias depois do falecimento de Hebe. Talvez, Hobsbawm seja um dos maiores, ou o maior historiador que já existiu no século XX.

É paradoxal que a morte de dois personagens reconhecidíssimos em suas áreas de atuação (uma no cenário de espetáculos e outro no cenário intelectual) tenha ocorrido no mesmo período, marcando sensações de luto e pesar tão distintos, o que me faz questionar a relevância de cada um desses falecidos para a história nacional e mundial. Hebe representava o Brasil velho, das elites, do populismo malufista, e do conservadorismo de uma  classe média urbana que gostava de ver a ostentação e o luxo dos ricos e glamourosos, levando a reboque todo um povaréu que gostava de assistir no seu cortiço, na sua TV em preto e branco, as festas, personalidades e artistas que se sentavam nos elegantes sofás do auditório do programa da Hebe, mediante as perguntas e risadas de sua protagonista. Hebe gostava desse Brasil conservador, mantenedor de desigualdades sociais, no mito liberal-paulistano de que quem trabalha e faz crescer São Paulo também cresce como o Brasil. Foi no motor da ideologia do liberalismo-burguês que se fez a carreira e a imagem da Hebe, extremamente diferente do universo defendido por Hobsbawm.

Do alto de sua modéstia e humildade, Eric Hobsbawm poderia até ser um simpático convidado a comparecer ao sofá de um dos programas da Hebe, se ele não criticasse exatamente o que a falecida apresentadora brasileira mais defendia. Hobsbawm era socialista, de origem marxista-leninista, daqueles de "comer  criancianhas", que fariam correr Hebe Camargo e todo o seu séquito de empresários, políticos e artistas neoliberais,  com seu crachá de militantes do DEM ou do PSDB, e que integram com José Serra a imagem de um Brasil sem petistas sujos. Foi marcante a desavença que Hebe teve no começo dos anos noventa com a então prefeita petista, Luiza Erundina, quando esta recusou-se a participar de um dos programas da apresentadora, sendo criticada por Hebe, que, ao vivo, diante das câmeras, detonou o governo petista, além de falar abertamente das saudades do governo de "doutor Paulo" (um dos epítetos mais famosos que veio a ser conhecido o mitológico político corrupto, Paulo Maluf). Nos estudos históricos de Hobsbawm, Hebe Camargo teria um espaço garantido, na caracterização marxista dos meios de comunicação burgueses, como pólos de irradiação de alienação e difusão de ideologia. No tempo em que esteve no ar, o programa da Hebe, com seus altos índices de audiência nas camadas mais intermediárias e baixas da população, simbolizava a vitória da propaganda burguesa, no seu sucesso em vender o peixe do capitalismo, nas suas promessas de felicidade pela livre iniciativa e livre concorrência. Afinal, só quem é competente se estabelece, não é mesmo? E de competência, a finada Hebe conhecia muito!

Já para Hobsbawm, a competência capitalista da burguesia se dava pelo seu poderio dos meios de produção e pela apropriação das forças produtivas concentradas na mão de obra dos trabalhadores, obrigados a lutar por sua sobrevivência mediante o pagamento de um salário, deixando-se explorar para obter seu sustento. Hobsbawn era um dos maiores intelectuais marxistas da história e talvez seja o maior historiador do século XX. Sua contribuição à história da política e da economia, através de célebres obras como A Era do Capital, A Era das Revoluções e A Era dos Extremos, é absolutamente inegável. Os mesmos mecanismos de capital, que permitiram que celebridades ricas e luxuosas pudessem lotar o enterro e a missa de sétimo dia de Hebe, com seus carros e conversíveis bacanas, eram os responsáveis pela exploração e proletarização de milhares de pessoas, as mesmas que entregavam canapés e salgadinhos nos bastidores de programas de TV de vasta audiência, mas que no final do dia tinham que voltar para casa de ônibus, enquanto que os ricos e famosos voam para a Ilha de Caras com todas as despesas pagas, para lotar no final de mês, as manchetes das bancas de jornal.

Mas o falecido historiador britânico, morto aos 95 anos (com uma vida profícua e longeva, assim como a apresentadora de TV brasileira), não era apenas um homem de ciência ou da academia. Hobsbawm também era um admirador da arte, especialmente da música, e suas coletâneas e textos sobre o jazz (gênero musical originado com os negros norte-americanos, ex-escravos, também sujeitos a um brutal processo de exploração capitalista), tornaram-se célebres e muito comentados, resultando em obras tão boas e agradáveis quanto seus escritos históricos. A História Social do Jazz é uma das obras mais conhecidas de Eric Hobsbawn, e que até hoje serve como referência de estudo para os admiradores da música de Louis Armstrong ou Miles Davis. Assim como as estrelas do jazz, Hebe, na sua juventude, foi uma estrela do rádio, cantando sambas e boleros com sua irmã, também cantora, na década de 40 do século passado. Não obstante seu apelo conservador, a exemplo das mulheres trabalhadoras, que engrossavam as lutas sociais por igualdade de gênero entre as mulheres operárias nas fábricas, Hebe protagonizou o primeiro programa feminino, apresentado unicamente por uma mulher, no Brasil, na década de sessenta, trocando os cabelos negros pelos lendários cabelos dourados, tingidos de loiro, que fizeram sua fama, além da risada característica. Com seu programa na TV, Hebe simbolizava o Brasil das elites, mas principalmente de uma classe média conservadora, católica e pequeno-burguesa, que via nos programas da apresentadora, um pouco do glamour e do charme que estas queriam para suas vidas, dentro do modo de produção capitalista, tão criticado por Hobsbawm.

Assim, como duas faces invertidas de uma moeda, Hebe e Hobsbawm (cujos nomes coincidentemente começam com "H") saem desse mundo, mas entram na história de formas distintas, diferentes, mas interessantes e tão loquazes quanto. Para o choro contido ou escandaloso das estrelas de TV, que lotam em multidões igrejas e o cemítério a fim de render sua última homenagem a uma grande estrela da televisão, eu consagro aqui o luto bem mais discreto, mas igualmente emocionado, de milhares de acadêmicos, cientistas, estudantes, intelectuais, militantes sociais, integrantes de partidos de esquerda, professores e alunos que tanto estudaram as obras de Hobsbawn, ou ao menos ouviram falar delas, como um legado que, muito possivelmente, vai durar bem mais ou tanto quanto as imagens da finada Hebe, exibidas à exaustão nos programas de televisão, noticiários ou em futuros documentários sobre a televisão brasileira. De qualquer forma, independente das ideologias, a ambos dou o meu adeus. Que descansem em paz: Hebe Camargo e Eric Hobsbawm!!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DIREITO: Metas, metas e metas-tudo pelo dinheiro (ou o caso da AMBEV de obrigar seus funcionários a passar óleo em prostitutas).

O capitalismo é o sistema que vivemos, e ao menos que você more no planeta Marte ou na Coréia do Norte, dele não podemos escapar. Não obstante vivermos num sistema capitalista, isso não implica em gostar dele, e apesar de todas as vantagens de sucesso, lucro fácil e ascensão social do pensamento liberal, sabemos das mazelas e consequências nefastas da manutenção desse sistema.
Recentemente, um microempresário curitibano ingressou com uma ação trabalhista contra seu antigo emprego, a AMBEV, denunciando que a empresa teria praticado assédio moral contra ele, quando ele ainda era empregado, sendo obrigado a participar de reuniões de motivação, onde seus integrantes assistiam shows de strip tease, viam filmes pornográficos, e eram obrigados a passar óleo em prostitutas. Tudo em prol da lógica do mercado. Ah, tá!!
Imagem divulgada na imprensa
O discurso motivacional é típico da estratégia das organizações capitalistas. Embalada pela pregação da ideologia liberal da livre iniciativa e da livre concorrência, a estratégia das empresas é a de fazerem seus empregados produzirem a qualquer custo. Afinal, a acumulação de capital só se dá com exploração de mão-de-obra, como dizia o filósofo e economista alemão, Karl Marx; e para a empresa capitalista lucrar, seus trabalhadores explorados tem que ser produtivos. Produção leva a lucro, mas o lucro a qualquer preço contamina o processo de produção, tendo em vista que não é visto o lado humano, a dignidade das pessoas, mas apenas as cifras, a comprovação do atingimento de metas da produção. Nesse sentido, pessoas viram números, tornam-se também mercadorias, e na "fetichização da mercadoria", definida pelo pensador acima citado, os empregados de uma empresa também são coisificados, tratados como mero joguete, uma mera peça de tabuleiro ou um animal domesticado, que mediante a satisfação do instituto sexual, pode começar a produzir.
Acho tragicômico o que aconteceu em Curitiba na Ambev, comparando a lógica dos proprietários da empresa com a dos fazendeiros. Se é para fazer o boi produzir, reproduzindo com as vacas, ele tem que ser estimulado, assim como os galos na granja tem que ser convidados a copular com as galinhas. Nessa lógica institiva da reprodução dos seres vivos, segundo o que diz os autos do processo trabalhista que correu contra a Ambev na Justiça do Paraná (dando ganho de causa para o referido funcionário), a grande empresa brasileira fabricante de cervejas constrangeu vários de seus funcionários, obrigando-os a participar de um ritual patético, de conteúdo sexual, tão e simplesmente para aguçar a libido de alguns supostamente seduzidos pela proposta, que ganhariam um "vale-programa" caso atingissem a meta de vendas pretendida pela empresa, podendo levar para a cama uma das belas garotas, que nua ou seminua, insinuava-se mediante o  cash  da Ambev para estimular seus funcionários a trabalhar mais.
Não se trata aqui de mera moralidade, mas sim de se estabelecer um direito configurado em lei, de que o trabalhador ou empregado de uma empresa, não pode ser submetido a tratamento desumano ou vexatório. Na própria imprensa que divulgou o fato, tentou-se descredenciar o argumento do ex-funcionário litigante, alegando que ele era evangélico, e que por isso teria entrado com uma reclamação trabalhista, pois tal episódio, supostamente, teria ferido sua moralidade religiosa. Na verdade, ao se fazer referênciaas a religião de alguém, nesses casos, tenta-se descredenciar o debate. Sabe-se agora que nas ditas reuniões motivacionais dos empregados da Ambev com prostituas, não havia somente pessoas evangèlicas que se sentiram constrangidas com tanta baixaria, mas até mulheres, trabalhadoras da empresa, que foram obrigadas a assistir um espetáculo patético de pura falta de bom senso do administrador capitalista. Nessa hora, a busca de metas numa empresa privada fugiu da ética e assumiu o caminho da ilegalidade.
O que dizer então do ensino superior, na mercantilização do sistema educacional por meio de faculdades e universidades particulares. Hoje, em detrimento da produção de conhecimento e da formação da ciência, alunos de graduação ou estudantes de pós-gradauçao são convidados a participar de congressos, conferências, e eventos, em sua maioria montados no segundo semestre de cada ano, somente para completar as horas que necessitam para concluir seus cursos, sem o mínimo de debate acadêmico, propondo professores, com a maior cara de pau, que todos os docentes que participarem desses eventos e pagarem por eles, estarão livres de provas ou ganharão pontos só por terem participado (leia-se, efetuado o pagamento) do evento. Pelo capital, em prol do lucro fácil ou em busca da formação de riqueza, busca-se tudo para que uma empresa possa atingir suas metas de produção e assim encher os bolsos do empreendedor capitalista. É a lógica do tudo pelo dinheiro!
Assim, acredito que existem princípios inabaláveis na Constituição, como a dignidade humana, que, não obstante a mesma Constituição defender os valores da livre iniciativa (até por iniciativa dos legisladores constituintes de linha liberal que fizeram parte do seu texto), não podem sobrepujar a dignidade das pessoas, principalmente no que tange a aspectos morais e afetivos. Além de ser de um profundo mau gosto estimular trabalhadores a fazer sexo com prostitutas, caso estes vendam mais os produtos de uma empresa, é de uma flagrante inconstitucionalidade submeter alguém a tratamento tão degradante do ponto de vista moral e da saúde pública (por conta das doenças sexualmente transmissíveis que podem ocorrer com quem se vale da prostituição), ou mesmo de presenciar isso, principalmente num ambiente de trabalho. É o Código Penal que estabelece ser crime, induzir alguém a satisfazer a lascívia alheia, segundo o art. 227, podendo o infrator pegar uma pena de até 3 (três) anos de reclusão. Havendo isso, será que os chairmen da Ambev, perceberam a bronca que estavam entrando?!
O problema é que houve uma interpretação cultural burra, por parte do setor de recursos humanos  de uma empresa acusada das barbaridades, como as apontadas acima, por achar que, em termos de marketing, cerveja no Brasil está associada diretamente com sexualidade, ou mais precisamente, com mulher pelada, gostosona ou seminua. Além da visão extremamente machista e instrumentalizante da figura da mulher, a estratégia da propaganda de cerveja associada a mulher bonita, não vende a ideia de que cerveja é igual a sexo porque no campo dos fatos, o argumento implícito na propaganda não se sustenta. É muito mais fácil associar erotismo com o vinho, por exemplo, que é uma bebida mais refinada, fermentada como a cerveja e mais embriagante, do que com a cerveja, porque sob o efeito do vinho, já dizia o filósofo Schopenhauer, até o mais tímido dos tímidos se torna o mais voraz dos amantes. Ocorre que o consumo de vinho é uma tradição das elites em países latíno-americanos, e a bebida rubra ainda está associada com a religião, principalmente no que tange à comunhão da ceia em muitos templos religiosos, não permitindo pela moral pública que propagandas que vinculem vinho com sexo sejam divulgadas. Já com a cerveja o caso é diferente, e depois do sucesso de algumas propagandas envolvendo homens viris (ou nem tanto, como o "Baixinho da Kayser") ao lado de mulheres bonitas, convencionou-se associar o consumo de cerveja com o bon vivantismo da mulher bonita do lado, bebericando junto com o afortunado consumidor da cevada de uma caneca de chope. O exagero resulta quando se confunde cerveja com prostituição.
Mensagem do Homer para a Ambev.
Assim, para os incautos representantes da Ambev, surpreendidos com uma ação judicial que, mediante sua divulgação na mídia, provocou uma reação da opinião pública contrária aos métodos de "motivação" da empresa, só digo que estes senhores deveriam tomar cerveja demais e fazer bobagens de menos, evitando práticas distorcidas que não ajudam ninguém, e somente contribuem para destruir a credibilidade de empresas firmadas no mercado há muito tempo. Como consumidor, continuarei bebericando minha cerveja nos finais de semana, assim como nos tempos frios apreciarei um bom vinho, mas sem que isso importe na minha degeneração moral, e nem que eu seja obrigado a associar uma bebida gelada com sexo frenético com profissionais do setor. Uma boa indenização judicial e um pouco de vergonha na cara cai bem, no caso dos intrépidos senhores que só querem ver a cor da grana, mesmo que isso custe a vergonha e a dignidade de milhares de pessoas. Pague o que deve, Ambev!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CULTURA: A vida aos 70 anos.

Ontem, ao sair do trabalho e conseguir dar uma escapulida antes das aulas, fui até a livraria tomar um café e comprar uns livros, e entre uma xícara e outra tive a grata surpresa de encontrar o amigo Jarbas, professor da universidade e poeta, que do alto de seus quase 70 anos, já lamentava o fato de ter que se aposentar compulsoriamente da atividade docente, por conta de uma imposição legal. Além de mim e de Jarbas, estava lá outro amigo, jornalista e blogueiro, compondo uma pitoresca mesa servida de um aconchegante café, numa roda formada por senhores de diversas idades: eu, um quarentão, meu amigo jornalista cinquentão e Jarbas, quase um setentão, falando animadamente dos mesmos assuntos em um lugar que, por seu ambiente, não podia deixar de ser outra coisa; senão sobre poesia, literatura e cinema.

Madadayo: No filme de Kurosawa,fazer 70 é motivo de festa.
O professor Jarbas informou-me de uma louvável iniciativa sua, a ser realizada antes de sua indesejada  aposentadoria, que se tratava de promover cultura para os mais jovens e mais pobres por meio da arte cinematográfica, levando o nome do projeto o de um filme de um cineasta japonês que Jarbas muito apreciara. Assim, o "Projeto Madadayo" veio ao meu conhecimento, trazendo no nome a mesma história do personagem com quem o meu amigo professor, já idoso, muito se identificava. Pra quem não sabe, Madadayo foi o último filme do célebre diretor de cinema japonês, Akira Kurosawa, de 1993, antes de sua morte, cinco anos depois. O filme é baseado na história real do professor Uchida Hyakken, que de forma bem-humorada, despediu-se de seus alunos antes da iminente aposentadoria, realizando festivas comemorações de seu aniversário, sempre rodeado de estudantes, quando então lhe perguntavam após cada caneca de cerveja emborcada, a seguinte frase: Mada Kay? ("Pronto?"). Pelo que o velho professor respondia já embriagado, Mada Dayo! ("Ainda não!"). Afinal de contas, muito de nós ainda não estamos prontos para abandonar o que mais gostamos de fazer, só porque completamos 70 anos.

Paul fez 70 e se depender dele faz shows até os 100.
Na revista Veja desta semana, no artigo escrito pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo (um dos poucos que prestam naquela publicação), criticou-se a aposentadoria do ministro do STF, Cezar Peluso, justamente no meio do julgamento do processo do Mensalão. O jornalista lembra que em outros tribunais do mundo, como a Suprema Corte dos EUA, os seus ministros tem cargos vitalícios, só podendo se aposentar se assim o desejarem ou se não apresentarem mais mínimas condições de saúde para ainda julgar, sendo que um dos últimos magistrados a se aposentar recolheu-se aos 90 anos. Vê-se que no século XXI já se adotou o discurso da longevidade,  com o aumento da qualidade e da expectativa de vida do brasileiro, as novas revoluções da medicina, com novos medicamentos que retardam o envelhecimento, além da pregação de uma cultura corporal baseada em uma vida saudável, numa prevenção dos mais jovens aos efeitos deléterios da velhice e o surgimento de doenças, a partir do regramento da alimentação.

Hoje, quando digo que meu pai tem 69 anos e está perto de completar 70, mesmo com seus problemas de sáude, vejo pessoas de diferentes idades dizerem de forma bem trivial:"Ahhh! Ele é novo ainda!!". Entendo que por "novo", eles devem estar entendendo não a juventude em si (um atributo que envolve uma relação direta entre idade e saúde física), mas sim, em termos comparativos, a juventude comparada com quem já tem mais 100 anos (e já não são poucos os que apresentam essa marca impressionante de vida). É lógico que para meu pai é lisonjeiro saber que muitos ainda acham que ele ainda não está velho, em relação a outras pessoas mais idosas que já se aproximam da idade das tartarugas. Porém, acima da discussão sobre o aumento da expectativa de vida, creio que o que vem à tona em nossa cultura é a forma como estamos encarando a velhice e a passagem do tempo. Cada vez mais estabelece-se a crença de quem chega aos 70 anos não chega, necessariamente, ao final da vida.

Caetano e os seus 70 bem vividos anos.
Quando a expectativa de vida do brasileiro médio não passava de 65 anos, estabelecia-se que alguém chegar aos 60 já estava no lucro, pois tinha conseguido muito ao chegar até lá. Imagine os efeitos colaterais disso para quem tinha menos idade. Um quarentão, na época, poderia ter o mesmo status que tem hoje os homens de 60 anos, tratado como "tio" pelos mais moços ou até "vovô" pelos mais jovens ainda, tendo em vista que em tal idade, as marcas definitivas da maturidade já haviam chegado. Hoje, ao contrário, aos 60 anos os homens e mulheres são chamados a uma manutenção de si próprios, com mais cuidados sobre o corpo, uma maior vaidade e higiene, refletindo sobre a saúde e a beleza. Basta ver o frisson causado nas telas com as personagens calientes interpretadas pela atriz da rede Globo, Eliane Giardini (agora uma bela sessentona), nas novelas que ela participa. Mulheres maduras e que já chegaram aos 70 anos, como as atrizes Suzana Vieira e Catherine Deneuve, são mais um exemplo de como as mulheres aprenderam a se cuidar, ao chegar na terceira idade. Para não ficar apenas no mundo das celebridades de Tv (que tem muito botox pra pagar), temos na política mulheres que também estão chegando a marca dos 70, como a secretária de estado norte-americana, Hillary Clinton, ou a senadora paulista Marta Suplicy. Ambas no auge da forma física, da maturidade e do vigor político. No cinema, temos o  ator norte-americano dos filmes de ação, Chuck Norris, dando sopapos aos 72 anos, no recente filme do Stallone, Os Mercenários 2. Quanto aos homens, na música, vimos recentemente alguns de seus maiores ícones na MPB, como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Caetano chegarem bem e criativos aos 70 anos. O cantor Roberto Carlos já passou dos 71, e assim como seu amigo Erasmo, continuam na ativa. O que dizer então do ex-Beatle Paul McCartney, sensação no primeiro semestre deste ano com um show em Recife, ou dos integrantes dos Rolling Stones, todos que já acenderam ou estão prestes a acender a septuagésima velinha?

Fico com meu amigo Jarbas, com meu pai e com todos os septuagenários do mundo, saudando-os em alto e bom som: bem vindos aos setenta!!  Que enquanto houver vontade e sopro de vida neste corpo, possamos utilizá-lo da melhor forma possível, como Deus nos deu, aproveitando nossos talentos e intelecto, a fim de produzir coisas boas para nós mesmos e para aqueles que nos rodeiam, independente da idade. Só espero cuidar da minha saúde o suficiente e que o Papai do Ceú tenha piedade de mim, permitindo-me chegar vivo e bem até a idade dos senhores gentis com mais de sete décadas de existência, a que me referi neste artigo. Afinal de contas, a vida só acaba na hora certa, e isso não quer dizer que ela vá terminar de uma vez por todas, só porque você já viveu por sete gerações. Quem sabe quando eu estiver com essa idade, eu não escreva de como é divertida a vida aos 80?? Viva até lá e você verá!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ESPORTE: Olimpíadas de Londres-Agora uma lembrança que vale para 2016.

O lugar mais alto do pódio para usar uma destas: é o sonho
de todo atleta olímpico.
17 medalhas. Foram 17 vezes que atletas brasileiros subiram o pódio na XXX edição dos Jogos Olímpicos em Londres. Na terra da Rainha, a imprensa esportiva tinha maiores pretensões para os atletas brasileiros, sonhando com que superássemos o recorde de medalhas de ouro da Olimpíada de Atenas, em 2004 (cinco medalhas) ou mesmo que fizéssemos bonito e até nos superássemos como nação esportiva, trazendo para casa mais de 20 medalhas. Quanta pretensão! O sonho permanece sonho; mas a realidade é bem diferente.

Quando o barão francês Pierre de Coubertin, fundador do COI (Comitê Olimpíco Internacional), reiventou os Jogos Olímpicos na era moderna, outrora disputados numa longínqua Grécia Antiga e agora  revitalizados no final do século XIX, com as Olimpíadas de Atenas, em 1896, ele tentou recuperar o mérito dessas competições, que tinha um significado geopolítico bem interessante: uma demonstração de força de um país ou nação, fora dos conflitos bélicos, através de seus atletas e não mais de soldados. As Olimpíadas são, assim como eram entre os gregos da Antiguidade, um evento político-esportivo que celebra a paz ao invés da guerra. As diferenças entre povos deviam ser medidas não pela violência de suas armas, mas sim pela força e habilidade de seus atletas, que disputando partidas épicas, eram consagrados heróis ao final dos torneios em que se sagrassem vencedores, cabendo ao perdedor o reconhecimento ético de quem se saiu melhor, numa disputa com regras claras e justas, cada um recebendo, proporcionalmente, entre ouro, prata e bronze, aquilo que correspondeu ao seu esforço. Os Jogos Olimpícos são um exemplo de manifestação de civilidade da humanidade, mas também de plena ideologia liberal, da livre iniciativa, livre concorrência e do estímulo à competição. Afinal, só ganham medalha os melhores, segundo a lógica esportiva da competição. Para os outros que perderam, fica a preparação para os jogos seguintes!

A PRATA QUE VIROU OURO:Esquiva Falcão no boxe.
De 1896 pra cá, muita coisa mudou. Novas modalidades esportivas ingressaram nos jogos, a tecnologia passou a integrar as competições,  e além do surgimento da participação de mulheres e para-atletas, surgiu e  aumentou também a quantidade de povos e nações aptos a participar das Olimpíadas. Por diveras vezes, os Jogos foram utilizados como instrumento de propaganda por governos democráticos ou autoritários (vide o exemplo das Olimpíadas de Berlim, em 1936, em plena Alemanha Nazista) e foram sujeitos até a ataques terroristas (a triste morte de atletas israelenses, assassinados nas Olimpíadas de Munique, em 1972, nos recordam isso). Durante quase  um século vivemos disputas olímpicas que reacendiam a perigosa rivalidade da Guerra Fria entre capitalistas e socialistas, entre os Estados Unidos da América e a extinta União Soviética, como nas Olimpíadas boicotadas por cada um, como nos Jogos de Moscou, em 1980 (com maioria de medalhas soviética) e as Olimpíadas de Los Angeles, em 1986 (onde os EUA foi vencedor absoluto). As Olimpíadas de Pequim, em 2008, viram surgir um novo gigante, que há tempos vinha buscando a supremacia global, com a vitória da China, nação anfitriã dos jogos daquele ano, no quadro geral de medalhas, superando os Estados Unidos, tradicional campeão de medalhas nas edições modernas das Olimpíadas.

E a América Latina? E o Brasil? Se no começo tivemos uma participação inexistente, ou depois modesta, supertímida ou até inexpressiva nos jogos, no decorrer dos anos  e das competições, o Brasil começou a aparecer no cenário internacional do esporte, em relação diretamente proporcional ao seu crescimento econômico e político. Apesar de só ter obtido 3 medalhas de ouro nos jogos recentes de Londres (o mesmo resultado de Pequim, em 2008), o COB (Comitê Olimpíco Brasileiro) ainda comemora o feito histórico das Olimpíadas de Atenas, em 2004, quando conseguimos nosso récorde histórico de 5 medalhas de ouro, além de celebrar o resultado de 17 medalhas no total em Londres, este ano, que, no cômputo final, foi a maior quantidade de medalhas conquistadas pelo Brasil em todas as Olimpíadas.

Sarah Menezes no judô: nossa primeira medalha de ouro
feminina na modalide, no primeiro dia de competições.
Uma atleta que nos deu orgulho e não vergonha.
Ok! Estamos crescendo, e como nos dá orgulho ver um de nossos atletas subir no degrau mais alto do pódio olimpíco, ostentando uma medalha de ouro, vendo a bandeira brasileira tremular, enquanto escutamos nosso hino (que só foi tocado no primeiro dia, durante a metade, e no último dia de competições olimpícas). O problema é que, ao se deparar com apenas 3 medalhas de ouro (não obstante as honrosas medalhas de prata e bronze conquistadas por nossos atletas), vemos como ainda estamos distantes das outras nações desenvolvidas, ou mesmo de países africanos ou insulares, como a Jamaica (que tem verdadeiras lendas correndo nas pistas, como o corredor jamaicano Usain Bolt), que ostentam no quadro geral de medalhas, resultados bem mais interessantes para nações menores e com um PIB ou renda per capita bem menores que o Brasil, mas que investem mais no esporte e na qualificação de seus atletas. O patrocínio estatal, ou mesmo o auxílio de entidades privadas e grupos empresariais nacionais ao esporte brasileiro, ainda é pequeno ou quase ínfimo, sendo que muitos deles (principalmente os nadadores)são obrigados a se mudar para os Estados Unidos, onde tem ginásios melhores, treinadores bem pagos, e melhores condições de desenvolverem seu potencial de atletas olímpicos. Não adianta nada chorar e reclamar quando nossa equipe de atletismo, após duas décadas de medalhas em competições olímpicas, voltou de mãos abanando na recente edição dos jogos, sem receber uma mísera medalha de bronze, conseguindo, no máximo, uma quinta colocação no revezamento 4 X 100 da equipe feminina de corrida. Também não dá pra reclamar das derrotas no basquete masculino e feminino, sendo que no primeiro chegamos a ganhar um jogo por marmelada da seleção da Espanha, na primeira fase da competição, para evitar pegar um adversário mais forte na fase seguinte, e que acabou virando vice-campeão olímpica, perdendo para os quase sempre invencíveis norte-americanos.

Não adianta chorar, garotão. Tem que fazer diferente em
2016, meu caro Cielo.
Tivemos, é bem verdade, também os fiascos. Antigos favoritos, campeões mundiais em suas modalidades, não se saíram bem nestas Olimpíadas, voltando para casa com a vergonha de sequer terem chegado à fase final das competições; ou trouxeram bronze ou prata no lugar do ouro, como aconteceu com o nadador César Cielo, o maior nadador brasileiro da história, campeão dos 50 metros livres, na Olimpíada de Pequim; mas que não conseguiu repetir o resultado e nem o bicampeonato olimpíco, por ter, segundo ele, ficado cansado na final da competição em que ele é campeão e especialista. A meu ver, parece que Cielo quis ter o seu dia de Michael Phelps, ao disputar no dia anterior, sem brilho, os 100 metros nado livre, quando, na verdade, na sua modéstia de campeão ele deveria reconhecer: Cielo não é Phelps! Ninguém pode ser! Por falta de dedicação, cansaço mesmo ou por falta de humildade, botamos o salto alto na água cedo demais, nas competições da natação olimpíca, e acredito que o grande vencedor do torneio, na verdade, foi o nadador Thiago Pereira, medalha de prata nos 400 metros, que revelou que, à sombra de Cielo, e sem Michael Phelps nas Olimpíadas futuras, o atleta brasileiro das piscinas ainda pode render muitas medalhas para o Brasil, como já fizeram outros e ilustres nadadores da pátria verde-amarela, com tradição iniciada desde a década de oitenta com Ricardo Prado, e nos anos noventa com Gustavo Borges e Fernando Scherer.

Apesar de toda a torcida, Fabiana Murer não conseguiu.
No atletismo, a pior decepção veio com a amarelada na disputa feminina do salto com vara, com a atleta Fabiana Murer. Última campeã mundial, nossa musa a competir com beleza e talento com a bicampeã olímpica russa, Yelena Isinbaeva (que só conseguiu o bronze, desta vez), Murer simplesmente não decolou, não conseguiu, pela segunda vez consecutiva, chegar a final do salto, e conquistar melhores colocações ou, ao menos medalha, na disputa com vara. Nos jogos de Pequim o argumento foi que tinham furtado uma de suas varas, o que desestabilizaria qualquer atleta; mas agora, em Londres, Fabiana culpou o vento. O vento?? Fala sério?! Para a derrota sempre existe uma série de justificativas, mas a mais coerente pode ser dita na seguinte e dura frase: "eu não soube ganhar!!".

Emanuel & Alison:dois gigantes do vôlei de praia, que foram prata.
Frase essa que pode ser dita pelo ginasta Diego Hipólito, também a segunda vergonha e decepção em jogos olimpícos, ao cair novamente (assim como foi em 2008, em Pequim), no torneio de ginástica masculina, na exibição do solo, onde amargou uma segunda (e horrível) queda. Parece que uma legião de psicólogos na delegação olimpíca brasileira não foi suficente para domar os egos ou as inseguranças dos atletas brasileiros, campeões naturais em suas modalidades, que simplesmente desaparecem durante uma competição olimpíca, não aguentando o fardo de ter de assumir a responsabilidade de ser não apenas um campeão, mas também um medalhista olimpíco. O prestígio dessa competição milenar, tão antiga tanto quanto tão fascinante, parece ainda gelar a espinha de muitos atletas nossos, que contaminados do "complexo de vira-lata" a que se referia o dramaturgo Nelson Rodrigues, ainda não conseguiram se convencer que o jargão das campanhas do Governo Lula cai bem para atletas olímpicos brasileiros, apesar de todos os clichês: "sou brasileiro, e não desisto nunca"!.

Eu só não culpo a derrota no salto em distância de Mauren Maggi, campeão olímpica de Pequim, em 2008, por conta de suas sucessivas lesões, o peso da idade e as incertezas quanto a repetir o feito histórico da melhada de ouro anterior. Para mim, Mauren não tinha que provar mais nada a ninguém, e sua participação nesta Olimpíada, com dores e medo de se machucar gravemente na disputa que já a consagrou na história do esporte mundial, foi mais do que válida, apenas a título de despedida, daquela que até hoje é exemplo de superação para muitas atletas (e mulheres) brasileiras.

"Aquele menino das argolas" cresceu e apareceu, levando o
Brasil a um pódio inédito. Ouro para Artur Zanetti.
Ao menos palmas para Artur Zanetti, o primeiro ouro na história da ginástica artística brasileira, com sua consagrada exibição nas argolas. O pequeno Zanetti demonstrou que apesar da baixa estatura, os braços fortes e musculosos serviram não só para erguer o seu corpo no difícil aparelho de ginástica onde foi campeão, mas também para segurar toda a credibilidade esportiva da nação verde-amarelada, em seus firmes ombros. Palmas para a medalha de Sarah Menezes, medalha de ouro no judô feminino (também o primeiro da história), uma jovem e pequena piauiense que demonstrou que não apenas de força ou exibição midiática que se faz uma grande atleta.  Também devo fazer  uma saraivada de elogios ao nosso "Rocky Balboa nacional", o heróico pugilista Esquiva Falcão, com uma honrada medalha de prata no boxe, marcando a participação histórica do Brasil, em seu primeiro pódio olímpico nessa tradicional e honrada competição, além da medalha de bronze, conseguida por seu irmão, Yamaguchi, e outro bronze, para nossa pugilista, Adriana Araújo. Parabéns, heróis olimpícos brasileiros!

Musas, lindas, maravilhosas, e autoras de um voleibol campeão.
Obrigado, meninas do vôlei!!
Resta falar de nosso desempenho no vôlei: o segundo maior esporte coletivo nacional, após o futebol. Vivemos no último sábado e domingo altos e baixos de glória e redenção, convivendo ao mesmo tempo com decepção e fracasso. A seleção feminina de vôlei conseguiu uma virada histórica e consagrada contra as jogadoras norte-americanas, favoritas no torneio, tornando-se merecidas bicampeãs olímpicas, além de consagrar o técnico brasileiro, José Roberto. Já a equipe masculina, liderada pelo técnico Bernadinho, fez o contrário, sendo massacrada após ganhar por 2 sets a 0 e ainda ter a bola do jogo durante três vezes no final do terceiro set, deixando escapar o ouro e o tricampeonato olímpico do vôlei brasileiro, após um quarto set arrasador da equipe russa e um tie-break pior ainda; numa partida que deve ser assistida em vídeo durante décadas, e demonstrada em aulas de educação física, para demonstrar a competente e memorável estratégia do técnico russo, Vladimir Alekno, que demonstrou ser o verdadeiro herói do jogo, aproveitando o potencial (e os saques indefensáveis) de seu principal jogador, o gigante Muserskiy.

Leandro Damião: esse brilhou muito mais no futebol do que
Neymar, o preferido da desastrosa "Era Mano".
E a seleção brasileira de futebol?? Ai, ai, ai. O fiasco da seleção, com seu fraco técnico, Mano Menezes, já serviria para escrever um outro extenso artigo neste blog. Para resumir, o desastre que foi a final do futebol olímpico, decepcionante tanto na equipe masculina, quanto na feminina, só demonstra a manutenção de um tabu: a pátria do futebol, pentacampeã mundial,  nunca conquistou medalha de ouro em Jogos Olímpicos, seja no time masculino, quanto no feminino. Para a equipe do craque Neymar, a decepção foi maior, porque o Brasil se viu diante de um poderoso México, talhado para vencer nos gramados e levar para casa a tão cobiçada medalha de ouro (que já ornamentou o pescoço dos jogadores argentinos, por duas vezes consecutivas). Restou para o Brasil a confirmação do fiasco e a inexistência de um técnico de verdade, num time que sequer tem meio-campo, tem uma defesa totalmente vazada e jogadores incapazes de acertar uma disputa de pênaltis, como foi na vergonhosa e deprimente eliminação do Brasil, na Copa América do ano passado. Méritos apenas para Leandro Damião, um dos artilheiros da competição, que venceu (sozinho) os jogos da fase inicial do torneio, por méritos próprios e não de sua equipe. Desse jeito, não vai ser campeão olímpico nem tão cedo, e também não será campeão mundial novamente, na Copa do Mundo que se aproxima em território brasileiro.

2016 está chegando. Daqui há quatro anos soarão não os tambores, mas sim os tamborins, nos Jogos Olimpícos do Rio de Janeiro, que prometem ser uma das festas mais animadas do esporte mundial, na Cidade Maravilhosa. A pergunta que não vai calar nesse período é se, de fato, estaremos livres das promessas demagógicas do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), acerca dos investimentos nos atletas e no esporte nacional, e se realmente estaremos prontos para repetir o feito de tantas outras nações que foram sede de Olimpíada (como a própria Grã-Bretanha, anfitriã deste ano), e que, ao sediar os jogos, conseguiram somar investimentos no esporte que contribuíram não apenas para aumentar significativamente seu quadro de melhalhas, como também para auxiliar  no desenvolvimento e no prestígio internacional de uma nação inteira. "Está na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor...", como diz a música. Opsss! Quer dizer, "gente dourada". Afinal, é isso que queremos em 2016: muitas medalhas de ouro para o Brasil. Até lá!!

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?