segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

CULTURA POP: O mundo é zumbi!!

Pela quantidade de filmes, livros, músicas, histórias em quadrinhos,posters e seriados de televisão, eu diria que, para os adeptos da cultura trash dos filmes B, e películas de terror dos últimos trinta anos, a grande onda do momento não é a de um certo bruxinho inglês, já pós-adolescente, entrando na idade adulta junto com seus amigos e enfrentando um arqui-inimigo das antigas nos livros de Harry Potter, e nem é a moda dos vampiros castos, metidos a bonzinhos ou semiefeminados da série Crepúsculo, ou ainda dos vampiros estilosos e erotizados, sedentos de sangue e sexo do seriado da HBO, True Blood. Até tentaram renovar a franquia dos filmes de lobisomem no cinema, com a série Underworld ou com a refilmagem do clássico filme de Lon Cheney, com Benicio del Toro no lugar de Cheney, interpretando o protagonista, que se transforma na fera em noites de lua cheia. Mas, não! Digo que a onda agora está com os zumbis! O cetro de criaturas desmortas, de andar trôpego, com carne putrefata despencando da pele e doidos pra comer o cérebro dos vivos está com os mortos-vivos! 2010 foi o ano dos zumbis!
Natural que seja assim porque as estórias de zumbis são um verdadeiro tratado antropológico. Defendo inclusive a cátedra de zumbilogia, nas cadeiras acadêmicas de Sociologia da Arte, pra explicar uma figura macabra que acabou se tornando ícone pop a partir de uma ilha que tem seus zumbis de verdade: o Haiti. Sabe-se que a prática do vodu, entre a população descendente de escravos da América Central antilhana, foi  pródiga em produzir mitos e estórias de pessoas que se reergueram do após-morte, e se tornaram submissos escravos de seus ressucitadores,  autênticos autômatos de carne e osso, que sob efeito de uma droga especifica ( um pózinho branco, hoje explicado pela medicina),  inalada e formada por um composto de várias substâncias, dentre elas um veneno que pode ser encontrado no peixe baiacu, podem se transformar num verdadeiro morto-vivo.



Mas os zumbis só vieram a ganhar o mito que merecidamente tem até hoje com os filmes de terror do célebre diretor George Romero. A partir deles pôde se conhecer melhor a mitologia desses personagens, tão fascinantes como aterradores, em clássicos como A Noite dos Mortos Vivos (1968), O Despertar dos Mortos (1978) e Dia dos Mortos (1985). O fascínio que a humanidade tem com pessoas que retornam da morte encontra-se em várias religiões, e no cristianismo, no livro bíblico do Apocalipse, isso é bem evidente, quando se lê o que diz em  AP 20:13,14,15:"E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles haviam; e foram julgados cada um segundo as suas obras". E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo". Além disso, pode-se ver a menção à ressurreição dos mortos em 1 Coríntios 15:35: "Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?" . No Antigo Testamento, em Daniel 12:2, encontra-se a passagem em que se diz que "muitos dos que dormem no pós morte ressucitarão, para vergonha e horror eterno;". Enfim, os mortos-vivos fazem parte de nossa cultura, e através dela, cineastas como Romero exploraram com exaustão o tema apocalíptico de uma humanidade que acorda vendo seus mortos despertar, saindo de suas sepulturas. 


Quando eu era criança, estórias como a de mortos voltando à vida pareciam-me assustadoras, aumentando meu terror juvenil. Já na fase adulta, fora a diversão dos video games, pouco me assusta ver uma sociedade atacada por zumbis; mas, sem dúvida, tal fato origina uma série de teorias sociológicas. Seja nos filmes de terror "sérios" ou nas comédias, como em Todo Mundo Quase Morto e Zumbilândia, genial foi a refilmagem de um dos filmes de Romero, Madrugada dos Mortos (Estados Unidos, 2004), dirigido pelo jovem e talentoso cineasta Zach Snyder (o mesmo que dirigiu 300, de Frank Miller), que no seu filme de estreia mostrou como cenário um shopping center, onde os últimos sobreviventes de uma epidemia que devastou o país permanecem cercados por uma multidão de zumbis sanguinários, enclausurados dentro de um templo de consumo. A metáfora não podia ser mais inteligente, numa crítica à sociedade de consumo onde os zumbis são os alienados pela zumbificante cultura capitalista. Outra mostra da criatividade ao lidar com o tema de zumbis nos filmes de terror é o ótimo Todo Mundo Quase Morto (na verdade, bem melhor é com seu título em inglês: Shawn of the Dead), uma comédia de terror que mostra, na abertura do filme, os habitantes de uma mortificada Londres, na sua vida tosca e repetitiva, trabalhando mecanicamente como se já fossem zumbis, numa economia capitalista desumanizante. Já os filmes de Romero serviam no final dos anos sessenta como uma crítica à Guerra Fria, ao totalitarismo das grandes potências na falta de liberdade de expressão e em uma sociedade em crise, onde um velho modelo de sociedade convivia como um zumbi aterrorizando aqueles que desejavam mudança e transformação social. Todos os filmes de zumbi tem uma lição de moral e uma crítica de valores demasiado humana, e por conta disso os zumbis até hoje estão atrelados a nossa cultura moderna, urbano e pós-industrial.
Recentemente, o canal por assinatura Fox revelou mais uma interessante abordagem sobre o tema dos zumbis, na constante criatividade e talento que vem contagiando as séries televisivas nos últimos tempos. Trata-se de The Walking Dead, novo seriado que estreou no Brasil em novembro, que no mês anterior, nos Estados Unidos, cravou a impressionante marca de mais 5 milhões de espectadores e que já tem confirmada para o ano que vem sua segunda temporada. A série é baseada numa antológica coleção de histórias em quadrinhos do mesmo nome, publicadas pela Image Comics, que saiu em 2006, premiada com o prêmio Eisner (o Oscar das publicações em gibi), escrita por Robert Kirkman e ilustrada por Tony Moore, e que no Brasil saiu com o título Os Mortos Vivos, pela HQM Editora. Na Tv, o seriado reproduz quase que fielmente o roteiro dos quadrinhos, quando o policial Rick Grimes acorda num hospital de seu estado de coma, e descobre aterrorizado que toda sua cidade foi destruída, numa epidemia de mortos-vivos. A jornada de Grimes agora se resume a recuperar sua família, composta pela esposa Lori, e pelo filho Carl, bem como de se reunir com outros sobreviventes para tentar escapar da tragédia que se avizinha. Dentre outros personagens emblemáticos da série, encontra-se Shane, também policial, outrora colega de Rick, que nutre uma paixão reprimida pela esposa do melhor amigo, passando a se questionar se quer ou não matá-lo. Fora o clima de pavor e tensão geral, por saber que se pode ser atacado a qualquer momento por uma horda de zumbis famintos, a série (tanto nos quadrinhos, quanto na televisão) ,procura abordar outros sentimentos humanos, transformando um filme de terror previsível num verdadeiro drama humano, típico das melhores produções literárias, explorando com riquezas de detalhes, o universo de sentimentos de cada personagem.


Em Walking Dead, por exemplo, nos episódios iniciais, podemos ver o triste dilema do personagem Morgan, ao ver sua esposa, mãe de seu filho Dwayne, recentemente transformada em morta-viva, e, na janela de um quarto, com a mira do rifle apontada à distância para a cabeça da esposa, não consegue atirar nela com lágrimas nos olhos, ao ver as fotos da mulher caídas de uma gaveta, num porta-retratos. Em outra cena, mais triste ainda, vê-se a personagem Andreia passando horas ao lado do corpo recém-falecido de sua irmã Amy, morta num ataque zumbi; que numa cena rara, de impressionante candura, fala com o cadáver da irmã, dizendo-lhe frases carinhosas, enquanto segura uma arma na outra mão, apontada para a cabeça da morta, sabendo do destino que lhe reserva daqui há algumas horas, quando a triste vítima irá se tornar mais uma das criaturas sanguinárias. Em outra passagem do seriado, Jim, um dos integrantes da comitiva de sobreviventes, mordido por um morto-vivo num ataque zumbi, começa a ter os sintomas típicos da doença que irá transformá-lo num dos monstros desmortos, e em seus delírios febris tem pesadelos, imaginando as criaturas pavorosas que em poucas horas irá se tornar, abandonado por seus amigos para morrer, num descampado, debaixo de uma árvore, pela incapacidade do grupo de matar por misericórdia um amigo ferido. No final de um dos episódios, ao dar um tiro na cabeça de um zumbi desfigurado, o personagem de Rick, antes de atirar, fica imaginando que ali, rastejando no solo, era outrora uma pessoa, e diante daquela figura deformada e assustadora, chegamos a sentir até sentimentos de compaixão, ao invés de asco.

A originalidade da nova série da Fox é incorporar o espírito dos quadrinhos de Kirkman, revelando a real condição humana dentro de condições extremas de pura adversidade. A moral da estória é revelar quem são os verdadeiros monstros, quando egoísmo e sordidez se misturam com espírito de sobrevivência, e os mínimos vínculos de sociabilidade se dissipam, quando a realidade ordena que cada um deve sair correndo e proteger a própria pele, diante de um cataclisma inevitável que a todos poderá destruir. Walking Dead parece ser pessimista ao extremo, ao mostrar a tristeza de uma sociedade que está à beira da ruína e da extinção. Mas o que faz as pessoas continuarem lutando pela vida, apesar de tantas forças correndo ao contrário, é o forte desse interessante filme de terror, e que vale a pena ser assistido. Afinal, a esperança é a última que morre, mesmo que se torne uma morta-viva!

domingo, 5 de dezembro de 2010

CINEMA: "Centurião" é filme épico pra gladiador nenhum botar defeito

Como amante da sétima arte, gosto dos filmes épicos, desde Ben Hur de Cecil B. de Mille até Gladiator de Ridley Scott, passando por Alexandre, de Oliver Stone. Por falar em gladiadores, o diretor britânico Ridley Scott notabilizou-se pelo gosto em gravar grandes épicos, além do filme outrora citado, também com seu recente Robin Hood, mais uma vez valendo-se do ator que lhe deu o Oscar, com o astro preferido do cineasta, Russel Crowe, e a consagrada atriz Cate Blanchet. Recentemente, assisti outro bom filme dessa safra: Centurião (Centurion, Reino Unido,2010), do também cineasta inglês Neill Marshall.

Para quem não conhece o diretor, Marshall vem da leva de novos e bons cineastas que apareceram nos últimos anos, como Sam Raimi e Chistopher Nolan;  só que o cara era mais conhecido por dirigir filmes de terror B (o cult movie Abismo do Medo é sua principal referência). A atmosfera sombria e acinzentada das películas desse diretor também pode ser vista em Centurião. Só que fora a fotografia mórbida e os jorros de sangue, mutilação e corpos massacrados na tela, podemos ver uma fascinante trama sobre um mistério histórico: o destino da 9ª Legião Romana, que desapareceu nas florestas da Caledônia (atual Escócia), aproximadamente no primeiro século depois de Cristo.

Segundo muitos historiadores (e em interessante reportagem na revista História Viva), a 9ª Legião Romana, ou IX Hispana, foi um dos mais efetivos exércitos que o Império Romano possuiu. Foi criada inicialmente pelo próprio Júlio César, e junto com as demais legiões, participou das mais emblemáticas campanhas militares que transformaram Roma de uma provinciana república para um cosmopolítico império. Para se ter uma ideia, a IX esteve presente na vitória dos romanos contra os bárbaros germânicos e era tida como infalível e invencível por muitos imperadores romanos. Os integrantes de seus batalhões (e isso é retratado no filme) consistiam num efetivo globalizado, com soldados vindos de todas as regiões do império. É esse exército formado por brancos, negros, mestiços, romanos da gema, assírios, numíbios, galeses e ibéricos, que vai enfrentar as frias e inexploradas colinas de um, até então,  inóspito arquipélago, cheio de perigos e povos hostis que não queriam se deixar conquistar.

Ocorre que após se instalar na última província romana, a Britania (onde hoje é a Inglaterra), fortificada nas proximidades da região de York, após 120 d.C. ,a legião desapareceu, sumindo dos registros e dos livros dos historiadores oficiais. A história de seu desaparecimento continua mal contada, e algumas lendas dizem que este efetivo militar foi provavelmente destruído nas florestas da Caledônia, ao enfrentar o temido e  selvagem povo local, os pictos, tribo altamente organizada de guerreiros que atacavam sob a forma de guerrilha, aproveitando-se do cenário local, e que conheciam muito bem a geografia acidentada, montanhosa e gélida do norte da Bretanha, nos longos e dolorosos invernos. Muitos acreditam que os soldados romanos da 9ª Legião tenham encontrado o sofrimento e a morte, dentro dos vales, florestas e penhascos que circulavam a antiga terra dos pictos.

É justamente sobre esse drama histórico que se desdobra a estória de Quintus Dias (interpretado pelo ator alemão, Michael Fassbender, visto em Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino), centurião romano, subcomandante de um destacamento situado na fronteira com a Caledônia, que além de falar o dialeto nativo, é um profundo conhecedor da cultura dos pictos. Dias vê seu próprio destacamento ser atacado e destruído pela ação fantasmagórica dos guerreiros pictos, e, capturado e levado a presença do rei picto, Golarcon, Dias acaba conseguindo escapar e encontra o general Titus Flavius Virilus (o ator Dominic West, ótimo), comandante da lendária 9ª Legião Romana, enviado a região pelo governador romano da Britania, Agrícola, e encarregado de sufocar com seus soldados a revolta dos pictos. Não demora a tardar para que o general Virilus descubra,da forma mais trágica, que a tarefa que lhe foi incumbida não foi das mais fáceis.

É aí que surge no filme a principal protagonista feminina. a guerreira picta Etain, interpretada pela bela e morena atriz e ex-modelo ucraniana, Olga Kurylenko (que pôde ser vista como a última bondie girl, do recente filme de 007, Quantum of Solace), que sintetiza bem o espírito do filme. Etain é uma guerreira fria e sanguinária, caçadora de sua tribo, que torturada pelos romanos na infância, ao ver sua família ser massacrada quando criança e tendo sua língua cortada para não denunciar as atrocidades dos invasores, ela agora só tem um objetivo: destroçar os romanos, cortando suas cabeças com sua habilidosa lança. Na verdade, tendo como pano de fundo um contexto histórico, o filme de Marshall quer até passar uma mensagem política interessante: por mais que se defenda um dos lados numa guerra, você está sempre do lado errado. A máxima é tão verdadeira quando se vê que na guerra sanguinária entre romanos e bárbaros, o maniqueísmo presumido entre uma potência imperialista que quer subjugar povos estrangeiros mais fracos, e a luta destes contra a opressão romana, cai por terra quando se percebe que ambos os lados do conflito tem seus interesses mesquinhos e seus próprios párias sociais (qualquer semelhança com o papel dos EUA hoje e a Guerra do Iraque, não é mera coincidência histórica). Tanto soldados romanos quanto guerreiros pictos acabam por descobrir, tristemente, que são apenas marionetes num teatro de guerra montado sob os interesses de grupos e oligarquias que querem conquistar ou manter o poder. Fora os clichês, típicos de qualquer filme de época, Centurião é uma boa diversão, como filme de aventura baseado num fato histórico, e retoma o charme de filmes de "espada, escudo e sandálias", ótimos para os aficcionados em história greco-romana.

Com uma proposta despretenciosa, vinda de um diretor mediano, ainda não consagrado, Centurião parece ser uma ótima opção pra quem gosta de ir ao cinema, assistir um bom filme de aventura e com uma estória, no mínimo, interessante. Como diz o personagem Quintus Dias no começo do filme:"Eu sou Quintus Dias, centurião romano, é isso não é nem o começo, nem o fim de minha estória". Um bom divertimento!

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?