Serge Gainsbourg (1928-1991) era um cantor e compositor francês, mais conhecido internacionalmente pela canção Je t'aime...... moi non plus que até hoje é trilha sonora de muitos shows de strip tease ou quartos de motel do mundo inteiro. Confesso que até saber do filme que conta sua história, eu não sabia nada sobre a obra e existência desse artista, a não ser que ele é pai da talentosa atriz e cantora francesa Charlotte Gainsbourg, conhecida pelos filmes de Lars Von Trier: Anticristo (de 2009, onde ela atuou com William Dafoe) e o mais recente Melancolia, ainda a estrear nos cinemas brasileiros.
Pois através do filme "Gainsbourg:o homem que amava as mulheres" (Gainsbourg-Vie Heroique), dirigido por Johan Sfar, ficamos sabendo da vida, da obra e das mulheres de um dos maiores compositores populares da Europa, da segunda metade do século XX. Ele chegou a ser considerado uma lenda na cultura francesa, tanto quanto os brioches, queijos ou vinhos franceses, além de ser considerado um dos artistas mais mulherengos de sua geração. Porém, não obstante sua fama de "pegador", o que mais me interessou, no personagem interpretado pelo ator francês Eric Elmosnino, foi a personalidade única de um sujeito que nunca pensou ter chegado tão longe quanto chegou, e que, diante da fortuna, portou-se como um afortunado hedonista, um homem que fumou, bebeu e transou muito, como se, ao ligar um fuck you para o estabilishiment, ele quisesse dar o seguinte recado: "já que cheguei até aqui, vocês vão ter que me engolir".
O filme demonstra que na história de Gainsbourg, o cara tinha tudo pra ser um mero zero à esquerda. Nascido Lucien Ginzburg, oriundo de uma família de judeus russos imigrados para a França, vemos numa Paris ocupada pelos nazistas, o pequeno menino Lucien brincando entre soldados e militantes da resistência francesa, alheio ao conflito mundial que destruiria a Europa e chacinaria os judeus, rodeado de seus amigos imaginários e fantasias, entre aulas de piano que já detestava, e as fugas para fora da cidade nas gazeadas do colégio, para poder acender um cigarrinho entre as árvores dos bosques vizinhos, enquanto desenhava suas musas e fantasias. O filme é rodeado de um certo realismo fantástico e um clima de historia em quadrinhos ao mostrar os fantasmas ou alteregos do cantor, seja durante a infância quando é perseguido pela imagem de um boneco gigante de um judeu gordo, em formato de círculo, quando é criança; ou quando, já adulto, faz contato com a imagem de seu outro eu, já famoso (na verdade, um boneco de papelão com nariz, orelhas e mãos enormes, retratando o cantor, na visão dele mesmo).
Um sujeito feio, narigudo, magricelo, com orelhas de abano e fumante inveterado, foi visitado pela sorte e pela fortuna desde quando largou os estudos de belas artes e seguiu carreira como músico, levando para bares os conhecimentos de piano adquiridos durante a infância, treinado rigidamente por um pai que sonhava ter um filho pianista clássico. Gainsbourg saiu dos botecos parisienses para as altas rodas dos compositores franceses, para teatros lotados, cassinos e direto para as rádios e gravadoras, não apenas mudando de nome, adotando o apelido Serge (mais adequado à visão estética de requinte que queria ter de seu trabalho) no lugar do simplório nome de batismo, mas também mudando de estilo, mesclando diversos elementos da música popular. No começo da carreira, Gainsbourg flertou com o jazz, o blues e a bossa nova, vindo posteriormente a se firmar como um cantor de música romântica, com sua voz grave e meio rouca, até aderir ao rock, à psicodelia e à guitarra elétrica na década de 70, mas sem descuidar da sonoridade de seu original pianinho. Na década de 80, o cantor ainda viajaria para o Caribe, num autoexílio após uma década de excessos e sucessivas desilusões amorosas, juntando-se com músicos jamaicanos e produzindo músicas com uma linha voltada para o reggae (sua versão em ritmo de reggae da Marseillaise, hino da França, gerou protestos violentos e quase provocou quebra-quebras e conflitos de rua na França). Pois é, o cara era conhecido pelo ecletismo e pela excentricidade nas suas canções. Uma mistura de Frank Zappa, Mick Jagger e Reginaldo Rossi.
Apesar da feíura, Gainsbourg conseguiu encarnar aquele tipo de homem que compensa a falta de beleza física com um charme irresistível do chamado "come quieto", com seus ares de discreta elegância e uma certa dose de machismo dosado, sem perder o cavalheirismo. Pela cama do rapaz passaram algumas das mulheres mais belas do mundo, tendo ele tido um tórrido romance com Brigitte Bardot (interpretada no filme pela ex-modelo e atriz Laeticia Casta) , o que escandalizou a sociedade francesa da época, uma vez que se tratava de uma mulher casada (no caso, o sorteado que levou um belo par de chifres era o cineasta francês, Roger Vadim). Além de Bardot, Serge Gainsbourg teve um sólido relacionamento com a atriz inglesa Jane Birkin (interpretada no filme pela linda atriz britânica Lucy Gordon, que, infelizmente, após o filme se matou, aos 28 anos, em Paris. Que desperdício!), com quem manteve um relacionamento de 13 anos, o que lhe rendeu duas filhas. Além de nutrir uma paixão pelas mulheres, Gainsbourg era fumante compulsivo, um adepto incontrolável da nicotina, com seu cigarrinho ao seu lado, como uma muleta eterna no canto da boca, além de um copo de uísque em uma das mãos. Com a outra mão o cantor ou alisava os cabelos de alguma bela dama ou empunhava um microfone, cantando algumas pérolas do cancioneiro popular francês.
Se Charles Aznavour, para muitos, é considerado uma espécie de "Roberto Carlos da França", Serge Gainsbourg era seu vice-rei, ou um Wilson Simonal branco que acabou virando Raul Seixas. Metáforas e comparações à parte, a verdade é que a obra de Gainsbourg é considerada hoje uma referência para muitos estudiosos de música popular, ou para quem simplesmente gosta de uma boa música cantanda em francês. Foi no sentido de chocar e aproveitar a onda da revolução sexual que explodia no final da década de 60, que Gainsbourg compôs seu maior clássico, Je t'aime... moi non plus, com seus gritos e sussuros no decorrer da música, entre a voz dele cantando e a de sua ex-esposa, Jane Birkin, numa canção que pode ser vista hoje como brega, mas que, na minha infância, consistia num hino de acasalmento essencial pra quem queria viver uma grande noite de amor. Entre seus drinques, idas ao hospital pelos excessos de álcool e tabaco ou pelo sexo frenético, mas romanticamente intenso que viveu com todas as suas amantes, Serge Gainsbourg entra no panteão daqueles que, por amar demais, não puderam amar uma só, tal como Vinícius de Moraes, Marcelo Mastroiani ou Pablo Picasso, ou por amarem demais a si mesmos não puderam viver na plenitude o amor, num pleno culto narcísico de um narcisismo que, para os feios mas charmosos só faz bem, ao invés de aniquilar a alma. Au revoir, mon ami Serge!!
Um blog em forma de almanaque, com comentários sobre cultura, política, economia, esporte, direito, história, religião, quadrinhos, a vida do próximo, o que você desejar, ou que os seus olhos se permitam a ler e comentar, contribuindo para as reflexões desse humilde missivista, neófito nos mares internaúticos, em meio a esta paranoia moderna.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
ANIVERSÁRIO:Finalmente,40 (quarenta, forty, quarante, viertzig, quaranta,四十,).
Hoje é meu aniversário: 5 de agosto, e completo 40 anos! Do alto de uma idade tão significativa, pedindo licença aos entendidos no assunto, digo, para arrepio de meus amigos teólogos e sociólogos que o dilema do homem moderno não é a fome, as guerras, os conflitos globais, o apocalipse, a queda da popularidade do Obama, a falta de amor ou a intolerância. O dilema do homem moderno é a crise dos 40 anos!
O problema de chegar aos 40 anos não é sentir que está ficando velho, mas sim que não está mais ficando novo. Com 40 você chega na certeza de que continua a mesma pessoa que era quando tinha 20, mas não com o mesmo corpo. Começa a se acostumar de ser tratado de senhor ou senhora, das brincadeiras dos mais jovens, chamando de "tio" ou de "tia", ou se deparar com aquele carinha das antigas, que nem amigo seu é ou se finge de velho amigo e quando lhe vê, depois de vários anos, diz na cara, sem nem perguntar como você vai: "e aí, fulano, há quanto tempo! Puxa, como você ficou gordo!", ou então diz:"puxa, fulano, como vc ficou careca!" ou "quantos cabelos brancos!".
Quando se chega aos 40 anos você começa a ficar careta nos gostos musicais e estéticos, começa a ouvir cada vez menos as músicas que a garotada de 20 anda escutando (mesmo sendo do mesmo gênero de música de você tanto gosta). Aos 40 você fica mais nostálgico. Fala cada vez mais como eram bons os anos oitenta e setenta, porque naquela época é que existiam bandas e grupos de rock de verdade, enquanto que nos dias de hoje não aparece nada de mais. Aos 40 você adora assistir aqueles canais de TV retrô, com filmes das antigas e reencontra os amigos da mesma idade para relembrar os seriados que via na adolescência. Aos 40 você não consegue mais ir a todo show de rock em todo final de semana, não porque não tem grana, mas porque não aguenta mais ficar em pé junto com mil a cem mil pessoas, suando perto do palco, porque suas costas doem, vai ter uma crise de pânico com tanta gente ou porque suas pernas já não aguentam mais.
Aos 40 você prima por qualidade ao invés de quantidade; ou ao menos engana quanto a isso, dizendo que prefere um bom vinho com os amigos em casa, do que passar a noite inteira bebendo cachaça num boteco fedorento do centro da cidade.Você percebe que tem 40 anos quando não consegue mais virar da noite pro dia com os amigos, em algum bar badalado, boate ou rave, porque seu organismo não aguenta mais ficar sem água e sono por menos de cinco horas seguidas durante a noite.
Quando se é quarentão você percebe que chegou nas quatro décadas de existência quando reencontra os melhores amigos num churrasco na casa de um deles, e revê a cena de que há vinte ou quinze anos anos atrás, você estava ali, no mesmo lugar, com seus amigos todos solteiros, acompanhados das namoradas ou envolvidos em flertes ou paqueras, e agora vê todos eles casados, com suas respectivas esposas, muitos acompanhados dos filhos pequenos ou pré-adolescentes. Você chega aos 40 e olha pros seus pais e vê que eles sim é que estão ficando velhos, bem velhos, e com problemas de saúde, e que sua estadia pela vida, dentro de poucos anos, pode se esgotar.
Constata-se que se chegou aos quarenta anos, quando você relembra como foi a sua infância, e lembra que você e seus colegas ainda brincavam de pipa, subiam muros e árvores, jogavam pelada em terrenos de areia e que videogame era uma imensa novidade, só para as famílias de classe média alta e os aparelhos mais avançados eram Atari e Odissey, enquanto que nos dias de hoje os garotos não vivem sem internet, aparelho celular ou tablets.
Por fim, aos quarenta você tem a certeza de que vai ter que procurar um médico regularmente, fazer exames para ver as taxas de colesterol e trigliceres, a pressão alta, os batimentos cardíacos (além do infame exame de próstata, para os homens), começar ou voltar a usar óculos de leitura, e pensar em transformar a academia de ginástica ou musculação como seu destino final, ou um lugar para você eternamente se afastar, se quiser ou não se livrar de uma barriga de chope que pode lhe acompanhar até a cova. O quadro de preocupação do recém-quarentão só aumenta se ele lembrar que em grande parte das civilizações antigas da humanidade ou sociedades tribais, o nível de vida médio dos homens só chegava aos 40!
É! Não é fácil ter 40 anos! Como também não é difícil, quando você percebe que já conseguiu viver tanto tempo, tem uma boa carga de leitura sobre sua própria vida que já dá um bom livro autobiográfico (olha que o Justin Bieber escreveu o dele aos 16!) e que aos 40 você consegue recapitular todas as suas mancadas nos últimos vinte anos anteriores, e, ao se deparar com as mesmas situações, ver como é tão fácil o que você outrora achava tão difícil.
Portanto, nessa data em que completo 40 anos, que venham as comemorações, independente da passagem do tempo, das enfermidades ou curas futuras, dos quilômetros que teremos ou não teremos mais fôlego de correr e das pessoas e novos amigos que ainda possamos vir a conhecer. Se já cheguei aos 40, que venham agora os 50, os 60, os 70, os 80, os 90, os 100 e..... muito mais!!!!
O problema de chegar aos 40 anos não é sentir que está ficando velho, mas sim que não está mais ficando novo. Com 40 você chega na certeza de que continua a mesma pessoa que era quando tinha 20, mas não com o mesmo corpo. Começa a se acostumar de ser tratado de senhor ou senhora, das brincadeiras dos mais jovens, chamando de "tio" ou de "tia", ou se deparar com aquele carinha das antigas, que nem amigo seu é ou se finge de velho amigo e quando lhe vê, depois de vários anos, diz na cara, sem nem perguntar como você vai: "e aí, fulano, há quanto tempo! Puxa, como você ficou gordo!", ou então diz:"puxa, fulano, como vc ficou careca!" ou "quantos cabelos brancos!".
Quando se chega aos 40 anos você começa a ficar careta nos gostos musicais e estéticos, começa a ouvir cada vez menos as músicas que a garotada de 20 anda escutando (mesmo sendo do mesmo gênero de música de você tanto gosta). Aos 40 você fica mais nostálgico. Fala cada vez mais como eram bons os anos oitenta e setenta, porque naquela época é que existiam bandas e grupos de rock de verdade, enquanto que nos dias de hoje não aparece nada de mais. Aos 40 você adora assistir aqueles canais de TV retrô, com filmes das antigas e reencontra os amigos da mesma idade para relembrar os seriados que via na adolescência. Aos 40 você não consegue mais ir a todo show de rock em todo final de semana, não porque não tem grana, mas porque não aguenta mais ficar em pé junto com mil a cem mil pessoas, suando perto do palco, porque suas costas doem, vai ter uma crise de pânico com tanta gente ou porque suas pernas já não aguentam mais.
Aos 40 você prima por qualidade ao invés de quantidade; ou ao menos engana quanto a isso, dizendo que prefere um bom vinho com os amigos em casa, do que passar a noite inteira bebendo cachaça num boteco fedorento do centro da cidade.Você percebe que tem 40 anos quando não consegue mais virar da noite pro dia com os amigos, em algum bar badalado, boate ou rave, porque seu organismo não aguenta mais ficar sem água e sono por menos de cinco horas seguidas durante a noite.
Quando se é quarentão você percebe que chegou nas quatro décadas de existência quando reencontra os melhores amigos num churrasco na casa de um deles, e revê a cena de que há vinte ou quinze anos anos atrás, você estava ali, no mesmo lugar, com seus amigos todos solteiros, acompanhados das namoradas ou envolvidos em flertes ou paqueras, e agora vê todos eles casados, com suas respectivas esposas, muitos acompanhados dos filhos pequenos ou pré-adolescentes. Você chega aos 40 e olha pros seus pais e vê que eles sim é que estão ficando velhos, bem velhos, e com problemas de saúde, e que sua estadia pela vida, dentro de poucos anos, pode se esgotar.
Constata-se que se chegou aos quarenta anos, quando você relembra como foi a sua infância, e lembra que você e seus colegas ainda brincavam de pipa, subiam muros e árvores, jogavam pelada em terrenos de areia e que videogame era uma imensa novidade, só para as famílias de classe média alta e os aparelhos mais avançados eram Atari e Odissey, enquanto que nos dias de hoje os garotos não vivem sem internet, aparelho celular ou tablets.
Por fim, aos quarenta você tem a certeza de que vai ter que procurar um médico regularmente, fazer exames para ver as taxas de colesterol e trigliceres, a pressão alta, os batimentos cardíacos (além do infame exame de próstata, para os homens), começar ou voltar a usar óculos de leitura, e pensar em transformar a academia de ginástica ou musculação como seu destino final, ou um lugar para você eternamente se afastar, se quiser ou não se livrar de uma barriga de chope que pode lhe acompanhar até a cova. O quadro de preocupação do recém-quarentão só aumenta se ele lembrar que em grande parte das civilizações antigas da humanidade ou sociedades tribais, o nível de vida médio dos homens só chegava aos 40!
É! Não é fácil ter 40 anos! Como também não é difícil, quando você percebe que já conseguiu viver tanto tempo, tem uma boa carga de leitura sobre sua própria vida que já dá um bom livro autobiográfico (olha que o Justin Bieber escreveu o dele aos 16!) e que aos 40 você consegue recapitular todas as suas mancadas nos últimos vinte anos anteriores, e, ao se deparar com as mesmas situações, ver como é tão fácil o que você outrora achava tão difícil.
Portanto, nessa data em que completo 40 anos, que venham as comemorações, independente da passagem do tempo, das enfermidades ou curas futuras, dos quilômetros que teremos ou não teremos mais fôlego de correr e das pessoas e novos amigos que ainda possamos vir a conhecer. Se já cheguei aos 40, que venham agora os 50, os 60, os 70, os 80, os 90, os 100 e..... muito mais!!!!
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