quarta-feira, 7 de março de 2012

POLÍTICA: O Antilulismo é tão ou mais visceral que o lulismo!

Os sociólogos e cientistas políticos brasileiros adoram um neologismo, e se não aproveitam o que diz a imprensa, ao menos inventam termos ou codinomes que ficariam bem num jornal. A última da vez foi a distinção entre "petismo" e "lulismo", que, para alguns estudiosos (principalmente os historiadores), até faz sentido, levando-se em conta o tempo em que o Partido dos Trabalhadores não tinha chegado ao poder, e após os oitos anos de governo Lula, quando o expoente maior do partido chegou, finalmente, à presidência da República.

Petismo não se confunde com lulismo porque este último é um efeito direto da repercussão da primeira chegada de Lula (e não do PT) ao poder. O lulismo é resultado de 8 anos de uma política acentuadamente social, mas de cunho populista, que carregada por um líder extremamente carismático e de apelo popular, fez com que milhões de cidadãos, adeptos ou não do bolsa-família, torcessem pelo êxito governamental do "ex-sapo barbudo". De fato, para muitos economistas, mesmos àqueles que não são alinhados com o governo, o crescimento do país foi notável. A "marola foi boa", como diria o próprio Lula no seu esbanjamento de expressões populares em seus discursos, e, sobretudo, ao garantir a eleição de sua assessora direta, a ex-chefe do Gabinete Civil, Dilma Roussef, à presidência da república, Lula fez mais do que eleger uma sucessora, ele se credenciou, de vez, como uma histórica (e lendária) liderança política nacional. Lula passou a figurar nos panteões da República como um dos grandes estadistas da história nacional, como foram (ou tentaram ser) em épocas distintas, Vargas, Dutra e Juscelino. Quanto ao petismo, restou ficar com a burocracia partidária, algumas prefeituras e governos estaduais, e com sua ideologia.

Agora, o que me chama mais atenção na mídia nacional não é petismo, mas sim seu inverso, sua contraparte, o "antilulismo". Se o antipetismo era um sentimento ideológico típico, com nítidos contornos de classe, do eleitorado de classe alta e classe média alta do eixo sul e sudeste que repugna o discurso socialista ou social-liberal do petismo; agora o que se nota nos editoriais e artigos da grande imprensa nacional é o predomínio do antilulismo, direcionado, em grande parte, ao governo da sucessora do intrépido e falastrão líder metalúrgico que virou presidente. Para alguns jornalistas, por mais que mostre personalidade própria, Dilma é  apenas o alterego de Lula; e o bem avaliado governo federal, nada mais do que um resquício recalcitrante do lulismo.

Guilherme Fiúza. Um dos jornalistas da
grande imprensa nacional, forte candidato a crítico
do governo e agente da oposição da Nova Direita brazuca.
Dentre os notórios antilulistas de carteirinha, posso destacar o articulista da Revista Época, o escritor e roteirista Guilherme Fiúza, que escreve semanalmente seus impropérios contra o governo de Dilma Roussef, querendo atingir na verdade, seu verdadeiro desafeto (?): o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Fiúza tem um estilo galante de escrever:ácido, violento,  virulento,mas também discreto. Diferentemente de seu colega que escrevia na Veja, Diogo Mainardi, Guilherme Fiúza destila suas profundas impressões críticas sobre o lulismo, por vezes desancando seu principal expoente, sem parecer, ao menos, tão direitista. Não há dúvidas de que Fiúza é um liberal (ou até neoliberal, se coubesse a um jornalista um jargão tão minúsculo), mas de forma diversa da burrice de alguns articulistas da Editora Abril ou Folha, que acabam por insultar frontalmente personalidades públicas, divulgar dôssies falsos ou fornecer falsas informações nas páginas de suas revistas e jornais, o jornalista autor de Meu nome não é Johnny, consegue se manter firme nas páginas semanais de Época por atirar sem machucar ninguém. É pelo puro exercício da crítica que Fiúza desenvolve seu antilulismo e não para querer destruir imagens ou reputações, como outros meios de comunicação gostam de fazer. Afinal, poderia dizer o Fíuza: Meu nome não é Mainardi.


Contra a dinheirama vomitada dos cofres públicos,
a Nova Direita reclama. Mas será que eles fizeram diferente?
O antilulismo de Fiúza reflete o antilulismo de uma classe média que há muito tempo antipazara com o estilo bonachão do ex-presidente da República, colocado no lugar da imagem de sindicalista radical, barbudo, malcheiroso e subversivo. Para algumas pessoas, independente da forma como Lula se apresenta, este será sempre o "sapo barbudo", o inimigo de classe ou demagogo oriundo da classe operária, que com seus maus modos e seus anos passados "sem trabalhar", pagos às custas do partido ou do sindicato, ainda atazana a política nacional, mesmo depois de ter sido quase corroído por um câncer. Lula expressa o tipo do líder carismático, esboçado em Maquiavel e dissecado por Weber, que não consegue ser uma unanimidade, mas sim provoca reações de aprovação ou desaprovação, pois, se não agradar, que ao menos seja lembrado. Para observadores argutos como Fiúza, Lula sempre será Lula e o PT sempre será PT, com sua romaria de conchavos, acordos políticos exitosos ou fracassados, maracutaias, populismo de esquerda, aparelhamento do Estado em prol de sindicatos e corporações, além dos mensalões. Na visão liberal do citado articulista, Lula é um caudilho (assim como Hugo Chavez o é, na Venezuela ou Peron foi, na Argentina), cuja conduta centralizadora nos rumos da política nacional só contribui para prejudicar os avanços da democracia brasileira, que prega a alternância de poder. Se o antipetismo é burro, o antilulismo é, no mínimo, equivocado, por achar que Lula pode se converter num Fidel ou que o Brasil é uma ilha distante dos ventos da globalização, e que a abertura do mercado e crescimento econômico do começo de século na gestão de Lula ainda não é suficiente para dizer que o país mudou, ou que ao menos saiu de um lamaçal.

Para os críticos, o mal do governo Dilma vem de berço, por conta
de seu "lulismo".Será que isso é defeito ou será ainda ressaca eleitoral da
eleição passada?
Não sou aqui conivente com desmandos ou ilegalidades e nem sou tão fã de carteirinha do ex-presidente brasileiro, para afirmar que acredito piamente em tudo o que se publica de favorável ou desfavorável ao governo do presidente antetior. Acho que no lulismo do governo passado muito se transigiu com a corrupção em troca de apoio político, mas o petismo da atual presidente Dilma tem afastado em demasia essa corrupção. Também sei que o velho pragmatismo da esquerda, assim como seu radicalismo, são ambos prejudiciais para o projeto de credibilidade politica de partidos que se arvoram como sendo de uma base socialista. Agora, ideologicamente, sei que as críticas de jornalistas como Fiúza são tão ideologizadas quanto as iniciativas governamentais e mancadas do governo anterior e passado, que merecem receber suas canetadas. Como eu disse, gosto do estilo de Fiúza, assim como gosto dos méritos e reconheço os deméritos do governo que apoio. É importante ter jornalistas que escrevam contra o governo, para não parecermos um país de partido único, uma ditadura como na Coréia do Norte, onde só existe uma voz oficial. Na democracia o embate de ideias é extremamente válido, principalmente se elas forem as mas díspares ou estapafúrdias, e os teóricos da nova direita devem sim, ter espaço cedido nos meios de comunicação, para manifestarem sua opinião, nem que seja para serem também críticados e esquecidos posteriormente pelo eleitorado.

Agora, se Guilherme Fiúza quiser realmente se notabilizar como jornalista puro-sangue e não ficar conhecido  apenas como o autor de um livro só (aquele que virou filme), sugiro que não dê as escorregadelas que deu anteriormente seu colega da sucursal de Veja, ao querer fazer de Lula sua anta (e quebrar a cara por isso!). Diogo Mainardi, ao invés de colecionar leitores adeptos, colecionou processos de desafetos, que lhe custaram a coluna anteriormente escrita no citado semanário do Grupo Abril. Ao mesmo tempo que defendo imprensa livre no Brasil, também acredito na existência de uma imprensa responsável. Não se pode transformar o ódio inconsciente ou antipatia por determinada personalidade política ou candidato em avaliação política de todo o contexto de um governo ou de uma sociedade. Nesse sentido, o antilulismo pode deixar de ser uma mera posição política, para se transformar numa doença. Cuidado, Fiúza!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?