Pornografia sempre existiu, desde o começo dos tempos. Durante séculos, ao lado dos preceitos morais contra a nudez e a prática sexual, vemos menção a pessoas que se despem em situações moralmente constrangedoras, que poderiam gerar todo tipo de interpretação. Há até uma passagem na Bíblia, no Antigo Testamento, em Gênesis, onde Noé repreende seus filhos, após ter se embriagado no acampamento, após o dilúvio, e ter dormido pelado em sua tenda;numa passagem que poderia fazer corar muita gente de vergonha, pois, por muitos séculos, a própria nudez era considerada pornográfica. Assim, na literatura, nos escritos marginais, nos muros da cidade antiga, ou na alcova dos aristocratas que liam as obras do Marquês de Sade durante o Renascimento, a pornografia se desenvolveu. Com o surgimento das artes visuais e a invenção do cinema, não demorou para que corpos desnudos também surgissem na tela grande, além do surgimetno das histórias em quadrinhos (no Brasil, chamados de "catecismos", dentre os quais os mais famosos eram do cartunista Carlos Zéfiro) e do cinema pornô que se consolidou na década de 70 do século passado, e que foi retratado no ótimo filme Boogie Nights, do diretor norte-americano Paul Anderson, com o ator Mark Walbergh interpretando um icônico ator pornô do período (uma homenagem ao finado ator pornô, John Holmes). Nos anos oitenta chegou a era do videocassete e com eles as fitas em VHS que popularizam uma indústria extremamente lucrativa que gerou as suas lendas, entre astros, atrizes e diretores. Uma nova meca do entretenimento sexual surgia com base na cultura da sacanagem. Depois, na década de noventa chegou o DVD, e nos anos dois mil a internet consolidou a pornografia de forma maciça, sendo impossivel encontrar hoje, um mísero computador que, mesmo a despeito de seu dono, já não tenho acessado conteúdo erótico, nem que seja por mera curiosidade. Mas o que aconteceu com as pessoas que viveram dessa indústria?
Recentemente, navegando no Youtube, por curiosidade abri um vídeo, com tom musical dramático, rendendo uma homenagem às antigas estrelas dos filmes pornográficos, famosas ou nem tanto, que já partiram daqui pro andar de cima. Fiquei impressionado com a quantidade de mais de cinquenta pessoas, homens e mulheres que alguma vez na vida atuaram nesses filmes, e o destino trágico que tiveram. Em sua maioria, os homens, principalmente aqueles que atuavam em filmes pornôs gays, da década de oitenta, morreram de AIDS, ou foram encontrados mortos, violentamente assassinados (a tiros ou facadas). Já no caso das mulheres eram comuns os suicídios, ou as mortes acidentais por overdose de drogas ou mediamentos. Recordei-me de uma famosa atriz pornô do começo da década de noventa, Savannah (na verdade, Shannon Wilsey era seu nome de batismo), uma linda moça loira, de seios fartos e sensualidade estonteante, que com seu rosto angelical, fez o prazer de muitos garotos adolescentes, que viam escondido dos pais fitas de vídeo pornográficas, que mostravam estrelas daquela época, como as hoje cinquentonas Ashlyn Gere, Angela Summers e Jeana Fine.
Um documentário sobre a vida de Savannah pode ser visto no History Channel, e nele vemos o quanto existem bases sociólogicas que explicam a opção de algumas pessoas de, exercerem um tipo de prostituição visual, ao despirem seus corpos e transarem com outras pessoas na frente das câmeras. Savannah (que, naturalmente, como toda atriz pornô, usava nome falso), fazia parte de um contingente de jovens rapazes e garotas bonitas, oriundos de famílias pobres ou interioranas, que, no caso do Brasil vinham das regiões sul e sudeste, e no restante do mundo, principalmente no hemisfério norte, vieram do interior dos Estados Unidos ou do Leste Europeu. Eram jovens que tentavam vencer na vida pela aparência, e numa sociedade urbana e industrializada, escolhiam o mercado do sexo como uma opção para se tornarem, ao seu modo, "estrelas de cinema". Savannah matou-se após entrar numa espiral perigosa de sexo, muito dinheiro ganho com filmes e prêmios, muitas drogas (seu vício em cocaína era célebre), álcool e, sobretudo, o gosto pela velocidade. Foi num acidente de carro que Savannah encontrou seu fim, escapando de um terrivel desastre automobilístico, mas ficando com seu rosto seriamente deformado. Sem conseguir suportar ver-se no espelho, com seu rosto outrora angelical e lindo, agora desfigurado, Savannah acabou por dar um tiro na própria cabeça, encerrando uma triste história que, estatisticamente, acontece há muitas das pessoas que vivem nesse meio. Com exceção de atrizes veteranas, que conseguiram superar o vício e constituíram família como Jeana Fine (uma das poucas de origem abastada, que afirmou que fazia filmes pornográficos não pela grana, mas porque gostava muito de sexo), a grande parte dos homens e mulheres que entraram no esquema dos filmes adultos acabou por encontrar um triste fim, quando não saíram dessa indústria cedo.
John Holmes morreu de AIDS em 1988. |
Marilyn Chambers:encontrada morta em casa. |
Linda Lovelace foi símbólo de uma época |
No Brasil, temos o exemplo de atores e atrizes, que já ficaram famosos trabalhando em novelas, mas, que no final da carreira, acabaram fazendo filmes pornográficos. Foi o caso de Leila Lopes, revelada nas novelas da rede Globo nos anos noventa, mas, que, aos cinquenta anos, preferiu fazer filmes pornôs, até encontrar seu fim, após se suicidar em seu apartamento com o consumo de veneno para ratos, deixando apenas uma carta de despedida para a família. Leila revelou o triste caso de artistas que apenas aprofundaram sua decadência, enveredando pela obscura indústria do sexo explícito.
Sasha Grey foi um dos raros casos de quem sobreviveu | . |