segunda-feira, 23 de setembro de 2013

CINEMA:Mais do que um filme para amantes de velocidade, "Rush" é sobre superação.

O trágico acidente que quase matou Niki Lauda.
Eu tinha apenas 5 anos de idade. Muito pouco para lembrar, quando o piloto austríaco Niki Lauda espatifou sua Ferrari em chamas no autódromo de Nurburgring, na Alemanha, no campeonato da Fórmula 1 de 1976. Na verdade, eu só vim a saber o que era F1 e corridas de alta velocidade dez anos depois, quando Nelson Piquet tornou-se um dos poucos pilotos brasileiros campeões do mundo nessa modalidade esportiva, depois de Emerson Fittipaldi e antes de Ayrton Senna se consagrar nas pistas (considerado até hoje o maior e mais inigualável piloto brasileiro de todos os tempos).


O verdadeiro Lauda fala de seu rival, James Hunt.
Naquela época, Lauda era campeão mundial no ano anterior pela primeira vez, e encerrou sua carreira vencedora com 3 títulos mundiais, tornando-se uma figura histórica, no hall da fama dos maiores corredores de todos os tempos. Mas o que se tornou roteiro do filme do diretor norte-americano Ron Howard foi menos o terrível acidente que o desfigurou e quase tirou sua vida, e sim a sua emocionante disputa com seu maior rival naquela época: o piloto britânico James Hunt. Como um bom filme de sessão da tarde, Rush conta a história dessa disputa frenética, e traça um perfil de egos tão distintos quanto complementares.

Não poderiam existir pilotos tão diferentes, mas tão equivalentes em talento. Lauda representava a disciplina, o perfeccionismo e perseverança germânica, enquanto que Hunt combinava o temperamento explosivo com a fleuma britânica, fazendo manobras arriscadas nas curvas e quase suicidas. O austríaco era baixinho, mal humorado, narigudo e dentuço (apelidado de "rato" entre seus adversários), mas era um gênio na construção de carros e motores, e responsável pelo ressurgimento da Ferrari no cenário esportivo mundial; enquanto que seu colega inglês era loiro, alto, bonito e mulherengo como Jim Morrisson e galante num carro de corrida, como um Juan Fangio, incorporando os valores festeiros de uma Swingin London hippie, posterior aos Beatles e Stones, com sua pinta de galã e filas de garotas bonitas no seu cockpit. Independente das personalidades, quando ambos assumiam o volante de um carro, passavam a se compenetrar de tal forma que a única coisa que interessava era a vitória nas pistas, principalmente a vitória contra o adversário, perseguindo um ao outro nos autódromos do mundo.

Ron Howard é um diretor tradicional de hollywood, que se consagrou com o Oscar de melhor diretor pelo filme Uma Mente Brilhante, em 2001. Fora isso, ele se notabilizou por filmar blockbusters, como a série O Código da Vinci, adaptada para os cinemas com Tom Hanks no papel principal. Entretanto, uma das grandes características desse cineasta de Oklahoma é ressuscitar o mito do self made men da cultura liberal norte-americana; ou seja, a de que é possível, com muito esforço e dedicação, superar todas as adversidades em busca da vitória. Foi assim em Apollo 13, filmado em 1995, com o mesmo Hanks, e agora em 2013 com os atores Daniel Bruhl (Adeus Lênin e Bastardos Inglórios) e Chris Hemsworth. Nesse caso, as mulheres são coadjuvantes e figuras de apoio dos protagonistas, como foram as mulheres de Hunt e Lauda (interpretadas, respectivamente, por Olivia Wilde e pela atriz romena, naturalizada alemã, Alexandra Maria Lara). Mas são as mulheres que injetam um tom de humanidade nos dois rivais, obcecados em vencer um ao outro, nem que seja pelo sacrifício da própria vida.

Amigos?Inimigos?Ou será que um completava o outro nas pistas?
E foi vida  o que o piloto Niki Lauda quase sacrificou, no fatídico dia em que se acidentou, numa pista chuvosa e perigosa, onde não queria correr. Após passar mais de um minuto dentro de um carro em chamas, que quase se tornou sua pira funerária, Lauda foi conduzido às pressas para o hospital com poucas chances de vida (ele chegou a receber a extrema unção de um padre horas depois de ter entrado no hospital), mas milagrosamente se recuperou, retornando de volta as pistas poucos meses após seu trágico acidente, mesmo totalmente desfigurado por queimaduras que lhe tomaram parte do rosto. James Hunt também não deixa de ser um vencedor, por também ter superado a adversidade. Sem apoio e patrocinadores, ele quase viu desabar seu sonho de ganhar na Fórmula 1, quando se viu sem escuderia; até que uma apreensiva McLaren resolveu contratá-lo após a desistência da companhia de outro piloto campeão, um tal de Fittipaldi (quem?), que após ter se sagrado bicampeão em 1972 e 1974, largou a companhia inglesa para se aventurar numa malfadada experiência na recém-fundada Copersucar.

Mesmo para quem não goste (como eu) de
Hemsworth e Bruhl incorporam os lendários pilotos nas telas.
automobilismo, vale a pena ver o filme de Howard e as impressionantes imagens das corridas, capturadas em momentos históricos trazidos para a tela de cinema através de efeitos especiais digitais, que colocam os atores dentro de uma corrida de verdade. Também vale o filme como recorte histórico, numa época que a Fórmula 1 era um esporte muito mais perigoso (e, talvez por isso, fosse mais romântico),do que é a competição hoje, com suas regras bem definidas, os carros menos possantes por questões de segurança, e as pistas menos arriscadas, face todo um trabalho de prevenção de acidentes feito nos últimos vinte anos, após a morte de Ayrton Senna. Ficam devendo os cinemas ainda uma boa cinebiografia do próprio Senna, mas enquanto isso não chega, podemos nos contentar com a disputa automobilística desses dois grandes pilotos de corrida, que inscreveram seu nome na história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?