quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

REALITY SHOW: "Rupaul e a Corrida das Loucas" é a introdução do gay politicamente correto na TV.

Rupaul Andre Charles é um ator, cantor e transformista californiano que fez muito sucesso na comunidade gay nos anos 90, com o disco Supermodel of the World. Hoje em dia, o cinquentão Rupaul não saí da ribalta e permanece ativo na TV, enchendo as noites de cada semana, com  muito glitter, purpurina, lantejoulas e música para boates. Como dragqueen-mor de um programa de TV, Rupaul conseguiu se manter em evidência através de seu divertido "Corrida das Loucas" (Rupaul's Drag Race), apresentado na TV por assinatura, pelo canal VH1. No programa, o astro transformista seleciona 12 dragqueens norte-americanos, para disputar o primeiro lugar da corrida e obter o prêmio maior de U$ 25 mil, um fornecimento vitalício de cosméticos, além de contratos publicitários milionários (dentre eles, o de representar nas propagandas, a famosa marca de  vodka Absolut). Em síntese, na competição, os candidatos a maior dragqueen da América tem que saber se maquiar, produzir sua própria roupa transformando cortinas e tapetes em vestidos de noite, dançar, posar para fotos, sair pelas ruas fazendo perfomances, participar de comerciais e, sobretudo, fazer o que toda dragqueen de respeito sabe fazer, para honrar o nome: dublar. É através de uma pesquisa em boates, clubes, casas de espetáculos e festas da comunidade gay, que Rupaul recruta e seleciona seus pupilos, num programa que se tornou um grande sucesso de audiência nos Estados Unidos, e que já está na sua segunda temporada no Brasil, aguardando uma terceira.

O que parece, à primeira vista, um festival de besteiras e futilidades pra quem aprecia um pouco de cultura (será que tem mesmo?) na televisão, tendo em vista que os reality show, hoje, na nossa realidade, não são mais novidade (vide o tosco Pedro Bial e seu enjoativo Big Brother Brazil, na rede Globo), o bom de "Corrida das Loucas" não são as provas da competição em si (apesar de que todas, na verdade, são bem divertidas), mas sim seus bastidores, quando são observados os competidores sem maquiagem, e é analisado, pelos espectadores, o perfil de cada participante. Para os meus amigos da psicologia e da sociologia, interessante é notar o quanto o programa dá boas teses acerca de comportamento humano e convívio social, quando quem assiste o programa é convidado a conhecer mais de perto o universo gay, e os dramas e peripércias por quem vive neste mundo. Logo se percebe que os jovens rapazes que concorrem ao prêmio máximo de estrela drag, foram todos pessoas que, em 99% dos casos, descobriram-se homossexuais ainda na adolescência, tiveram uma série de dificuldades emocionais e sociais por conta disso, e se valeram da arte, do potencial artístico de se vestir de mulher, saber dançar e cantar, para driblar o preconceito, o desprezo familiar e a prostituição. No discurso de todos é possível notar menções recorrentes à figura materna, como acolhedora ou principal fonte de influência, e zero de comentários à figura do pai, num contraste que revela seu drama pessoal. Na verdade, o que o programa de Rupaul faz é humanizar a figura da dragqueen, mostrando realmente quem são aquelas pessoas debaixo de toneladas de perucas, enchimentos e maquiagem, revelando garotos que só querem sobreviver, vencer na vida e provar para o mundo que são capazes e podem se firmar como artistas.

Em Rupaul's Drag Race temos tipos altamente pitorescos: a gordinha Mystique; a latina Jessica Wild (um portoriquenho com problemas de idioma); a ensimesmada Sonique, a altiva Tyra (que desperta a antipatia das colegas); a ambiciosa Raven (com seu porte atlético e tatuagens); a pueril  Tattiana(um rapazote com cara de nerd, que ao se transformar, revela uma beleza de extrema feminilidade), a sempre alegre (mas nem sempre elegante) Pandora, a asiática e intelectualizada Jujubee, a desengonçada Nicole, a dedicada Morgan e a sem noção Sahara . O que esses garotos tem em comum, além do talento nos palcos, é a habilidade de superar todas as críticas que possam ser feitas acerca da condição deles. Naturalmente, numa visão chauvinista, tudo é "pura viadagem" ; mas para quem curte (principalmente mulheres) moda, maquiagem, música dançante ou simplesmente quer dar umas boas risadas, o programa de Rupaul é altamente divertido, por conta de sua excentricidade.

Temos uma paixão pelo burlesco, pelo kitsch, pelo exagero, caricato, carnavalesco ou algo que explora uma dimensão menos séria e mais lúdica de nossas personalidades. O universo das dragqueens é assim, circense, performático, como algo que não vem propriamente para chocar (como era, outrora, para horror do tradicionalismo, um homem se vestir de mulher), mas sim para animar a festa, como uma "ode a Dionísio", como uma celebração da alegria, em tempos de pesado preconceito, intolerância e cultura do ódio. As dragqueens celebram a alegria, dançando e cantando, dublando os seus ídolos, exibindo um glamour fake, de homens que sabem que não são mulheres, mas que exploram toda a feminilidade como uma via de expressão estética. Quem acha que curtir um programa de TV que mostra dragqueens é uma forma de apelação ou falta do que fazer, então digo que os japoneses também deveriam ser recriminados, por durante séculos apreciarem o teatro kabuki, onde não há a participação de mulheres, e alguns atores se vestem de mulher, maquiando-se, para interpretar seus personagens.

 Não me envergonho e não tenho o menor pudor de dizer que assisto ao programa de Rupaul, acompanhado de minha esposa (que não perde um episódio); pois meu olhar sobre um reality show envolvendo dragqueens é completamente assexuado, bem diferente da baixaria protagonizada por Pedro Bial e seu programa similar na Rede Globo, ao forçar a barra colocando uma travesti para competir (e dar em cima), dos incautos competidores homens do Big Brother. Na Corrida das Loucas, apesar do nome, o que vemos é menos um discurso sexista ou pró-gay, do que um grupo de meninos que se vestem como garotas, como parte de uma perfomance artística, que querem ser reconhecidos pelo seu trabalho e que estão pouco se lixando para os olhares conservadores e preconceituosos, que veem o Diabo em tudo, principalmente na opção alheia. Ou vocês vão me dizer que ninguém achou legal ou já assistiu na Sessão da Tarde, o filme australiano dos anos noventa, Priscila-a Rainha do Deserto, e não achou o maior barato?Nos dizeres de Rupaul, sempre ao final de seus programas,  ao som de Jealous of my Boogie (canção-tema do programa, de autoria do próprio apresentador), a Corrida das Loucas na verdade é um programa sobre amor-próprio, sobre como amar a si mesmo, apesar das adversidades e fazer valer suas opções, mesmo que os outros não as respeitem ou concordem com elas, para conquistar sua dignidade. Por isso, digo junto com Rupaul ao final de cada episódio: "Amém!".

5 comentários:

  1. adorei a definição do programa =)
    já assisto a algum tempo e acho ótimo

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  2. Pois é, Michael.Apesar do Bial, ainda existe vida inteligente e diversão na TV!

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  3. É um programa divertido que me fez conhecer e respeitar ainda mais o trabalho e o talento das Drags.
    Adoro Rupaul e a corrida das loucas

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  4. ADOROOOOOOOOOO! kkkkkkkk!

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  5. FIQUEI BOQUIABERTO COM SUA DEFINIÇÃO DE RU PAUL... SIMPLESMENTE PERFEITO! PARABÉNS... VI NESSE TEXTO UM HOMEM HÉTERO COM UMA VISÃO REALMENTE SEM PRECONCEITOS!!!! JÁ ESTOU SEGUINDO O BLOG E SEMPRE ESTAREI AQUI VENDO AS NOVIDADES!!!! SE POSSÍVEL SEGUE O MEU
    http://baixe-semfrescura.blogspot.com.br/
    UM ABRAÇO...

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