Engraçado! Foi numa lanchonete, no fim de noite, comendo um sanduíche, que reparei na minha mais nova musa no mundo da música, que me conquistou no primeiro momento que ouvi sua voz. Apesar da fome, parei até de comer meu sanduíche, quando na lanchonete onde estava, perto de casa, tinha um telão onde passavam clipes tirados da internet, e gravados da MTV ou do canal Multishow, e lá pude ouvir uma jovem cantora inglesa, mostrando seus dotes vocais num single que hoje é tocado à exaustão nas rádios. Estou falando de Adele, e a música que ela canta chama-se Rollin in the Deep.
Adele é o nome dela. Uma cantora inglesa ruivinha e gordinha, de apenas 22 anos, que apesar de sua cara de anjo, quando solta a voz parece a mais negra e calejada das cantoras de soul ou jazz. Não exagero quando digo que Adele tem a voz de uma cantora negra, e de como nos últimos anos, a Grã Bretanha vem exportando com perfeição, uma plêiade de cantoras jovens, belas e de voz que lembra aquelas cantoras de New Orleans, do começo do século passado, tais como Amy Winehouse e Joss Stone. Mas Adele parece fazer a diferença!
Amy Winehouse foi a grande promessa da primeira década do século XXI. A voz fulminante e o topete feminino esquisito e retrô, na hora certa, que fez a cantora de origem judaica vender milhões e milhões de cópias de seu disco Back to Black, além de arrebatar vários Grammys, parecia ser a promessa de que o mundo havia encontrado uma nova Billie Holliday. O problema de Amy, como é de conhecimento público, exaustivamente divulgado nos tablóides, é seu notório alcoolismo e tabagismo, seu vício frenético em drogas pesadas, e que o pior, seu vício em homens sem futuro. O problema dessa notável cantora é quando seu talento foi dando lugar às fofocas e às notícias das páginas policiais, devido a suas constantes bebedeiras, internações, vícios, e a conturbadíssima relação com seu ex-marido, Blake Civil, acusado de tráfico de drogas. O último show da cantora aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, foi até regular, com direito a Miss Winehouse estampar sua cara pálida e ressacada, na sacada de um hotel, em Santa Teresa. Mas seu desempenho nos palcos brasileiros foi bem distante dos últimos três anos que a consagraram, com uma atuação que não foi pífia, mas foi pra lá de modesta. Os admiradores de boa música com vocal feminino estristeceram-se pela ausência de criatividade de sua musa, que nunca mais fez um disco que estivesse à altura de seu talento. Parece que a fórmula tinha acabado. Só restava escutar Lady Gaga.
Quanto a Gaga. É necessário um breve comentário a essa cantora norte-americana, a contraparte dos EUA à música feminina difundida na Inglaterra, e que serviu para torná-la a sucessora da rainha de todas as divas pop dos últimos anos: Madonna. Admito que Stephanie Germanotta (nome verdadeiro da cantora. Também, com um nome desses, tinha que se tornar Gaga, mesmo!) tem lá o seu talento, quando passou a difundir música muito mais através da imagem, do que do som. Lady Gaga foi uma das cantoras que voltou a apostar na estética do videoclipe, um pouco abandonado com a chegada da internet, mas foi essa mesma internet que tornou Lady Gaga uma cantora poderosa, celebrizada como ídolo cult e objeto até de teses acadêmicas. Curto os clipes, o visual erótico-psicodélico da cantora, e o ritmo dançante de sua batida disco meio trivial, mas não compraria um disco de Lady Gaga. Até porque não preciso! É só baixar as que acho mais interessantes pela internet e tocar no rádio (até pra agradar minha esposa, que adora ouvir Lady Gaga).
Agora, quando se trata de ouvir cantoras cujo repertório dá pra fazer uma coleção. Aí, não dispenso, orgulhoso, os álbuns cujas capas posso estender na minha estante, montar minha própria discoteca, e escutar por várias horas canções maravilhosas, de vozes femininas poéticas (de preferência, sorvendo um bom vinho). Por isso que a música de Adele tanto me conquistou: pela suavidade, frescor, uma certa pureza oriunda não apenas de uma voz, mas de um espírito angelical, tratando das dores do mundo, do sofrimento do amor perdido e das dores de ser mulher, como Adele canta. É! Pra alguns que me chamem de exagerado, acho que Adele é a nossa Maísa inglesa. Ouvi-la é tão bom quanto minhas outras musas, que adoro escutar as canções, como Sara Mclahalan, Bjork, Tori Amos, Diana Krall, Dido, Elis Regina, Rita Lee, Gal Costa, Julieta Venegas e tantas outras, que agora me foge a memória. Pra se ter uma ideia, é só escutar a singela canção Turning Tables, pra entender o que eu estou dizendo, ou então escutar a magnética Someone like You ou a swingada Rumour Has It para entender porque a música de Adele está conquistando o mundo. Não se trata de uma conquista agressiva e selvagem, como Lady Gaga fez, quase a forcéps (e com calcinhas de mais e potência vocal de menos), ou da forma meteórica como Amy Winehouse alcançou o estrelato. Na verdade, a música de Adele começou a se impor de forma gradativa, tímida, discreta, assim como parece ser a própria cantora, mas de maneira definitiva e eficaz.
Adele conseguiu a impressionante marca de ter se igualado aos Beatles, ao figurar entre as cinco primeiras colocações nas paradas de sucesso da Grã-Bretanha e EUA, simultaneamente, e ter superado Madonna, pela primeira vez na história, figurando seu segundo disco por mais de dez semanas como um dos mais vendidos na parada de sucessos britânica. Para se ter uma ideia, nenhum disco ficava tanto tempo na parada dos mais vendidos, desde o álbum Immaculate Collection de Madonna, gravado em 1990. O sucesso veio de seus dois discos, cujos títulos lembram exatamente a idade da cantora quando foram feitos: 19 e 21. Não sei se Adele vai continuar com seus discos indicando a sua idade até chegar aos 60 (até porque, após os trinta, nenhuma mulher gosta de revelar a idade), mas pelo menos esses, que revelam uma cantora e compositora de tenra idade, se não são de um brilhantismo digno de uma Sara Vaughn, ao menos destacam uma cantora que não é simplesmente uma diva fabricada pela indústria, feita pra fazer um sucesso diáfano nas FMs, para depois desaparecer.
Talvez o sucesso precoce contamine essa jovem e promissora artista. Talvez não! Alguns críticos já comentaram o desempenho de Adele a de outras cantoras que, pós-adolescentes, conheceram o sucesso e marcaram uma geração, como Alanis Morrisseti, nos anos noventa, mas depois perderam o rumo e a criatividade com discos ruins ou de baixa vendagem, ao passarem dos trinta anos. Pode ser que a cantora gordinha, com cara de anjo e que fala de ex-namorados em suas canções também seja uma febre passageira. Quem sabe?! O futuro a Deus pertence! Mas como bom amante de música e tendo em casa coleções e mais coleções de CDs, só posso dizer que em CD, em algum arquivo de computador, ou em meu pendrive, jamais me esquecerei da voz e da música de Adele, assim como não me esqueço de muitas outras que, pela voz, também conquistaram meu coração. Agora, deixem-me aqui ouvir o disco 21, mais uma vez. Apertei a tecla play! Até a próxima, pessoal!