Pois eis que desde que cheguei a vida adulta e à independência financeira, não deixei de ir sequer a um showzinho de rock, sem me arrepender dos trocados bem gastos, sempre quando tenho tempo e a possibilidade geográfica de ir. Foi assim durante várias vezes, e felizardo fui quando morei por quase 3 anos em Porto Alegre, a atual meca nacional dos shows globalizados (até mais do que São Paulo), e tive a possibilidade de assistir inúmeros shows, com o conforto de ter uma atração internacional sempre perto de casa. Retornando ao nordeste, pela pobreza de opções culturais e shows internacionais em Natal, só me resta Recife!
E foi através de uma excursão, através do empreendedorismo do simpático empresário Rubens Pedrassoli, é que pude, junto com minha esposa, ir até Recife assistir o show do Iron Maiden, num domingo superdivertido. As poucas horas de viagem, a presença de um coletivo de fãs animado no ônibus, de várias origens e idades, além da possibilidade de assistir uma das melhores bandas de heavy metal do planeta, animou-me para assistir pela primeira vez a apresentação da banda de Bruce Dickinson e companhia.
É verdade! Apesar de meus quase 40 anos de vida e de ter visto centenas e mais centenas de grupos, eu nunca tinha ido a um show do Iron Maiden. Lembro-me, inclusive, que já não me encontrava mais tão ligado no som do grupo, uma vez que, pra mim, a música do Iron Maiden representava aquelas bandas de rock pesado que eu tanto gostava na adolescência, nos anos oitenta; mas com o advento do grunge, das novas tendências do metal, e quando comecei a me interessar mais por rock brasileiro (principalmente o manguebeat), havia me distanciado um pouco do som da turma do Iron.
Nos primórdios dos anos oitenta, o Iron Maiden despontou como uma das grandes bandas da chamada New Wave of British Heavy-Metal, numa onda de criatividade e de novos grupos musicais interessantes na Inglaterra, com novas bandas britânicas além do Iron, tais como: Saxon, Def Leppard, Venom e Diamond Head. De todas essas, o Iron Maiden foi, de fato, a banda de metal que mais se consolidou mundialmente, formando um universo de fãs em todos os continentes do mundo. O Iron Maiden foi uma das escolhas acertadas do empresário Roberto Medina, para se apresentar no primeiro Rock in Rio, de 1985, e de lá pra cá, a banda desses ingleses baixinhos e cabeludos, fanáticos por futebol e cerveja, e tendo um pitoresco mascote como o monstro Eddie (que aparece em todas as capas dos discos do grupo), não parou mais de fazer sucesso e encantar os fãs brasileiros. Pode-se dizer que, em certo sentido, nos anos oitenta, grupos como Iron Maiden, Whitesnake e AC/DC reinaram absolutos no universo do heavy metal, na primeira metade da década, até surgirem seus sucessores, como Metallica e Pantera. É dessa época álbuns antológicos e que ficaram marcados não apenas na carreira da banda, mas na história do heavy-metal, como os ótimos e primeiros álbuns Iron Maiden, Killers, The Number of Beast e Piece of Mind, até chegar à obra prima Powerslave e à consagração ao vivo, com o álbum duplo Live after Death. Depois dessa época o Iron Maiden decidiu testar novas sonoridades, introduzindo o som de sintetizadores ( o que rendeu muitas críticas dos fãs mais puristas) em discos como Somewhere in Time e Seventh Son, mas nunca perdeu sua marca principal que definiu seu estilo: o baixo encorpado do músico virtuose Steve Harris, a parede de guitarras, sustentada em grande parte pelo autêntico Dave Murray, pelo melódico guitarrista Adrian Smith (que depois saiu e voltou pra banda) e pelo endiabrado Janick Gers, a bateria sincopada de Nicko McBrain, e, é claro, a inconfundível voz do cantor Bruce Dickinson: um vocalista e piloto da aviação comercial, fanático por aviões, que como frontman, foi responsável por algumas das perfomances de palco mais arrebatadoras do rock'n roll.
No documentário Metal - Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal (2005), o cineasta, músico e antropólogo canadense Sam Dunn, entrevista várias personalidades desse estilo musical, para explicar o fascínio que o rock pesado exerce em milhares de fãs, atravessando gerações. Em uma dessas entrevistas, aparece o simpático baixinho Bruce Dickinson, ensaiando uma passagem de som, na lendária casa de espetáculos londrina, Hammersmith Odeon, falando de sua arte e de como, mesmo chegando aos 50 anos, o vocalista consegue manter o inesgotável vigor da juventude, toda vez que sobe num palco e vê milhares de faces que podem se resumir em apenas uma: aquele fã, jovem, garoto sardento, no meio da multidão, que, segundo Bruce, num exercício de nostalgia, equivaleria a ele próprio na sua inocência de juventude e no amor genuíno a seu grupo musical e à música que tanto aprecia. É de cima do palco que Bruce pode (como fez em Recife), olhar direto nos olhos de cada fã entusiasmado, e dizer, apontando o dedo: Yes! It's you, you! É a magia e emoção da música em toda sua intensidade. É o vigor do Heavy-Metal. This is Iron Maiden!

Mas, como em todo show de banda que já se eternizou no tempo, o que os fãs mais queriam escutar eram as músicas mais antigas, de um repertório iniciado há mais de trinta anos atrás, mas que até hoje conquista o fã mais recente. Quem esteve em Recife, no dia 3 de abril, não teve do que reclamar, ao escutar sucessos como The Trooper, Fear of Dark, The Evil That Men Do, 2 Minutes to Midnight, The Wicker Man e as mais antigas, do tempo em que Paul D'iano era o vocalista do grupo, como Running Free e a clássica Haloweed by Thy Name. Na onda do politicamente correto, Bruce Dickinson ainda fez uma homenagem às vítimas do terremoto e do tsunami no Japão, dizendo o quanto os brasileiros eram felizardos de viver no lugar em que vivem (Ohh! Yeahh! Ele diz isso pra todos, nos outros países! Mas, e daí?!) e encerrou a noite com um bis, que dá vontade até agora de pular, dançar e tomar umas cervejas. I know! It's only rock'n roll, but I like it! Depois de sua estreia no país com o Rock in Rio, parece que o Iron Maiden adotou o Brasil como sua segunda casa, incluído obrigatoriamente em todas as turnês, nas sete vezes que o grupo já veio tocar aqui. E tomara que venham mais vezes! Apesar de não apresentar mais o brilho e nem a fama mundial dos anos passados, com estouros de vendagem, o Iron Maiden é uma das poucas bandas de rock, que consegue manter unido um séquito de fãs, que vão em romaria em todos os seus shows, cantarolando até os solos de guitarra, e cantando enlouquecidamente para seus ídolos: Can I Play with Madness?? Valeu, turma do Iron! Obrigado pela diversão! Up to the Irons!
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