terça-feira, 5 de abril de 2011

MÚSICA: Com o Iron Maiden em Recife.

Já assisti a tantos shows de rock (nacionais e internacionais) que perdi a conta, sendo simplesmente impossível recordar quantos eventos musicais espetaculares já presenciei. Confesso que debutei em shows internacionais vendo o antológico, memorável (e à exaustão será contado para os netinhos) show dos Rolling Stones, no dia 4 de fevereiro de 1995, num Maracanã lotado, no Rio de Janeiro. Naquela que seria a primeira (de várias) tournês da dupla Mick Jagger X Keith Richards e seus comparsas no solo nacional. Talvez eu tenha me tornado tão viciado em assistir meus adorados shows de rock, por conta da frustração de minha adolescência, quando ainda um jovem púbere de 14 anos, e fiquei impossibilitado de ir ao primeiro Rock in Rio de 1985, por conta da pouca idade, falta de grana e de um pai militar, que não levaria o filho de Brasília para o Rio de Janeiro, assistir aquela "besteira" de música, com seus "cabeludos drogados" rodopiando em cima de um palco.

Pois eis que desde que cheguei a vida adulta e à independência financeira, não deixei de ir sequer a um showzinho de rock, sem me arrepender dos trocados bem gastos, sempre quando tenho tempo e a possibilidade geográfica de ir. Foi assim durante várias vezes, e felizardo fui quando morei por quase 3 anos em Porto Alegre, a atual meca nacional dos shows globalizados (até mais do que São Paulo), e tive a possibilidade de assistir inúmeros shows, com o conforto de ter uma atração internacional sempre perto de casa. Retornando ao nordeste, pela pobreza de opções culturais e shows internacionais em Natal, só me resta Recife!

E foi através de uma excursão, através do empreendedorismo do simpático empresário Rubens Pedrassoli, é que pude, junto com minha esposa, ir até Recife assistir o show do Iron Maiden, num domingo superdivertido. As poucas horas de viagem, a presença de um coletivo de fãs animado no ônibus, de várias origens e idades, além da possibilidade de assistir uma das melhores bandas de heavy metal do planeta, animou-me para assistir pela primeira vez a apresentação da banda de Bruce Dickinson e companhia.

É verdade! Apesar de meus quase 40 anos de vida e de ter visto centenas e mais centenas de grupos, eu nunca tinha ido a um show do Iron Maiden. Lembro-me, inclusive, que já não me encontrava mais tão ligado no som do grupo, uma vez que, pra mim, a música do Iron Maiden representava aquelas bandas de rock pesado que eu tanto gostava na adolescência, nos anos oitenta; mas com o advento do grunge, das novas tendências do metal, e quando comecei a me interessar mais por rock brasileiro (principalmente o manguebeat), havia me distanciado um pouco do som da turma do Iron.


Nos primórdios dos anos oitenta, o Iron Maiden despontou como uma das grandes bandas da chamada  New Wave of British Heavy-Metal, numa onda de criatividade e de novos grupos musicais interessantes na Inglaterra, com novas bandas britânicas além do Iron,  tais como: Saxon, Def Leppard, Venom e Diamond Head. De todas essas, o Iron Maiden foi, de fato, a banda de metal que mais se consolidou mundialmente, formando um universo de fãs em todos os continentes do mundo. O Iron Maiden foi uma das escolhas acertadas do empresário Roberto Medina, para se apresentar no primeiro Rock in Rio, de 1985, e de lá pra cá, a banda desses ingleses baixinhos e cabeludos, fanáticos por futebol e cerveja, e tendo um pitoresco mascote como o monstro Eddie (que aparece em todas as capas dos discos do grupo), não parou mais de fazer sucesso e encantar os fãs brasileiros. Pode-se dizer que, em certo sentido, nos anos oitenta, grupos como Iron Maiden, Whitesnake e AC/DC reinaram absolutos no universo do heavy metal, na primeira metade da década, até surgirem seus sucessores, como Metallica e Pantera. É dessa época álbuns antológicos e que ficaram marcados não apenas na carreira da banda, mas na história do heavy-metal, como os ótimos e primeiros  álbuns Iron Maiden, Killers, The Number of  Beast e Piece of Mind, até chegar à obra prima Powerslave e à consagração ao vivo, com o álbum duplo Live after Death. Depois dessa época o Iron Maiden decidiu testar novas sonoridades, introduzindo o som de sintetizadores ( o que rendeu muitas críticas dos fãs mais puristas) em discos como Somewhere in Time e Seventh Son, mas nunca perdeu sua marca principal que definiu seu estilo: o baixo encorpado do músico virtuose Steve Harris, a parede de guitarras, sustentada em grande parte pelo autêntico Dave Murray, pelo melódico guitarrista Adrian Smith (que depois saiu e voltou pra banda) e pelo endiabrado Janick Gers, a bateria sincopada de Nicko McBrain, e, é claro, a inconfundível voz do cantor Bruce Dickinson: um vocalista e piloto da aviação comercial, fanático por aviões, que como frontman, foi responsável por algumas das perfomances de palco mais arrebatadoras do rock'n roll.

No documentário Metal - Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal (2005), o cineasta, músico e antropólogo canadense Sam Dunn, entrevista várias personalidades desse estilo musical, para explicar o fascínio que o rock pesado exerce em milhares de fãs, atravessando gerações. Em uma dessas entrevistas, aparece o simpático baixinho Bruce Dickinson, ensaiando uma passagem de som, na lendária casa de espetáculos londrina, Hammersmith Odeon, falando de sua arte e de como, mesmo chegando aos 50 anos, o vocalista consegue manter o inesgotável vigor da juventude, toda vez que sobe num palco e vê milhares de faces que podem se resumir em apenas uma: aquele fã, jovem, garoto sardento, no meio da multidão, que, segundo Bruce, num exercício de nostalgia, equivaleria a ele próprio na sua inocência de juventude e no amor genuíno a seu grupo musical e à música que tanto aprecia. É de cima do palco que Bruce pode (como fez em Recife), olhar direto nos olhos de cada fã entusiasmado, e dizer, apontando o dedo: Yes! It's you, you! É a magia e emoção da música em toda sua intensidade. É o vigor do Heavy-Metal. This is Iron Maiden!

Em Recife, a banda fundada pelo baixista Steve Harris e celebrizada por Bruce Dickinson, mais uma vez fez por merecer ter tantos fãs e tanta devoção. Os fãs fanáticos do Iron Maiden chegam a tratar a banda como se fosse uma religião, e eu pude ver o entusiasmo de diversos guris cabeludos, barbudos, que ao entrar no frontstage, no pátio externo do Centro de Convenções de Recife, pulavam e gritavam enlouquecidamente e pareciam ter sido tomados por uma benção súbita, ao entrar num estado de graça proporcionado pela alegria de poder ver sua banda favorita. No show, vi gente de todas as idades: fãs antigos, calvos ou de cabelos grisalhos, com mais de cinquenta anos, até adolescentes ou mesmo pré-adolescentes. A abertura do show, com músicas novas, do mais recente álbum, The Final Frontier, começou com o tema introdutório Satellite 15, seguida pela música título. No show, apesar da idade, Bruce Dickinson ainda consegue correr um pouco e dar pequenos saltos pelo palco, naturalmente sem mais aquela elasticidade e vigor físico do passado. Afinal, o tempo passa para todos, não é mesmo?!

Mas, como em todo show de banda que já se eternizou no tempo, o que os fãs mais queriam escutar eram as músicas mais antigas, de um repertório iniciado há mais de trinta anos atrás, mas que até hoje conquista o fã mais recente. Quem esteve em Recife, no dia 3 de abril, não teve do que reclamar, ao escutar sucessos como The Trooper, Fear of Dark, The Evil That Men Do, 2 Minutes to MidnightThe Wicker Man e as mais antigas, do tempo em que Paul D'iano era o vocalista do grupo, como Running Free e a clássica Haloweed by Thy Name. Na onda do politicamente correto, Bruce Dickinson ainda fez uma homenagem às vítimas do terremoto e do tsunami no Japão, dizendo o quanto os brasileiros eram felizardos de viver no lugar em que vivem (Ohh! Yeahh! Ele diz isso pra todos, nos outros países! Mas, e daí?!) e encerrou a noite com um bis, que dá vontade até agora de pular, dançar e tomar umas cervejas. I know! It's only rock'n roll, but I like it! Depois de sua estreia no país com o Rock in Rio, parece que o Iron Maiden adotou o Brasil como sua segunda casa, incluído obrigatoriamente em todas as turnês, nas sete vezes que o grupo já veio tocar aqui. E tomara que venham mais vezes! Apesar de não apresentar mais o brilho e nem a fama mundial dos anos passados, com estouros de vendagem, o Iron Maiden é uma das poucas bandas de rock, que consegue manter unido um séquito de fãs, que vão em romaria em todos os seus shows, cantarolando até os solos de guitarra, e cantando enlouquecidamente para seus ídolos: Can I Play with Madness?? Valeu, turma do Iron! Obrigado pela diversão! Up to the Irons!

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