Duvidei do gosto de meus pais. Afinal, nos anos 60, época em que eles viveram bem a juventude, tínhamos também Brigitte Bardoux, ou, para um público mais intelectualizado, Catherine Deneuve. De qualquer forma, quando vejo a popart de Andy Warhol e o famoso poster com o rosto da famosa atriz norte-americana, dou de ombros e reconheço: Liz Taylor era a mega das mega superstars. Em relação à geração de meus pais, daqueles que já se encontram idosos e a geração de hoje, comentar a morte de Elizabeth Taylor (1932-2011) seria, como, comentar para as gerações do futuro, a morte de Angelina Jolie. Elizabeth (ou Liz, como também era chamada nos tablóides) estava para a Terra do Tio Sam, assim como Mickey Mouse, Coca-Coca ou McDonald's. Era uma das maiores estrelas do cinema hollywoodiano, e também o símbolo de um tempo que já se passou.
Liz Taylor representava a mulher do século XX, que saí de cena para dar lugar a mulher do novo século. Também representava um modelo de artista que não existe mais: forjado pela indústria, criado para ser estrela, acostumado aos holofotes desde criança, mas destinado à glória, mais por conta do glamour do que pelo talento. Miss Taylor conseguiu superar isso muito bem! A linda mulher de olhos azuis cintilantes, da década de 50, e a senhora gordinha, septuagenária e doente, numa cadeira de rodas, de seus últimos anos de vida, ficarão para a história não apenas como a atriz que colecionava diamantes, assim como maridos(foram ao todo 8, sem contar os namorados e amantes), mas também como a atriz genial, ganhadora de 2 Oscars, que se eternizou nas telas em filmes antológicos e obrigatórios na videoteca de qualquer cinéfilo, tais como: Gata em Teto de Zinco Quente (1958), numa adaptação da peça de Tenesse Williams, contracenando com Paul Newman; ou Quem tem medo de Virginia Woff (1966), um clássico dos clássicos, onde Taylor arrebata a plateia, com a interpretação de uma protagonista gorda, alcoólatra, e perturbada. A própria vida pessoal de Liz Taylor foi um filme, e um pouco de sua história de vida, e de como lidou com as doenças, maridos e o destino, é também um pouco da história do gênero feminino, no século passado.
Senão, vejamos, para ver se vocês concordam ou não com a minha tese.Projetada para o estrelato precocemente, primeiro como atriz-mirim, depois como adolescente imaculada e jovem recém-casada, em comédias românticas do começo dos anos cinquenta, Liz Taylor começou a se desvencilhar do papel que lhe foi dado pelas convenções sociais, com a sucessão de maridos que passou a ter, demonstrando não se tratar de uma mulher que iria se domar muito tempo a um mesmo homem. Ao mesmo tempo, a atriz norte-americana reproduziu os clichês sociais ao se casar tantas vezes, talvez muito para reproduzir um jargão conservador e religioso de que suas uniões não seriam legítimas, se não fossem solenizadas pelos laços do matrimônio, e também por um desejo de toda mulher de encontrar segurança e uma mínima satisfação, nos braços de um homem. Elizabeth Talyor dependia ( e muito) dos homens; não financeiramente, é óbvio, mas sim afetivamente. E nesse momento a vida da atriz rompeu qualquer clichê ou jargão feminista, pois a estrela de megasucesso não tinha medo de expor para toda a mídia sua fracassada vida privada, suas inconstâncias, seus amores frustrados, a enorme carência de uma mulher que tão somente queria alguém, "um homem pra chamar de seu", como diz a música do Erasmo.
Além de expor em sua vida sentimentos tão genuinamente femininos, Liz Taylor correspondia ao biotipo da mulher linda, mas comum, que nas pedradas da vida, apesar da beleza, está sempre sujeita às pedradas do destino e a facilidade de levar porrada das contingências. Além dos maridos e separações Liz tinha uma saúde frágil (muito frágil), que quase a levaram à morte, ao menos em duas ocasiões anteriores. Nessas vezes, a atriz soube dar a volta por cima, e criar, com dignidade, cinco filhos, de seus vários casamentos. Ela correspondia a um padrão de beleza bem conhecido:baixinha, rosto de boneca, estilo mignon, olhos claros, cabelos escuros, as pernas curtas e o busto avantajado, como encontramos muito em belas colegas de trabalho ou na vizinha do lado.Naturalmente, Miss Taylor tinha um diferencial: os olhos (ahhh!os olhos!!aquelas marotas janelas da alma que todo homem apaixonado quer percrustar!). Mas Elizabeth Taylor tinha também um gosto para homens e uma vida afetiva que sintetizavam muito o universo da busca feminina: homens dos mais diversos tipos e estaturas, mas que se resumiam bem num padrão, que misturava virilidade com compreensão. Seu curto e conturbado casamento com o empresário Mike Todd, que resultou em viuvez (após a morte do marido num acidente de avião); a escapadela irresponsável e quase juvenil com o cantor Eddie Fischer( roubado de sua amiga, a atriz Debbie Reynolds) e o histórico relacionamento com Richard Burton, que foi considerado pela própria atriz, o maior amor de sua vida, de todos a que ela já teve.
Burton é um capítulo a parte não só na história de Taylor, mas da história do cinema. Era um ator galês, shakespeariano, que egresso do teatro unia virilidade com elegância e vivacidade intelectual; ou seja, o homem que toda mulher heterossexual desejaria na cama. Com seu jeitão de Sartre num corpo de brutamontes, Richard Burton conseguiu durante anos domar uma estrela indomável, nas idas e vindas de um relacionamento que rendeu que eles se casassem por duas vezes. A própria Liz Taylor dizia em entrevistas que ela e Burton só não vieram a se casar novamente porque ele morreu antes. Ficou para a história a torridez das cenas de amor entre Taylor e Burton no filme Cleópatra, quando seu amado interpretava Marco Antonio, enquanto ela, a protagonista. Ambos fariam ainda juntos outros filmes célebres, como um dos casais mais carismáticos da histórica do cinema.
Mas eis que nas últimas décadas, a aura de Elizabeth Taylor foi se desvanecendo com a idade, assim como raras foram as suas apresentações no cinema (a última na adaptação do desenho animado, Os Flintstones,no cinema). Com o advento de doenças cada vez mais crônicas, a figura de Elizabeth Taylor começou a revelar, com o passar do tempo, os males da modernidade que afetam a maioria das mulheres: a ansiedade. Lutando contra a balança durante anos, a atriz começou a engordar comendo quilos e mais quilos de doces (ahh! Os doces, sempre os vilões das mulheres), além de abusos com álcool e drogas lícitas. A estrela se tornou uma figura tão bizarra quanto seus amigos na época, como Michael Jackson, e após o casamento que durou pouco, com o caminhoneiro Larry Fortensky, em 1991, parecia que o estilo da diva era se tornar um ícone gay, a partir das centenas de drag queens que passaram a imitar o glamour de seu estilo antigo. Os sinais do tempo passaram a atingir uma bela mulher.
Quando digo que Liz Taylor representou uma quebra no paradigma feminista, não digo que ela foi de encontro ao movimento, mas que soube se impor e conquistar seu poder no imaginário dos homens, menos por seu engajamento contra os homens, mas sim muito mais a partir de seu encanto e feminilidade, a favor deles. Liz Taylor amava os homens, assim como muitos homens (poetas, intelectuais, artistas) amam as mulheres. A atriz norte-americana falecida simboliza um século XX que partiu e toda uma geração de astros que se foi, dando lugar a novas belas e encantadoras atrizes da sociedade global do século XXI, novas princesas como a jovem Anne Hathaway, apresentadora da última edição do Oscar, mas que nunca chegarão ao peso do glamour de uma época que já passou. É o sinal dos tempos!
Menos por seu encanto de diva ( assim como foram Marilyn Monroe, Ava Gardner, Grace Kelly, Audrey Hepburn e Rita Hayworth), e mais por sua contribuição para a história do cinema, e para apaixonados pela sétima arte como eu, rendo minha homenagem a uma das artistas-símbolo do século XX, dizendo: BYE,BYE, BABY,!BYE, BYE!!
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