terça-feira, 3 de abril de 2012

POLÍTICA: DEM de Demóstenes.

Demóstenes do DEM. Agora, demonizado pela mídia.
"Alguns políticos não têm inimigo pior do que a si próprios". Com essa frase, o romancista e dramaturgo inglês John Priestley (1894-1984) resumiu a situação do senador do Democratas (DEM) de Goiás, Demóstenes Torres. Em menos de duas semanas, toda a credibilidade de um político de oposição, construída em uma década, foi por água abaixo, destruída perante a opinião pública, diante de acusações de tráfico de influência, corrupção e uma larga amizade com o conhecido contraventor Carlos Cachoeira ( o mesmo do caso do ex-assessor do ex-ministro José Dirceu, Waldomiro Diniz).

A credibilidade moral do senador desceu
a cachoeira, de tão impopular.
Em escutas telefônicas, prodigamente divulgadas na imprensa, feitas pela Polícia Federal, um agora preso Cachoeira conversa ao telefone com o senador goiano, valendo-se de apelidos singelos. Demóstenes é tratado por Cachoeira como "doutor", enquanto que Cachoeira é designado por seu interlocutor como "professor". Um professor do crime, ou no minimo, um mestre de maracatuais, com uma forte influência dentre figuras exponencias da República, dentre elas o senador Demóstenes Torres. As conversas que vieram a público revelaram uma relação de fidelidade quase canina do senador do Democratas com o conhecido contraventor, chegando ao cúmulo de Demóstenes se tornar um representante dos interesses de Cachoeira no Congresso. Em troca, Demóstenes chegou a receber prosaicos presentes, como uma geladeira e um fogão importados, em troca de um lobby que o senador fazia para Cachoeira, seja por aprovação de projetos de lei que legalizassem o jogo, ou na intervenção por terceiros, protegidos do contraventor, na articulação com desembargadores, em processos tramitando na Justiça.   Nada de novo no mar de lama da política nacional. Na cultura da realpolitik brasileira, onde, fazendo jus ao nosso legado lusitano, reproduzimos o ideal feudal do clientelismo, das amizades, e do "dando que se recebe" das trocas de apoio entre nossa classe política, eu nem me espanto tanto com a existência de personagens como Cachoeira. O que causa espanto é o agente público acertado do outro lado, com denúncias de corrupção, ou, no mínimo, leniência com um conhecido criminoso de colarinho branco. Demóstenes Torres parecia ser o último bastião do conservadorismo ético nacional. E se existe um conservadorismo "ético", Torres incorporava o seu principal representante.

Edmund Burke, filósofo inglês do século XVIII, com seu clericalismo antirrevolucionário, é considerado o pai do pensamento conservador moderno. Na verdade não existe um conservadorismo, mas sim conservadorismos. O conservadorismo é uma das mais intrigantes e complexas ideologias políticas, mas alguns de seus traços principais são bem identificáveis: manutenção da tradição; resistência à transformações profundas na sociedade; crença de que a desigualdade é algo natural aos homens e que a divisão de classes é inata à natureza humana; defesa intransigente de instituições seculares, como a família; e um reaçonarismo militante, contrário a qualquer pregação de cunho revolucionário, que vise dogmas ou esquemas pré-estabelecidos. O discurso conservador é uma das bandeiras da chamada "Direita" política, ou "Nova Direita". No Brasil, essa Nova Direita é representada pelo Democratas.

Carlinhos Cachoeira, empresário goiano. Este homem tem
nas mãos vários políticos, em prol da legalização do jogo
e outros negócios escusos. (fonte: veja.abril.com.br)
Nova que, na verdade, é velha. Para os mais jovens, é conhecido que o DEM é uma  legenda partidária oriunda do antigo PFL (Partido da Frente Liberal), formado ainda na época da ditadura, após a abertura política, com o surgimento da lei de anistia e as eleições diretas para os governos dos estados, em 1982. O DEM é herdeiro do antigo PDS (Partido Democrático Social), dos partidários do governo militar, que um dia se tornou PFL, antagonista de outro partido que foi oposição durante o período autoritário, o PMDB, do velho deputado constituinte Ulisses Guimarães,  que hoje dispensa apresentações. Demóstenes Torres era um dos três únicos senadores eleitos pelo partido, na avalanche de votos em candidatos de esquerda que deixou a nova direita quase inexistente no Congresso Nacional, nas últimas eleições presidenciais e parlamentares de 2010. Demóstenes parecia ser um Dom Quixote da direita nacional,  o último baluarte de uma minoria de insatisfeitos que, tratando-se de uma democracia, são valiosos no debate democrático nacional, ao menos por ter o direito de se apresentarem como a turma do contra. E foi sendo do contra que Demóstenes cumpriu fielmente seu papel partidário, sendo contra as iniciativas dos governos populares do PT na presidência, seja com Lula ou Dilma Roussef no poder. O senador Demóstenes equiparava-se a seu colega de bancada, José Agripino Maia, do RN, em importância e virulência, na qualidade de parlamentar de oposição ao governo, e a trapalhada política em que se meteu, já tem ares de trágedia. Demóstenes deve ser expulso do partido, e terá seu mandato cassado, tão certo quanto direita começa com a letra "d", e sua demonização pela mídia, assim como ocorreu anteriormente com seu colega de partido, José Roberto Arruda, deve levar ao encerramento de sua carreira política.

E agora, Demóstenes? Para os envolvidos em corrupção,
só restam as trevas do ostracismo
(retirado de prosaepolítica.com)
Se a carreira de Torres praticamente se encerrou, o futuro do Democratas e da nova direita no Brasil também é incerto. Se durante anos, movimentos e partidos de esquerda foram humilhados nas urnas ou pelas baionetas por governos de direita, parece que agora, no Brasil, o jogo se inverteu. Hoje, no tabulário partidário, são pouquíssimos os cientistas políticos que apostam uma ficha no DEM. O Democratas sucumbe de forma pior do que os partidos de esquerda que seus integrantes tanto criticaram e combatiam, no longo período em que se mantiveram no poder, ora mamando nas tetas da ditadura, ora servindo como auxiliares ou títeres dos militares, num dos períodos mais escabrosos e terríveis da história nacional. Agora, com pouca força política, esvaindo-se seu eleitorado e com dificuldade de renovar seus componentes pela falta da ascensão de novos quadros (com exceção de Rodrigo Maia, no Rio de Janeiro, e Magalhães Neto, na Bahia), o DEM se apequena cada vez mais, tornando-se um mero coadjuvante do PSDB, de Aécio, Serra e Alckmin. O paritdo vê seus pouquíssimos parlamentares sendo derrubados por denúncias de corrupção ou migrando de legenda, correndo atrás da aventura oportunista chamada PSD, criado pelo mais maquiavélico político da última década, Gilberto Kassab, até acabar de vez. Com a saída de Demóstenes, a nova ou velha direita tem poucos a recorrer, para representar seus interesses no Congresso Nacional (o deputado Jair Bolsonaro não conta, pois se trata de um político de extrema-direita, com uma minúscula influência na divulgação do conservadorismo brazuca, em nível nacional) e corre o risco de virar suco, assim como diversas legendas de aluguel que não vingaram nas últimas eleições.

Enquanto isso, Demóstenes resmunga, reclamando da falta de apoio de seu (ex) partido, correndo como um cachorro contra o próprio rabo, sem explicar o inexplicável ou forçando-se a uma psicopatia que ninguém acredita, de que "o inferno são os outros", que sua inocência e conduta ilibadas são mais do que comprovadas devido a sua atividade parlamentar, e que a mentira acabar por enganar até mesmo aquele que mente. Demóstenes pode ter mentido para si mesmo, debaixo de seu manto e de sua máscara de bom moço da direita, mas também mentiu ao povo brasileiro, ao mostrar para seus desiludidos eleitores conservadores, que político, realmente, é tudo igual!! Que triste lição, "doutor" Demóstenes!

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