Yo, caminaré entre las piedras
hasta sentir el temblor, en mis piernas
a veces tengo temor, lo sé
a veces vergüenza Oh Oh Oh
hasta sentir el temblor, en mis piernas
a veces tengo temor, lo sé
a veces vergüenza Oh Oh Oh
É com os primeiros versos de Cuando Pase El Temblor que lamento a morte de Gustavo Cerati, cantor e ex-vocalista da banda argentina Sodastereo. Para quem não conhece ou não curte rock cantado em espanhol, o Sodastereo foi uma das grandes bandas latino-americanas dos anos oitenta, e a canção mais conhecida deles aqui foi a regravação de Musica Ligera, grande sucesso do grupo, de 1990, regravada em português com letras diferentes por Paralamas do Sucesso e pelo Capital Inicial.
Assim como Renato Russo e Cássia Eller foram nossos heróis no rock nacional, Gustavo Cerati funcionava na cena musical e artística portenha como uma espécie de "Cazuza argentino". Carismático, do alto dos seus um metro e oitenta e três (aumentados pelas botas que usava), faiscantes olhos verdes e voz de barítono, para mim Cerati não foi apenas um Cazuza, mas também um "Gardel do Rock'n Roll", cantando canções de amor, sensualidade ou revolta com originalidade e classe que o fizeram um hitmaker. A primeira vez que escutei a voz do cara, cantando no Sodastereo, foi ainda no final dos anos noventa, quando no Brasil a TV paga Direct TV repassava o sinal da MTV latina. Conheci não apenas o Sodastereo, mas também outras bandas bacanas argentinas, como o Babasonicos e Bersuit Vergarabat, todos de altíssima qualidade e que tocam até hoje, mas; sem dúvida, o Sodastereo era o melhor. Os anos noventa eram a época em que o grupo vislumbrou a consagração, com o célebre disco Canción Animal e muitos outros sucessos, como Ciudad en La Furia ou Primavero Cero, rock pesado e de primeiríssima qualidade que eu escutava à exaustão num antigo boteco de um amigo norueguês, que também gostava do som dos caras.
Entretanto, só fui me tornar mesmo fã da banda e de seu cantor quando viajei pela primeira vez a Argentina, em 2005. Lá, percorrendo lojas de discos tive acesso a toda a discografia do grupo, descobri que Cerati tinha saído da banda e seguido carreira solo, carreguei minha mochila de pilhas de CDs (no tempo que ainda não era tão popularizado o Mp3), e durante toda a viagem e meu retorno ao Brasil escutei muito, muito Sodastereo. Recordo que ao chegar em Natal encontrei um amigo argentino de longa data, que já vivia há anos por aqui e tinha escutado o rock de seu país somente até os anos setenta, e vi como ele ficou deslumbrado quando escutou pela primeira vez uma coletânea do Sodastereo. Na banda liderada por Gustavo Cerati estava todo o apelo pop de um rockstar, com shows pirotécnicos, letras bem elaboradas, riffs de guitarra que se transformaram em hinos, lotando estádios pela América Sul em apresentações belíssimas e ruidosas. O Sodastereo abria seus shows como se fossem monstros sagrados do rock como Queen ou Rolling Stones, fazendo perfomances memoráveis, vistas à exaustão até hoje na versão latina do VH1 ou no Youtube, energizando um estádio do River Plate enlouquecidamente repleto de fãs devotos. Para mim, os caras do Sodastereo foram os Beatles da Argentina e a primeira banda de um país latino-americano a sair dos limites de sua fronteira nacional e percorrer todo o continente em turnê, até chegar aos Estados Unidos e Europa. Nesse sentido, acerca do rock cantado em espanhol, o Sodastereo foi um marco histórico.
Encerradas as atividades da banda oficialmente em 1997, com o lançamento da turnê, disco e DVD de despedida chamada El Último Concierto, os fãs de Gustavo Cerati e seu grupo tiveram que esperar dez anos para ver de novo seus ídolos juntos, na turnê de retorno Me Verás Volver, de 2007, quando saiu o disco e DVD homônimo, que não demorei a ter em minha coleção. Só lamentei que no período eu não tive a oportunidade de ir a Argentina e ver o show dos caras. Eu não sabia e nem podia imaginar que esta seria a última apresentação da história da banda.
Eis que em maio de 2010, o mundo recebe a triste notícia de que, em um show da turnê de seu disco solo, em Caracas, na Venezuela, Gustavo Cerati passa mal nos bastidores da apresentação e é levado às pressas para o hospital, pois tinha acabado de ter um AVC. O que parecia ser apenas um susto decorrente do stress de uma cansativa turnê latino-americana acabou se revelando uma tragédia, um drama que iria durar mais de quatro anos. Gustavo Cerati entrou em coma, para nunca mais voltar. Durante esses anos ficou entre seus familiares e fãs a esperança de que ele, respirando com a ajuda de aparelhos, pudesse um dia acordar. Não aconteceu.
Com sua morte na data de hoje, aos 55 anos, onde, por coincidência, recebi a notícia em um hotel na Colômbia, terra que tanto recebeu os shows e tanto amou o Sodastereo, sei que fica mais triste a cena do rock mundial. Eu não poderia deixar aqui de render a minha homenagem, a um dos músicos mais fascinantes que já conheci ao ouvir rock cantado em espanhol. A família do músico e aos seus fãs em todo o mundo eu desejo todo o carinho do mundo, e que vocês possam expressar esse carinho pelas bonitas músicas que esse cantor fascinante cantava, empunhando sua guitarra.
GRACIAS TOTALES, GUSTAVO!!!
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