domingo, 10 de maio de 2015

CRÔNICAS SÓCIO-AFETIVAS: Sobre a maternidade

Meu filho nasceu no dia 10 de abril de 2015, uma sexta-feira, exatamente às 11 (onze) horas. Estive presente ao parto de minha esposa e pude vislumbrar a pequena criança sair do ventre de sua mãe. Exatos 30 dias depois, calhou de o aniversário de um mês de vida de Miguel Antonio cair exatamente no segundo domingo do mês de maio; ou seja, no Dia das Mães. Como recente mãe, creio que minha esposa ganhou este ano o maior dos presentes!! Um baita, pequenino e às vezes chorão presente do Dia das Mães.

Dia esse que tem um histórico curioso, a começar pelos gregos na Antiguidade, que comemoravam o Dia de Rhea, a mãe dos deuses, para celebrar a chegada da primavera na região, nos idos de março.

Mas foi nos Estados Unidos do século XIX, durante a sangrenta Guerra da Secessão no país, que em 1865, foi organizado o Mother's Friendship Days (Dia de Amizade às Mães), para promover entre as mães dos soldados feridos na guerra uma campanha de solidariedade e auxílio às famílias necessitadas, bem como pregando a paz e o desarmamento. No séxulo XX, em 12 de maio de 1907 a religiosa metodista Anna Jarvis criou um memorial em celebração à memória de sua mãe, morta dois anos antes, iniciando uma campanha para que o dia fosse reconhecido como um feriado nacional. A campanha seguiu até 1914, quando o Mother's Day foi aprovado no Congresso americano, e no mesmo ano o presidente Woodrow Wilson proclamou uma resolução declarando o Dia das Mães como data oficial nos edifícios e repartições públicas, sempre no segundo domingo do mês de maio, sendo celebrado naquele ano, primeira vez, em 9 de maio de 1914. No Brasil, em 1932, o presidente Getúlio Vargas reconheceu a data no segundo domingo de maio, passando a vigorar no país o Dias das Mães a partir de então. O curioso é que, historicamente, o Dia das Mães manteve na era moderna uma relação de proximidade com o advento das guerras. A começar pela Guerra da Secessão entre os norte-americanos, sua proclamação como dia oficial no começo da I Guerra Mundail, até ser reconhecido por outros países, como o Brasil, poucos anos antes de estourar o conflito da II Guerra Mundial.

A "Mãe" de Gorki:Mãe de todas as revoluções.
Sobre guerras, lembro-me da "Mãe", uma das grandes obras do escritor revolucionário russo, Máximo Gorki. Na história, Pavel, jovem operário seduzido pelas ideias bolcheviques, enfrenta a fúria do Czar Nicolau II, escudado pela mãe, Pelágia, a verdadeira heroína, protagonista da saga, que suportando a miséria e um marido violento e bêbado que acaba morrendo, ela segue com o filho na luta revolucionária, tornando-se a mãe não apenas de Pavel, mas de todos os revolucionários que sofrem com a opressão czarista. Pelágia torna-se a "mãe da Revolução". Apesar de todo o seu conteúdo político, a obra de Gorki não deixa de captar alguns elementos da cultura russa, onde a instituição do matriarcado tem uma influência muito forte. Afinal, fazer alusão a "Mãe Rússia", é um dos traços característicos do nacionalismo russo, e até no hino do país faz-se referência a figura materna, sendo concebida a pátria como uma grande mãe que abraça a todos os seus filhos.

Pai é pai, e não obstante toda nossa cultura patriarcal oriunda desde os gregos, que antecedeu mesmo a influência judaico-cristã, de valorizar muito mais a figura do pater do que a mãe, acredito, sem sombra de dúvida, que retirando a importância social, nós, homens que somos pais, nunca desfrutaremos em sua completude do amor que uma mãe compartilha por seu filho. O amor de mãe transcende a Criação, antecede a concepção, e talvez por isso o catolicismo seja até mesmo, do seu jeito, uma versão cristã dos velhos ritos orientais, onde a figura materna era deificada muito mais do que a figura masculina do genitor. Não é a toa que o teólogo Leonardo Boff já afirmou em seus escritos que uma das principais e fortes características do catolicismo é seu caráter mariano. Maria, mãe de Jesus, durante séculos, até a Reforma Protestante, foi vista por alguns crentes como uma divindade até maior do que Cristo. A santificação da figura da mãe tem, portanto, uma fundamental influência do cristianismo e um pouco disso herdamos em nossa cultura ocidental, até mesmo na sacralização da palavra "mãe", que envolve alguém que, por ter concebido a vida em seu ventre, ganha um destaque todo especial na vida de qualquer um, pois foi através dela que conhecemos o mundo, respiramos pela primeira vez fora do líquido amniótico do ventre materno, e é ela a primeira pessoa que acolhe o nosso choro, o primeiro de muitos e muitos choros!!

É por isso que, este ano, celebrei o Dia das Mães de uma forma mágica e totalmente especial, em relação aos dias anteriores, pois pude ter ao meu lado duas significativas mães: a minha própria mãe, a quem já homenageava, beijava e presenteava há muitos anos, e agora minha esposa, mãe de meu filho, uma mãe jovem, de primeira viagem, mas que já demonstra o comovente carinho, amor, devoção e preocupação que só uma mãe consegue ter. A elas e a todas as mães do mundo, eu desejo, do fundo do coração, muitos e cada vez mais felizes, DIA DAS MÃES!!! Obrigado por existirem, mamães!!!

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