Morreu na Inglaterra, aos 93 anos, num hospital em Westminster, por insuficiência respiratória, o ator britânico Christopher Lee. Não morreu apenas um grande e longevo ator, que até onde a saúde permitiu (mesmo esquálido pela velhice e coberto de rugas), atuou em grandes e memoráveis produções cinematográficas, dentre elas a premiada trilogia O Senhor dos Anéis. Lee era um típico ator de filmes do cinema fantástico ou de fantasia, temas que adorava. Foi o vilão Conde Dookan, na segunda trilogia de Star Wars, e sua imagem ficará para sempre na memória das novas gerações como o mago Saruman, da citada trilogia do diretor Peter Jackson.
Entretanto, Lee era mais conhecido, por aqueles muitos que já passaram dos quarenta como eu e alguns que já chegaram até os sessenta anos, como o mais célebre intérprete do Conde Drácula nos cinemas, ou, ao menos, o que mais representou o personagem nas telas (Bela Lugosi ficará para sempre como um dos mais famosos intérpretes do famoso vampiro, mas foi Lee quem mais celebrizou o personagem nos filmes). Dos anos 50 até os anos 70 do século passado, intercalando outros papéis, invariavelmente Christopher Lee aparecia nos cinemas com um novo filme do Drácula, sempre pelos estúdios da produtora britânica Hammer, e o seu personagem, ao menos na minha memória, deixa saudade.
Lembro-me do medo e fascínio que sentia ao ver os filmes de Drácula interpretados por Lee no cinema, que nos anos oitenta já passavam na TV, geralmente nas sessões do final da noite. Fã de filmes de terror, eu mal podia esperar para ver o tenebroso e sedutor conde aparecer na tela, para, na hora mais improvável, abocanhar sua próxima vítima. Mas Lee também ficou famoso como o vilão dos filmes de 007, com Roger Moore no papel de James Bond, quando interpretou o criminoso Saramanga, no filme O homem da pistola de ouro. Ele também atuou no cinema interpretando Sherlock Holmes, além de uma série de personagens impagáveis, que requeriam um britânico de voz tonitroante, incorporando invariavelmente uma imagem de lorde, ou personagens mais exóticos, como o Doutor Fu Manchu, no filme do mesmo nome.
Christopher Frank Carandini Lee nasceu em 1922, teve 67 anos de carreira no cinema com mais de 200 filmes e uma vida fascinante. Antes de atuar, lutou pela Força Aérea Britânica, na II Guerra Mundial, sendo condecorado seis vezes. Homem culto, falava oito idiomas, inclusive russo e grego, e adorava história e música clássica, pois sonhava em ser bailarino ou cantor de ópera. Alto e magro, com uma voz grave, de nobre sotaque inglês inconfundível, Lee era o europeu refinado típico, apesar de nascido de família modesta, segundo ele de origem cigana, que acabou se tornando sir no ano de 2009, quando foi condecorado pela rainha da Inglaterra com o título de Cavaleiro Real.
Na chegada da década de oitenta a carreira de Lee esfriou, vindo o ator a participar de produções menores por vinte anos, até que, para não ser esquecido pelas velhas gerações, e lembrado pelas novas, tornou-se o Conde Dookan nos filmes de Guerra nas Estrelas: A Guerra dos Clones e A vingança dos Sith. Entretanto, foi interpretando Saruman, em O Senhor dos Anéis (2001), As Duas Torres (2002), O Retorno do Rei (2003) e o Hobbit (2013), que Lee ficará para a memória recente de gerações de fãs do gênero fantástico, desde a primeira década deste século. Em filmes baseados no livro do escritor J.R. Tolkien, Christopher Lee incorporou como ninguém a figura misteriosa e imponente do mago branco que acaba se voltando para as trevas de Sauron. Ele chega a competir dramaticamente com seu colega britânico no mesmo filme, o ator Ian McKellen, que interpretou Gandalf, um dos personagens principais da trilogia. Ao encarar com perfeição um dos personagens coadjuvantes do livro de Tolkien, Lee com seu Saruman, permanecerá para sempre como um dos ícones do cinema.
Mas não foi apenas no cinema que o veterano ator britânico se notabilizou no mundo das artes. Talvez realizando na velhice o velho desejo da juventude de se tornar cantor, Christopher Lee foi vocalista de uma banda de heavy metal, isso aos 91 anos!! Declaradamente fã desse gênero musical, o ator gostava de bandas como Manowar, que retomavam nas músicas o universo mítico do Senhor dos Anéis, com letras voltadas para batalhas épicas entre cavaleiros, elfos, duendes e dragões. Como se sabe, os filmes de terror e o heavy metal tem uma relação quase siamesa, e nesse embalo Lee foi chamado para cantar em dois discos, da banda italiana Rapshody on Fire, onde primeiro aparecia somente como narrador, mas depois passou a cantar suas próprias músicas. Em 2014, Lee chegou a lançar seu próprio álbum de metal, Metal Knights, e com a canção Jingle Hell, ele se tornou o cantor mais idoso de heavy metal da história, a ingressar num hit parade do rock internacional.
Retirou-se, portanto, da vida entre os mortais um ator que se imortalizará para sempre, na pessoa de seus personagens, tanto no cinema quanto na música. Como fã de ambos, eu não poderia aqui deixar de postar minha homenagem a esse grande ator, que viveu muito, teve uma vida intensa e cheia de experiências interessantes, e, nesse momento, deve estar entoando cânticos, com sua voz grave, mas adocicada, entre anjos e demônios, em algum lugar do além. Que Deus cumprimente nos jardins do Paraíso sua alma, Sir Christopher Lee, e que as valquírias lhe carreguem suavemente, como um bruxo Saruman que novamente retornou aos caminhos do bem!! Farewell!!
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