sábado, 3 de julho de 2010

FUTEBOL: Nessa Copa do Mundo, a culpa foi do Mick Jagger e não da Jabulani.

Recordo que há poucos meses atrás, ainda morando em Porto Alegre, atravessei de carro a avenida Érico Verissimo e parei no sinal, próximo ao prédio do jornal Zero Hora. Pela faixa de pedestres notei que a única pessoa que atravessou era um senhor magro, cinquentão, bem alto, calvo, branco e meio enrugado. O sujeito era um cara extremamente conhecido e chegou a ser um dos ídolos do futebol nacional: Paulo Roberto Falcão, craque do Internacional, da seleção brasileira e do Roma.

Ao ver Falcão recordei da seleção de 1982, a clássica equipe de estrelas como Zico, Sócrates, Éder, Júnior e o próprio Falcão, que participou do festivo Mundial da Espanha. A seleção que foi sem nunca ter sido, capitaneada por um saudoso Telê Santana e sua maneira de cortar do esquema tático os laterais de campo (era a época da campanha midiática:"bota ponta, Telê!). A equipe do futebol bonito, uma verdadeira arte, de gols maravilhosos, da promessa de um dream team que honraria o país com o tetracampeonato mundial, após a mitológica conquista do México em 1970. Fazia apenas 12 anos que o Brasil tinha vivido a experiência de ser tricampeão mundial, nos pés de Pelé, Tostão,Rivelino, Jairzinho, Gérson e tantos outros fabulosos jogadores. Eu aguardava com ansiedade ver o Brasil campeão, pela primeira vez em minha vida, já que não havia ainda nascido na conquista de 70, e escutava curioso os feitos daquela seleção tricampeã, nos relatos de meu pai.

Naquele ano de 1982, eu, na minha pré-adolescência, começava a participar da festa futebolística que é uma Copa do Mundo, assistindo as fantásticas partidas disputadas por aquela seleção de sonho. Acompanhei com os olhos marejados o sonho terminar nos pés maldosos de Paolo Rossi, que naquele fatídico dia de julho, no estádio Sarriá, veio a desencantar. Aquele que seria o dia de Rossi, após cumprir uma longa suspensão e redescobrir seu futebol, assim como a Itália redescobriu a taça de campeão, após cinquenta anos. Parecia ser a vingança da Azurra, pela derrota sofrida por goleada nas mãos da seleção de Pelé, em 70.

Não gosto das quartas de final. Pra mim é a fase crítica de uma Copa do Mundo, onde as esperanças e os sonhos podem ir por água abaixo. É a fase crítica, o momento intermediário de um Mundial que irá definir quais equipes terão chances reais de conquistar um campeonato. Após as quartas somente quatro seleções poderão ostentar o título de serem as melhores do mundo naquele ano, e por isso, assisti a tantas quartas de final que o Brasil perdeu. Pra que chegar tão longe pra depois morrer na praia, numa quartas de final?

Pois foi nas quartas de final que a seleção de Telê e Zico descobriu o fracasso. Mesmo fracasso repetido nos pênaltis contra a França em 1986 na segunda Copa no México, e no mundial de 2006, também contra a França (arggg, os franceses de novo) num melancólico 1 x 0 para os franceses.

Pois agora, perdemos de novo nas quartas, desta vez para a Holanda. Justiça seja feita, a Holanda foi melhor e soube superar um trauma de duas Copas perdidas, exatamente nos pés de brasileiros. Com a derrota da Copa da África encerra-se, sem júbilo, a atormentada "Era Dunga". Pois é, o técnico e ex-jogador Dunga já era! Justiça seja feita, a Holanda tem um débito histórico a sanar indo novamente a uma semifinal de Copa, e Dunga, seja como treinador ou jogador, encerrou sua carreira da forma como começou: debaixo de polêmica e de uma saraivada de críticas.

Em artigo anterior neste blog, tratando da Copa da África, elogiei a coerência de Dunga na escalação de seus jogadores, sem que, com isso, eu dissesse que a seleção era boa. Não é esse o caso. Segundo o ex-jogador holandês Cruyff, craque da Copa de 74, em reportagem publicada pelo jornal O Globo, o futebol da seleção brasileira hoje peca pela falta de magia, pelo esquema burocrático e sem graça montado por Dunga. Ele tem razão. Na verdade, Dunga montou um time à imagem e semelhança de seu mentor na Copa de 94, Carlos Alberto Parreira. O mesmo que conduziu os sofridos Bafana Bafana sul-africanos à derrota, e que mostrou ao mundo um vexame histórico, ao liderar o pior fiasco de um time anfitrião em mundiais, e de ter seu aperto de mão recusado pelo também derrotado técnico da França, Raymond Dommenech. Mesmo com o tetracampeonato brasileiro conquistado à duras penas em 1994, nos Estados Unidos, nos pés da dupla Romário e Bebeto, Parreira nunca me convenceu. E ficou sem me convencer mais ainda com a empáfia da seleção que perdeu vergonhosamente para a França em 2006, após o júbilo anterior do pentacampeonato com a "família Scolari" e a redenção de Ronaldo Fenômeno. Essas quartas de final que nunca me saem das costas, como uma maldição.

Se perder é aprendizado, ao menos nesta Copa tiramos sábias lições quanto à ignorância humana e a voracidade capitalista, no comércio e difusão das horrorosas e barulhentas vuvuzelas. Essa Copa foi o torneio da vuvuleza, a Copa da Jabulani. E num torneio bem controvertido, não pelo preconceito contra o continente africano, mas pela desorganização mesmo, vimos toda a polêmica em torno da bola utilizada na competição: a já folclórica Jabulani, a temperamental bola que nunca é chutada na direção que se quer, e que parece ter vida própria. Essa Copa, que não terminou ainda, já ficou na história por conta de suas vuvuzelas e jabulanis, mas também pelo futebol bonito da seleção da Alemanha. Pois é! A Alemanha fazendo futebol bonito???  Mein Gott!! Mas isso não era atributo de sul-americano. Na Copa da terra do Mandela vimos, ao contrário, o colonizador branco europeu dar as cartas novamente no tabuleiro do mundo, seja com a derrota do Brasil para a Holanda, a desclassificação de todas as equipes africanas ainda na primeira fase do torneio (com exceção honrosa de Gana), e a tragédia argentina, com ares de tango, pela histórica goleada germânica nos pés de Klose, Podolski e tantos outros chucrutes talentosos e habilidosos com a jabulani. E olha que o craque deles, Ballack, nem foi pra Copa, por conta de uma contusão.

A vergonha brasileira só não foi maior que a vergonha italiana, francesa e inglesa, ou o vexame argentino, demonstrando o que já sabíamos: Maradona como treinador é somente um bom beijoqueiro. Sim, essa também foi a Copa em que antigos campeões beijaram a lona da forma mais massacrada possível. A seleção francesa sequer fez um gol, a da Itália, foi sonolenta até o último minuto, quando descobriu a necessidade de ganhar já tardiamente, quando a inexpressiva Eslovênia fez os azurri chorarem envergonhados, voltando antecipadamente pra casa, com seus ternos armani amarrotados pela atuação pífia e ridícula.

Mas não dá pra lavar a roupa suja falando mal só dos outros. Nós, brasileiros, fomos sim mal representados pela equipe de Dunga, pagamos o pato de ter um técnico inseguro e imaturo no comando de uma seleção. Achei até heroica a atitude de Dunga de peitar os meios de comunicação, desafiando a toda poderosa Rede Globo, literalmente batendo a porta na cara de Fátima Bernardes, para ódio de William Bonner e Cia, negando a entrada da imprensa nos treinos da seleção; mas a forma como ele se expôs ao mundo é que foi deselegante, bisonha e até risível, com sua ira fora do lugar, seus acessos de fúria durante as partidas, e sua xingada em jornalistas nas coletivas da imprensa. Essa Copa vai ser também o torneio do técnico mais bizarramente mal vestido, como o caso de nosso Dunga, com seu sobretudo futurista, desenhado pelo estilista retrô Alexandre Hercovitch. É a Copa do "Cala Boca Galvão", da ascensão do twitter como ferramenta útil para defenestrar locutores chatos, difundindo uma campanha cívica para que os brasileiros mudassem de canal, como forma de quebrar o monopólio da Globo na trasmissão da competição. Apesar de que, Galvão Bueno já conseguiu para a próxima Copa do Mundo um sucessor à altura, o também insuportável mas com pinta de galã, Tadeu Schimitt.

Se a Copa da África do Sul não vai deixar saudade para o torcedor brasileiro, ao menos descobrimos um novo talismã ao contrário, na hora de torcer pela derrota do time adversário: Mick Jagger. O eterno rolling stone, com cadeira cativa em  todos os jogos importantes do Mundial,praticamente presenciou a derrota de todos os times que foi assistir e torcer: como a sua Inglaterra natal; Portugal, que levou outro canastrão da bola, Cristiano Ronaldo, de volta mais cedo pra casa; a própria seleção brasileira, na vergonhosa derrota para a Holanda; e a Argentina, essa sim que verdadeiramente se f... na goleada imposta pela Alemanha. Resta saber quem Jagger vai torcer na final do Mundial. Na minha opinião, tomara que seja pela Alemanha.

Pois é! Não adianta reclamar ou chorar. Nesta Copa do Mundo, Dunga e Maradona, Kaká e Messi encontram-se no mesmo barco, na qualidade de craques somente em seus próprios times, mas nunca verdadeiramente numa seleção nacional, ambos de volta para casa antes do fim da festa, e todos vestindo a mesma camisa, com um nome em letras garrafais bem estampado: vergonha. Só não vem torcer pelo meu Botafogo! Viu, Seu Mick Jagger!!!! Até 2014!!

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