sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TRAGÉDIA REDIVIVA: Passou 2010, passa 2011, virá 2012, 2013,2014....e muita gente vai continuar morrendo nas chuvas de começo do ano.

No começo do ano passado escrevi sobre a trágica realidade das chuvas no Rio de Janeiro, que trouxe a tragédia do reveillon em Angra, que ainda está fresca na memória de muita gente que acompanha minimamente o noticiário. Além das chuvas do mês de janeiro e do desastre completo em Angra dos Reis, em maio foi a vez de Niterói, o morro de Santa Tereza e outras adjacências; e, agora, no começo de 2011, o pesadelo retorna novamente. Basta chover pra ter gente já especulando quantos cadávares vão ser recolhidos no intervalo das chuvas, porque morrem muitas pessoas mesmo.


Pessoas. Será que o conceito jurídico de ser humano pode ser empregado em sua totalidade diante de uma situação de desespero e desamparo que vitima tantas famílias no começo de todo ano, nas grandes metrópoles brasileiras? Em especial no Rio de Janeiro e São Paulo penso que a cada ano vale novamente minha frase registrada: a de que pobre, se não morre de fome ou de tiro, morre soterrado. Vocês podem perceber,que nas imagens de TV e nas dramáticas fotos dos jornais, todos vemos, ano após ano, centenas de pessoas chorando, com suas casas soterradas, parentes mortos em desabamentos, gente aos prantos molhada de chuva, repórteres alvoroçados e políticos indignados, cada um querendo responsabilizar a um e outro, empurrando a conta da tragédia para as prefeituras, os governos estaduais ou para o governo federal. Teve repórter que até insinou que a culpa foi do Lula (Ah,tá! A culpa não é mais de São Pedro, mas do ex-presidente barbudo, que se foi). Não importa quem são os culpados, não interessa o quanto a natureza castiga os morros, vales e restingas desse meu Brasil varonil. O que importa é que a cada chuva torrencial, além de lama, pedra e areia, o que vemos desabar junto com a água corrida dos penhascos e encostas, são os pobres que vem junto, numa chuva de corpos afogados, esmagados ou soterrados por incompetência, ganância imobiliária e falta de planejamento urbano. Chove não apenas água, mas falta de dignidade! É! Vamos ao velho jargão: a culpa é do sistema!


Dessa vez o palco da tragédia foi Teresópolis, Nova Friburgo  e Petrópolis, na região serrana do Rio. Parece que a cada ano a natureza ou a fúria divina escolhem a dedo um lugar, no mapa da região fluminense, para castigar mais incautos com pesadas chuvas. Mas não é nada disso. As razões de 2011 já ter começado com uma cifra de mortos maior que 2010, com as chuvas do começo do ano passado, não tem nada de sobrenatural. Pelo contrário, o problema é bem humano, previsível. Não adianta aqui eu repetir à exaustão minha crítica sociológica, dizendo que os males produzidos pelas chuvas são resultados dos males da economia capitalista, que gera uma exploração imobiliária gananciosa e facista, tíica do mais selvagem dos capitalismos. Não adianta insistir nas teses dos especialistas em Políticas Públicas e Planejanemto Urbano da USP, que, ao contar a história do desenvolvimmento urbano de metrópoles como São Paulo, já esclarciam que desde o começo do século passado, os ricos ocupavam as áreas mais seguras e altas da cidade, a salvo dos alagamentos; enquanto aos pobres só restava morar nos vales ou na beira de precipícios, à espera de que a próxima chuva não destruísse seus barracos ou moradias tão sofregamente construídas.

No Rio de Janeiro a situação é bem pior, pois com a existência de morros, serras e florestas repletas de montanhas, é natural que os mais frágeis economicamente, ou simplesmente aqueles que queriam construir sua casinha de campo à longe da exploração imobiliária e do IPTU alto, cravassem suas residências em áreas de risco, continuamente à mercê da erosão provocada pelas chuvas. Ora, sabemos que comunidades inteiras na periferia da Grande Rio vivem sob lixõees aterrados, e é comum encontrar a placa de imobiliárias de fundo de quintal, de escritórios de vendedores de terreno espertalhões, que com a maior cara de pau, oferecem domicílios à preço de banana, para aqueles que sempre mantiveram o sonho da casa própria. É, a vida é dura meus companheiros! Mais dura ainda quando você se vê soterrado por todos os lados!

Não sou candidato a prefeito, nem a vereador e nem faço parte de nenhuma ONG ou equipe de políticas públicas, que possa dar soluções para tragédias como essa do Rio de Janeiro. Amo o Rio, de coração e alma, e sei que a cada Carnaval, no mês subsequente, o carioca parece querer enxugar suas lágrimas de tanta tragédia, vestindo-se de folião e enchendo a cara, para esquecer durante quatro dias, das mazelas de sua realidade tão caótica diante da fragilidade do homem, perante às forças da natureza ou vítima da inoperância do poder público. Os norte-americanos tiveram seu furacão Katrina, enquanto que os asiáticos seu tsunami e os haitianos e chilenos seus terremotos; para dar vontade aos  seus sobreviventes de começar de novo.Agora, aqui no Brasil, pergunto-me pra que recomeçar, se todo recomeço na verdade é uma história de voltar para trás, negando os problemas, mantendo o que está errado, quando na verdade um novo governo e uma nova presidente devem se preocupar em pressionar o governador e o prefeito cariocas de revolucionar todo o cenário urbano do Rio de Janeiro, criando imensos lotes residenciais a salvo das chuvas, e uma complexa e dinâmica rede de drenagem e recepção de águas pluviais, a fim de que as tragédias de 2010 e 2011 se tornem coisa do passado. É, parece que estou sonhando! Mas o pior, é que meus sonhos são sempre pesadelos. Até quando??

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?