terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MÚSICA E LIVROS: "Eu sou Ozzy" é leitura e rock'n roll de primeira!

Fazia algum tempo que eu não tinha tempo de ler, num curto espaço, textos bacanas por pura diversão. Sempre atarefado com o trabalho ou com a produção acadêmica, acabei relaxando num dos hábitos mais deliciosos da minha vida: a leitura de livros. Gosto de contos policiais, crônicas, poesias, estórias de ficção científica, literatura beatnick, alguns clássicos e, especialmente, biografias. Minhas biografias prediletas são as dos ídolos do rock, e ainda me pesa na memória a excelente biografia de Jim Morrison, da banda The Doors, escrita pelos jornalistas Daniel Sugerman e Jerry Hopkins, intitulada Daqui Ninguém saí Vivo (Ed. Almedina). Li o livro no começo dos anos noventa, e recordo que logo após a leitura, estreou o filme de Oliver Stone, contando a estória do grupo liderado por Morrison, com Val Kilmer interpretando o vocalista, e  recordo como fiquei impressionado com um texto tão bom, fluido, de uma história tão fascinante quanto a do cantor norte-americano, morto precocemente aos 28 anos, no começo dos anos setenta.


Passados vários anos, depois de ter lido de tudo um pouco, eis que me surge às mãos, no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, uma obra-prima de nonsense e puro estilo rock'n roll: a biografia de Ozzy Osbourne, intitulada Eu sou Ozzy (Ed. Benvirá). Voltando do Rio Grande do Sul, em direção a Natal,  meu voo fez uma escala em Belo Horizonte e durante o período de conexão, fiquei no saguão de embarque folheando o livro na livraria do aeroporto, e, seduzido pelo texto, acabei comprando o livro (assim como a biografia de Keith Richards, do Rolling Stones) e saboreei minha leitura durante todo o tempo de espera no aeroporto, assim como durante o voo.

Nas três horas seguintes que levaram até Natal, não consegui despregar os olhos do livro e de como a estória de um dos ídolos do rock e figura representativa do heavy metal era tão fascinante. A estória do menino nascido num bairro inglês pobre da cidade de Aston, nas proximidades de Birmigham, revelou-se ao mesmo tempo hilária, trágica e alucinante. É o próprio Ozzy quem destila suas memórias, em verdade muito prejudicadas pelo uso abusivo de álcool e drogas durante tantos anos, que ainda intriga muitos profissionais da medicina de como esse velho roqueiro inglês ainda permanece vivo. Pois eis que o hoje sexagenário John Michael Osbourne conseguiu sobreviver e se tornar não apenas um ícone da música mundial, como também um atabalhoado, mas arrependido pai de família, que fez, sim, muitas presepadas; inclusive arrancar a cabeça de um morcego, vivinho da silva, durante um show! (o que lhe rendeu meses de tratamento e injeções contra raiva e outros distúrbios colaterais).

Mas fora o mundinho de vivências centrado na tríade drugs, sex and rock'n roll, o que se pode tirar de lição do mundo de Ozzy é de como um grande artista surgiu, superou as adversidades, reinventou-se e se tornou, hoje,  uma referência na cultura pop global. Ozzy fez parte da mitológica banda Black Sabbath, e em seu livro, para os fãs, encontramos toda a história do grupo e das aventuras desses rapazes cabeludos fora dos palcos, durante os inventivos anos setenta; além de saber um pouco da história daquele gênero musical que até hoje seduz milhares de ouvintes em todo o mundo:o heavy metal. Sabemos um pouco da religiosidade e do misticismo de alguns componentes da banda, e de que Ozzy, com seu jeitão caipira de garoto do interior, de origem operária, que já trabalhou em fábricas e matadouros e que já tinha sido até preso em reformatórios juvenis por diversos furtos, na verdade fugia muito da figura de um líder satanista, interessado em pregar feitiços no palco ou invocar o diabo em cada show do Sabbath. Na verdade, descobrimos o que os menos incautos já sabiam há muito tempo: tudo não passava de jogo de cena. É hilariante a descrição que Ozzy faz dos fãs alienados, interessados em magia negra, que cercavam a banda e chegavam a ensair cultos satânicos nos lobbys de hotel, após cada show do grupo, e que para Osbourne não passavam de motivo de piada. É de extremo humor o episódio em que Ozzy cita, que cada vez que vinham aquelas pessoas esquisitas, vestidas de preto, com a cara pintada de branco, convidando-o para uma missa negra no cemitério, o vocalista do Black Sabbath respondia: "os únicos espíritos do mal que eu quero ter contato após o final do show são whisky, gim e vodka!", ou quando finalmente sentou ao lado deles, fazendo parte daquele circo patético, quando surpreendeu a todos, pulando no meio do círculo e cantando em cima de um pentagrama: parabéns pra você.

O álcool foi exatamente o maior demônio de Ozzy Osbourne. Substância que quase destruiu sua carreira (quando não sua vida), dizimou seus casamentos  e que o levou novamente para a cadeia. Ozzy ressente-se disso, e nesse momento vemos como o texto do livro ganha ares emocionantes e os contornos dramáticos de uma novela, quando o cantor fala da saudade de seus velhos pais, do apego à família e de como o suporte dado por sua segunda esposa, Sharon, foi fundamental para a superação dos traumas, e de como um garoto que sofria de dislexia pôde enfrentar a vida de cabeça erguida, ao chegar ao mundo da fama, da decadência física e moral, e do renascimento profissional, após ser expulso do Sabbath e ter conseguido engatar uma carreira solo (muito obtida através da esposa, fiel escudeira e empresária, Sharon, que acreditou no potencial do cantor, quando todos pareciam lhe fechar as portas).


Dentre os dramas do "principe das trevas",
 o que merece destaque e é um dos fatos trágicos que mais marcou a biografia de Ozzy, que foi a morte do guitarrista Randy Rhoads. Rhoads, um virtuose da guitarra e ex-estudante de música clássica, filho de uma concertista, sem dúvida fui um dos responsáveis pela ascensão de Osbourne na sua carreira solo, colaborador e autor dos riffs de guitarra, dos dois primeiros e até hoje melhores álbuns do cantor: Blizzard of Ozz e Diary of a Mad Man. O jovem guitarrista magricelo, baixinho e com cara de moleque não incorporava em nada os cacoetes dos músicos de rock da época (não consumia álcool e nem drogas, era religioso, gostava de fazer trabalhos sociais, era avesso à badalações e totalmente devotado à música) e a forma trágica como morreu, num estúpido acidente de avião, com apenas 25 anos, marcou indelevelmente a carreira do artista e ser humano Ozzy Osbourne, talvez tanto quanto a perda de seus outros entes queridos.

O bom de Eu sou Ozzy é mostrar sem retoques a visão de um artista sobre si próprio, desmistificado de toda sua aura de celebridade, demonstrado como um homem comum. As agruras de Ozzy são fatos corriqueiros de qualquer pessoa, que vive seus altos e baixos durante a vida, como eu vivi, poderei ainda viver e como todos nós vivemos ou viveremos um dia. Mas sua história de vida também serve como lição e advertência para os malefícios do abuso de substâncias lícitas ou ilícitas (afinal, o cara lutou contra a balança também!), e de como uma segunda chance pode ser dada para indivíduos abençoados. Acredito piamente, em minha religiosidade, que Deus foi muito misericordioso e condescendente com Ozzy Osbourne, dando-lhe a oportunidade de se redimir das mancadas passadas e se reinventar como músico e pai de família. Não deixa de ser notável perceber que o cantor de rock pesado da Grã-Bretanha só conquistou, definitivamente, a fama global que tem, por ter participado de um reality show onde mostrava o cotidiano de toda a sua família, e que se tornou um novo gênero de seriado, inaugurado com a MTV. Lá, foi possível ver e conhecer, além da rotina de Ozzy com a mulher, os filhos e os bichos de estimação, como a sua luta contra o álcool ainda estava presente, e de como ele quase morreu (das diversas mortes que experimentou) ao fraturar praticamente todos os ossos após um acidente de motocicleta. Porém, como um gato com mais de nove vidas ou simplesmente por ser o sujeito abençoado que é, Ozzy Osbourne mais uma vez ressuscitou.

Atualmente, Ozzy assina no jornal britânico The Sunday Times uma coluna médica (isso mesmo, pasmem!), onde dá dicas de saúde, inclusive falando dos riscos de medicação excessiva, uma vez que todo o tipo de remédio que já usou na vida (inclusive pra se livrar do álcool e das drogas), serviu para montar o tipo lesado que se viu nos programas de televisão. Ozzy diz claramente que a voz enrolada e o tipo tosco que por vezes aparecia nas câmeras, não era uma estratégia de marketing para montar a imagem do "vovô piradão"; mas sim demonstrar a realidade de que, realmente, devemos ter cuidado com a saúde e que meter o nariz (olha o ato falho!) onde não é chamado, não é lá boa coisa. Assim, até no meio médico o "Dr. Ozzy" acabou ganhando suas páginas de destaque.

Sei que muitos leitores do meu blog podem não gostar do gênero heavy metal ou torcer o nariz diante da figura errática de um assumido bebum e chapado músico como Ozzy Osbourne. Mas, além do preconceito e da crítica musical, é so escutar canções como Changes ou Mama, I'm coming Home, para mudar um pouco a opinião sobre o eterno ex-vocalista do Black Sabbath. Bueno! Pois saibam que, com certeza, em 2011 estarei em algum dos cinco shows que estão programados no Brasil, para ver o bom e velho Ozzy. Gostando ou não, vou aqui escutando Mr. Crowley, esperando nessa dura vida o que ainda está por vir, No More Tears, pois estou fora de qualquer Suicide Solution, e prefiro saudar a vida, Bark on The Monn! God bless you, Ozzy!!

Um comentário:

  1. Imperdível também a autobiografia da roqueira e poeta americana Patti Smith. Vale muito! Ps. Também gostei da de Keith Richards. Uma verdadeira história do rock. Abraços. Daniel Gringo's. Danf1110@hotmail.com

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