quarta-feira, 8 de junho de 2011

CINEMA: "A minha versão do Amor" não é só minha, mas tua, dele, dela, de muita gente ou de todos nós.

Na minha mais recente viagem a minha querida (mas bastante fria no inverno) cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, tive a oportunidade de visitar seus bares, cafés e cinemas, e matar as saudades de algumas tradicionais salas de cinema de que gosto muito, dentre elas o Guion Center, no shopping Olaria, no bairro da Cidade Baixa, próximo há onde morei na cidade. No lugar sempre tem filmes do mundo inteiro, de cineastas e atores de várias nacionalidades, com películas que não circulam nacionalmente no circuito nacional, e muitos filmes de "arte" (Arghhh!! Odeio essa expressão, pois, afinal, cinema não é uma forma de arte?) ou filmes do chamado cinema alternativo, com bons enredos de maravilhosos dramas, aventuras ou comédias.
Pois foi num de meus passeios pelo Guion que vi na semana passada a belíssima comédia dramática "A Minha Versão do Amor" (Barney's Version), do diretor norte-americano Richard J. Lewis. Apesar de ter saído no ano passado, o filme só foi chegar até os cinemas brasileiros este ano, e eu tive a grata oportunidade de não ser mais um daqueles que só verá o filme em DVD (senão numa porca versão pirata), mas sim tendo a emoção e o intimismo provocado pela escuridão da tela grande do cinema, ao ver um belo filme que me arrancou sinceras lágrimas (Sim! Vocês já sabem! Sou um sentimental!). O filme concedeu o Globo de Ouro, prêmio da crítica de cinema norte-americana, ao ator Paul Giamatti, que interpreta o protagonista, Barney Panofsky, que, por sinal, foi um dos grandes injustiçados nas indicações ao Oscar de melhor ator este ano, por sua magistral interpretação, numa obra que é uma adaptação do livro do escritor canadense, Mordechai Richler. Pois bem! O que é que o filme tem de tão especial?

O filme trata da história de vida de Barney, relembrada por ele já idoso, após os sessenta anos, sentindo os primeiros sinais do mal de Alzeheimer. Ele é um escritor mal-sucedido na juventude, que apesar de fanfarrão,sarcástico e meio amargo, é rodeado de amigos que o amam, além de ter tido a sorte de ter se relacionado com belas mulheres. O personagem cai como uma luva em Giamatti, uma vez que seu tipo comum de cara baixinho, barbudo, gordinho, meio enfezado e judeu, corresponde a muitos estereótipos de como nós mesmos somos ou já fomos ou de pessoas que conhecemos (eu, principalmente, no vai-e-vém do efeito sanfona de ficar um pouco acima do peso, de vez em quando). Apesar de seu jeito esquisito, Barney na verdade é um boa-praça, um romântico incorrigível que só quer encontrar o amor da sua vida, pois se trata de um cara sensível e sujeito talentoso que consegue excelentes oportunidades na vida, até se firmar como diretor de um programa de televisão. Não obstante a vida profissional, no decorrer de sua vida Barney tem uma intensa e tumultuada vida amorosa,  que serve de fio condutor para a estória.

É pela história de seus amores que ficamos conhecendo melhor Barney, seus erros e sucessos e de como sua vida chegou aonde chegou. A estória tem um pouco de Charles Dickens, como em Um Conto de Natal, quando o personagem, já envelhecido, relembra passagens de sua vida. Mas distante de ser meramente um filme que trata de nostalgia, o filme de Lewis trata de maturidade, da experiência que obtemos com o passar dos anos, mediante os atropelos do destino. O filme também trata da relação paterna, aí lembrando um pouco o filme Peixe Grande de Tim Burton, quando nas memórias de Barney ele lembra dos conselhos e do companheirismo de seu velho pai, Izzy, um policial aposentado, interpretado com o magnetismo do veterano e oscarizado Dustin Hoffman. Mas as mulheres de Barney, que constituem o cerne de sua vida amorosa, também são interpretadas brilhantemente por ótimas atrizes, com destaque para a atriz britânica Rosamund Pike, que interpreta Miriam, a terceira (e mais duradoura) esposa de Barney. No decorrer da estória, ficamos descobrindo porque Barney passou por tantas agruras que levaram a três casamentos, decorrentes de seus erros e acertos, e também sabemos qual das mulheres ele realmente amou.

Mas o que salva Barney's Version de se tornar apenas uma novela melodramática é o bom roteiro, uma direção que não perde o traço em descrever a humanidade dos personagens, além do traço existencial dado por Giamatti a Barney e o olhar distante e desesperançado do protagonista envelhecido, quando começa a sentir os efeitos da doença que corrói sua memória. É aqui que o drama atinge sua dimensão mais comovente, quando percebemos que aquilo que mais atormenta o personagem não foi o preço pesado de suas escolhas no decorrer da vida, que culminaram no final de três casamentos, mas sim a perda das lembranças, que é tudo aquilo que Barney ainda tem. Afinal, se as mulheres e amigos se foram, o que ficam são as lembranças, e é de tocar o coração ver a angústia do personagem em perceber que as pessoas, lugares e fatos que fizeram a sua vida começam a desaparecer de sua mente e na sua luta para fazer permanecer na memória as pessoas que tanto amou é que vemos a necessidade de nós mesmos efetuarmos nossos resgates internos, não como uma forma masoquista de cultivar a nostalgia, mas sim pelo singelo ato de preservar a saudade. No final das contas, "A Minha Versão do Amor" trata de saudade, um sentimento que não se traduz em palavras e nem se escuta ao vento, mas que se manifesta através dos olhos. No caso, através dos olhos caídos e lacrimejantes de Barney Panofsky.

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