segunda-feira, 4 de julho de 2011

POLÍTICA: O fim da era FHC se dá com a morte de seus principais colaboradores.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem dúvida, tem uma vida longeva. Aos 80 anos de idade, recém-comemorados, com direito a diversas homenagens, e até uma reabilitação política inédita pela presidenta Dilma Roussef, FHC retornou à ribalta e ao centro das atenções de que tanto gosta, seja por ter chegado à idade de um ancião, seja pela sua participação no polêmico documentário sobre a legalização da maconha, Quebrando o Tabu, ou por estar sempre presente no enterro dos amigos e aliados.

Por esse último fator, nas últimas décadas, FHC tem colecionado perdas. As primeiras dolorosas e inesperadas, ainda no tempo em que era presidente, com o falecimento de seu melhor amigo e principal articulador político, o antigo ministro das telecomunicações, Sérgio Motta. Se Fernando Henrique chorou com a perda do amigo Serjão, o presidente tucano sentiu ainda mais com a perda do grande aliado, do antigo PFL, o deputado Luiz Eduardo Magalhães, filho do dinossauro e coronelíssimo Antônio Carlos Magalhães (o finado "rei da Bahia"), morto precocemente aos 42 anos devido a um infarto fulminante, gerando um vácuo de poder com sua morte, pulverizando a eterna aliança entre tucanos e pefelitas (agora, chamados de democratas, alojados no DEM de José Agripino e cia). FHC aprendeu a conviver com a morte dos que lhe são próximos, tendo que digerir a morte por câncer de Mário Covas, em 2001, último baluarte ético de um partido surgido no começo dos anos 90, e que tinha a promessa de permanecer, no mínimo, vinte anos no poder (sabe-se agora que o PSDB só governou mesmo os oito anos de FHC, sendo superado pelos petistas).

Porém, mais tristeza ainda estava por vir, para atingir o sociólogo no poder ou o "príncipe dos sociólogos", como alguns de seus fãs bajuladores gostam de dizer. A morte de sua esposa e primeira-dama, Ruth Cardoso, em 2008, foi o mais duro golpe na vida pessoal de Fernando Henrique. Afinal, não morria apenas a apoiadora e primeira-dama, mas também a companheira de vida, alguém com quem o ex-presidente dividia ideias e afetos, além dos lencóis. Ruth teve uma participação política importante no governo do marido, chefiando a ONG Comunidade Solidária, e seu perfil acadêmico de antropóloga, condizia com o do esposo intelectualizado, que do alto de sua vaidade, queria ser uma espécie de Sartre no poder, acompanhado de sua Simone de Beuvoir. Foi muita pretensão de um sujeito pretencioso, mas este é FHC, e enquanto ele permanece vivo, seu séquito de apoiadores parece não ter a mesma longevidade, caindo um a um por doenças e ataques cardíacos repentinos, ou morrendo de velhice mesmo.

Um dos últimos a tombar foi seu ministro da educação e mentor intelectual na pasta, Paulo Renato de Souza. Aos 65 anos, bem menos que o ex-presidente, Paulo Renato sucumbiu após passar mal em uma aula de dança, na provinciana cidade paulista de São Roque, a poucos quilômetros da capital, São Paulo, vítima de um infarto, encerrando mais um capítulo da história do tucanato, com a morte de um componentes do núcleo duro do partido: um nicho de intelectuais burgueses e neoliberais, alguns oriundos da esquerda tradicional da década de 70, e que agora vestiam o figuro moderno da livre iniciativa, da abertura de mercado e da defesa dos interesses do capital. Com a morte de Paulo Renato, desaparece mais um dos queridinhos da Revista Veja, hoje, símbolo maior dos meios de propaganda do alto tucanato, e só resta a FHC a companhia indigesta de José Serra, seu correligionário que representa o segmento maiis raivoso, oposicionista e reaçonário do partido, ou a presença cândida de um Geraldo Alckmin, renascido das cinzas e das urnas, com mais uma governança tucana em seu reduto-mor, o estado de São Paulo. Com a morte de seus principais líderes e a ausência de renovação, sem lideranças mais jovens (com exceção de Aécio Neves, mas este representa um protetorado bem específico do partido), o partido de FHC fica cada vez mais atrelado moralmente à figura de seu velho timoneiro, além de algumas figuras carrancudas e inexpressivas, como o presidente da legenda, Sérgio Guerra, ou  o eterno escudeiro de Serra, o deputado José Aníbal, e a figura do surpreendentemente eleito, senador Aloísio Nunes Ferreira. Enfim, uma turma augusta de senhores idosos e vaidosos, que não dispensam um bom cafézinho num restaurante de luxo, de preferência no bairro dos Jardins, em São Paulo.

Até mesmo o ex-presidente Itamar Franco, morto neste final de semana, entra na conta. Pra quem não sabe ou é muito jovem para lembrar, Itamar catapultou FHC ao estrelato político, quando o brindou com o ministério da fazenda, e com ele veio a criação do Plano Real, que tirou definitivamente o país dos trilhos da inflação. FHC foi eleito no primeiro turno da eleição, contra um ainda inexperiente Lula, no sucesso do plano econõmico, mas graças à oportunidade que Itamar deu ao seu subordinado, passando FHC e não Itamar para a história, como o presidente brasileiro que domou a inflação. Itamar morreu angustiado e com um eterno rancor de seu ex-aliado, chegando a comentar uma semana antes de sua morte, aos 81 anos, que ninguém tinha vindo lhe cumprimentar ou render homenagens quando completou 80 anos, ao contrário de FHC.

Resta a FHC ver seus netos crescerem enquanto ainda cultiva uma boa saúde, com tantos anos de vida e tantos cabelos brancos a lhe ornamentarem a vasta cabeleira. Se não tem fôlego mais para uma nova disputa presidencial, FHC ainda está vivo para disputas políticas, envaidecido toda vez que os meios de comunicação lhe procuram, como uma espécie de oráculo do neoliberalismo, diante de um governo social-democrata ( o que o PSDB não é, apesar da sigla), e que nos oito anos de governo Lula, trocou mais o liberal pelo social. Não se sabe ao certo quem será o próximo a morrer, na longa lista de apoiadores e pessoas públicas que influenciaram a carreira política do ex-presidente e sociólogo, mas se sabe que o maior representante do tucanato ainda tem muito a dizer, mesmo que solitário, já que os seus mais próximos parecem não estar mais presentes nesse mundo, e os mais jovens  possam considerar que já estão lidando com um velho ancião. Ledo engano! Pois o ex-presidente ainda tem muito a dizer. Afinal, FHC ainda está vivo!!!

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