A imagem de um raio atingindo o topo da Basílica de São Pedro, num flagrante fotográfico obtido com perfeição pelo fotógrafo italiano Filippo Monteforte, no mesmo dia em que o papa Bento XVI anunciou que irá renunciar ao papado, em 28 de fevereiro deste ano, simboliza bem o ápice da crise de uma Igreja Católica que não consegue mais reconhecer a si própria. Como que numa manifestação da fúria divina ou como um presságio do que ainda está por vir, a iimpressionante imagem do raio cortando os céus do Vaticano até atingir a Basílica, para mim expressa bem os desafios que esta igreja cristã milenar terá pela frente, sob o risco de se desintegrar (ao menos na forma tradicional como foi estabelecida durante tantos séculos).
O papa Bento XVI irá voltar a ser apenas Joseph Ratzinger no final deste mês. Alegando não ter mais forças para conduzir a igreja, face sua idade avançada (85 anos), o papa irá renunciar. Ele se tornará o 4º papa a renunciar ao trono de Pedro em toda a história, desde a fundação da Igreja Católica, há mais de mil anos. Para se ter ideia de quão raro é esse fato, o último papa a renunciar foi Gregório XII, em 1415; ou seja, há praticamente seis séculos atrás. Tal ato não deixa de ter um enorme simbolismo para a história da Igreja e para o desenvolvimento da cristandade em todo o planeta. Afinal, apesar da perda de fiéis, a Igreja Católica ainda é a igreja cristã mais poderosa do mundo, contando com uma enorme população de católicos nas Américas, principalmente nos Estados Unidos, e em países populosos da América Latina, como a Argentina, o México e o Brasil.
Entretanto, no pontificado de Bento XVI, a Igreja Católica enfraqueceu-se ainda mais na Europa. Mesmo na Itália e na Polônia, países historicamente com maioria católica, a religião decresceu, com o advento do neopentecostalismo e a ascensão do islamismo com a grande corrente migratória oriunda principalmente da Ásia e do norte da África. A igreja comandada pelo papa renunciante também perdeu fiéis no Ocidente, com as centenas de denúncias de pedofilia envolvendo clérigos e integrantes da igreja, além de denúncias de corrupção envolvendo a Cúria Romana, o mais alto órgão da cúpula católica, responsável pela administração e pelas finanças da igreja.
Creio, porém, que o maior problema da Igreja Católica, que levou à renúncia de seu sumo pontífice, não foi apenas a evasão de seu rebanho de fiéis, as denúncias de pedofilia ou a corrupção em seus quadros administrativos. O problema real da igreja de Bento XVI foi a de não conseguir se sintonizar com as demandas do século XXI. Prosseguindo com a proposta de seu antecessor( o carismático papa João Paulo II) de desmobilizar toda a estrutura liberal-progressista montada no Concílio Vaticano II, na década de sessenta do século passado, no curto mas célebre pontificado de João XXIII, o papa Bento XVI praticamente eliminou a ala progressista da igreja, simpática à Teologia da Libertação, introduziu uma agenda conservadora, e, com uma visão muito mais elitista de igreja, não se preocupou com a debandada de fiéis e sim com a manutenção de uma estrutura monolítica, que separasse uma minoria dos "verdadeiros crentes", daqueles que pareciam estar distanciados da igreja cristã.
É na separação entre uma igreja de salvos e uma comunidade de decaídos que Bento XVI pode ser mais identificado. Sua visão ultraconservadora que destoava do clérigo progressista que ele próprio era na juventude, fez com que um ex-militante adolescente da juventude hitlerista alemã viesse a se tornar um cardeal diligente, e extremamente poderoso no pontificado do papa anterior, comandando com mão de ferro a Congregação para a Doutrina da Fé (nome atual da antiga Inquisição). Como teólogo, Joseph Ratzinger era um estudioso brilhante, mas como papa viu-se como um administrador inábil, com uma visão acentuadamente tradicionilsta, e por que não dizer, ultrapassada de igreja, pouco propensa a manter um diálogo interreligioso. Em uma de suas preleções enquanto ainda era cardeal, Ratzinger chegava a criticar as igrejas protestantes, reafirmando que a igreja de Roma era a única igreja verdadeiramente cristã e reconhecida pelas escrituras. Com uma visão dessas não foi novidade que, no dia de sua proclamação como papa, Bento XVI já fosse alvo de críticas.
A falta de diálogo e a formação de grupos de oposição dentro da própria estrutura do Vaticano minaram de vez o poder que Bento XVI tinha sobre a igreja. O papa que agora renuncia tinha uma visão tradicional de pontificado, onde o papa ainda era tido como o "vigário de Cristo na terra", ou, simplesmente, uma criatura falível tão somente perante Deus, como um homem que apesar de não ser santo, merecia, com suas vestes brancas, ser chamado de "vossa santidade". Nessa condição, Bento XVI considerou, erroneamente, que conseguiria apenas com sua autoridade papal, conduzir todo o rebanho de católicos do mundo, eliminando as críticas ou diferenças. Ledo engano. Num mundo que cada vez mais se transforma, um dos desafios encontrados pela igreja no século XXI é se manter enquanto instituição tradicional, quando o próprio conceito de tradição é revisto, ou até mesmo eliminado, numa sociedade global e ligada virtualmente pela internet e suas redes sociais numa quebra constante de antigos paradigmas, onde nada é mais o que parecia ser. Para se ter apenas um exemplo, veja-se o caso do casamento gay, condenado com veemência pela igreja, mas cada vez mais praticado no mundo inteiro, sendo reconhecido por governos de países desenvolvidos, dentre eles a França, cujo parlamento aprovou recentemente a inclusão na legislação do direito ao casamento e adoção por casais do mesmo sexo. Em seu negativismo em termos absolutistas, sem a mínima possibilidade de transigência, ou diálogo com setores mais liberais da igreja e dos movimentos sociais na discussão desses temas, o papa viu a igreja se afastar cada vez mais da população ao discutir temas controversos. Soma-se a isso a intolerância da igreja em relação a outros temas também caros à sociedade moderna, como o direito ao aborto, o fim do celibato dos padres, a ordenação de mulheres na igreja, o uso de contraceptivos e o emprego de células-tronco em pesquisas científicas.
A Igreja Católica não conseguiu frear o surgimento de um novo ateísmo. O papel da igreja e sua relevância como instituição passaram a ser cada vez mais questionados e a própria figura do papa, mesmo para quem é ou era religioso, passou a suscitar sérias dúvidas quanto a sua credibilidade. Não se questiona o fato de que as viagens do sumo pontífice ainda merecem uma extensa cobertura midiática e são vistas como grandes eventos geopolíticos. É inegável que, até por conta de sua suntuosidade e expressiva apresentação, como representantes da última monarquia absolutista do mundo (o Vaticano), os papas ainda são recebidos por multidões, onde quer que cheguem. Entretanto, os pronunciamentos de Bento XVI na televisão e suas aparições em eventos anuais tradicionais, como a Missa do Galo, pareciam cada vez mais ser mais burocráticos e enfadonhos do que, efetivamente, deveriam ser grandes eventos religiosos, cobertos de um santo significado. Bento XVI foi um papa que não agradou a todos, mas deu pro gasto, segundo alguns de seus críticos; apesar de ter feito nada ou muito pouco para que sua igreja não se desmantelasse.
Acredito que, ao ler alguns pensadores, téoricos da ciência da religião, como Mircea Eliade, a humanidade sempre estará cindida entre o sagrado e o profano. Mesmo que sejam muito evoluídas tecnologicamente, a ponto de determinadas instituições milenares, como a igreja, terem sua existência questionada, por conta de um certo anacronismo de seus integrantes, as sociedades mais modernizadas não conseguirão se desprender de seu aparato religioso. Sempre permanecerá a fé e o questionamento de quem somos, como fomos criados e qual será o nosso destino após a nossa morte. Creio que a presença de Deus enquanto uma fórmula de contingência que dá sentido à realidade do sistema religioso sempre vigorará em todas as sociedades, conforme afirmava Luhmann, em sua sociologia da religião. Porém, a forma de refletir sobre a existência de Deus e as experiências de vida religiosa tendem a ser cada vez mais diferentes neste século. É cada vez mais comum encontrar comunidades inteiras de cristãos afastados de suas igrejas de origem, procurando novas formas de convivência religiosa através de cultos nas residências de um e de outro, ou por meio da formação de células e grupos de oração e discussão teológica. Em todos esses eventos percebe-se um certo desapontamento com a igreja tradicional, e a Igreja Católica aparece como instituição religiosa recordista de críticas e defecções. Enfim, um horizonte atribulado e cinzento parece cercar a igreja cristã mais antiga do mundo, numa crise que faz lembrar o ambiente conflituoso que antecedeu a Reforma Protestante, no século XVI.
Lamento pelos católicos as indefinições quanto ao futuro de sua igreja, face a renúncia de seu líder. Que um novo papa, se não funcionar como grande agente de transformação, ao menos recomece a igreja do zero, recuperando sua humildade e sua vocação de atender aos mais pobres e desvalidos. É preciso que a Igreja Católica avance ainda mais na crítica de seu passado retrógado, quando vários de seus papas legitimaram governos autoritários, chancelaram a escravidão, lideraram sangrentas cruzadas em nome da fé, dizimando povos e provocando etnocídios como aqueles que ocorreram com a população indígena das Américas. Menos do que seu histórico imperial, a igreja de Bento XVI deve se voltar para si própria, numa profunda autocrítica, a fim de que ela ainda tenha validade e importância para a sociedade neste século e nos séculos que ainda estão por vir. Não só milhões de católicos, mas todos aqueles que tem algum tipo de fé, esperam por isso.
Entretanto, no pontificado de Bento XVI, a Igreja Católica enfraqueceu-se ainda mais na Europa. Mesmo na Itália e na Polônia, países historicamente com maioria católica, a religião decresceu, com o advento do neopentecostalismo e a ascensão do islamismo com a grande corrente migratória oriunda principalmente da Ásia e do norte da África. A igreja comandada pelo papa renunciante também perdeu fiéis no Ocidente, com as centenas de denúncias de pedofilia envolvendo clérigos e integrantes da igreja, além de denúncias de corrupção envolvendo a Cúria Romana, o mais alto órgão da cúpula católica, responsável pela administração e pelas finanças da igreja.
(retirado de jb.com.br) |
É na separação entre uma igreja de salvos e uma comunidade de decaídos que Bento XVI pode ser mais identificado. Sua visão ultraconservadora que destoava do clérigo progressista que ele próprio era na juventude, fez com que um ex-militante adolescente da juventude hitlerista alemã viesse a se tornar um cardeal diligente, e extremamente poderoso no pontificado do papa anterior, comandando com mão de ferro a Congregação para a Doutrina da Fé (nome atual da antiga Inquisição). Como teólogo, Joseph Ratzinger era um estudioso brilhante, mas como papa viu-se como um administrador inábil, com uma visão acentuadamente tradicionilsta, e por que não dizer, ultrapassada de igreja, pouco propensa a manter um diálogo interreligioso. Em uma de suas preleções enquanto ainda era cardeal, Ratzinger chegava a criticar as igrejas protestantes, reafirmando que a igreja de Roma era a única igreja verdadeiramente cristã e reconhecida pelas escrituras. Com uma visão dessas não foi novidade que, no dia de sua proclamação como papa, Bento XVI já fosse alvo de críticas.
A falta de diálogo e a formação de grupos de oposição dentro da própria estrutura do Vaticano minaram de vez o poder que Bento XVI tinha sobre a igreja. O papa que agora renuncia tinha uma visão tradicional de pontificado, onde o papa ainda era tido como o "vigário de Cristo na terra", ou, simplesmente, uma criatura falível tão somente perante Deus, como um homem que apesar de não ser santo, merecia, com suas vestes brancas, ser chamado de "vossa santidade". Nessa condição, Bento XVI considerou, erroneamente, que conseguiria apenas com sua autoridade papal, conduzir todo o rebanho de católicos do mundo, eliminando as críticas ou diferenças. Ledo engano. Num mundo que cada vez mais se transforma, um dos desafios encontrados pela igreja no século XXI é se manter enquanto instituição tradicional, quando o próprio conceito de tradição é revisto, ou até mesmo eliminado, numa sociedade global e ligada virtualmente pela internet e suas redes sociais numa quebra constante de antigos paradigmas, onde nada é mais o que parecia ser. Para se ter apenas um exemplo, veja-se o caso do casamento gay, condenado com veemência pela igreja, mas cada vez mais praticado no mundo inteiro, sendo reconhecido por governos de países desenvolvidos, dentre eles a França, cujo parlamento aprovou recentemente a inclusão na legislação do direito ao casamento e adoção por casais do mesmo sexo. Em seu negativismo em termos absolutistas, sem a mínima possibilidade de transigência, ou diálogo com setores mais liberais da igreja e dos movimentos sociais na discussão desses temas, o papa viu a igreja se afastar cada vez mais da população ao discutir temas controversos. Soma-se a isso a intolerância da igreja em relação a outros temas também caros à sociedade moderna, como o direito ao aborto, o fim do celibato dos padres, a ordenação de mulheres na igreja, o uso de contraceptivos e o emprego de células-tronco em pesquisas científicas.
A Igreja Católica não conseguiu frear o surgimento de um novo ateísmo. O papel da igreja e sua relevância como instituição passaram a ser cada vez mais questionados e a própria figura do papa, mesmo para quem é ou era religioso, passou a suscitar sérias dúvidas quanto a sua credibilidade. Não se questiona o fato de que as viagens do sumo pontífice ainda merecem uma extensa cobertura midiática e são vistas como grandes eventos geopolíticos. É inegável que, até por conta de sua suntuosidade e expressiva apresentação, como representantes da última monarquia absolutista do mundo (o Vaticano), os papas ainda são recebidos por multidões, onde quer que cheguem. Entretanto, os pronunciamentos de Bento XVI na televisão e suas aparições em eventos anuais tradicionais, como a Missa do Galo, pareciam cada vez mais ser mais burocráticos e enfadonhos do que, efetivamente, deveriam ser grandes eventos religiosos, cobertos de um santo significado. Bento XVI foi um papa que não agradou a todos, mas deu pro gasto, segundo alguns de seus críticos; apesar de ter feito nada ou muito pouco para que sua igreja não se desmantelasse.
Acredito que, ao ler alguns pensadores, téoricos da ciência da religião, como Mircea Eliade, a humanidade sempre estará cindida entre o sagrado e o profano. Mesmo que sejam muito evoluídas tecnologicamente, a ponto de determinadas instituições milenares, como a igreja, terem sua existência questionada, por conta de um certo anacronismo de seus integrantes, as sociedades mais modernizadas não conseguirão se desprender de seu aparato religioso. Sempre permanecerá a fé e o questionamento de quem somos, como fomos criados e qual será o nosso destino após a nossa morte. Creio que a presença de Deus enquanto uma fórmula de contingência que dá sentido à realidade do sistema religioso sempre vigorará em todas as sociedades, conforme afirmava Luhmann, em sua sociologia da religião. Porém, a forma de refletir sobre a existência de Deus e as experiências de vida religiosa tendem a ser cada vez mais diferentes neste século. É cada vez mais comum encontrar comunidades inteiras de cristãos afastados de suas igrejas de origem, procurando novas formas de convivência religiosa através de cultos nas residências de um e de outro, ou por meio da formação de células e grupos de oração e discussão teológica. Em todos esses eventos percebe-se um certo desapontamento com a igreja tradicional, e a Igreja Católica aparece como instituição religiosa recordista de críticas e defecções. Enfim, um horizonte atribulado e cinzento parece cercar a igreja cristã mais antiga do mundo, numa crise que faz lembrar o ambiente conflituoso que antecedeu a Reforma Protestante, no século XVI.
Lamento pelos católicos as indefinições quanto ao futuro de sua igreja, face a renúncia de seu líder. Que um novo papa, se não funcionar como grande agente de transformação, ao menos recomece a igreja do zero, recuperando sua humildade e sua vocação de atender aos mais pobres e desvalidos. É preciso que a Igreja Católica avance ainda mais na crítica de seu passado retrógado, quando vários de seus papas legitimaram governos autoritários, chancelaram a escravidão, lideraram sangrentas cruzadas em nome da fé, dizimando povos e provocando etnocídios como aqueles que ocorreram com a população indígena das Américas. Menos do que seu histórico imperial, a igreja de Bento XVI deve se voltar para si própria, numa profunda autocrítica, a fim de que ela ainda tenha validade e importância para a sociedade neste século e nos séculos que ainda estão por vir. Não só milhões de católicos, mas todos aqueles que tem algum tipo de fé, esperam por isso.
Difícil é acontecer alguma mudança na cabeça dos avançados clérigos conservadores dessa Igreja. Porque se tiver que acontecer uma mudança, todos nós sabemos disso, tem que acontecer primeiro em cada um de nós. Não adianta montar uma nova postura para retomar fiéis perdidos, se quem está a frente intimamente não concorda com as mudanças.
ResponderExcluirSe é que ocorrerá uma mudança na milenar Igreja cristã!
Muitos na Itália e no Mundo não vêem a renúncia do Papa como uma nuvem negra sobre a Igreja, mas sim como uma chance de renovação, que já ocorre de baixo para cima desde os anos 60, mas sem apoio da alta cúpula desde João Paulo II, é verdade. A maioria dos católicos preferem mudar a Igreja do que mudar de Igreja, sair dela o virar ateu, pois todas as outras opções tem suas controvérsias. Denfendo um ecumenismo futuro, como apoiou o bom Papa João XXIII. Infelizmente reformistas radicais como Martinho Lutero,João Calvino, Thomas Cranmer,John Knox, Cotton Mather, e John Wesley, escreveram ou defenderam escritos que chamavam os papas de suas épocas de anticristos, atitude semelhante tomada pela Igreja Episcopal Irlandesa, a Igreja Presbeteriana e a Igreja Batista, tornando-se uma barreira que impede um ecumenismo eficaz e deteriora as relações já muitos ruins entre católicos e protestantes. Calvino, inclusive, despertou revolta entre seus próprios seguidores ao chamar de papistas muitos cristãos protestantes respeitados. Concordo que a Igreja Católica Romana deve avançar na crítica de seu passado retrógado, como já fez oficialmente em alguns pontos importantes. Mas infelizmente esse é o calo atual das diversas denominações protestantes: a falta de autocrítica, com honrosas exceções. Lutero escreveu aos príncipes alemães contra seu ex-colega reformista Munzer, afirmando: "Contras as hordas de camponeses, quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde". Os luteranos fizeram um "mea culpa" pela morte de mais de 30.000 camponeses em dez anos de perseguição aos anabatistas nos paises germanicos? Ao invés disso vemos hoje nas locadoras o filme "Lutero" fazedo omissões e maquiagens da história. Omissão, por exemplo, da pérola literária:"A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e jóias, prata e ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas, postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos, na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus"– "Sobre os judeus e suas mentiras" (Von den Juden und Ihren lügende). Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg "que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes". Em vários países, pastores de grupos luteranos, mórmons, testemunhas de Jeová e outras denominações evangélicas cometeram abuso sexual de menores. Especialmente as testemunhas de Jeová foram muito criticadas nos Estados Unidos, quando foi descoberto que alguns religiosos sabiam sobre os abusos e transferiam os acusados, em vez de denunciá-los e removê-los (Revista Veja de 15 de novembro de 2006, páginas 112 a 114). Tribunais religiosos e a caça às bruxas, bem como outros métodos de combate à heresia foram perpetradas tanto pela Igreja Católica quanto pelas Igrejas Protestantes, como exemplo o caso das Bruxas de Salém s EUA. A Reforma religiosa serviu de trampolim para eliminar os vestígios de paganismo que subsistiam no meio rural e serviam de alimento à feitiçaria. Em vez de reciclar as velhas crenças, como fez o cristianismo primitivo, tanto católicos como protestantes decidiram atacá-las e declará-las uma herança de Satanás. Lutero defendeu que se queimasse os seus praticantes, e os luteranos estenderam por toda a Alemanha a caça à bruxas, enquanto o calvinismo impôs na Escócia, em 1563, a primeira lei antibruxaria.Marx tinha certa razão quanto as religiões, sobre a influencia econômica e materialista que há nelas e sobre as pessoas em geral. Mas a religião não é o ópio do povo, mas pode ser usada como tal pelas elites dominantes. Cabe a nós encontrar nas entrelinhas da Bíblia o verdadeiro Deus
ResponderExcluir