quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

POLÍTICA: Cuba, Yoani Sanchez e a patuleia esquerdista e direitista.Quem tem a razão?

(foto:jornalistasdaweb.com.br)
Causou alvoroço a chegada da blogueira e jornalista cubana Yoani Sanchez ao Brasil, nos últimos três dias, desde sua chegada no aeroporto de Recife até sua passagem pelo Congresso Nacional. Yoani tornou-se famosa a partir de seu blog, Generacion Y, em que, sob a forma de breves crônicas, relata a realidade de seu país e do povo cubano em tempos de crise econômica, desabastecimento e ausência de liberdade de expressão. O blog de Yoani já tem seis anos, e nessa época, já tive a oportunidade aqui de comentar em meu blog o que eu achava de seus escritos, estabelecendo, a meu ver, uma crítica na medida certa acerca das conquistas da Revolução Cubana, através de seu líder maior, Fidel Castro, há cinquenta anos atrás, até a realidade atual da ilha, governada por seu irmão, Raul. Não obstante as paixões que dividem esquerda e direita em campos opostos, acho que a realidade de Cuba é muito mais complexa do que os jargões e as palavras de ordem de enfurecidos militantes de partidos de esquerda ou de direita, que, sob protesto, recepcionaram debaixo de vaias a blogueira Yoani, assim que ela chegou no aeroporto.

A revista Veja, nesta semana, publicou uma reportagem tratando de um suposto dossiê,  montado por representantes da embaixada cubana no Brasil e supostamente entregue a autoridades diplomáticas brasileiras, com informações desabonadoras sobre a blogueira cubana que visita o Brasil. Acusada de mercenária ou contrarrevolucionária pelo governo cubano, Yoani foi surpreendida por cerca de vinte militantes no aeroporto de Recife, que, gritando palavras de ordem e se comportando de maneira agressiva, jogaram contra ela notas de dólares falsos. O gesto simbolizava o espírito do suposto dossiê, onde insinuava-se que a blogueira recebesse dinheiro dos Estados Unidos, de dissidentes cubanos radicados em Miami e vinculados a CIA, para desestabilizar o governo cubano pela internet, através de seu blog.

O que ocorre é que Yoani Sanchez é pouco conhecida em seu país natal. Ela é muito mais uma celebridade fora  de Cuba, ganhando fama internacional agora, devido à divulgação de um documentário, feito por um cineasta brasileiro, acerca da realidade da blogueira em seu país, relatando episódios de perseguição política e mesmo ataques diretos dos defensores do regime dos irmãos Castro. Assim, o filme Conexão Cuba-Honduras tem tudo para ser um enorme sucesso, mais por conta do alarde e das polêmicas travadas com a vinda de cubana ao Brasil, e sua viagem tantas vezes proibida, num ciclo que promete visitar outras países, divulgando o trabalho da blogueira, devido a recente decisão do governo cubano de liberar viagens ao exterior de residentes no país, flexibilizando as regras para sua locomoção, num processo de abertura política iniciado com o presidente, Raul Castro.

Alvoroço na chegada ao Brasil.(noticias.terra.com.br)
Yoani é uma mulher de baixa estatura, magra, da pele pálida e com estilo meio hiponga, com seu cabelo semelhante ao da cantora Maria Betânia. É uma mulher  aparentemente de hábitos simples, que gosta de ir à feira comprar frutas e tomar cerveja, e sem filiação político-partidária definida. Aos 37 anos, ela  é filóloga formada pela Universidade de Havana, e já trabalhou como webmaster na Suiça, no curto período em que passou fora de Cuba, entre os anos de 2000 a 2004. Retornando ao seu país, e com os conhecimentos de internet adquiridos no tempo em que permaneceu fora, Yoani começou a trabalhar no seu blog, que, ao narrar o cotidiano de pessoas comuns da ilha caribenha, e suas dificuldades num país com a economia em colapso, num regime politicamente fechado e mais caótico ainda, com reduzida liberdade de expressão, ela acabou chamando a atenção de boa parte do mundo, sendo convidada para eventos e colecionando prêmios. Nesse intervalo de tempo, a blogueira também pagou um alto custo por emitir suas opiniões, sofrendo perseguição política, sendo presa por diversas vezes e tendo seu direito de postar em seu blog bastante diminuído. Ela alegou por diversas vezes que não tinha sequer uma conexão em seu notebook para acessar a internet de sua casa, e por isso era obrigada a  trabalhar em seu blog de uma lan house, em determinados horários do dia, experimentando uma conexão lentíssima e altamente vigiada. Para muitos, Yoani acabou se tornando uma das heroínas da democracia digital.

Para mim, o grande problema da visita de Yoani Sanchez ao Brasil foi o nível de polarização ideológica gerado com sua chegada, insuflada pela imprensa nacional, pelos erros do governo na sua tibieza em tratar diplomaticamente da chegada da blogueira aqui, e pela claque dos partidos de oposição, empobrecendo o debate sobre o futuro de Cuba, e consequentemente da América Latina, tal como a discussão sobre o fim do embargo econômico mantido pelos EUA, que contribuiu para prejudicar ainda mais a fragilizada (ou arruinada) economia cubana. Yoani é acusada por seus detratores, dentre seus compatriotas, de receber oficiais da representação diplomática norte-americana em Havana e de manter contato contínuo com grupos radicais anticastristas, sediados em Miami. 

Com a chegada da blogueira:protestos (uol.noticias.com.br)
Não estamos mais num clima de Guerra Fria e as manifestações no Congresso Nacional pró e contra Yoani Sanchez apenas me remetem a um tempo passado, há mais de trinta anos, quando ainda estávamos divididos em um bloco imperialista, liderado pelos EUA e outro socialista, capitaneado pela extinta União Soviética. A repercussão da passagem da blogueira por aqui foi um marco para a oposição. Yoani foi automaticamente eleita a "musa cubana da oposição", passeando de mãos dadas pelos corredores do Congresso com o virtual candidato do PSDB à Presidência da República no ano que vem, o senador mineiro Aécio Neves. Na comitiva de parlamentares que acompanhou Yoani, na tumultuada sessão do Congresso de ontem, também estavam políticos de extrema-direita, como o reaçonário deputado Jair Bolsonaro, defendor da antiga ditadura militar no Brasil, que, oportunisticamente, paparicava Yoani como pretexto para desqualificar o governo brasileiro, defenestrar o governo cubano  e insultar a esquerda, que ele tanto odeia. O deputado ruralista e defensor dos latifundiários, Ronaldo Caiado, também estava presente no encontro. Dos parlamentares de esquerda, apenas o solitário e educado senador, Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, acompanhou a blogueira cubana, desculpando-se, talvez, pelos excessos da turba que a acolhia, tanto de um lado quanto de outro, do espectro político nacional.

Posando ao lado de Aécio no Congresso (uol.noticias.com.br)
Creio que a discussão sobre o futuro de Cuba ficou totalmente empobrecida ou até inexistente devido à espetacularização medonha da chegada da blogueira Yoani Sanchez ao Brasil. Ao invés de se promover um franco e democrático debate sobre a necessidade de apoio mundial à ilha caribenha em seu momento de crise, como também de defesa de democracia e liberdade de expressão, o que se viu foi um mero bate e boca de tendências políticas opostas, antecipando a campanha eleitoral do ano que vem. A vinda de Yoani serviu muito mais como um palanque para o PSDB e seus aliados criticarem a orientação de esquerda do atual governo petista da presidente Dilma Roussef, simpático ao governo cubano. A cobertura midiática da confusão que foi a chegada da blogueira ao Congresso, foi muito mais intensa que o lançamento oficial da candidatura da presidente brasileira a sua reeleição, feita pelo ex-presidente Lula, no evento comemorativo dos 10 anos de governo e 33 anos de Partido dos Trabalhadores, realizado ontem, em São Paulo. Em síntese, o que deveria ter sido um fato histórico relevante para as relações internacionais entre Brasil e Cuba, com a recepção não só de agentes oficiais do governo cubano, mas também de personalidades daquele país que divergem democraticamente do governo, acabou por se diluir totalmente numa chanchada de militantes, que, em sua fanfarronice insuflaram uma briga violenta de torcidas que só seria dirimida com a chegada da polícia. Triste episódio!

E daí que a blogueira cubana recebe diplomatas norte-americanos em sua residência em Havana? E daí que ela recebe alguns trocados do exterior, se a maior parte dos cubanos que vive em sua ilha também vive de dólares remetidos de fora, ou de atividades no mercado negro do próprio país, como forma de escapar dos miseráveis salários pagos pelo governo de Raul Castro. E daí que Yoani possa ter cometido a travessura de montar perfis falsos de si própria nas redes sociais, para aumentar sua quantidade de seguidores no twitter, tão e simplesmente para arrecadar mais atenção e difusão de seus posts, que são lidos pelo mundo inteiro? Acredito que quaisquer das infrações que hoje são atribuídas à jornalista e blogueira que visita o nosso país são pequenas, diante de tantas violações de direitos humanos, e tantas arbitrariedades já cometidas por regimes ditatoriais de esquerda, seja nos tempos da União Soviética de Stálin, na China de Mao, seja na Cuba de Fidel, não obstante as conquistas de sua grandiosa revolução. Ora! Já é tempo de deixarmos as paixões de lado e pensarmos com objetividade e racionalidade questões que são fundamentais para o futuro e prosperidade dos povos latino-americanos. Não dá mais para fechar o sol com a peneira, fechando os olhos para o anacronismo e atraso do governo cubano, e sua necessidade de modernização. Assim como, os atuais presidentes, Barack Obama, e Raul Castro, devem sim buscar um entedimento histórico, a fim de extinguir por definitivo o embargo econômico entre os dois países, para que enfim os ares no Caribe possam ser melhor respirados. Somente dessa forma é que a viagem de Yoani pode fazer algum sentido. Enquanto isso, dou meu recado para o governo e para a oposição: deixam Yoani viajar! Afinal, essa mulher quer somente experimentar uns dias emocionantes de um passeio global onde pode conhecer novas pessoas, culturas e novas tecnologias. Boa viagem para você, Yoani!!

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