sexta-feira, 13 de junho de 2014

ESPORTE: VAI TER COPA....SERÁ QUE DO JEITO QUE IMAGINAMOS?

Após vinte e quatro horas chegamos a mais uma data histórica para o esporte mundial: dia 12 de junho 2014, o dia dos Namorados, mas também o dia onde, após 64 anos, temos novamente uma Copa do Mundo no Brasil e em 24 anos um novo evento desse tipo na América Latina (o último Mundial num país latino-americano foi no México, em 1986). De lá pra cá muita coisa mudou, obviamente. Se há 60 anos atrás tínhamos no pós-guerra uma geopolítica dividida entre dois grandes blocos econômicos e políticos (o capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o socialista, sob o comando da hoje extinta União Soviética), o que temos hoje é um mercado capitalista global que passa pela terra dos yankees de Obama, atravessa a União Europeia, formada pela maioria dos países que participam do torneio mundial, até a Rússia de Putin, não obstante a crise na Ucrânia e a ocupação da Crimeia pelos russos lembrar um pouco o clima de "Guerra Fria" de décadas atrás. Na verdade, em termos econômicos o futebol mudou muito, tornando-se de esporte uma empresa. Se, na Copa de 1950, quando os jovens brasileiros da época do meu pai, choraram o "Maracanazzo" na final conquistada pelo Uruguai, os jogadores pobres e semiprofissionais das equipes de várzea ou clubes pequenos daquela época, que amargaram a perda do título, hoje foram substituídos pelos milionários jogadores de times galácticos e europeus como Neymar e Messi, pertencentes a clubes europeus bilionários e estrondosamente bem sucedidos no futebol mundial.

Independente da época,seleção é sempre seleção!
A Copa do Mundo hoje é, acima de tudo, um grande negócio. E como negócio que mexe com milhões de dólares e patrocinadores, sua instituição-mor, a FIFA, avança em cada país sede de um evento tão importante, voraz como um enxame de gafanhotos. Assim foi na África do Sul, há quatro anos atrás, e está sendo no Brasil de agora. O traço em comum ao se tratar de eventos mundiais comuns, nestas duas nações emergentes (outrora denominadas de subdesenvolvidas), é que, tanto em cidades como Brasília, São Paulo e Curitiba, quanto em Pretória, Johanesburgo ou Cidade do Cabo, os jogos se iniciaram com obras inacabadas, uma crítica pesada por parte da população aos gastos do evento e movimentos sociais de protesto que geraram nas redes sociais o famoso hashtag: #nãovaitercopa. 

Marcelo foi o responsável pelo primeiro gol contra do Brasil da história
Na verdade terá Copa, e para a presidente brasileira, Dilma Roussef, essa será a "Copa das Copas". Afinal de contas, nunca antes na história dos países que participaram desses torneios mundiais, a equipe anfitriã do evento foi tão favorita e com um retrospecto tão bom de títulos e partidas. A "seleção canarinho", como é conhecida a equipe brasileira liderada pelo técnico, Luiz Felipe Scollari, conta com a responsabilidade de ganhar o torneio não apenas por ter em seu plantel alguns dos melhores jogadores do mundo, mas também por ser a única das equipes de todos os 32 países que disputam o torneio a ter participado de todas as Copas, ter ganho cinco títulos, e ser a única que ergueu o troféu de campeão nos quatro continentes: 1958 na Europa com a Copa da Suécia; 1962 na América do Sul ao vencer o torneio no Chile; em 1970 e 1994 na América do Norte, ao ganhar, respectivamente, o tri e o tetracampeonato nas Copas do México e dos Estados Unidos; e em 2002, no Japão, quando o país foi novamente campeão na final disputada contra a Alemanha, graças aos chutes potentes de um recuperado e renovado "Ronaldo Fenômeno" no auge da forma, e os vacilos no gol do até então imbatível goleiro alemão, Oliver Khan. Todos os brasileiros sabem disso, o técnico e toda a equipe da seleção sabem disso, e os adversários também!

Nas ruas,apesar da Copa,os protestos continuam!!
Entretanto, esta também será a Copa dos protestos e das críticas aos desmandos da FIFA, a desorganização dos governos estaduais e municipais ao realizar obras de mobilidade urbana inacabadas e malfeitas e os gastos exacerbados para se realizar um Mundial no Brasil, num país com tantas dificuldades de infraestrutura em áreas chave, como nos serviços públicos de saúde, segurança, transporte e bem-estar social. A Copa no Brasil serve para mostrar o país ao mundo, não apenas nos festejos de seus sorridentes torcedores, em paisagens de praias paradisíacas, vestidos de verde e amarelo, mas também na revolta violenta dos ativistas a fomentar o caos urbano, nas suas versões mais comportadas de militantes sindicalistas ou estudantis, protestando como nunca pelas ruas, ou na sua versão mais hardcore, através dos mascarados vestidos de preto, a jogar coquetéis Molotov na polícia, no estilo black bloc. É uma Copa do Mundo que antecede o período eleitoral, e que pode significar o fim do predomínio petista de poder após 12 anos, desde a eleição de Lula em 2002, e uma volta ao neoliberalismo tucano do PSDB de Aécio Neves,  ou pode implicar na opção por uma terceira via, liderada pelo ex-governador pernambucano Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro, ladeado pela ex-senadora e líder ambientalista, Marina Silva.

Se em 94 tínhamos Romário e 2002 Ronaldo, 2014 agora é Neymar!!
O Brasil já entrou em campo neste dia 12 com uma vitória consistente sobre o time da Croácia., num destacado 3 X 1 para os brasileiros. Algo tão esperado que se tornou até enfadonho. A novidade mesmo foi o gol contra, no início do jogo, cometido pelo lateral-esquerdo Marcelo (o primeiro gol contra do Brasil em 84 anos de história das Copas), que por alguns instantes ameaçava estragar a festa brasileira, que finalmente explodiu em grito e coro nas arquibancadas do Itaquerão e no país inteiro, quando Neymar marcou o primeiro de uma série de futuros gols que poderá dar nesta Copa, mostrando porque ele é um jogador tão fundamental para que o Brasil ganhe o torneio. Afinal, foi através do protagonismo de Neymar no restante da partida, fazendo os dois gols que selaram a história do jogo, é que ficou marcada  qual  será a realidade da seleção brasileira nos próximos desafios do torneio (além de severas críticas à leniência da arbitragem). Muitos esperam que essa Copa não seja a Copa do "arrumadinho", como muitos caracterizam a Copa de 1978, na Argentina, quando em plena ditadura de Videla, os argentinos foram campeões contra a Holanda, sob a acusação da seleção peruana ter facilitado a vida dos argentinos, ao ser eliminada por goleada nas semifinais. Espera-se que, para evitar um novo Maracanazzo, a seleção brasileira conquiste a taça com seu esforço próprio e não com o apelo dos governantes. É isso que não só os torcedores brasileiros, mas os amantes do futebol querem para essa Copa.

Estamos contigo, Felipão!!
Não sou daqueles de torcer pelo fracasso brasileiro no torneio, e nem também sou um dos torcedores mais entusiasmados. Na verdade, como amante de futebol, alegra-me ver belas partidas, com jogadores tão famosos e habilidosos, de diversas partes do mundo, dando um verdadeiro show nos gramados, numa apoteose catártica da multidão que lembra os anfiteatros romanos. Entretanto, ser entusiasta da seleção brasileira não significa estar cego aos problemas nacionais ou ser conivente com a roubalheira, desvios e equívocos dos governos, a nível federal, estadual e municipal. Fazendo um jogo duplo, mas eticamente aceito, eu fico dos dois lados da cancela: seja apoiando os torcedores, tanto brasileiros quanto estrangeiros, que de forma verdadeiramente apaixonada estão defendendo seu time e pátria de coração aberto; assim como estou junto e solidário aos manifestantes que estão fora dos estádios, protestando contra as injustiças sociais, dotados de plena razão.  Nesta Copa não me vestirei de verde e amarelo, pois meu coração já é assim; mas com certeza estarei torcendo não somente pela seleção canarinho, mas também estarei torcendo por um Brasil melhor. Pra frente, Brasil!!!

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