Atrevendo-me a uma insolência, e até mesmo um sacrilégio para muitos futebolistas, lá vai meu prognóstico de torcedor, e que repercuta em alto e bom som: CUIDADO COM A ARGENTINA! SE PERIGAR, ELES LEVAM A TAÇA DE CAMPEÃO NO ANO QUE VEM!! E que ninguém venha me dizer que estou delirando, que bebi demais ou que pela alta tarde da noite, meus neurônios já não funcionam o suficiente para fazer um bom julgamento. Sim! Acredito sim na capacidade de recuperação do escrete portenho, liderado por Dom Diego Armando, e antevejo a possibilidade do time se superar, caso consiga efetivamente avançar para as fases subsequentes do mundial, na já tão difícil chave que irão pegar, como consequência de sua tão custosa classificação. E digo isso com conhecimento de causa, com conhecimento de torcedor.
"Meninos eu vi!", e como diria a música de Chico Buarque, assim como a Argentina, eu também vi uma outra seleção, esta então verde-amarela, trôpega na fase final de um processo de eliminatórias que se iniciou já em 2000, e que correu o sério risco de não se classificar para o mundial do Japão e Coréia, porque possuia um time totalmente desentrosado, jogadores que basicamente não se entendiam, um entra-e-sai insuportável de técnicos (desde Emerson Leão, passando por Falcão e pela desistência do próprio Parreira, técnico herói da Copa de 94), até que a seleção canarinho chegasse às mãos de um técnico gaúcho, com seu bigode turrão típico dos pampas, sotaque indefectível e cara braba mais peculiar ainda, que tinha vindo anteriormente do êxito de equipes nacionais como o Grêmio e o Palmeiras. Sim, ele, a meu ver o melhor técnico vivo da seleção brasileira até então: Luis Filipe Scolari(também conhecido na Europa como Big Phil). E não venham me falar do Zagallo!!!
No futebol, Scolari é especialista em transformar galinhas-mortas em verdadeiros puro-sangues, e foi assim que ele pegou uma seleção brasileira alquebrada, desmoralizada, desacreditada e com sua autoestima lá embaixo, dirigindo um time que, assim como a Argentina hoje, só logrou êxito na classificação na última rodada das eliminatórias, e sob forte vaia da descrença geral, embarcando para Seul totalmente humilhada, mas retornando para os braços da nação com a glória da vitória, carregando nas mãos a tão sonhada taça do pentacampeonato mundial.
Para os que tem memória de passarinho, e acreditam que a realidade argentina é bem diferente da nossa naquela época (mesmo que naquele período os favoritos eram os argentinos, no lugar inverso que hoje ocupamos, sendo a primeira seleção a se classificar), mesmo com Scolari, nas últimas rodadas das eliminatórias, ainda carregávamos desesperados o fardo de talvez, pela primeira vez na história, não participar de uma Copa do Mundo, por total, completa e absoluta incompetência de nossa comissão técnica, jogadores e dirigentes. Estávamos naquela época, no início de 2002, ainda com o sabor amargo da derrota para a França na final do mundial anterior, e pela célebre "amarelada" de um Ronado Fenômeno, até hoje nunca bem explicada. Pois foi épica aquela campanha em que vi e fiquei surpreso, não apenas por ver um país inteiro acordado, às 3 ou 4 horas da madrugada (dada a diferença do fuso horário naquela competição), ligados às TVs de todo país para assistir os jogos da seleção, mas também por ver a notável capacidade de superação de Scolari e seus pupilos, ganhando jogo após o jogo, sem ter que recorrer na segunda fase ao expediente medonho dos pênaltis, ganhando todas as partidas em campo, dentro dos 90 minutos de jogo, chegando até a final, com a glória sentida nas chuteiras de um reabilitado Ronaldo, que usando um penteado a "la Cascão", deixou a ver navios a outrora inexpugnável barreira germânica de um dos maiores goleiros do mundo, o sisudo Oliver Khan. Naquele dia na final, umas dez horas horas da manhã de um domingo, vibrei, ainda residindo em São Paulo, por ver uma verdadeira batalha futebolística entre dois monstros, de um lado: Ronaldo Nazário, no ataque da seleção brasileira, do outro, Khan, no canto oposto, na defesa da seleção da Alemanha, favorita naquela época nos balcões de aposta. Foi muito bom ver aquele 2 X0 para o Brasil, a alegria nas ruas e a festa que se seguiu no Brasil inteiro, e que participei na Avenida Paulista. E foi melhor ainda ver isso numa final de Copa de Mundo, onde, enfim, pudemos mostrar ao mundo porque o futebol brasileiro era tão mítico, e porque merecíamos nesse esporte a alcunha de melhores de mundo.
Uma outra seleção, talvez menos talentosa e de títulos duvidosos, mas tão lendária e cercada de uma aura romântica como a nossa, é nossa eterna cara-metade latina, a seleção da Argentina. Ver como eu vi uma copa de 1986, no México, onde outrora fomos campeões mundiais com Pelé em 70, ser palco das estripulias de um marrento Maradona, então no auge de seu vigor como jogador, com direito até a gol de mão, no polêmico jogo com a Inglaterra, mostrou o quanto éramos parecidos e ao mesmo tempo diferentes dos argentinos. Se nos valemos de um samba de Noel para narrar nossas desventuras futebolísticas como a amargurada e precoce eliminação de nosso dream team, com Zico e Sócrates na Espanha em 82, os argentinos se valiam de um tango de Gardel para narrar a triste derrota para os alemães na Copa de 90 na Itália, quando os alemães levaram no fim a taça de campeão do mundo, meses após a queda do famigerado muro de Berlim, disputando a final com a Argentina de um Maradona e Caniggia, que, antes disso, tinha eliminado o Brasil por 1 x0 ainda nas oitavas de final. O gosto de ver a frustração de Maradona naquela final só não foi maior pelo desgosto que tínhamos naquela tétrica seleção comandada por Lazaroni (mas, putz, uma seleção cujo técnico tem azar no nome não poderia mesmo dar bom resultado, não achas?).
Mas se a triste seleção de 90 tinha Lazaroni como técnico, foi esta mesma seleção que nos trouxe um desacreditado Dunga, até então vítima de piadas de grupos como o Casseta e Planeta, e finalmente redimido como jogador ao assumir as braçadeiras de capitão, na vitoriosa seleção de 94, com Romário e Bebeto no ataque. Na ocasião, emocionou- me a atitude de Dunga, parodiando o célebre gesto de Bellini em 1958, quando conquistamos nossa primeira Copa do Mundo, erguendo vitorioso a taça nas mãos, ao lado de um choroso Romário. Tá certo que em 94, nos Estados Unidos, só ganhamos no sufoco, tínhamos um técnico altamente retranqueiro (Carlos Alberto Parreira) e só pudemos comemorar nos minutos finais dos pênaltis, agradecendo até hoje a Deus, todos os santos e a Roberto Baggio, que errou feio o chute na cobrança final, dando a Itália de mão beijada o titulo para o Brasil. Mas, pô, afinal de contas, fazia exatos 24 anos que o Brasil não ganhava um Mundial. Já tava na hora!
Mas voltando a Argentina, que é o que me interessa agora, não me canso de comparar (e adoro comparações, já que este blog trata de conexões), das semelhanças do périplo brasileiro com o argentino. Nossas semelhanças e diferenças históricas e culturais com os vizinhos argentinos podem muito bem ser lidas no excelente livro dos historiadores Boris Fausto e Fernando Devoto(respectivamente um brasileiro e um argentino), que escreveram a duas mãos Brasil e Argentina-um ensaio de história comparada, da editora 34. Fora os contextos históricos, políticos, econômicos, culturais ou sociais, o que nos interessa é o futebol, e fora nossa rivalidade histórica, pudemos presenciar o quanto os argentinos perseguiram o sonho brasileiro de serem campeões mundiais de futebol, talvez tão ou mais acalentado por eles do que pelos brasileiros. Juntamente com o Uruguai, a Argentina foi uma das primeiras nações sul-americanas a ter contato com o mundo da bola, e antes que o Brasil pensasse em criar seus clubes, eles já possuíam equipes formadas e organizavam campeonatos regionais. Os argentinos acabaram por ter seu próprio messias da pelota, Diego Armando Maradona, enquanto que nós celebrizamos e nos tornamos célebres por parir em nossa pátria, mãe gentil, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. E se Pelé para nós sempre foi o rei, Maradona para los hermanos es dios, no?!
O mesmo Maradona incessantemente criticado pela imprensa esportiva de seu próprio país, e que foi antecipadamente julgado como o responsável pelo fiasco argentino, talvez o pior técnico da história recente daquele país, é aquele a quem os argentinos poderiam até perdoar tudo, desde o abuso de drogas e álcool até agressões a jornalistas, mas nunca, verdadeiramente nunca, que a seleção Argentina falhasse, não conseguindo ir ao Mundial.
Na primeira coletiva após a vitória contra o Uruguai, no estádio Centenário, batendo os anfitriões por 1 x0 e melando o sonho uruguaio da Copa, Maradona saiu da amargura e do silêncio das derrotas passadas e voltou a assumir seu estilo fanfarrão e meio histriônico, mandando literalmente à m.... aqueles que o criticaram na condução da seleção argentina, proferindo, sem cerimônia, palavrões impublicáveis diante das câmeras. Era o desabafo final do "el pibe de oro", como já foi chamado, que agora respira do sufoco de tanta cobrança e pressão. Só não sei se depois dessa vitória o homem não tenha novamente uma recaída e procure uma carreira de pó, para aliviar sua ansiedade, mas suponho que agora, diante de uma Buenos Aires em festa, o baixinho é capaz, ao menos por alguns meses, de sobreviver às críticas, remontando seu time com a assessoria do eterno técnico Bielsa, tentando estruturar o futebol-arte platense, tão conhecido e tão concorrido com o dos brasileiros. Enquanto isso, apesar das comemorações, os argentinos ainda choram a morte de outro ícone, a cantora revolucionária Mercedes Sosa, que assim como Evita, Gardel, Maradona, Perón ou Alfonsín, simbolizavam a cara da pátria argentina. Sosa, chamada meigamente como "La Negra" por seus admiradores, por conta de sua aparência indígena e dos longos vestidos negros que sempre usava no palco, simbolizava uma geração que combateu ferozmente a sangrenta ditadura portenha, e que foi responsável, juntamente com músicos brasileiros como Chico Buarque e Fagner, por algumas das mais belas canções do cancioneiro popular latino-americano. Sabedora da importância da cantora para a formação cultural da Argentina, a presidente Cristina Kirchner decretou luto oficial por 3 dias, após a morte de La Negra. Choram os argentinos por Mercedes, ao mesmo que festejam pela seleção e por Maradona. Resta saber até onde vai durar a capacidade de resiliência (ou sorte mesmo) de Dom Diego, e até que ponto a história argentina no futebol não tardará a ganhar novamente os contornos de um tango, iniciado no desespero, mantido sob a esperança e findo na tragédia, mas que sempre retorna das cinzas. Ai,ai,ai, nesse sentido, penso que todo futebolista argentino é meio botafoguense! Quem é torcedor do time, sabe do que estou dizendo. Avante hermanos!! Que vença o melhor!! Por enquanto, naturalmente, nós.
Interessante colocação, posso até ver como uma campanha da seleção Argentina na copa de 2010, um tanto quanto amarga como o tango que a nação portenha produz, se tornar um fiasco semelhante sua penosa classificação.
ResponderExcluirCom esse esquema tático que o Dieguito anda armando na sua equipe é possível que ganhe sim algumas duas partidas, se e somente se, disputada contra seleções do nível técnico igual das medíocres seleções sulamericanas, e olha que não são poucas.
Brasil? Sim. Brasil eu nem quero ver ser campeão em 2010, porque isso implica em 2016 tomar outro "Maracanaço". Em 2010 que seja campeão ou Alemanha, Holanda, México, Inglaterra, Paraguai, ou qualquer outra seleção menos o Brasil. Mas que em 2010 que haja um novo encontro entre Brasil e Argentina para presenciarmos outra goleada histórica nos hermanos portenhos. O que seria da copa sem a Argentina para nosso escrete canarinho enfiar outra paulada.
Hahahaha!!
Hasta la vitoria siempre!
Putz, fantástico o texto. Lembrei do Dunga de 1994, hahaha. E do Felipão sempre de testa franzida. Agora, rapaz, a Argentina está muito desorganizada. Quem assistiu ao jogo contra o Uruguai viu isso. Acho que só com uma assessoria muito espetacular Maradona consegue ajeitar a Argentina a tempo. Não é só garra, isso conta muito, mas não é só isso. Eu torço muito para que Argentina faça uma boa copa, mas tenho uma grave desconfiança que esse é a copa do Hexa. Veremos...
ResponderExcluir