Já temos a Copa do Mundo em 2014, e depois da ressaca do futebol, todos os olhos se voltam para a Olimpíada. Os jogos olímpicos não são apenas um grande evento esportivo, mas também representam o jogo de forças na geopolítica global, e podem ser decisivos em apontar historicamente novas potências mundiais, como ocorreu, por exemplo, na edição recente dos jogos em Pequim, quando a China, pela primeira vez na história, superou a supremacia tradicional dos norte-americanos, tornando-se a nação recordista de medalhas. Investir numa olimpíada significa investir na melhoria da qualidade de vida da população, com o aumento de condições de acesso à educação e ao esporte e mais investimentos em obras de infraestrutura, como transporte, segurança, comunicações, moradia, turismo e preservação ambiental. A cidade que abriga os jogos deve ter a condição de acolher numa mesma semana milhões de pessoas, vindas de todas as partes do mundo, num ambiente limpo, seguro, viável e com boas condições de acomodação, para que, no futuro, possa aumentar a circulação de moeda no país, com a vinda de investimentos maciços de empresas e instituições estrangeiras.
Com todas suas mazelas, apesar de tudo, o Rio continua sendo a Cidade Maravilhosa. Seus crônicos problemas de metrópole como a pobreza e a violência urbana são inquestionáveis, assim como a capacidade de resiliência do povo brasileiro, acostumado as intempéries, mas que agora não quer mais se ver identificado como terceiromundista. A autoestima da nação canarinho foi ativada de vez com a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas, e com o bom senso dos governantes, é possível trazer com os jogos um processo de efetiva transformação social na metrópole fluminense. Compete apenas que o poder público faça a sua parte e que o orgulhoso povo carioca também contribua para o êxito do evento em sua cidade.
O Rio de Janeiro não foi escolhido aleatoriamente como sede de uma olimpíada, e nem apenas por sua exuberante beleza natural ou pelo fortíssimo lobby do governo e do comitê olímpíco brasileiros. Afinal, foi a terceira candidatura da cidade, e somente teve êxito porque a cidade aprendeu com os erros apontados em suas candidaturas anteriores. Assim como Lula só chegou à presidência em sua quarta campanha, conseguindo se tornar hoje o presidente mais popular da história (segundo a revista Newsweek), o Rio só foi credenciado em definitivo como sede dos jogos olímpicos por uma conjugação de fatores que envolveram transparência na divulgação de recursos para as obras de infraestrutura, a vantagem do país já ter sido credenciado a sediar uma Copa do Mundo em 2014, o ineditismo e a sedução de realizar um evento dessa magnitude na América do Sul, a parceria bem sucedida entre o governo federal, o governo do estado do Rio e a Prefeitura carioca, além da falta de apoio popular para as candidaturas de outros poderosos concorrentes, como Chicago e Tóquio. O universo (ou para quem acredita, Deus) parecia conspirar a favor, como realmente conspirou, confirmando, após um breve suspiro de ansiedade do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, ao abrir o bendito envelope que continha o nome do vencedor, aquilo que queriam ouvir as milhares de pessoas concentradas nas escaldantes areias da praia de Copacaba: a escolha do Rio de Janeiro como sede mundial dos jogos olímpicos de 2016. Viva Rio!!! Podem rufar os tambores da bateria da Escola de Samba do Salgueiro.
No salão do evento, no momento de anúncio da próxima sede das Olimpíadas, em Copenhage, Dinamarca, um entusiasmado presidente Lula, acompanhado do governador do Estado, Sérgio Cabral, além do prefeito da cidade, Eduardo Paes, comemoravam a vitória do Rio, junto com um staff provocadamente formado por brasileiros ilustres e conhecidos mundialmente, como Pelé, o ex-tenista campeão mundial Guga, e o escritor Paulo Coelho. Não deu pra Obama, apesar de sua magnitude como representante da candidatura mais poderosa do planeta, com a reprovação de Chicago ainda na primeira rodada de votação, e nem pra Zapatero, primeiro-ministro espanhol, que viu naufragar a esperança de reacender a histórica rivalidade entre Barcelona (ex-sede de uma Olimpíada) e os madrilhenos, com a derrota de Madri no final, superada pelos brasileiros. O clima do anúncio da cidade vitoriosa na escolha do COI parecia de uma final de Copa do Mundo. Assim como na escolha do país sede da Copa ano passado, este ano deu Brasil de novo na Olimpíada.
Como não sou pessimista, e não costumo entoar o coro dos chatos ou recalcados de plantão, que só falam no prejuízo dos gastos da empreitada e no triplamente superfaturado investimento dos Jogos Panamericanos passados, que, segundo dizem, só beneficiou a Barra da Tijuca, acho sim que a Olimpíada no Rio tem tudo pra dar certo. Tem que dar certo! Só com a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, já estamos na vantagem. Como disse o sociólogo Rubem César Fernandes da ONG Viva Rio, em recente reportagem da revista Época(edição n.5931): "o alinhamento dos governos, o investimento privado, a pacificação do morros, a Copa e as Olimpíadas, tudo dá a perspectiva de uma década de avanço". Aprendemos na nossa trôpega caminhada passada de desmandos totalitários, governos demagógicos e reaçonários, ditadura, e crises econômicas, que o Brasil vem se tornando uma potência mundial justamente por nossa habilidade, nossa ginga cariocamente herdada de superar os obstàculos, sempre com uma boa dose de esperança latina e bom humor carnavalesco. Por isso, como diria a célebre canção de Gil: " O Rio de Janeiro continua lindo". Tóquio, Chicago e Madri, aquele abraço!!!
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