segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

CULTURA POP: O mundo é zumbi!!

Pela quantidade de filmes, livros, músicas, histórias em quadrinhos,posters e seriados de televisão, eu diria que, para os adeptos da cultura trash dos filmes B, e películas de terror dos últimos trinta anos, a grande onda do momento não é a de um certo bruxinho inglês, já pós-adolescente, entrando na idade adulta junto com seus amigos e enfrentando um arqui-inimigo das antigas nos livros de Harry Potter, e nem é a moda dos vampiros castos, metidos a bonzinhos ou semiefeminados da série Crepúsculo, ou ainda dos vampiros estilosos e erotizados, sedentos de sangue e sexo do seriado da HBO, True Blood. Até tentaram renovar a franquia dos filmes de lobisomem no cinema, com a série Underworld ou com a refilmagem do clássico filme de Lon Cheney, com Benicio del Toro no lugar de Cheney, interpretando o protagonista, que se transforma na fera em noites de lua cheia. Mas, não! Digo que a onda agora está com os zumbis! O cetro de criaturas desmortas, de andar trôpego, com carne putrefata despencando da pele e doidos pra comer o cérebro dos vivos está com os mortos-vivos! 2010 foi o ano dos zumbis!
Natural que seja assim porque as estórias de zumbis são um verdadeiro tratado antropológico. Defendo inclusive a cátedra de zumbilogia, nas cadeiras acadêmicas de Sociologia da Arte, pra explicar uma figura macabra que acabou se tornando ícone pop a partir de uma ilha que tem seus zumbis de verdade: o Haiti. Sabe-se que a prática do vodu, entre a população descendente de escravos da América Central antilhana, foi  pródiga em produzir mitos e estórias de pessoas que se reergueram do após-morte, e se tornaram submissos escravos de seus ressucitadores,  autênticos autômatos de carne e osso, que sob efeito de uma droga especifica ( um pózinho branco, hoje explicado pela medicina),  inalada e formada por um composto de várias substâncias, dentre elas um veneno que pode ser encontrado no peixe baiacu, podem se transformar num verdadeiro morto-vivo.



Mas os zumbis só vieram a ganhar o mito que merecidamente tem até hoje com os filmes de terror do célebre diretor George Romero. A partir deles pôde se conhecer melhor a mitologia desses personagens, tão fascinantes como aterradores, em clássicos como A Noite dos Mortos Vivos (1968), O Despertar dos Mortos (1978) e Dia dos Mortos (1985). O fascínio que a humanidade tem com pessoas que retornam da morte encontra-se em várias religiões, e no cristianismo, no livro bíblico do Apocalipse, isso é bem evidente, quando se lê o que diz em  AP 20:13,14,15:"E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles haviam; e foram julgados cada um segundo as suas obras". E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo". Além disso, pode-se ver a menção à ressurreição dos mortos em 1 Coríntios 15:35: "Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?" . No Antigo Testamento, em Daniel 12:2, encontra-se a passagem em que se diz que "muitos dos que dormem no pós morte ressucitarão, para vergonha e horror eterno;". Enfim, os mortos-vivos fazem parte de nossa cultura, e através dela, cineastas como Romero exploraram com exaustão o tema apocalíptico de uma humanidade que acorda vendo seus mortos despertar, saindo de suas sepulturas. 


Quando eu era criança, estórias como a de mortos voltando à vida pareciam-me assustadoras, aumentando meu terror juvenil. Já na fase adulta, fora a diversão dos video games, pouco me assusta ver uma sociedade atacada por zumbis; mas, sem dúvida, tal fato origina uma série de teorias sociológicas. Seja nos filmes de terror "sérios" ou nas comédias, como em Todo Mundo Quase Morto e Zumbilândia, genial foi a refilmagem de um dos filmes de Romero, Madrugada dos Mortos (Estados Unidos, 2004), dirigido pelo jovem e talentoso cineasta Zach Snyder (o mesmo que dirigiu 300, de Frank Miller), que no seu filme de estreia mostrou como cenário um shopping center, onde os últimos sobreviventes de uma epidemia que devastou o país permanecem cercados por uma multidão de zumbis sanguinários, enclausurados dentro de um templo de consumo. A metáfora não podia ser mais inteligente, numa crítica à sociedade de consumo onde os zumbis são os alienados pela zumbificante cultura capitalista. Outra mostra da criatividade ao lidar com o tema de zumbis nos filmes de terror é o ótimo Todo Mundo Quase Morto (na verdade, bem melhor é com seu título em inglês: Shawn of the Dead), uma comédia de terror que mostra, na abertura do filme, os habitantes de uma mortificada Londres, na sua vida tosca e repetitiva, trabalhando mecanicamente como se já fossem zumbis, numa economia capitalista desumanizante. Já os filmes de Romero serviam no final dos anos sessenta como uma crítica à Guerra Fria, ao totalitarismo das grandes potências na falta de liberdade de expressão e em uma sociedade em crise, onde um velho modelo de sociedade convivia como um zumbi aterrorizando aqueles que desejavam mudança e transformação social. Todos os filmes de zumbi tem uma lição de moral e uma crítica de valores demasiado humana, e por conta disso os zumbis até hoje estão atrelados a nossa cultura moderna, urbano e pós-industrial.
Recentemente, o canal por assinatura Fox revelou mais uma interessante abordagem sobre o tema dos zumbis, na constante criatividade e talento que vem contagiando as séries televisivas nos últimos tempos. Trata-se de The Walking Dead, novo seriado que estreou no Brasil em novembro, que no mês anterior, nos Estados Unidos, cravou a impressionante marca de mais 5 milhões de espectadores e que já tem confirmada para o ano que vem sua segunda temporada. A série é baseada numa antológica coleção de histórias em quadrinhos do mesmo nome, publicadas pela Image Comics, que saiu em 2006, premiada com o prêmio Eisner (o Oscar das publicações em gibi), escrita por Robert Kirkman e ilustrada por Tony Moore, e que no Brasil saiu com o título Os Mortos Vivos, pela HQM Editora. Na Tv, o seriado reproduz quase que fielmente o roteiro dos quadrinhos, quando o policial Rick Grimes acorda num hospital de seu estado de coma, e descobre aterrorizado que toda sua cidade foi destruída, numa epidemia de mortos-vivos. A jornada de Grimes agora se resume a recuperar sua família, composta pela esposa Lori, e pelo filho Carl, bem como de se reunir com outros sobreviventes para tentar escapar da tragédia que se avizinha. Dentre outros personagens emblemáticos da série, encontra-se Shane, também policial, outrora colega de Rick, que nutre uma paixão reprimida pela esposa do melhor amigo, passando a se questionar se quer ou não matá-lo. Fora o clima de pavor e tensão geral, por saber que se pode ser atacado a qualquer momento por uma horda de zumbis famintos, a série (tanto nos quadrinhos, quanto na televisão) ,procura abordar outros sentimentos humanos, transformando um filme de terror previsível num verdadeiro drama humano, típico das melhores produções literárias, explorando com riquezas de detalhes, o universo de sentimentos de cada personagem.


Em Walking Dead, por exemplo, nos episódios iniciais, podemos ver o triste dilema do personagem Morgan, ao ver sua esposa, mãe de seu filho Dwayne, recentemente transformada em morta-viva, e, na janela de um quarto, com a mira do rifle apontada à distância para a cabeça da esposa, não consegue atirar nela com lágrimas nos olhos, ao ver as fotos da mulher caídas de uma gaveta, num porta-retratos. Em outra cena, mais triste ainda, vê-se a personagem Andreia passando horas ao lado do corpo recém-falecido de sua irmã Amy, morta num ataque zumbi; que numa cena rara, de impressionante candura, fala com o cadáver da irmã, dizendo-lhe frases carinhosas, enquanto segura uma arma na outra mão, apontada para a cabeça da morta, sabendo do destino que lhe reserva daqui há algumas horas, quando a triste vítima irá se tornar mais uma das criaturas sanguinárias. Em outra passagem do seriado, Jim, um dos integrantes da comitiva de sobreviventes, mordido por um morto-vivo num ataque zumbi, começa a ter os sintomas típicos da doença que irá transformá-lo num dos monstros desmortos, e em seus delírios febris tem pesadelos, imaginando as criaturas pavorosas que em poucas horas irá se tornar, abandonado por seus amigos para morrer, num descampado, debaixo de uma árvore, pela incapacidade do grupo de matar por misericórdia um amigo ferido. No final de um dos episódios, ao dar um tiro na cabeça de um zumbi desfigurado, o personagem de Rick, antes de atirar, fica imaginando que ali, rastejando no solo, era outrora uma pessoa, e diante daquela figura deformada e assustadora, chegamos a sentir até sentimentos de compaixão, ao invés de asco.

A originalidade da nova série da Fox é incorporar o espírito dos quadrinhos de Kirkman, revelando a real condição humana dentro de condições extremas de pura adversidade. A moral da estória é revelar quem são os verdadeiros monstros, quando egoísmo e sordidez se misturam com espírito de sobrevivência, e os mínimos vínculos de sociabilidade se dissipam, quando a realidade ordena que cada um deve sair correndo e proteger a própria pele, diante de um cataclisma inevitável que a todos poderá destruir. Walking Dead parece ser pessimista ao extremo, ao mostrar a tristeza de uma sociedade que está à beira da ruína e da extinção. Mas o que faz as pessoas continuarem lutando pela vida, apesar de tantas forças correndo ao contrário, é o forte desse interessante filme de terror, e que vale a pena ser assistido. Afinal, a esperança é a última que morre, mesmo que se torne uma morta-viva!

domingo, 5 de dezembro de 2010

CINEMA: "Centurião" é filme épico pra gladiador nenhum botar defeito

Como amante da sétima arte, gosto dos filmes épicos, desde Ben Hur de Cecil B. de Mille até Gladiator de Ridley Scott, passando por Alexandre, de Oliver Stone. Por falar em gladiadores, o diretor britânico Ridley Scott notabilizou-se pelo gosto em gravar grandes épicos, além do filme outrora citado, também com seu recente Robin Hood, mais uma vez valendo-se do ator que lhe deu o Oscar, com o astro preferido do cineasta, Russel Crowe, e a consagrada atriz Cate Blanchet. Recentemente, assisti outro bom filme dessa safra: Centurião (Centurion, Reino Unido,2010), do também cineasta inglês Neill Marshall.

Para quem não conhece o diretor, Marshall vem da leva de novos e bons cineastas que apareceram nos últimos anos, como Sam Raimi e Chistopher Nolan;  só que o cara era mais conhecido por dirigir filmes de terror B (o cult movie Abismo do Medo é sua principal referência). A atmosfera sombria e acinzentada das películas desse diretor também pode ser vista em Centurião. Só que fora a fotografia mórbida e os jorros de sangue, mutilação e corpos massacrados na tela, podemos ver uma fascinante trama sobre um mistério histórico: o destino da 9ª Legião Romana, que desapareceu nas florestas da Caledônia (atual Escócia), aproximadamente no primeiro século depois de Cristo.

Segundo muitos historiadores (e em interessante reportagem na revista História Viva), a 9ª Legião Romana, ou IX Hispana, foi um dos mais efetivos exércitos que o Império Romano possuiu. Foi criada inicialmente pelo próprio Júlio César, e junto com as demais legiões, participou das mais emblemáticas campanhas militares que transformaram Roma de uma provinciana república para um cosmopolítico império. Para se ter uma ideia, a IX esteve presente na vitória dos romanos contra os bárbaros germânicos e era tida como infalível e invencível por muitos imperadores romanos. Os integrantes de seus batalhões (e isso é retratado no filme) consistiam num efetivo globalizado, com soldados vindos de todas as regiões do império. É esse exército formado por brancos, negros, mestiços, romanos da gema, assírios, numíbios, galeses e ibéricos, que vai enfrentar as frias e inexploradas colinas de um, até então,  inóspito arquipélago, cheio de perigos e povos hostis que não queriam se deixar conquistar.

Ocorre que após se instalar na última província romana, a Britania (onde hoje é a Inglaterra), fortificada nas proximidades da região de York, após 120 d.C. ,a legião desapareceu, sumindo dos registros e dos livros dos historiadores oficiais. A história de seu desaparecimento continua mal contada, e algumas lendas dizem que este efetivo militar foi provavelmente destruído nas florestas da Caledônia, ao enfrentar o temido e  selvagem povo local, os pictos, tribo altamente organizada de guerreiros que atacavam sob a forma de guerrilha, aproveitando-se do cenário local, e que conheciam muito bem a geografia acidentada, montanhosa e gélida do norte da Bretanha, nos longos e dolorosos invernos. Muitos acreditam que os soldados romanos da 9ª Legião tenham encontrado o sofrimento e a morte, dentro dos vales, florestas e penhascos que circulavam a antiga terra dos pictos.

É justamente sobre esse drama histórico que se desdobra a estória de Quintus Dias (interpretado pelo ator alemão, Michael Fassbender, visto em Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino), centurião romano, subcomandante de um destacamento situado na fronteira com a Caledônia, que além de falar o dialeto nativo, é um profundo conhecedor da cultura dos pictos. Dias vê seu próprio destacamento ser atacado e destruído pela ação fantasmagórica dos guerreiros pictos, e, capturado e levado a presença do rei picto, Golarcon, Dias acaba conseguindo escapar e encontra o general Titus Flavius Virilus (o ator Dominic West, ótimo), comandante da lendária 9ª Legião Romana, enviado a região pelo governador romano da Britania, Agrícola, e encarregado de sufocar com seus soldados a revolta dos pictos. Não demora a tardar para que o general Virilus descubra,da forma mais trágica, que a tarefa que lhe foi incumbida não foi das mais fáceis.

É aí que surge no filme a principal protagonista feminina. a guerreira picta Etain, interpretada pela bela e morena atriz e ex-modelo ucraniana, Olga Kurylenko (que pôde ser vista como a última bondie girl, do recente filme de 007, Quantum of Solace), que sintetiza bem o espírito do filme. Etain é uma guerreira fria e sanguinária, caçadora de sua tribo, que torturada pelos romanos na infância, ao ver sua família ser massacrada quando criança e tendo sua língua cortada para não denunciar as atrocidades dos invasores, ela agora só tem um objetivo: destroçar os romanos, cortando suas cabeças com sua habilidosa lança. Na verdade, tendo como pano de fundo um contexto histórico, o filme de Marshall quer até passar uma mensagem política interessante: por mais que se defenda um dos lados numa guerra, você está sempre do lado errado. A máxima é tão verdadeira quando se vê que na guerra sanguinária entre romanos e bárbaros, o maniqueísmo presumido entre uma potência imperialista que quer subjugar povos estrangeiros mais fracos, e a luta destes contra a opressão romana, cai por terra quando se percebe que ambos os lados do conflito tem seus interesses mesquinhos e seus próprios párias sociais (qualquer semelhança com o papel dos EUA hoje e a Guerra do Iraque, não é mera coincidência histórica). Tanto soldados romanos quanto guerreiros pictos acabam por descobrir, tristemente, que são apenas marionetes num teatro de guerra montado sob os interesses de grupos e oligarquias que querem conquistar ou manter o poder. Fora os clichês, típicos de qualquer filme de época, Centurião é uma boa diversão, como filme de aventura baseado num fato histórico, e retoma o charme de filmes de "espada, escudo e sandálias", ótimos para os aficcionados em história greco-romana.

Com uma proposta despretenciosa, vinda de um diretor mediano, ainda não consagrado, Centurião parece ser uma ótima opção pra quem gosta de ir ao cinema, assistir um bom filme de aventura e com uma estória, no mínimo, interessante. Como diz o personagem Quintus Dias no começo do filme:"Eu sou Quintus Dias, centurião romano, é isso não é nem o começo, nem o fim de minha estória". Um bom divertimento!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MÚSICA: McCartinices-o "vovô de Liverpool" ainda agita bem a galera (beatlemaníaca ou não)!

Ontem foi o último show de Paul McCartney no Brasil, e, infelizmente, não estive presente pessoalmente para assistir. Eu já pensava em ter escrito sobre isso antes da realização dos seus shows (um, em Porto Alegre e dois em São Paulo), mas minha agenda atribulada, os afazeres profissionais, pessoais e acadêmicos acabaram me afastando por uns dias dessa blogosfera, e de um de meus mais diletantes e agradáveis momentos: o prazer de escrever. Passei o mês inteiro de outubro escrevendo sobre eleições, exercitando meu dever civico; mas, até que enfim, podemos escrever e debater sobre assuntos mais saudáveis e agradáveis. Afinal, música é tudo para mim!Música não é só arte ou cultura! Música é prazer!Música é saúde e vida!

E para mim algo tão saudável e prazeroso quanto o beijo da mulher amada ou a delícia do gosto saboroso da comida predileta, trata-se  de ouvir boa música, divina, de qualidade. Nesse sentido, Paul McCartney e o antológico grupo de que fez parte (nem precisa dizer qual) são a mais  completa expressão do prazer que é a música, tendo em vista que até hoje, artistas como sir McCartney fizeram da música a sua vida. Muitos críticos entendem que o ex-Beatle é um músico tão completo, que chego a compará-lo com uma espécie de "Tom Jobim britânico". A terra  que fundou o futebol, de clubes como o Chelsea, Manchester United e Arsenal; da língua mais falada no planeta; do clima chuvoso e cinzento; de seus reis, rainhas e princesas; da torre do relógio Big Ben; do chá das cinco; de Mary Poppins e Harry Potter, também é a terra do rock: dos Beatles, Rolling Stones, Zeppelin, The Who e tudo de bom que você possa encontrar na história da música popular. Mas também é o berço de gênios como James Paul McCartney.

Não gosto tanto dos Beatles quanto dos  Stones, confesso, mas como toda pessoa com um mínimo de neurônios na cabeça ou que sentiu o gosto (ruim e bom) da civilização, já escutou e curtiu alguma música do grupo; mesmo sem entender a letra. Digo isso porque já conheci cidades do interior, em regiões onde ninguém nunca tinha ouvido falar na  banda de Paul, John, George e Ringo, mas quando tocava alguma música dos Beatles, logo o povão associava aquele som à festa, curtição e rock and roll. É uma sonoridade que conseguiu se globalizar e passar de geração para geração. Em seu envelhecimento, Paul McCartney conseguiu acompanhar a evolução de seu público e se tornou também o músico virtuoso e excepcional que sempre foi, só que mais amadurecido com o decorrer do tempo. Paul não se tornou mais do que os Beatles, mas se tornou simplesmente Paul!

Compreendo piamente os devotados fãs dos Beatles, que se acotovelaram aos milhares dentro do estádio do Morumbi, vivendo o momento sabático de escutar seu grande ídolo cantando músicas de seu extinto grupo. Admiro isso. Entretanto, na trajetória de McCartney estimo muito mais seus bons trabalhos solo, especialmente da época de sua também antologica banda, Wings, para dizer que Paul conseguiu se virar muito bem, após sua saída dos Beatles, e assim como sua cara-metade John Lennon, Paul galgou o panteão dos melhores músicos da história, fazendo um som completo, de extrema sensibilidade e criatividade, sem se perder no ganho fácil de viver ganhando uns trocados, apenas fazendo shows, reciclando material antigo. Li em recente reportagem, na revista Rolling Stone, a afirmação de que se Paul cobrasse cada assinatura sua que dá a um fã, por até mil dólares, ele passaria o resto da vida vivendo só de autógrafos. Mas não foi isso que ele desejou. Paul McCartney ainda tinha muito a mostrar após os Beatles.

Paul conseguiu se reinventar após o fim dos Beatles e provou que Paul McCartney era e ao mesmo tempo não era os Beatles. Assim como seu parceiro John Lennon trilhou outros caminhos, e o mais reservado George Harrison também colheu seus êxitos de carreira solo, McCartney não se acomodou com a ressaca dos Beatles e foi explorar novas sonoridades, acompanhado de sua primeira (e falecida) mulher, Linda, montando os Wings. Através desse grupo, Paul marcou os anos setenta (pra mim, ainda hoje os melhores anos em termos de rock e música popular) com sua nova banda e através dela gravou um dos álbuns que ficou para a história da música: o famoso disco Band on the Run.



Nos anos oitenta, assim como muitos outros artistas, Paul McCartney se rendeu à música pop, gravando canções com Michael Jackson e lançando alguns discos com qualidade duvidosa. Porém, é inquestionável que nessa época o lendário ex-beatle lançou pérolas que até hoje ocupam as rádios, como Once Upon a Long Ago, No More Lonely NightsMy Brave Face e This One. Não obstante, foi nos anos 90 que Paul voltou à verve inspiradora que marcou sua carreira nos anos setenta, e fez discos mais conceituais e bem trabalhados; alguns rumando contra a maré do êxito comercial, em baladas mais complexas e intimistas, como nos discos Flaming Pie, Run Devil Run e Chaos and Criation in the Backyard. Talvez, naturalmente influenciado pela doença e posterior falecimento de câncer de sua primeira esposa, McCartney tornou-se um compositor mais intimista, apesar de nada amargo, que soube unir a experiência de tantos anos do carisma firmado em palcos, junto ao talento e genialidade em criar letras e canções inspiradas como Eleonor Rigby, Penny Lane e Fool on the Hill, de sua parceria com Lennon. É difícil imaginar o que teria acontecido se John ainda estivesse vivo, e como seria o mundo com esses dois músicos extraordinários esbanjando talento e vitalidade, como Paul ainda faz até hoje em seus shows.

Hoje em dia, em muitos segmentos alternativos de jovens músicos e na comunidade indie, interessada em música anticomercial  mas de qualidade, os primeiros álbuns de Paul McCartney, do começo da década de 70, são considerados obras indispensáveis. Por isso que boa parte do séquito de Paul, nos dias atuais, não pode ser atribuída somente a fãs beatlemaníacos, mas sim também a ouvintes que souberam respeitar e admirar a música do velho músico de Liverpool, sem se apegar apenas às pieguices das músicas "estilo bailinho", dos primeiros discos dos Beatles. O "velho MacCa" é considerado um dos músicos mais completos do planeta, porque soube abrir o ouvido a velhas e novas sonoridades, sem perder sua marca registrada (baladas bem tocadas ao violão ou ao piano, com uma certa pegada folk, e uma indisfarçável influência bluezeira e do rockabilly) e seu inconfundível apelo rock'n roll.

Apesar daqueles que outrora quiseram matar o Paul (quem nunca ouviu falar de certa teoria conspiratória, havida na capa do disco dos Beatles, Sargent Pepper's, de 1967,  que levante o dedo!) seja pessoalmente ou musicalmente, o cara soube manter o sucesso sem perder a humanidade. Deu-me uma indisfarçada admiração saber que, assim como outros personagens emblemáticos e que gravaram seu nome na história, apesar de ter sido conduzido à condição de nobre inglês, nomeado sir pela rainha da Inglaterra (um cavaleiro da Ordem Britânica), apesar dos títulos, Paul McCartney não esqueceu suas origens proletárias, de um working class hero, no estilo do nosso presidente Lula (aquele que vem de baixo, mas não se desliga do povão), e mesmo famoso não deixa de pegar sozinho seu metrô de vez em quando, nas ruas de Londres, ou mesmo de ser visto dentro de um ônibus, ganhando o espanto geral de gente que simplesmente não acredita que ele esteja nesses lugares, e que pensa se tratar apenas de uma brincadeira ou de um sósia. Afinal, seu parceiro John foi assassinado justamente por que costumava andar pelas ruas como um cidadão comum, dispensando guarda-costas ou limusines. Deve ser por isso, que mesmo com tanta fama, não se vê histórias de sir Paul ser incomodado por paparazzi. Paul McCartney é um dos artistas que prefere ser honrado e conhecido pelo seu trabalho, e não pelos escândalos  ou fatos inusitados em sua vida privada ( a única exceção, deu-se nos últimos anos, com seu explosivo segundo casamento e posterior divórcio com a ex-modelo britânica, Heather Mills).

Por essas e outras que saúdo a passagem de Paul McCartney pelo Brasil, na sua segunda vinda ao país (e talvez a última, segundo a mídia se apressa em dizer, face a idade avançada do músico), e que, de fato, essa não seja a derradeira vez que os brasileiros possam ver uma lenda viva tocar e agitar a galera. Além de bom músico, do alto de seus 68 anos de idade, McCartney conseguiu provar que é possível envelhecer com dignidade. Fico me lembrando de umas das canções do célebre Sargent Pepper's, dos Beatles, na deliciosa música: When I'm Sixty - Four; quando, nos anos sessenta, um jovem McCartney já previa o futuro em doces versos: "Will you still nedd me? Will you still feed me? When I'm sixty-four?". Yes, Paul! Yes! Com 64, 68, 70 ou 80, nos ainda te amamos!!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FÉ & NEGÓCIOS: O MUNDO É GO$$PEL!!!!!!

Diz uma passagem da Bíblia, em Mateus 19: 16-24, que um jovem rico se aproximou de Cristo e lhe perguntou como obter a vida eterna. Jesus respondeu que além de seguir os mandamentos, ele teria que se desfazer de todos os seus bens e doá-los aos pobres. Como tinha muitas posses e não queria se desfazer delas, o jovem se retirou triste. Então Jesus afirmou: "é mais fácil  um camelo passar no fundo  de  uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus".

Fico pensando no versículo bíblico ao ser surpreendido com a notícia da quase falência do grupo Silvio Santos. O Banco Panamericano, de propriedade do grupo, entrou numa braba crise financeira e só não quebrou por que o famoso apresentador de TV deu em garantia sua imensa fortuna, constituída de diversas lojas de varejo, uma financeira, uma empresa de cosméticos e a própria rede de televisão, o SBT, para contrair um empréstimo e se livrar do vexame de falir, em mais de 40 anos de vida empresarial bem sucedida. O homem do Baú da Felicidade parece que agora encontrou a tristeza da iminência da ruína financeira.

Leio hoje nos jornais que diversas igrejas evangélicas pentecostais se ofereceram para comprar parte da programação do SBT, oferecendo milhões para ter todas as horas das madrugadas da programação da emissora. Sabe-se que em países como os Estados Unidos, são comuns canais de televisão gospel, pertencentes à igrejas ( a rede Record, pertencente a Igreja Universal do Reino de Deus, aqui no Brasil, é um franco exemplo), ou que possuem em sua programação horas onde se apresentam pregadores, com espaço garantido o ano inteiro para programação religiosa e cultos televisionados. No Brasil, aparecem cotidianamente na TV pastores como Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, e R. R. Soares, da Igreja Internacional da Graça. Em todos esses programas, geralmente a liturgia é a mesma: cultos ao vivo ou gravados, promessas de cura, entrevistas e enquetes com o público, através de programas como o "Fala, que Eu te Escuto", e diversos outros conteúdos que transformaram evangelização em nicho de mercado. Não sou contra a pregação religiosa na TV, mas não deixo de achar curioso (e, em alguns casos, até perigoso), como essas igrejas que se valem dos meios de comunicação (característica principal do chamado neopentecostalismo), muitas vezes vendem fé como se fosse um produto. Afinal, se tínhamos antes os empresários da comunicação, agora temos os empresários da fé!

A pós-modernidade e os avanços trazidos pela revolução nos meios de comunicação gerou novas formas de interatividade que passam,necessariamente, pela TV e pela internet. Antigamente, a Assembléia de Deus, a igreja pentecostal mais antiga do Brasil e uma das mais tradicionais no cenário religioso brasileiro, tinha simplesmente seus jornais ou panfletos distribuídos por seus fiéis pelas ruas, como forma de difusão da palavra de Deus. Hoje, vê-se na maior parte dos canais de televisão, ou ao menos em todas as casas do país, algum televisor ligado, alguma hora do dia ou da noite, nem que seja por alguns minutos, transmitindo esses programas. O lucro dessas instituições religiosas é absurdo. Visto que o que elas conseguem em espaço, a TV também consegue em anunciantes. A crise de valores e a busca de religiosidade nesse novo milênio levaram multidões desencantadas com a vida moderna a se debruçar sobre a TV e procurar respostas para suas angústias pessoais, através do discurso religioso. Que bom que as pessoas procurem curar seus males internos pela religião, por um lado; mas que pena que a fetichização capitalista transforme boa parte disso em mero mercado. Fico me recordando do escândalo envolvendo os bispos Estevão e Sônia Hernandez, da Igreja Renascer, e a prisão dos mesmos nos Estados Unidos, após o patético episódio de desembarcarem em solo americano com dólares escondidos dentro de uma Bíblia. Creio que alguns "jovens ricos" seguem os mandamentos, mas ainda não conseguiram obter a vida eterna, pois ainda estão muito presos a seus apegos materiais.

Participo de uma pequena igreja luterana, bem tradicional, histórica, e com um culto até mesmo chato pra alguns padrões pentecostais, mas dentro de uma perspectiva humilde, como sempre vi a igreja. Conheci e frequentei várias igrejas, de diversas denominações religiosas, e sempre vi o contraste entre a opulência e a humildade. Desde as suntuosas catedrais católicas até os rudimentares templos evangélicos de bairros de periferia, em minha fé, sempre pude notar a presença de Deus em minhas orações, mas não deixei de notar também a soberba e o falso profetismo de alguns homens. Sou um eterno crítico da organização eclesiástica no Brasil, mas nem por isso deixo de ser um homem de fé. Para mim, igreja enquanto um conceito bíblico-teológico é o encontro dos crentes, a comunidade dos que se sentem filhos de Deus; mas enquanto instituição social pode ser tão corrompida, recheada de conflitos e permeada por vícios, como qualquer outra instituição. Às vezes as igrejas assemelham-se à empresas, noutras, a partidos políticos, e nisso vem a velha crítica de muitos, de que Deus é um ente a se acreditar, já  igreja, não. Não culpo nem meus amigos ateus, e nem aqueles que em algo crêem, mas que discordam da igreja, pois, de fato; igreja é um assunto controverso demais, até mesmo para os mais estudiosos e astutos teólogos.  Por outro lado, não deixo de participar, não deixo de achar importante a existência da igreja na minha vida, na minha caminhada de fé.

Entretanto, vejo no desenvolvimento de certas igrejas (principalmente as evangélicas) no Brasil, um sério problema, que vem da forma midiática e um tanto quanto mercantilista que se aproxima, todas as vezes que vemos empresários em crise dissiparem sua fortuna e obrigando-se a vender antigos prédios de supermercado, salas de cinema, auditórios e espaços na programação de televisão, para sedentos pastores e líderes religiosos, que na ganância de arrecadarem milhares de dízimos, ofertas, contribuições ou lucros de anunciantes, transformam as igrejas em verdadeiros balcões de negócio. Em outro capítulo da Bíblia, observa-se em I Timóteo 6:10: "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." Ao ler isso me preocupo, porque vejo que alguns de nossos líderes religiosos correm o risco de se perder entre os cifrões da renda obtida com todo um mercado gospel que vem a surgir. E a figura de Cristo ou as mensagens do Evangelho passam a servir como propaganda em canecos, camisetas, chaveiros, adesivos para carro, CDs e DVDs, como numa imensa loja de departamentos pentecostal, um grande shopping da fé, uma verdadeira praça de alimentação de produtos religiosos. Fé Demais não Cheira Bem, é uma interessante comédia dos anos oitenta, com o ator Steve Martin, interpretando um pastor caça-níqueis, e é nisso que tenho medo que muitas de nossas igrejas se transformem; no momento em que assumirem a ponta da programação em nossos canais de televisão.

Sai de cena Silvio Santos, gritando no meio do auditório, num corredor repleto de moças e senhoras de idade, com braços levantados: "Quem quer dinheiroooo???"; e entra R. R. Soares, com sua pregação: "Quem quer uma benção? Quem quer salvação?". O modus operandi é diferente, mas o lucro é o mesmo, na conta dos anunciantes. Imagino o Bispo Edir Macedo, após sucessivas prisões e libertações pela Justiça brasileira sorrir triunfante, após os tribunais firmarem jurisprudência de que líderes religiosos não podem mais ser presos como estelionatários, levando-se em conta que além da liberdade de religião, ninguém pode argumentar que foi enganado ou ludibriado por um discurso de fé, se sabe que pode estar sendo iludido por um discurso que é religioso, e não racional. As promessas do mundo de Deus, vendidas como se fossem carnês da felicidade, diferem das promessas do mundo, palpáveis e passíveis de cobrança como uma promissória; mas mesmo assim continuam sendo promessas. Para mim, o problema do lucro ávido de certas igrejas não é caso de polícia, não é um problema criminal, mas sim uma questão de ética, de bom senso religioso e de respeito a valores tão difundidos por diversas religiões: como a solidariedade, a piedade, a luta pela justiça e a compaixão pelos mais fracos. Espero que muitos não se afastem da fé, incrédulos, revoltados, decepcionados, tão somente por achar que Deus vendeu um peixe caro demais para se conquistar. Fé não é contrato, e oro para que muitos dos que se dizem pastores de ovelhas desgarradas, não contribuam para que elas fiquem ainda mais perdidas, porque eles mesmo não reconhecem o quanto pecaram contra seu próprio compromisso religioso.


Paz aos homens de boa vontade, e se liguem senhores pastores, supostos donos da verdade e da sabedoria. Se acreditam mesmo em Deus, não estraguem tudo, como se fosse apenas um negócio a se realizar. Que Deus tenha piedade deles!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ELEIÇÕES/Resultado: Viva!! Porque Dilma ganhou!! Ufa! Porque Serra perdeu

Acabou!Finalmente acabou o processo eleitoral de 2010 e com ele uma das campanhas onde um dos candidatos a presidente se valeu dos expedientes mais vis, mesquinhos e de um arsenal quase sem fim de baixarias, contra um candidato (no caso, uma candidata) adversário. Não se via tantos golpes abaixo da linha da cintura, numa eleição, desde a histórica campanha de 1989, onde um combalido Lula, na reta final, abalou-se sensivelmente com a torpeza de Collor, ao anunciar nas vésperas do último debate eleitoral uma sacana Miriam Cordeiro, que denunciou o candidado do PT, naquela época, de ter tentado forçá-la a abortar Lurian, a filha mais velha que Lula teve num romance rápido com a ex-enfermeira que o denunciou. Jogo sujo que parece ter ressurgido, sobretudo,  fatidicamente no segundo turno da campanha eleitoral, mas que foi vencido limpamente pela candidata do governo federal.


Do alto de seus 56% de vantagem (exatos 55.723.465 de votos) Dilma Roussef tornou-se a primeira mulher a chegar à presidência da república e a quadragésima pessoa a ingressar no cargo. Além de mulher, é a primeira vez que um candidato de uma ampla frente de partidos de centro-esquerda conquista o poder de forma consecutiva, através de seu sucessor; num governo outrora dominado durante mais de um século por uma elite empresarial e latifundiária (fora os governos militares). Dilma é também a primeira ex-guerrilheira a se tornar presidente (na América Latina, José Mujica conseguiu esse feito no final do ano passado, no Uruguai) e também a primeira candidata vitoriosa de um presidente que conseguiu eleger seu sucessor (nem Vargas ou Juscelino conseguiram a façanha de Lula). Sobre a ascensão de Dilma e o fracasso de Serra, eu poderia citar alguns fatores:

Por que Dilma ganhou?
Dilma venceu, entre outros fatores, por ter sido apoiada por um governante com uma popularidade recorde, que conseguiu transferir boa parte de seu capital eleitoral para sua afilhada política. A oposição não foi páreo para um governo que se mitificou, do alto de seus 82% de aprovação popular. Lula é o presidente mais bem avaliado de toda a história da nação e seu legado tende a permanecer por muitos anos, assim como foi com Getúlio Vargas, desde a década de cinquenta do século passado. A votação maciça que a candidata Dilma recebeu de regiões pródigas no recebimento de bolsa-família, como o Norte, o Nordeste e estados do sudeste,como o Rio de Janeiro e Minas, apenas confirmou o favoritismo de uma candidata que começou a despontar ainda no início da campanha. Além do mais, até ao arrepio da legislação eleitoral e contando com uma certa condescendência do Judiciário, não obstante as multas, Lula foi um cabo eleitoral ativo, participando da campanha diuturnamente, seja na propaganda eleitoral na TV, seja participando de eventos e atos públicos a favor de sua candidata.

Mas Dilma não se elegeu apenas na carona de seu mentor político. Dilma revelou também ter brilho próprio, e, a despeito da decepção petista quanto a não obtenção da vitória no primeiro turno (face os 20% de votos conquistados pela candidata "verde" Marina Silva), na pesada campanha do segundo turno, Dilma conseguiu se impor em relação às críticas de seu adversário, adotando uma estratégia agressiva, porém propositiva. Diante das acusações caluniosas, empregadas com um certo fundamentalismo religioso, de que a candidata do PT era a favor do casamento gay e do aborto, porque "gostava de matar criancinhas", conforme argumento empregado pela esposa do candidato da oposição, Mônica Serra, Dilma respondeu à altura, conseguiu dissipar os boatos, confirmou o apoio a seu nome de artistas, intelectuais e lideranças religiosas na sua campanha, indo à luta. Nesse sentido, Dilma Roussef conseguiu provar que não era apenas um "poste", indicado por Lula para ganhar essa eleição, e que tinha sim habilidade e luz própria para uma estreante em campanhas eleitorais.

Outro fator preponderante que auxiliou na vitória da candidata da situação foi o sentimento de continuidade. Toda popularidade alcançada por Lula em sua gestão deu-se à estabilização econômica, à geração de emprego e renda, ao crescimento de uma nova classe média e ao desenvolvimento de um país que ganhou um novo protagonismo internacional nos últimos anos. Elegendo-se em 2002, sob a égide da mudança, nesta eleição o governo Lula conseguiu emplacar a pecha da continuidade. O eleitor brasileiro em geral aprecia o momento histórico porque passa o país e tendia a defender a manutenção do atual modelo que deu certo. Dilma surfou nessa onda de otimismo e prosperidade nacional, mantendo o lema de manter e aprimorar todas as conquistas já realizadas pelo governo que vai terminando.

Os apoios políticos dos candidatos vitoriosos aos governos dos estados, no primeiro turno, também foram importantes peças de xadrez no jogo eleitoral, uma vez que muitos desses candidatos valeram-se de sua popularidade e da transferência de votos de seu eleitorado para Dilma, como ocorreu na Bahia, de Jacques Wagner, onde a candidata do PT praticamente deu uma surra em Serra, alcançando mais de 70% dos votos válidos no último domingo, como também em Pernambuco, do votadíssimo e reeleito governador Eduardo Campos. Também no Rio de Janeiro, a força político-eleitoral do governador Sérgio Cabral se confirmou, atingindo Dilma importantes 60% dos votos. Nos demais estados favoráveis à petista o quadro se confirmou; com exceção do Rio Grande do Sul, onde, não obstante a vitória de Dilma no primeiro turno, no segundo turno tal fato não se repetiu, atestando-se a vitória de Serra no estado por uma estreita margem de vantagem que beirou o 1%. Apesar disso, Dilma Roussef soube administrar a vantagem da dianteira em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, e não chegou a perder feio em São Paulo, cenário naturalmente favorável ao candidato José Serra. Foi no Nordeste, entretanto, que a candidata Dilma obteve sua maior vitória, dominando praticamente a realidade de todas as urnas naquela região, em comparação com o restante do país.

Além do mais, Dilma conseguiu por mérito próprio (e não somente pelo apoio de Lula) enfrentar Serra nos debates do segundo turno, não perder a serenidade (apesar da inexperiência de neófita em campanhas eleitorais) e aproveitar as brechas deixadas pelas próprias falhas éticas tucanas, no momento em que rebateu os escândalos e as denúncias envolvendo desde a quebra do sigilo fiscal de eminências pardas tucanas e da própria filha do candidato Serra, como também das falcatruas e do tráfico de influência feito em prol de familiares por seu ex-braço direito, sua sucessora na Casa Civil e ex-assessora, Erenice Guerra. Em ambos os casos que pareciam explosivos (explorados à exaustão pela mídia oposicionista), tais fatos acabaram se perdendo no debate eleitoral, tendo em que vista que no primeiro caso, não interessava ao eleitor de baixa renda uma discussão complexa sobre quebra de sigilo de poderosos, que envolve muito mais uma " picuinha entre ricos" do que um problema genuinamente seu. Além do mais, a própria filha de Serra, Verônica, indicada como vítima, acabou revelando o telhado de vidro dos tucanos, quando se sabe que a empresa montada por ela, em parceria com a irmã do banqueiro-bandido Daniel Dantas, praticou os mesmos atos praticados contra ela, participando de lobbies com o governo anterior, de licitude questionáveis.

No caso de Erenice, a candidata Dilma conseguiu se mostrar mais como uma vítima incauta de uma ex-subordinada que abusou de sua confiança, que "cresceu o olho" quando assumiu um cargo de relevo, substituindo a chefe, e que acabou por colocar tudo a perder, em prol do auxílio a filhos e parentes empresários.Dilma conseguiu demonstrar que quando atos isolados de corrupção são praticados dentro da administração pública, mas prontamente esclarecidos, investigados e seus autores afastados e punidos, não há de se falar em ausência de ética num governo, pelo fato de que tais episódios acontecem nas melhores democracias. Afinal, foi no governo Lula que a Polícia Federal mais atuou e prendeu criminosos do colarinho-branco, dentre políticos, juízes, advogados e empresários e não mais fez por conta de um STF dividido ideologicamente e com um ex-presidente da corte, Gilmar Mendes, mais preocupado em esquivar empresários e notórios fraudadores do uso de algemas, do que defender os direitos humanos de pretos e favelados que são espancados pela polícia país afora, geralmente quando já detidos e algemados.

Por fim, como se verá abaixo nas razões para a derrota de Serra, foi através dos próprios erros cometidos pelo candidato do PSDB e sua coligação, na totalidade de "gols-fora" praticados pelos tucanos, que a vitória de Dilma acabou por ser consagradora. Infelizmente, pela dura campanha efetuada pela oposição, com pesadas acusações que permearam o segundo turno, esta eleição pode ter trazidos feridas políticas talvez difíceis de cicatrizar a curto prazo na cena política nacional.

Por que Serra perdeu?
Acredito que, ainda durante muito tempo, o staff do candidato José Serra e a cúpula do PSDB estarão recolhendo os cacos e estabelecendo a lavagem de roupa suja interna, culpando-se uns aos outros pela derrota considerável sofrida pelo candidato tucano nesta eleição, que pode ter lhe custado, senão a carreira política, a chance de disputar mais uma eleição presidencial. Sabe-se que a campanha de Serra no primeiro turno foi um desastre, e, por pouco, ele não perdeu a eleição no primeiro turno, amargando uma humilhante derrota, mantendo os eternos 35% de seu eleitorado cativo no sudeste, se não fosse o fator Marina Silva, decisivo nesta eleição. De fato, Serra herdou os votos do eleitorado conservador da candidada do PV, mas não conseguiu amealhar a vitória que tanto desejara, apesar disso. Vale salientar que no resultado final da eleição, Serra saiu dos 37% de resultado no primeiro turno para 44% no segundo turno, revelando que dos 20% do eleitorado de Marina, ele apenas conseguiu seduzir uma parte (7%), ficando a maioria dos votos restantes depositados em Marina, no primeiro turno, automaticamente transferidos no segundo turno para Dilma Roussef. Nesse sentido, não adiantou a adesão à candidatura tucana de "verdes" históricos, como o deputado carioca Fernando Gabeira, ou a apelação eleitoral mantida com o suposto apoio de Ilzamar Mendes, viúva do seringueiro e ex-líder ambientalista assassinado, Chico Mendes. Parece-me que a versão de um Serra "verde" e preocupado com as causas ambientais não vingou no segundo turno.

Em segundo lugar, revelou-se temerário o emprego de Serra de argumentos religiosos e fundamentalistas, associados ao preconceito, ignorância e intolerância religiosa quanto a temas polêmicos debatidos na pós-modernidade, como a inclusão social de homossexuais através do reconhecimento de uniões do mesmo sexo ou a delicada questão do aborto. No desespero de ativar sua campanha, e sob ordens, provavelmente dadas aos gritos a seus assessores, o centralizador e burocrático Serra acreditou que através do expediente do preconceito, conseguisse desestabilizar a candidata petista, valendo-se do conservadorismo inato a um eleitorado eminentemente católico e profundamente religioso. As discussões sobre importantes temas nacionais como saúde, educação, segurança e desenvolvimento ficaram pra trás, jogados à revelia diante de uma inútil discussão sobre quem era mais a favor das teses da igreja,ou quem era contra. Parecia que um Estado reconhecidamente laico tinha se rendido aos tempos medievais da Inquisição ou que o papa Bento XVI tivesse se tornado o "grande eleitor" no país. O que ocorreu é que logo após ser detectada a artimanha tucana de querer voltar os eleitores religiosos (principalmente evangélicos) contra a candidata da situação, rapidamente o staff de Dilma teve a agilidade de desmanchar as falsas acusações, montando uma central de boatos na internet, encarregada de rebater todas e quaisquer acusações desabonadoras quanto à candidata, presentes na web desde o primeiro turno. Se Barack Obama inaugurou nos Estados Unidos a campanha pela internet, valendo-se das comunidades virtuais como facebook, orkut e twitter; no Brasil Dilma Roussef notabilizou-se pela contraofensiva eleitoral através de uma rede virtual atuante e diuturnamente engajada.

Mas o que mais fez naufragar o Titanic tucano nessa eleição foi a tibieza com que o PSDB conduziu a eleição de seu candidato desde o primeiro turno, revelando os rachas e fraturas internas, de um partido que simboliza um grupo de interesses entre intelectuais neoliberais, representantes do empresariado desvinculados das benesses do governo, e uma classe média urbana e preconceituosa, que tomado de um individualismo exacerbado e briga de egos históricos, acabou por fazer desandar a carroça tucana. O abandono de FHC e a dificuldade que Serra teve no primeiro turno, de associar sua campanha ao legado do governo de Fernando Henrique, além da disputa interna entre o grupo de São Paulo liderado por Serra, e o de Minas, sob a batuta de Aécio Neves, revelou que, como uma "UDN pós-moderna", o PSDB reproduziu historicamente as rusgas antigas e seculares da disputa do poder político central entre paulistas e mineiros. É a "República do Café com Leite" rediviva. Detentores dos maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), os tucanos não conseguiram se viabilizar como oposição (desde a primeira derrota eleitoral de Serra para Lula, em 2002), não puderam manter a coesão interna necessária a partidos de oposição que desejam ser poder novamente, e ainda tiveram que se engalfinhar em brigas homéricas, diante de um candidato chato e conhecidamente centralizador como Serra. Tinha tudo pra dar errado, assim como deu, tendo em vista que no segundo turno, apesar de ter aparecido como uma espécie de super-homem na capa da revista Veja, por sua adesão (sincera?) à campanha de Serra, parece que o tucano Aécio Neves não conseguiu render em votos o peso político que possuí em seu estado, ficando Minas como o fiel da balança que decidiu esta eleição. Lá, Dilma teve até mais votos que seu adversário no segundo turno, do que em relação ao primeiro. Provou-se que mineiro não vota em paulista, uai!!

Resta ainda uma pitada de incompetência política e falta de articulação partidária na indicação do candidato a vice na chapa tucana. Assim como nos EUA, na eleição perdida de John MCcain para Obama, a escolha da insossa (porém bem apessoada) Sara Palin revelou-se um tiro na pé nas pretensões do candidato republicano na terra do Tio Sam. No Brasil, parece que o deputado Indio da Costa, do DEM, tão somente representou o que sempre foi, como jovem representante da nova direita e ex-braço direito do derrotado César Maia, nas recentes eleições no Rio de Janeiro: bonitinho, mas ordinário. Não adiantou o sotaque carioca da zona sul e a aparência e o bronzeado de galã da novela das seis, do jovem candidato a vice na chapa de Serra. O despreparo e a desqualificação em quase todos os aspectos do candidato, com frases infelizes e tiradas sorrateiras associando o PT as FARC e o narcotráfico,  acabaram por impor a Indio da Costa  um silêncio nada obsequioso, no segundo turno, pelo manda-chuva tucano. Sabe-se que Indio foi a última das últimas opções quando as cartadas tucanas já estavam todas demolidas, diante da crise entre os partidos coligados, e a possibilidade do principal aliado dos tucanos, o DEM, retirar-se da coligação de Serra, caso não lhe fôsse cedido o cargo vice-presidencial. Na época, o candidato era tão desconhecido que o próprio Serra só veio a conhecê-lo pessoalmente dias após da campanha. Restou a um ex-dj e ex-secretário municipal, envolvido em denúncias de desvios de verbas de programas  de governo, na época da prefeitura de César Maia, ser galgado à condição de lugar-tenente do cargo mais importante da República, revelando desde o primeiro dia de campanha a pequenez de sua propostas e projeto político. Nessa do Indio, o tucanato só levou flechada!

Quanto ao eleitorado jovem, por mais que Serra propugnasse o apoio de certos setores da comunidade universitária (eminentemente paulista) e jovens de classe média alta, com seu discurso embalado no slogan batido da campanha anterior de que "Serra é do bem", o candidato tucano não conseguiu empolgar o eleitorado mais jovem e desencanado das grandes cidades, que encantado com o discurso do PV, encontrou na candidata Marina a terceira via ideal na eleição do primeiro turno. Na verdade, no momento em que mostrou sua face mais raivosa no segundo turno, e os expedientes típicos dos políticos profissionais, com baixarias e discursos de critica à adversária petista, como se estivesse num estádio de futebol, Serra acabou por passar a imagem de ser "apenas mais um deles", e de ser responsável por desqualificar o debate eleitoral, valendo-se das mais esdrúxulas baixarias. O que terminou por sepultar a candidatura tucana foi, sem dúvida, o episódio da "bolinha de papel", em que o candidato, atingido por duas vezes por objetos pequenos e insignificantes em uma caminhada de campanha no Rio, num conflito de sua claque eleitoral com mata-mosquitos revoltados (demitidos pelo próprio Serra, quando era ministro), este foi às pressas ao hospital, sob as câmeras de TV, tentando monopolizar os holofotes para um episódio totalmente inofensivo, querendo forçar um melodrama e capitalizar apoio político fazendo-se de "coitadinho", vítima de raivosos cães de guarda petistas. Sobrou para o candidato a desmoralização de ter figurado nessa campanha como autor de mais uma peça do anedotário popular: ao receber uma bolinha de papel na cabeça, dirija-se imediatamente ao hospital.

O futuro:
O futuro a Deus pertence, como diz o adágio popular, mas pode ser muito bem previsto politicamente, ao menos no que tange aos primeiros meses do ano vindouro, no mandato de Dilma Roussef.

Um dos desafios mais gritantes para a nova presidente será a continuidade e intensificação do combate à desigualdade social e redução da pobreza,  iniciado no mandato de Lula e que se tornou sua maior marca. Para se manter na crista da onda e não perder apoio político de seu eleitorado, Dilma terá que promover mais inclusão, fornecer e ampliar programas assistenciais, gerar e manter novos empregos, e estabelecer um rumo para a economia que garanta estabilidade fiscal, prosperidade empresarial e distribuição de renda. Um dos grandes achados do governo Lula, e que o tornou definitivamente superior a seu rival e antecessor, FHC, foi aliar assistencialismo com desenvolvimento social. Diferentemente dos tucanos, que estabeleceram o bolsa-escola como mera medida compensatória, Lula soube ampliar o programa, com rara intuição política, e talentosamente transformou o bolsa-família em seu carro-chefe, exatamente porque ele não se converteu tão e simplesmente num "bolsa-vagabundo", como o reaçonário discurso tucano quis apontar, outrora, em suas críticas, mas sim num bolsa-desenvolvimento. Ficou comprovado que a retirada da população de níveis extremos de miséria, através de seu compromisso social com a manutenção da educação dos mais jovens, e o ingresso deles no mercado de trabalho, através da qualificação com a criação de inúmeros institutos federais de educação (os antigos CEFETS), tornou-se um trunfo em qualquer administração, sendo impossível qualquer novo governante, que venha assumir no futuro a presidência, desmerecer esse importantíssimo programa de inclusão social.

Entretanto, o que eu entendo fundamental para o novo governo resolver são dois assuntos delicados, que no governo Lula foram merecedores de crítica: a saúde e a segurança. Foram exatamente esses dois temas que ocuparam boa parte da agenda do candidato tucano e que serviram de munição para suas críticas ao governo, apesar de eu já ter dito no blog "O mundo é bão, ser bastião", que Serra não conseguiu emplacar um discurso convincente com sua proposta de criar um Ministério da Segurança, e nem adiantou relatar exaustivamente sua larga experiência como Ministro da Saúde, no governo de FHC, tendo em vista que ainda está presente na cabeça do eleitor o surto de cólera e epidemais de dengue que assolaram o país na gestão anterior. É pela necessidade de criar um sistema unificado de segurança e um aparato de saúde digno de nações desenvolvidas que a presidente Dilma terá que se deparar, se quiser realizar um mandato presidencial a contento.

Do lado da oposição, fica o medo que o acirramento dos ânimos visto na campanha eleitoral permaneça no cenário político-social brasileiro, após Serra, em sua aparente despedida do palco  eleitoral, diante do resultado das urnas, ter dito que a luta não terminou, e que apenas por enquanto as urnas não tinham lhe dado a vitória. Pareceu no discurso recalcado e meio amargo de mau perdedor de Serra, que as agressões e críticas contundentes ao governo não vão tirar uma folga, assim como fez o candidato tucano com o fim da eleição, disparando com a família para a Europa. Ficou demonstrado que além dos "dois Brasis", percebidos na clara divisão dos votos no eleitorado nacional, nessa eleição para presidente, existe um claro fosso ideológico que agrega tanto ricos como pobres, homens e mulheres, jovens e velhos, norte e sul. Pela primeira vez em vinte anos, saíram das sombras para o debate político aberto toda uma gama de conservadores, reaçonários, neoliberais, direitistas e fundamentalistas religiosos, que não tiveram vergonha alguma de vestir a carapuça e manifestar os mais evidentes e tacanhos preconceitos. Essa campanha, sem dúvida, ficou marcada pela polarização numa suposta briga do "bem contra o mal", e não duvido nada que muitos parentes tenham se desentido, amizades foram rompidas, pessoas deixaram de se falar e uns até pediram demissão, por conta do bate-boca e da briga de torcidas que virou o segundo turno dessa campanha eleitoral.

Ficou comprovado, por exemplo, através das redes sociais na internet, por meio de e-mails de alguns eleitores tucanos e mesmo no papo de mesa de bar, ou na discussão familiar junto à mesa de jantar, que em cada família brasileira existe ao menos um eleitor que faz coro ao discurso elitista, privatista, neoliberal e neoconservador de partidos como o PSDB e Democratas. Por um lado, se isso é bom para a democracia, como asseverou a edição especial de Veja sobre o resultado dessas eleições; por outro, como alude revistas como Carta Capital, o discurso religioso homofóbico, a pregação reaconária e separatista contra os nordestinos, o preconceito contra pobres e mulheres, e a defesa do "bandido bom, bandido morto", parece ser muito perigoso para um Brasil que quer se afirmar como potência emergente e nação desenvolvida no século XXI.

No âmbito das relações com a mídIa, como já expressei aqui, no artigo anterior, a nova presidente terá que conviver com um ambiente jornalístico tanto hostil quanto aliado, no aspecto político da guerra de informação que se desenvolveu na imprensa livre, após o advento da redemocratização.Durante 8 anos Lula conviveu com publicações como a Veja e o Estado de São Paulo, francamente oposicionistas, que liberaram os mais diversos factóides, num expediente semigolpista de querer desestabilizar o governo do qual era desafeto. Para Dilma restará a sapiência e a habilidade de lidar com esses meios de comunicação, assegurando a harmonia democrática, mas ao mesmo tempo estabelecendo, através de resultados palpáveis, uma resposta devida aos seus detratores na mídia, governando com tolerância, mas também coibindo abusos praticados por quem se acha o dono da verdade, por possuir um jornal ou canal de televisão. Reitero o inteligente pronunciamento da presidente eleita, reiterando a histórica máxima: "prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras!". Bem dito, senhora presidente!

De qualquer forma, saúdo as mulheres do meu Brasil varonil pela vitória de uma companheira de gênero na primeira eleição em que uma mulher se torna presidente. Como disse a presidente eleita em seu primeiro discurso, após a vitória, hoje, um pai e uma mãe podem olhar nos olhos de sua filha e dizer: "SIM, A MULHER PODE!".Todo poder às mulheres, mas, ao mesmo tempo, todo poder aos brasileiros, realmente comprometidos com um projeto de país mais desenvolvido, mas também mais plural, democrático e justo socialmente. Por isso que votei em Dilma, por isso que comemoro e posso dizer a plenos pulmões: PARABÉNS, DILMA PRESIDENTE! UM BOM DILMA PARA TODOS NÓS! VIVA O BRASIL, ACIMA DE TUDO!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ELEIÇÕES e MÍDIA: Minhas impressas impressões sobre a imprensa brasileira.

Temos no Brasil uma imprensa livre, graças a Deus! Desde os empastelamentos de jornais no tempo do Império ao  Estado Novo de Vargas, ou do agressivo controle da censura aos meios de comunicação nos tempos da ditadura militar, "nunca antes na história desse país", como diz o companheiro Lula, tivemos um período tão extenso de liberdade de expressão, onde a mídia e os diversos serviços de jornalismo e informação no país, tiveram a oportunidade de expor suas ideias, de forma boa ou equivocada.

Agora, com o final do pleito eleitoral para presidente da república que se aproxima, resta-nos colher os cacos do que ficou dos escombros da mídia, após a brutal polarização que se viu entre as duas candidaturas (a da situação e da oposição), onde jornais se transformaram em partidos políticos e a guerra entre redações, o bate e boca editoral, pôde ser visto nas manchetes das bancas de jornais.

Adoro ler, amo a leitura, sou um viciado em papel (livros, revistas, jornais e gibis) e um de meus maiores prazeres, seja no Rio de Janeiro, São Paulo, Natal, Recife, Porto Alegre, Buenos Aires, Santiago do Chile ou Punta del Este, é estar defronte a uma banca de jornal ou livraria, vendo as capas de revistas, as manchetes e matérias de primeira página dos jornais locais ou de grande circulação do país. Parodiando meus antigos professores de filosofia: informação não é conhecimento, mas é informação! Pode ser verdadeira ou falsa, certa ou errada, mas a informação veiculada pelos meios de comunicação é um bom termômetro social e político.

Percebo isso ao observar como a imprensa brasileira se manifestou nessas eleições de 2010 para presidente da república. A imprensa é o que sempre foi no aspecto político: panfletária, partidária, imediatista, parcial, oportunista,defensora dos interesses próprios dos grupos que estão por trás de suas redações. É uma imprensa de classe ou a que melhor reproduz uma luta de classes num regime democrático, onde é possível ver publicadas as mais diversas opiniões. Sob o jargão proferido à exaustão da liberdade de imprensa, reputações são maculadas, calúnias são proferidas, mentiras são propagadas, disputas ficam acirradas, tudo com o fiel intuito de influenciar o eleitor, de formar sua opinião, de manipular seu pensamento ou de acirrar ânimos, dogmas e preconceitos que o leitor já possuía. Faz parte do jogo democrático, mas também não deixa de ser um jogo sujo, muitas vezes!

Hoje, no Brasil, podemos ver a clássica polarização esquerda X direita, que tenta ser apagada por alguns sociólogos pagos a toque de caixa pelo interesse financeiro do capital, tentando nos engabelar com o papo de que ser neoliberal ou socialista é demodê, coisa do passado. O mundo não seria mais dividido entre reaçonários, conservadores e progressistas, mas tão somente em burros ou inteligentes. Inteligente seria defender o capital, a abertura do mercado, a livre concorrência; e burro seria insistir no papel social do Estado, no intervencionismo satânico da mão estatal em prol do interesse público. Burrice é coisa de comunista!Poderia nos fazer pensar os editoriais de algumas revistas e jornais. Mas, na verdade, a distinção de classes, o fosso entre ricos e pobres ainda é muito grande no Brasil, apesar dos bolsa-família, primeiro emprego e programas de habitação popular da vida. Basta ler os jornais pra ver que não estou mentindo.

Sou um consumista, seduzido pela ideologia do consumo desta sociedade capitalista, confesso. Talvez eu seja um pequeno-burguês emergente, oriundo de classes populares, que, ao prosperar, integrando uma classe média sem culpa, gaste meus reaizinhos comprando livros e revistas, gastando minha grana com leitura. Isso é verdade! Mas também, através desse gasto fútil com papel, consigo ao menos trabalhar a minha cachola observando e anotando a briga ideológica na imprensa brasileira, e através dela,  posiciono-me politicamente como leitor e cidadão. Vejo, por exemplo, o quanto o campo das candidaturas está dividido entre os meios de comunicação que apoíam o governo e aqueles que são contra; além daqueles que, fingidamente, falseiam sua posição ideológica, simulando estar em cima do muro. De um lado, por exemplo, temos como veículos de comunicação assumidamente partidários do governo: as revistas Carta Capital e Istó É, além da rede Record e Band de televisão; de outro, temos verdadeiras oligarquias jornalísticas, simbolizadas por grandes jornais e redes de TV pertencentes a grandes famílias: publicações como a Folha de São Paulo, Estadão e O Globo e a revista Veja, escancaradamente favoráveis ao candidato da oposição (só falta pedir votos abertamente pra ele), além de publicações mais independentes como a Caros Amigos, que bem poderia passar como um periódico do P-SOL, com seus artigos inflamados com um pensamento de esquerda, a la Plinio de Arruda Sampaio, "contra tudo o que está aí". Não digo que isso seja bom ou ruim; apenas é curioso!

Creio  que todo veículo de informação que se queira sério deve ter a boa função de bem informar. Por boa informação entendo aquela que dá a notícia como ela é, sem retoques, sem manipulação. O que considero quase impossível, debaixo de tantos interesses escusos e subliminares que podemos encontrar na imprensa brasileira. Entretanto, manifesto  meu respeito pelas publicações que, assumidamente, declaram estar a favor desse ou daquele candidato, esposar esse ou aquele entendimento ideológico ou posicionamento político. Isso é bom para a democracia. É bom para o país e demonstra a honestidade dos meios de comunicação para com seus leitores.

Em algumas democracias amadurecidas, como na Europa ou na América do Norte, jornais se declaram abertamente partidários e simpáticos a esse ou aquele candidato ou partido político. Na Inglaterra, jornais como o Daily Mirror ou o The Post, Washington Post ou New York Times nos EUA, além do Le Monde, na França, na época de campanhas políticas, abrem seus editoriais e são francamente abertos a um ou outro candidato. No Brasil, pelo que eu saiba, apenas a revista Carta Capital, através de seu editor-chefe, Mino Carta, e o Estado de São Paulo, tiveram a dignidade de se assumir publicamente favoráveis à candidata Dilma Roussef e ao candidato José Serra, respectivamente; e por conta dessa posição democrática, ao menos no caso da Carta, o periódico acabou sendo perseguido vorazmente pela vice-procuradora eleitoral ,Sandra Cureau, que confundiu adesão democrática de um jornal a um governo ou candidatura, com crime eleitoral.

Enquanto isso, sob o rótulo de "imprensa democrática" ou "defensores da liberdade de imprensa", periódicos e jornais como a Veja, Folha de São Paulo e o Globo fazem campanha contra o governo com a maior cara de pau, chamando de petistas raivosos todos aqueles que acusam seus repórteres e editorialistas de fazerem campanha descarada para José Serra. Os críticos dessas publicações são acusados de estarem empobrecendo a discussão sobre a liberdade de imprensa no país, já que qualquer um é livre para postar o que bem lhe interessa nos meios de comu!icação que lhe pertence. Tá! Só não vou fechar os olhos para o disparate da demissão da excelente intelectual, psicanalista e articulista Maria Rita Kelh do Estado de São Paulo, tão e simplesmente por ter escrito um artigo favorável ao governo. Fico mesmo triste é quando vejo outrora excelentes e sensíveis escritoras, com Lya Luft, saíram do aprazível semblante zen de seus escritos, para honrar o contracheque e os trocados que lhes são pagos por revistas como a Veja, para além de meter o pau no governo e na sua candidata, ainda aparecem na propaganda eleitoral da TV, pedindo votos para Serra. É muita cara de pau, ou necessidade de grana, mesmo?!?

As pessoas são livres para ser o que quiserem, mas só não podem induzir a erro os outros, numa espécie de estelionato jornalístico, querendo esconder posições políticas sob o manto de uma fajuta imparcialidade. É querer chamar de idiota o leitor, ao invés de querer democraticamente expor o outro lado, a outra versão dos fatos. Sempre li a Veja, apesar de achar horrorosos, atualmente, os vínculos ideológicos de seus articulistas, por entender ser salutar à democracia sempre ouvir o outro lado, inclusive o lado de seus adversários no espectro político. Acredito que muitas dessas publicações realizaram um serviço sério ao país e contribuíram para a civilidade e moralidade pública, quando denunciaram "mensalões", esquemas de corrupção, fraudes, nepotismo, fisiologismo e todo tipo de bandalheira, seja em qualquer governo que fôsse. Entretanto, na atual campanha eleitoral, o nível das paixões, acirramento de posições, mentiras, acusações falsas ou não provadas e tentativas de manipulação das intenções de voto do eleitorado, fizeram-me desistir de comprar e ler tais revistas .Boicotei geral, e não quero mais ter na minha estante panfletos, ao invés de uma autêntica fonte de informação que possa me esclarecer melhor sobre meu país e meu governo.

Recordo-me de quando era criança e via na mesa do meu pai revistas como a Realidade, da editora Abril, depois substituída pela Veja. Nos anos 80, a publicação da família Civita teve um papel importante no processo de redemocratização, quando Veja estampava em suas capas o apoio à campanha das Diretas Já, as informações sobre o movimento democrático e passeatas que aconteciam em todo país, favoráveis à emenda Dante de Oliveira, e as denúncias quanto à farsa montada pela ditadura, no episódio da bomba no Riocentro. Enquanto que os canais de televisão (principalmente a Globo), silenciavam sobre esses fatos, sob pesada censura, essas publicações foram pioneiras, contribuindo no processo democrático para atingirmos a verdadeira liberdade de expressão que possuímos até hoje, e isso foi muito louvável. Parabéns a Veja, Isto É e outras publicações por isso.

Infelizmente, parece que hoje, com tanta democracia nas redações, algumas publicações resolveram vestir a carapuça ideológica do conservadorismo ou do neoliberalismo, incorporando uma "nova direita" que gosta de esconder a cara. Por que isso? Por que não se assumir de uma vez por todas como amante de um projeto político que não corresponde ao do governo, mas sim ao do outro candidato, até como forma de fazer com que seus simpáticos leitores também se assumam como de direita. Ser direitista e defensor do capitalismo não é infamante e nem dói, minha gente! Assumam-se!!

Creio que na última semana desta campanha, somente posso levantar meu brado contra os mentirosos, caluniadores, hipócritas e farsantes de boa parcela da imprensa brasileira. É contra a perfídia, a deslealdade, a safadeza e a falta de compromisso com a verdade para o leitor, que me manifesto contra muitos dos meios de comunicação deste país, e não contra a liberdade de imprensa. Acho que com uma eventual vitória de Dilma nessa eleição (queira Deus, isso, pois me assumo petista e dilmista), essas publicações continuarão com sua caminhada golpista, no sentido de desqualificar, desmerecer e ofender seus desafetos do governo, procurando produzir todo tipo de informação desabonadora ou negativa sobre esse ou aquele governante. Pois é! Faz parte da democracia! Mas sempre estarei a postos pra denunciar a mentira, pois uma coisa é ser do contra, outra é ser do contra se valendo do expediente malicioso da mentira. O leitor e eleitor brasileiro não merece isso, e como consumidor reivindico meus direitos, a fim de que os trocados gastos nessas revistas sejam pagos, ao menos com a divulgação honesta dos fatos e o compromisso com a verdade. Senão, processo judicial neles! Chega de tanta mentira e sacanagem! Ou então, vamos deixar de ler esses caras, gente!!

Gates e Jobs

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Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

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Até quando teremos que ver isso?