sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ELEIÇÕES: Essas eleições e a religiosidade-o voto é por fé ou por consciência política?

"Anda com fé eu vou, que a fé não costuma faiarrrr....".É embalado na canção de Gilberto Gil que inicio minha escrita de hoje, meio sob a forma de um manifesto de como vejo o desenrolar desta campanha eleitoral de segundo turno para presidente, questionando o que está verdadeiramente em jogo. Está comprovado que o segundo turno é outra eleição,e, diferentemente do que pensavam os analistas em política, demonstrou-se que o candidato da oposição, José Serra, renasceu das cinzas do primeiro turno com força total, ameaçando uma "onda tucana" nas últimas pesquisas de opinião sobre o voto do eleitorado brasileiro, ameaçando a candidata da situação e do presidente Lula, a petista Dilma Roussef.

Enquanto que no primeiro turno a campanha dos candidatos estava centrada na discussão sobre os grandes temais nacionais: desenvolvimento, educação, saúde, segurança e manutenção de políticas públicas destinadas ao povo trabalhador, o segundo turno desta eleição, até o momento, parece estar quase que inteiramente voltado para a discussão sobre valores: valores que passam por uma identidade religiosa-cristã como a defesa da vida e da família, e valores laicos, dentre eles, aqueles que sinalizam para a liberdade de expressão, a liberdade sobre o próprio corpo e a liberdade de se escolher com quem quer se estar, seja fisicamente ou emocionalmente (leia-se a polêmica sobre o casamento gay e as uniões homoafetivas).

Em primeiro lugar, é importante notar na biografia, discursos e posicionamento político-ideológico dos candidatos Dilma e Serra, que ambos possuem posições semelhantes quanto a temas polêmicos como o aborto e a união civil de pessoas do mesmo sexo. Na verdade, o que aconteceu foi que o candidato do PSDB, José Serra, aproveitou-se oportunisticamente do resultado das eleições do primeiro turno, que deram um caminhão de votos com quase 20% do eleitorado para a candidata Marina Silva, do PV (evangélica da Assembléia de Deus, além de ambientalista), para, por meio de uma campanha eticamente questionável de desqualificação da candidata adversária, querer impor a imagem construída pelos marqueteiros de que o "Serra do bem" seria o defensor da vida, enquanto a maquiavélica Dilma seria a "matadora de criancinhas". O que mais abala uma pessoa, com alguns neurônios a mais funcionando, é de como esse tipo de campanha surtiu efeito em setores mais conservadores e menos esclarecidos do eleitorado, fazendo com que algumas pessoas vinculadas à igrejas estejam convencidas mesmo de que Dilma é uma candidata que representa as "forças demoníacas das trevas", ao defender o aborto e o casamento gay, enquanto que o carola Serra é o "santinho", homem sério, dedicado, honesto e bom gestor, que simplesmente denunciou a artimanha petista de querer transformar o país num rendez vous de homossexuais enlouquecidos e feministas endiabradas, que querem dar fim aquela gravidez indesejada, obtida num fim de noite pecaminoso, uma vez que nossa sociedade estaria perdida, lançada no pecado da carne, da licenciosidade, da pederastia e do sexo pago, como se isso fôsse culpa do governo.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar o que eu já escrevi em outro artigo deste blog sobre simpatias e antipatias por candidatos. O partido da candidata Marina Silva (o PV) também desfralda as bandeiras do aborto e da união homoafetiva como todos os outros candidatos, talvez mais intensamente ainda, tendo em vista que durante a campanha de Marina, era possível ver militantes do movimento gay, filiados ao partido, desfraldando a famosa bandeirinha do arco-íris, enquanto acompanhavam a candidata Marina em suas caminhadas. Apesar da candidata "verde" ser evangélica, e ter uma biografia admirável pelas causas sócio-ambientais, ela atualmente pertence a um partido que, em seu nascedouro, aliou-se a muitas bandeiras do PT pela busca da democracia e da liberdade, integrando em seus quadros militantes do movimento feminista pró-aborto e integrantes da causa gay. Por isso que, quando questionada sobre temas polêmicos e difíceis no âmbito dos valores, como a descriminalização da maconha, o aborto e o casamento gay, oportunamente a candidata Marina lavou as mãos, dizendo ser em princípio contra, mas que democraticamente levaria o assunto para plebiscito. Claro! É a alternativa mais inteligente num país plural como o Brasil, de dimensões continentais, culturas e valores distintos, numa multiplicidade de pessoas com formações pessoais e opiniões diferentes, que muito poderiam debater, no caso de estar sujeita à aprovação popular medidas que mexessem com esses temas. Questões sobre valores devem ser decididas democraticamente pelo povo e não por uma medida unilateral de um governante ou legislador.Marina Silva surgiu nessa campanha com uma agenda bem clara, honesta, voltada para questões do meio-ambiente, desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, e não como uma candidata evangélica, candidata das igrejas. Em nenhum momento Marina se apresentou como a "candidata de Deus" e isso agora,  o epíteto de candidato cristão, está sendo instrumentalizado de maneira totalmente desonesta, oportunista e demagógica pelo candidato José Serra!

No texto anterior, onde escrevi sobre antipatias, revela-se muito bem o zeitgeist do eleitorado brasileiro, o espírito do eleitor que os candidatos estão querendo desvendar agora. Muitos dos eleitores que votaram em Marina no primeiro turno e que agora migram para o candidato Serra, são aqueles que não compõem o eleitorado natural e originário do Partido Verde (artistas, intelectuais, estudantes universitários, desbundados e ambientalistas), mas sim eleitores que antipatizaram com a figura humana, pouco simpática de Dilma Roussef. Muitos desses eleitores são antipetistas de carteirinha, alguns eram eleitores do governo, mas por conta dos escândalos,  decepcionaram-se com o governo Lula, votando em Marina como forma de protesto; e outros votam no Serra, são partidários do PSDB ou dos Democratas porque são reaconários mesmo!Em nenhum desses segmentos a religiosidade é fator dominante, e, na verdade, o voto de católicos e evangélicos neste segundo turno está sendo manipulado abertamente: seja pelo candidato tucano, que começou com essa palhaçada de "voto cristão", usurpando o bem intencionado voto de apoio que Marina recebeu de eleitores que se identificaram com ela, por conta de sua vinculação a uma igreja; seja pela candidata petista, que na tentativa de desarmar o ardil tucano de querer indispô-la junto ao eleitorado religioso, acabou por assumir uma vestimenta que não é a sua; até porque não precisava, tendo em vista que Dilma se apresentou desde o primeiro momento como a candidata do continuísmo governamental, de uma continuidade que deu certo, fez o Brasil prosperar, e somente disso que o Brasil precisa nesse momento.

É interessante como a figura de Lula, onipresente no primeiro turno, desapareceu no atual estágio da campanha eleitoral, fazendo com que Dilma tivesse que enfrentar sozinha o candidato da oposição e verdadeiramente mostrar sua cara para o eleitorado. Por um lado, isso é bom. É salutar que no segundo turno o eleitor conheça melhor seus candidatos pela propaganda eleitoral e pelos debates, e o acirramento com polarização de ideias também é válido em uma democracia. Só  que o que eu considero errôneo nesta campanha de segundo turno é manipular a intenção do eleitor desavisado, lidar com temas que verdadeiramente não são da  agenda do candidato, e somente como forma de cabular votos, emprega-se maliciosamente ardis com o aproveitamento da fé alheia, para conquistar um projeto de poder.

Voto em Dilma desde o primeiro turno não somente porque seja eu um simples militante ou simpatizante petista, ou pela minha adesão de longa data às teses da esquerda.Voto em Dilma como um antídoto a um projeto nefasto de poder representado pelo PSDB e Democratas, e pelo senhor José Serra, que simboliza a mais antiga, anacrônica, e atrasada forma de fazer política. Serra não é só o candidato da "nova direita", mas também é o candidato do capital, dos interesses mesquinhos de setores de nosso empresariado menos comprometidos com o desenvolvimento nacional e sim com seus próprios bolsos. Voto contra um projeto neoliberal que de social não tem  nada, e que enquanto o governo FHC enfatizava a quebra dos monopólios e privatização, celebrando o progresso tecnológico de entregar aparelhos celulares a garis, ao mesmo tempo no Nordeste crianças ainda morriam de fome, sem um prato de comida, hoje fornecido graças a um bolsa-família, bem diferente das migalhas que a população recebia nos tempos de bolsa-escola de FHC. Para vocês terem uma ideia do eleitorado tucano, basta verificar que um dia desses muitos dos eleitores paulistas de José Serra metiam o pau no governo, chamando as bolsas assistenciais do governo de "bolsas-vagabundo" e criticavam iniciativas tipicamente petistas como o programa "minha casa, minha vida" de habitações populares. Serra e sua trupe representam o velho pensamento liberal-capitalista de nossas elites, que de liberal não tem nada, mas de direita tem muito, pois representa o capitalismo selvagem que tanto açoitou a sociedade brasileira durante tantos anos.

Como cristão voto contra Serra porque voto contra a mentira, a falácia, o falso profetismo, o lobismo em pele de cordeiro e a usurpação criminosa e pecaminosa da palavra de Deus, manipulando covardemente pessoas íntegras, honestas e fiéis a Deus de coração, através de mentiras disseminadas inescrupulosamente pela internet e na propaganda eleitoral. Como cidadão, voto contra Serra para não querer a volta das privatizações insanas que só servem para engordar as contas bancárias do capital privado, gerando contrapartida nenhuma para o trabalhador assalariado. Voto contra Serra para não assistir ao desmantelamento da universidade pública, tocado a toque de caixa nos tempos de FHC, com o retorno de figuras assustadoras, como o ex-ministro da educação Paulo Renato, inimigo da universidade e da pesquisa científica, voltado a um projeto de subordinação do ensino brasileiro a um projeto gerencial, empresarial, de proliferação de instituições privadas que priorizam muito mais o lucro, do que a qualidade de ensino. Basta ver a multiplicação de instituições escolares privadas e faculdades de fundo de quintal, com altíssimo nível de reprovação nos exames de ordem da OAB, após a reforma do ensino de 1994, quando os cursos de direito viraram balcões de negócio, a sustentar por mensalidades os interesses de ex-professores que se tornaram empresários. Voto contra Serra porque não quero ver os sindicatos voltando para a oposição, uma vez que pacificados no governo Lula, correm o risco agora de se voltar contra um eventual governo tucano (que por tradição, não costuma dialogar com os sindicatos), e ver o país se transformar numa França de Sarkosy (no pior sentido), com paralisações nas ruas, trabalhadores insatisfeitos, greves gerais e serviços inteiros parados, por conta de um governo tucano que defenda a redução dos direitos trabalhistas em prol dos lucros do empresariado, ao invés de estabelecer uma política  fiscal de taxação dos mais ricos.

Voto contra Serra porque não quero a volta dos conflitos no campo com a colocação do MST na ilegalidade( primeira das medidas certamente a serem adotadas por um governo tucano-democratas), onde as questões sociais como moradia, trabalho e miséria voltem a ser tratadas como caso de polícia. Voto contra Serra porque não quero ver o Brasil ser rebaixado à condição de ator de segunda categoria na política externa, coadjuvante nos processos internacionais e mais uma vez subordinado aos interesses norte-americanos, tendo em vista o protagonismo e o reconhecimento que passou a ter o Estado brasileiro nos fóruns internacionais e sobretudo na ONU, após a passagem de Lula pela presidência. Voto contra Serra porque não quero que a segurança pública no Brasil passe pela mesma realidade que passou o estado de São Paulo, governado pelo PSDB, onde a incompetência, descaso e ignorância tucana fez com que a polícia paulista fôsse a mais mal remunerada e criticada do país, onde as rebeliões em presídios, chacinas, corrupção policial e irregularidades administrativas proliferaram, e num autismo absoluto sobre projetos de parceria entre governo e sociedade, governadores como Serra ficaram surdos diante das reivindicações sociais por uma democratização do aparato policial, preferindo o ex-governador tucano jogar cães e bombas de gás lacrimogênio nas manifestações de professores. Voto contra Serra porque não quero a volta de políticos de uma legenda herdeira da ditadura e em extinção como o Democratas, representado por velhos títeres da direita brasileira e sublimes representantes do neocoronelismo e do populismo demagógico nacional, como José Agripino Maia no Nordeste ou César Maia, no Rio de Janeiro. Voto contra Serra porque não quero ver meu país voltar pra trás. Afinal, não somos caranguejos (apesar desses bichos andarem de lado)!

VOTO DILMA, E DIGO: SERRA NÃO!Ao contrário de meus amigos serristas ou tucanos que utilizam slogan diferente para ridicularizar e difamar minha candidata via internet, das formas mais torpes e mentirosas possíveis. Voto pela verdade! Voto com fé, mas com consciência política! Voto porque acredito em Deus e sei que se o milagre da redistribuição de renda e minoria das desigualdades sociais foi obtido com esse governo, pode-se muito mais com um governo apoiado pelo presidente que atualmente temos. E quero uma mulher na presidência, pela primeira vez na história desse país. SE DEUS QUISER!!

2 comentários:

  1. AmIGO...
    Adorei!!!

    Salve salve, finalmente alguém que entende de política para dizer em alto em bom tom o que os paulistas não sabem...rs

    Meu abraço inevitável...

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  2. Welcome, aways, minha querida amiga Claudinha! E viva São Paulo(apesar do PSDB)!!

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