segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SÉRIE:OS ANJOS CAÍDOS DO ROCK (Músicos que já foram astros e agora estão em decadência)-PARTE I- GUNS N'ROSES

Um símbolo que já foi campeão, mas
agora virou peça de Museu do Rock.
Quando o Guns N' Roses estourou, na segunda metade da década de oitenta, eu já tinha percorrido boa parte da adolescência e o final da década coincidia com o início de minha vida adulta. Lembro-me, morando em Natal, da verdadeira comoção nacional que era escutar as músicas da banda do cantor Axel Rose, do guitar solo Slash, dos guitarristas Izzy Stradlin e Gilby Clark, do baixista Duffy McKagan e do batera Matt Sorum. O clipe da canção Sweet Child O' Mine marcou época, tornou-se um verdadeiro hino da banda, tocado à exaustão até hoje nas FMs. Mas nessa época, a banda norte-americana trouxe um verdadeiro carrossel de sucessos: Paradise City (uma das mais pedidas nos shows ao vivo), a balada Patience, Night Train, Welcome to the Jungle, She coud be Mine (trilha sonora do filme O Exterminador do Futuro 2), November Rain e muitas outras.

Muitas águas (e rosas) rolaram desde então, e o Guns N'Roses sofreu dois impactos grandes, que refundaram sua história: um, foi o advento do grunge, e o lançamento do disco Nevermind, do Nirvana, no começo da década de noventa (que agora completa 20 anos, lançado numa edição comemorativa), que redefiniu a história do rock e tornou o hard rock dos anos oitenta praticamente obsoleto; outro, foi a dispersão dos integrantes da banda no decorrer daquela década, devido às brigas internas e conflitos com o ego exaltado de Axel Rose, além de suas confusões com bebida, mulheres e drogas. Houve até quem redigisse o obituário do cantor norte-americano, ou mesmo que pensasse que  ele teria passado uma temporada na cadeia, pelos sucessivos processos que sofreu de roadies, groupies, ex-empresários, ex-colegas ou ex-amigos, donos de bares ou hotéis e desafetos de toda monta na imprensa ou no meio musical, apesar do carismático vocalista continuar tendo um séquito frenético de seguidores no mundo todo, mas, principalmente, na América Latina.


Olha o rôdo aí, gente! Acho que Axel Rose carrega tantas
tempestades na sua carreira errante que sobrou pro funcionário
do Rock in Rio, enxugar tanta água de chuva no palco
(foto:agência News).

 Por falar em América Latina, para mim a devoção quase religiosa que alguns fãs manifestaram no último (e chuvoso) show da banda, na edição nº 4 do Rock in Rio, encerrando o festival na data de ontem, parece-me quase como a predileção que os mexicanos tem pelo carro Fusca: só existe peça igual naquele lugar. Digo isso com um medo danado de ser atacado por alguns dos fãs fanáticos da banda no meio da rua, tendo em vista que só no Brasil, eu vi um público que tinha a mesma idade que eu quando o Guns N' Roses começou a ter sucesso, invadindo o espaço da Cidade do Rock, e cantando em coro os antigos singles da banda. O problema é que esse mesmo público abandonou mais cedo o Rock in Rio, nas últimas horas da madrugada extremamente chuvosa da metrópole carioca, quando um envelhecido Axel Rose começou a tocar faixas de sua obra mais recente e totalmente desconhecida em terra brasilis. Resultado: se eu fosse explicar o porquê de tanta comoção com uma banda que praticamente deixou de existir, mas não avisaram ainda ao seu frontman, eu diria: pura nostalgia!


É o Zé do Caixão versão yellow?
Após mais de duas décadas de drogas,
sexo e rock'n roll, quanta diferença!
(foto:agência News).
 É de nostalgia que os fãs mais antigos ou os mais novos procuram escutar e assistir os shows do Guns N' Roses, além da intensa massificação que o som dos caras produziu na cultura pop nacional, quando de sua primeira vinda ao Brasil, no antológico show no Maracanã, no longínquo Rock in Rio 2, em 1991. Após aquela que seria a derradeira apresentação da formação original da banda, nunca mais o sucesso seria o mesmo para Axel Rose. Parece-me que a saída do principal músico e co-fundador da banda, Slash, saindo de cena com sua guitarra e chapéu debaixo do braço, apenas abreviou uma morte anunciada, uma decadência que estava por vir após o soporífero album de covers, The Spaguetti Incident, e um hiato de 15 anos sem apresentar um disco novo. Axel chegou a enrolar a imprensa mundial por mais de uma década, acerca da chegada de um novo disco do Guns N' Roses, o já lendário Chinese Democracy, que só chegou as lojas em 2008, quando o mundo já tinha se convertido ao MP3, aos downloads de música pela internet, e um disco novo de um artista não causava mais o frisson de minha juventude, quando filas de ouvintes se amontoavam no começo da manhã nas lojas de discos, aguardando a chegada do tão sonhado álbum novo de seu ídolo.

Mesmo o oportunismo e o silêncio sabático que marcou a carreira de uma banda em extinção, não impediu que a organização do Rock in Rio 3 chamasse o Guns N' Roses para se apresentar após o show do Oasis, numa reerguida cidade do rock, em 2001. Eu também participei daquela edição do festival, e tive que ir embora logo após o encerramento da banda que antecedera Axel e seus asseclas, devido ao voo de retorno para casa. Mas, na verdade, eu poderia ter atrasado o meu voo, remarcado a passagem e ficado mais algumas horas no Rio de Janeiro, naquela ocasião. Não fiquei por uma simples razão: aquilo para mim não era mais Guns N' Roses. Era Axel Rose tentando viver do passado ou então uma tentativa bem oportunista de lograr uns trocados enganando o público, fazendo com que as pessoas pensassem que a mágica banda que tocou no Maracanã em 91 estivesse ali. Ledo engano!


A banda com sua formação clássica, quando estava no auge.
Tempos que não voltam mais!
 Acredito que quando um ouvinte escuta Sweet Child O' Mine, ele está ali não apenas ouvindo Axel Rose, com seus clássicos falsetes guturais, mas também a guitarra melódica de Slash (para muitos, um deus da guitarra), a bateria hard rock de Sorum, bem como o baixo de Mckagan e a parede sonora de Stradlin. Ouvir o Guns N' Roses sem a sua formação clássica é como ouvir os Beatles tão somente formados por Paul McCartney e sua banda de apoio. Não tem graça nenhuma! Perdoem-me se sou purista, mas sou fã de música, adoro rock  e gosto sim de música, mas de boa música; e um dos ingredientes de um bom som é o completo entrosamento e dedicação de um grupo, que assim como uma seleção de futebol, sabe que seus integrantes são insubstituíveis se são bons e se entendem, e se a equipe quer ser campeã. Não vejo isso na versão 2011 do Guns N'Roses.


Pelo menos mudanças de chapéu e óculos
escuros em duas décadas. Mas a voz,
não é a mesma!
(foto:AP)
 Axel Rose era uma estrela. Um músico que se tornou astro e que agora, beira a autoparódia. O problema não se trata de o músico não ser mais jovem, de estar longe, hoje, de ser aquele Apolo ruivo, dos anos oitenta, que tirava o folêgo das garotas, cada vez que se apresentava sem camisa no palco, e que agora se mostra apenas como um cinquentão gordo e meio careca, que não tira o chapéu nem com uma arma apontada na sua cabeça. Digo que não vejo problema sequer em ver Axel Rose, hoje, sem voz. Afinal, foram anos de excesso, álcool, drogas, cigarros, além de forçadas de garganta, para um cantor que, originalmente barítono, atrevia-se a destruir suas cordas vocais com falsetes arranhados, que faria correr para o acasalamento o mais assanhado felino. Não! O problema está na falta de autenticidade, na perda de criatividade, na incapacidade de se reinventar como músico, e da necessidade de se apoiar tropegamente no palco, baseado numa reputação construída no passado, mas que não se vê mais no tempo presente. Para um amigo que avistei recentemente na cidade, e perguntei sobre a  vontade dele de assistir a um show do Guns N' Roses, ele me respondeu com uma pérola de sabedoria, sobre o que muitos pensam e não tem coragem de falar aos simpáticos fãs da banda de Axel Rose: "só se for por curiosidade mórbida"!.

Assim, penso que a organização do Rock in Rio, na pessoa da empresária Roberta Medina (a "filha do homem"), chamou o Guns N' Roses para mais uma edição do festival, apenas pra fechar a programação, por falta de contratado, ou porque sabia, através de pesquisa quantitativa, que muitos fãs saudosistas ainda iriam ao local assistir ao seu ídolo do passado. Valeu pela sessão nostalgia, mas não pela boa música. Eu não vi na imprensa musical do país, através de seus dois principais meios de comunicação, as revistas Rolling Stone e Billboard Brasil, qualquer menção à passagem pelo Brasil da banda de Axel Rose, e isso é um sintoma de como o segmento crítico, mais voltado profissionalmente pra música, vê que o Guns N' Roses é somente uma marca, do que uma banda de verdade. Pena! Deveria haver músicos com a dignidade de encerrar os trabalhos com altivez, pendurando as chuteiras enquanto estão no auge, ao invés de perpetuarem o que antes era divino e que agora se tornou esdrúxulo. Será que tenho que chamar os fãs do R. E. M. pra explicar isso? Após esse extenso artigo, peço apenas uma coisa aos dedicados fãs do Guns N' Roses: por favor! Não me linchem quando me verem na rua! All you need is just a litte patience! Sacou?!

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Até quando teremos que ver isso?