quarta-feira, 20 de junho de 2012

CULTURA: Odeio filme dublado.

Dentre em breve, numa sala dessas, só se ouvirá
filme dublado (retirado de analycia.blogs.sapo.pt)
Recentemente li numa revista que cada vez mais filmes dublados estão sendo exibidos nos cinemas nacionais, e que, dentro em breve,  será possível até mesmo desaparecem os filmes legendados, perdendo-se para sempre as vozes originais de atores e atrizes, a ecoar por dentro da sala do cinema, em prol das tendências do mercado. Afinal, num país de emergentes, onde na última década a Classe C expandiu-se de tal forma que aumentou a frequência de espectadores nos cinemas, sobretudo nos finais de semana, percebe-se que os novos frequentadores das salas podem até ter grana pra comprar ingressos, mas não tem o hábito e nem mesmo disposição para assistir um filme legendado.

Recordo-me quando era criança,  morando em Belém do Pará, do dia em que meu pai levou-me ao cinema, pela primeira vez para assitir um filme legendado. Passava no extinto Cine Palácio a saga Star Wars de George Lucas, no segundo filme da série: O Império Contra Ataca. Eu devia ter uns dez ou onze anos de idade, e meu pai ficou receoso de que eu não conseguisse ver o filme, por conta das legendas, mas logo ficou animado quando viu que eu conseguia ler com a devida rapidez todas as letrinhas que apareciam na tela, sem o menor desconforto. Abriu-se para mim, a partir dali, todo um horizonte cinematográfico; pois pude assistir grandes filmes, infanto-juvenis ou não, com seu audio original, como Et-O Extraterrestre, Superman: o Filme, Os Caça-Fantasmas, e toda uma coleção de ótimos e maravilhosos filmes que marcaram a minha juventude e a de todos que frequentavam as grandes salas de cinema, que existiram no fim dos anos setenta e na década de oitenta, até sucumbirem na década seguinte ao avanço dos cinemas de shopping: os minúsculos Multiplex.

Lembro que quando cheguei em Natal há alguns anos atrás, ainda assisti muitos filmes legendados nos extintos cinemas Rio Grande e Nordeste, que funcionavam no centro da cidade. Não havia incômodo algum em ler as legendas porque as telas dos cinemas eram enormes, as legendas faziam parte  do contexto do filme,e enquanto lia, conseguia saborear ao mesmo tempo a emoção das cenas, o ruído estrondoso nos momentos de ação, o mosaico de cores na tela, conforme a fotografia do filme vinha se apresentando, e, principalmente, a expressão dos artistas.

Daí é que vem a minha crítica aos filmes dublados, sem faltar com o respeito à digna profissão dos dubladores. Sabe-se que quem trabalha com dublagem profissional, geralmente também é ator, mas mesmo sendo o dublador alguém possuídor de altos dotes dramáticos, determinadas estórias e determinados artistas no cinema são difíceis de dublar. Já pensou o que é dublar o cantor e ator Tom Waits, com sua voz rouca inconfundível, ou dublar a rouquidão sensual de atrizes como Demi Moore?? Como uma dubladora conseguiria dublar com mesma maestria e talento a voz camaleônica da oscarizada Merryl Streep, que tem como parte de seu talento espantoso a capacidade de falar em seu idioma com vários sotaques diferentes? Alia-se a isso o problema de que, em determinados filmes, principalmente aqueles produzidos para o público infantil, chamam-se não dubladores de verdade, mas sim atores da televisão, principalmente estrelas da Rede Globo, para fazer a dublagem de personagens que, em alguns casos dá certo, em outros dá muito errado (vide o exemplo da bem sucedida dublagem do desenho Madagascar, em comparação com a péssima dublagem encontrada em filmes como Procurando Nemo, Shrek ou Toy Story). Entendo que os filmes infantis são em sua maioria dublados, até porque a maioria de seu público preferencial ainda não se alfabetizou plenamente, a ponto de ler legendas, por conta da idade. Agora, estabelecer a dublagem de filmes adultos, ou corromper a voz icônica de astros do cinema de voz inconfundível como Al Pacino, Robert de Niro ou George Clooney: Aí, peraí!! É muita sacanagem!!!

Nas dublagens mal feitas, ou até mesmo ruins pela falta de mais dubladores, vemos muitos filmes com personagens diferentes serem dublados pelos mesmos profissionais. Assim, podemos vez a voz que dubla o Arnold Schwarzenegger, por exemplo, na mesma boca de atores como Hugh  Jackman ou Russel Crowe, ou ver a voz que dubla o Tom Cruise ser a mesma do Eddy Murphy. Por décadas, na TV, acostumamo-nos a ouvir a simpática voz do dublador que dublava Bruce Willis, na antiga série A Gata e o Rato, ou nos filmes dele, dublados, que passavam na TV; mas achamos muito estranho a mesma voz ser usada, repetidas vezes, em atores diferentes. Na série de TV 24 horas, por exemplo, vimos o estranho caso de um mesmo personagem ter vozes diferentes em temporadas distintas. Foi o que aconteceu com a versão dublada da voz do ator Kiefer Sutherland, astro principal da série.

As dublagens já ocuparam todo o espaço na programação da TV por assinatura, algo que era antes apenas primazia da TV aberta. Sem acesso à tecla SAP, ou não tendo disponibilizado o som original, fãs de séries famosas, já extintas, como Friends ou Seinfield, ou mesmo aqueles que estão assistindo séries novas (como eu), tais como Walking Dead, são obrigados a esperar a temporada inteira sair em DVD, para poder curtir o som original do filme, com a voz verdadeira de seus personagens. A FOX foi um dos canais que, oportunisticamente, aproveitando-se das tendências do mercado, passou a ter todas as suas  séries e filmes dubladas, pois havia aumentado o número de consumidores de canais pagos que não gostavam de ver filmes legendados. Não vou chamar essas pessoas de analfabetas ou ignorantes, porque é uma questão de gosto e não de capacidade intelectual, mas critico a falta de opções, pois a TV por assinatura deveria ser mais democrática, dando a opção para seus espectadores, entre aqueles que gostam de ver filmes dublados, e os que optam pelo som original. O que acontece hoje é que a tendência que se opera na TV, está paulatinamente migrando para os cinemas, e isso será horrível!!

Na reportagem  a que me referi no começo deste texto, tem-se um comentário ao final, dizendo que, num futuro próximo, o consumo de filmes legendados no cinema será destinado apenas a um gueto específico, em salas especiais, como  se dá hoje nas sessões dos chamados "filmes de arte" ou cineclubistas, onde uma pequena e segmentada comunidade cinéfila e nerd, poderá assistir seus filmes preferidos com o som original, ouvindo, por exemplo, o mandarim arcaico, falado em filmes como O Tigre e o Dragão, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2002, ou escutar a voz original do ator Gene Hackman, no ótimo Operação França, na década de 70, além de escutar o francês com sotaque parisiense de Gerard Depardiéu, em seus filmes  europeus. Vai virar coisa de museu, ouvir a divertida versão original da voz do personagem Jack Sparrow, interpretado pelo ator Johnny Deep, da série Piratas do Caribe, com sua peculiar imitação do rockeiro Keith Richards, uma vez que os filmes legendados vão acabar, e mesmo a célebre voz desses personagens, que marcou filmes como Rango, Kung-Fu Panda ou Rei Leão não vai mais ser exibida nos cinemas brazucas, apesar da voz desses atores e atrizes ter sido escolhida a dedo pelos diretores  de cinema, porque fazem parte do contexto de seus personagens.

Enfim, temo o predomínio de uma ignorância geral quanto aos filmes legendados, e ao devido valor cinematográfico que devemos dar valor à obras produzidas com sua sonoridade original. Parece-me muito fake, e aí posso ser taxado de conservador ou tradicionalista, ouvir um filme com o som dublado no cinema, se pago meu ingresso justamente para ver a brilhante interpretação de estrelas do cinema, que se tornaram célebres e foram premiadas, sobretudo por conta de suas interpretações, que levam muito em  conta recursos de voz. Posso estar errado, mas ao se manter o entendimento capitalista de, por venderem mais, filmes estrangeiros devem ser exibidos aqui todos dublados, porque no exterior (leia-se EUA) o povão só assiste filme assim, parece-me mais um atestado de mediocridade quanto à qualidade artística das obras estrangeiras que são disponibilizadas aqui, ou mesmo de incentivo à falta de leitura, porque nosso povo já não está mais acostumado a ler. Vale salientar que existe um movimento nacional nas redes sociais, a partir do Facebook, com milhares de assinaturas, protestando contra o fim dos filmes legendados.  Pobre nação inculta e incapaz de ver um filme com legendas!!

9 comentários:

  1. eu so assisto filme dublado se for a unica opcao no mundo e se o filme for O FILME, acho ridiculo essa onda de so passagem filme dublado no cinema, aqui na minha cidade so passa assim, nem tenho vontade de ir ver um filme na telona por conta disso, acabo baixando e vendo em casa ou esperando sair em dvd...

    ResponderExcluir
  2. Aqui em casa quando se aluga filme eu tenho que esperar todo mundo assistir dublado pra depois eu ir ver o "filme verdadeiro", o que mais irrita é que todo mundo diz a mesma coisa: "não sei se leio a legenda o se vejo o filme ai não entendo nada".. eu eu que sou o chato depois

    ResponderExcluir
  3. Até que enfim alguém que me entende. Concordo com todas as palavras deste texto. Só assisto a filme dublado se estiver de visita na casa de alguém. Tenho a impressão que é outro filme e não dá pra você apreciar a interpretação do ator.

    ResponderExcluir
  4. Eu simplesmente perdi o prazer de ir ao cinema. Pra ver um filme legendado eu tenho que esperar o filme sair em dvd. É lamentável !

    ResponderExcluir
  5. E depois ainda querem reclamar da pirataria, dos downloads e tal. Só o Netflix estava salvando, pq vários canais na NET nem davam pra mudar o áudio e, quem dirá, colocar legendas. Pior é que mesmo os cinemas em lugares mais nobres estão sendo dominados por filmes dublados.

    ResponderExcluir
  6. Mais grosso e curto: dublagem é para quem tem problemas de leitura - crianças, idosos ou semi-analfabetos. Aí incluída a "nova classe média", que pode ter melhor renda, mas vai demorar pelo menos uma geração para receber educação razoável. O ideal seriam versões originais sem legendas, mas quem vai entender, além do inglês, francês, alemão, japonês, etc? A dublagem não adultera apenas a dinâmica do filme, mas o tom e conteúdo dos diálogos, tentando dar sincronia com os lábios dos atores, em vão. Sem contar as vozes de crianças, feitas por mulheres em "interpretações" constrangedoras. Um atentado contra os atores e os filmes. Do cinema, já desisti... A torcer que os canais pagos (e seus distribuidores) ofereçam opções de áudio original e legenda, como fazem hoje o Telecine, HBO(1) e Universal, via NET ou Sky. A TV aberta era e será sempre um caso perdido.

    ResponderExcluir
  7. Moro em Manaus e acho absurdo total isso. O dito "melhor shopping" daqui so exibe filme dublado...
    E revoltante...Ja fiz Varias reclamacoes mas nao adiantou nada...
    Simplesmente nao suporto assistir a filmes dublados...
    Os cinemas deveriam exibir as duas Opcoes...
    Nossa, revoltadissima..
    Muito absurdo isso...

    ResponderExcluir
  8. Parabéns pelo texto !!!!!

    mas é o seguinte, essa nossa revolta não pode ficar apenas aqui na net. Vamos nós organizar em favor dos filmes legendados .
    Como ?
    Primeiro achar algum jeito de se criar uma lei para que seja obrigatório que as tvś fechadas disponibilizem 100% a opção legendada para TODOS os filmes/seriados.
    Quando conseguirmos isto , será um grande avanço para o cinema .

    ResponderExcluir
  9. Também odeio filme dublado no geral. Agradeço muito pela Netflix me dá a opção e liberdade em escutar no idioma original.

    ResponderExcluir

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?