Se Lula é "o cara", segundo a amável brincadeira de seu colega norte-americano, Barack Obama, o recém-empossado presidente do Paraguai, Fernando Lugo, talvez também o seja, ao menos para aqueles que se vangloriam de serem os latinos sedutores, os típicos "pegadores" do sexo oposto, com uma longa lista de conquistas amorosas e pensões alimentícias respectivas, por terem engravidado seus flertes, em escala diretamente proporcional. No caso do paraguaio, logo após tomar posse, Lugo foi surpreendido, pela revelação de uma ex-amante sua, Viviana Carillo, de que teria tido um filho com ele, quando o presidente ainda era bispo da Igreja Católica, com um detalhe: na época do romance e da gravidez, a suposta mãe do filho de Lugo só tinha 16 anos.
Constrangido, o presidente paraguaio foi até às câmeras de televisão reconhecer o erro, e após a confirmação da paternidade por um teste de DNA, acolheu a mulher e o filho em sua residência particular. Até aí tudo bem, pois se o sujeito cometeu a besteira, ao menos procurou redimir o erro. O que ocorre é que após surgir o controvertido caso de mais um filho sendo reconhecido por um pai, Lugo foi surpreendido por outras mulheres, que também apareceram na mídia, alegando ter tido filhos com ele, com o conhecimento do pai, sem que ele desse ao menos uma bicicleta de presente de aniversário, para uma das crianças havidas nesse relacionamento clandestino. Os processos de reconhecimento de paternidade contra Lugo, agora eclodem no judiciário paraguaio.
Creio que como ex-sacerdote, o presidente Fernando Lugo cumpriu com uma das maiores e elementares prescrições bíblicas, dispostas no livro de Gênesis: "crescei e multiplicai-vos". Ora, se o atual presidente do Paraguai não contribuiu para cumprir a determinação sagrada, mesmo contrariando a Igreja Católica, ao menos contribuiu para a reprodução da espécie, e, afinal, como a Igreja proíbe o uso de preservativos, foi coerente ao menos nesse quesito. O problema é que se fosse na China, Lugo seria punido não por ter tido filhos, mas sim pela quantidade. Afinal, na China o controle da natalidade é severo, e o presidente paraguaio descumpriu, em muito, à determinação oficial chinesa: são, ao menos, 17 casos de paternidade não assumida, divulgados pela mídia.
Pois o presidente
latin lover, com suas peraltices sexuais, agora tem que se ver com a opinião pública global. Se para o povo paraguaio o escandâlo ganhou ares de anedota, ajudando a propulsionar a carreira de grupos musicais locais, como o grupo Los Angeles, que, aproveitando o caso, cantarolou à exaustão a música
Lugaucho, tratando jocosamente do infortúnio de Lugo, que bombou no Youtube, tornando-se um dos clipes mais vistos( além de entrar na programação de FM das rádios paraguaias), o caso não ajudou em nada a aumentar a credibilidade do governo do Paraguai perante à comunidade internacional, e só serviu mesmo para aumentar a popularidade (isto sim) da banda de hip-hop paraguaia. O grupo tinha até turnê agendada para o Brasil, país de humor carnavalesco, que adora uma piada pronta, e que "pode até perder o amigo, mas não perde a piada". As agruras de Lugo nos fazem lembrar aqui, no Brasil, da década de noventa do século passado, de um certo presidente topetudo, da terra do pão de queijo, amante do Fusca e da folia, que se viu às voltas com uma certa modelo (?), bela e voluptuosa, esbanjando carinho num camarote de Carnaval, com um detalhe: sem calcinha nenhuma entre suas generosas carnes.
Política e escandâlo sexual andam de mãos dadas e são prato cheio para a oposição, pois as pessoas públicas, por mais que tenham o direito à privacidade como qualquer mortal, são continuamente sujeitas à exposição pública quando são revelados detalhes pitorescos de sua vida privada. Foi o que ocorreu, postumamente, com o presidente norte-americano John Kennedy, ao se descobrir que o presidente assassinado em Dallas tinha como amante, antes mesmo de chegar à presidência, a bela e antológica diva do cinema, Marylin Monroe. Anos depois, ainda nos EUA, entrou para a história o "caso Monica Lewinsky", ex-estagiária da Casa Branca, que teve um romance com o presidente Bill Clinton, revelando a anedótica estória dos charutos, e como o ex-presidente os usava. No Brasil da Era Collor, chegou a ganhar ares de bolero, com direito à música
Besame Mucho, o romance secreto dos ex-ministros Bernardo Cabral e Zélia Cardoso de Melo, que depois veio a ser (ex) mulher do humorista Chico Anysio. Por falar em Collor, quem não se lembra do pérfido expediente do presidente do "aquilo roxo", que em plena campanha eleitoral, desestabilizou por completo um então ingênuo Lula, na campanha presidencial de 1989, quando revelou para o Brasil a existência de Lurian, filha do atual presidente, tida na juventude com a hoje esquecida enfermeira Miriam Cordeiro? Para não falar de caso mais atual, envolvendo o ex-presidente do Senado Renan Calheiros, hoje no PMDB, outrora fiel escudeiro de Collor, que assim como seu ex-chefe, era tido a casos extraconjugais e a paternidade não reconhecida, após ter sido envolvido em escândalo de corrupção, utilizando dinheiro de empreiteiras para pagar a pensão da filha tida com a bela jornalista Mônica Veloso (por sinal capa da playboy, e que capa!!).
Lugo, um ainda bem conservado senhor de 57 anos, alto e de boa aparência, com uma vasta cabeleira grisalha e uma barba de cantor de música brega, no estilo "Lindomar Castilho", faz bem o tipo do típico latino sedutor que, quando bispo, pode ter levado para a sacristia alguma bela jovem devota com outros motivos além de rezar o terço. Sabe-se, pela história, que outros carismáticos líderes latino-americanos de esquerda também foram conhecidos não só como revolucionários, mas também como célebres amantes. Lembro-me das estórias que envolviam as conquistas amorosas de Fidel Castro na juventude, o típico "macho latino", que inspirou os sonhos de muitas garotas metidas a revolucionárias, na década de 60. É extensa a lista de mulheres que já passaram pela cama de Fidel, além da esposa oficial e da célebre amante revolucionária Célia Sanchez (morta em 1979 de câncer, e, segundo alguns biógrafos, a única mulher que Fidel realmente amou). Tem-se até o caso de uma ex-espiã contratada pela CIA para assassinar Fidel, e, que, segundo a lenda, desistiu da missão de última hora, por ter se apaixonado por
El Comandante.
Por falar em Fidel, outro político de esquerda, outrora fã de Fidel e que chegou a sair do Brasil e voltar clandestinamente, após um curso intensivo de guerrilha em Cuba, foi o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Os dotes de sedutor de Dirceu eram conhecidos nos tempos da ditadura, chegando na época a ser chamado, quando era líder estudantil, de "Ronnie Von das Esquerdas", em virtude não apenas do radicalismo político, mas também pelas conquistas amorosas de um líder esquerdista boa-pinta. Dizem seus detratores que ele até usava de seus estrategemas de sedução, levando várias camaradas para a cama, tão e simplesmente como artifício de suas manobras políticas.
A questão, no caso de Lugo, é se perguntar se a moralidade que se cobra na política é a mesma que se deve cobrar na vida privada, ou se é possível destituir um presidente, pelo fato da "tentação da carne" ter sido mais forte que a tentação do poder. A Igreja Católica já se adiantou e perdoou Lugo pelo incidente (quer dizer, incidentes, já que não sabe ainda, pela contabilidade, quantos filhos o homem teve, na verdade). Resta saber se o eleitorado paraguaio e suas instituições terão a mesma clemência. Fernando Lugo fez história, não por ser o primeiro religioso a chegar à presidência de uma nação latino-americana, mas sim por ter sido o primeiro presidente eleito, por uma coalização popular de esquerda, a derrotar mais de 70 anos de dominação elitista do partido colorado, num país que, ainda hoje, vive o reflexo do conflito bélico genocida que destruiu o país no século XIX, e desde então viveu em sua história curtos períodos de democracia, intercalados por governos populistas de direita ou por ditaduras militares.
O que se pergunta no Paraguai é: se um político eleito presidente é capaz de mentir durante anos sobre sua vida pessoal, por detrás da batina, ao descumprir uma ordem expressa de sua instituição eclesiátisca, que é o celibato, se ele não seria capaz também de mentir por detrás de um gabinete na presidência de um país, na condução dos destinos de uma nação. O que peca para Lugo não é ele ter sido um sacerdote católico, e ter descumprido o voto de castidade que lhe obriga o celibato, tendo se relacionado e tido filhos com várias mulheres, até porque isso ocorre frequentemente na Igreja Católica (pior seria a pedofilia, isso sim um crime gravíssimo). O que complica a vida do presidente paraguaio, e aí está, a meu ver, o verdadeiro pecado, é ter se valido do discurso ético de um religioso, para obter credibilidade política, e aí ter se elegido presidente. Lugo ficou conhecido como um religioso adepto da Teologia da Libertação, um fervoroso defensor das causas dos trabalhadores rurais do Paraguai, exercendo forte lideraça popular, na crítica às elites políticas e econômicas paraguaias, tornando-se uma mistura de Lula com Stédile do MST e um pingo de Dom Helder Câmara, o que lhe garantiu alta popularidade e votação recorde para a presidência. Sua vitória foi inquestionável e motivo de comemoração para toda a esquerda democrática latino-americana, que o digam Lula, Chavez, Rafael Correa ou Evo Morales. Sua presença no Fórum Social Mundial, em fevereiro último, em Bélem, juntamente com os outros presidentes citados, foi motivo de festa. Porém, após os escândalos de paternidade, a importância de sua visita recente ao Brasil, para discutir com nosso presidente a revisão do acordo da usina binacional de Itaipu, foi ofuscada pelo desgaste na opinião pública, obtido com as denúncias de tantos filhos gerados, sem serem reconhecidos pelo pai.
O Paraguai, como eu já disse, ainda sente em suas novas gerações o peso do conflito sanguinário que mergulhou a América do Sul numa guerra regional no século XIX, quando Solano Lopez, presidente militar daquele país, tentou bancar um "Napoleão dos Pampas", invadindo os países vizinhos para estabelecer uma rota com o mar e seu minúsculo país através do Uruguai, comprando briga com dois gigantescos vizinhos: Brasil e Argentina. A Guerra do Paraguai até hoje é ensinada nas academias militares como uma das pérolas da supremacia bélica nacional, e lugar que consagrou lideranças como o Duque de Caxias e o Almirante Barroso. Ocorre que no conflito morreu gente pra caramba, sobretudo do lado paraguaio! Calcula-se que o genocídio, com as baixas provocadas pelos exércitos inimigos em solo paraguaio, sem deixar vivos prisioneiros, matou toda a população masculina sexualmente ativa do país. O que significa dizer que só sobraram mulheres, crianças e velhos, e até hoje, segundo as estatísticas, apesar da quantidade de mulheres no Paraguai não ser superior a de homens, ainda há pouco homem disponível pra tanta mulher, e é natural que os poucos que existam sejam verdadeiros procriadores. Segundo pesquisa revelada no Jornal El País, o Paraguai tem a segunda maior taxa de fecundidade da América, só sendo superado pelo Haiti. Segundo a Comissão de Direitos Humanos de lá, 80% das mulheres já sofreram algum tipo de abuso sexual, e dos 45 presidentes que o Paraguai já teve, 8 eram filhos de mães solteiras, e ao menos 17 tiveram filhos ilegítimos. Diz-se que o machismo, a subjugação da mulher e a promiscuidade na sociedade paraguaia fizeram com que as mulheres fossem vistas como verdadeiros "ventres ambulantes". Por isso, se quiser ter filhos e muita dor de cabeça, meu caro leitor, vá para o Paraguai! (naturalmente, peço desculpas às leitoras pela brincadeira "machista" ou tipicamente paraguaia)
Pode-se dizer então ( e eu adoro essa palavra) que Lugo é mais um típico exemplar de sua
zeitgeist ("espírito do seu tempo"), deixando-se levar pelo machismo e pela dominação masculina típicas da cultura de seu país. O presidente do Paraguai, segundo dizem os estudos históricos e antropológicos, reproduziu a típica conduta de seus concidadãos do sexo masculino, fazendo filhos em suas mulheres, "fazendo menino" como diz o matuto, sem dar um pingo de satisfação as tão incrédulas mamães. Hoje, entre mamadeiras e decretos presidenciais, Fernando Lugo terá a tarefa não só de levantar um país há mais de um século quebrado, como uma das economias mais frágeis da América Latina, diante de uma crise financeira global, como também de tentar reconstruir sua biografia, ou ver sua ascensão esvair pelo ralo, mediante comemorações da direita colorada paraguaia. Só o tempo dirá, e no caso do católico Lugo, só muita rezadeira e apelos da Virgem Maria para que ele se recupere do estrago de seus erros passados. Com um detalhe, a Virgem era virgem mesmo, e essa, ao menos também não ficou grávida do "Pai da Pátria", ou do "Semeador da Nação", como chamam hoje os paraguaios, o seu fogoso presidente.