sábado, 9 de maio de 2009

MÚSICA: 20 ANOS DO GRUNGE (Parte II): 20 anos de Pearl Jam


Na segunda parte dos meus comentários sobre a época do grunge, vai agora uma lembrança não do Nirvana, mas de outra banda tão profícua quanto, do período dos grupos que iniciaram carreira no final da década de oitenta do século passado, ou começo da de noventa, chamada Pearl Jam. Os fãs brasileiros (inclusive muitos artistas "globais", arrghhh!!!) puderam conferir o show da banda norte-americana no ano retrasado, aqui no Brasil, na última turnê do disco homônimo, de 2006, além de outras passagens pela banda aqui, além do Rio, como em Porto Alegre e Curitiba.


O Pearl Jam, assim como o Nirvana, vem da cena artística de Seattle, quase no mesmo período do lançamento da banda de Kurt Kobain, e assim como o Nirvava, tiveram um líder e vocalista carismático, Mr. Eddie Vedder, dono de uma voz e um timbre vocal único, que se tornou, assim como as guitarras de Stone Gossard, e a bateria marcada de Matt Cameron, a marca registrada da banda. O Pearl Jam também surgiu como uma banda poética, unindo o peso das guitarras distorcidas com uma lamúria pop, na levada do primeiro disco Ten, onde Vedder canta a clássica Alive (até hoje tocada à exaustão nas Fms do mundo inteiro), além de outros singles clássicos, como Jeremy, Even Flow e Ocean, revelando, entretanto, influências que vinham desde The Who, passando por Black Sabbath, até Bob Dylan. O primeiro disco do Pearl Jam é considerado até hoje, pelos críticos, uma das mais emblemáticas obras que representam o grunge, esse tão falado movimento musical advindo da cena cultural e musical de Seattle (EUA), comentado este mês em meus textos, que hoje completa 20 anos.
Pois é! As semelhanças do Pearl Jam com o Nirvana acabam nas influências musicais e na longevidade de uma, em comparação com a carreira precocemente terminada da outra. Enquanto Kurt Kobain se matava dando um tiro na cabeça, encerrando de vez o capítulo da história do Nirvana, Eddie Vedder e seus companheiros de banda seguiram na estrada, lotando estádios, tocando em universidades, participando de festivais globais como o Lollapalooza e realizando turnês mundiais. Enquanto que o Nirvana apresentava uma conduta rebelde, uma atitude punk, mais nihilista, os rapazes do Pearl Jam adotaram um comportamento "politicamente correto" e engajado, preferindo participar de mobilizações, eventos pela paz e pelo meio ambiente, assim como por protestos contra a Guerra do Golfo, a fome na África, e outras bandeiras e mais bandeiras, que os revolucionários de plantão possam estender. Assim como tentou se pintar as imagens dos "bons moços" para os Beatles na década de sessenta, e para os "rebeldes", para os Stones, Pearl Jam e Nirvana compartilhavam em menor grau, de suas diferenças ideossincráticas e musicais, apesar de terem vindo da mesma vertente musical e da mesma área. Se fosse no final da década de sessenta, e ainda existisse John Lennon, os caras do Pearl Jam até poderiam se tornar os mártires da rebeldia politicamente engajada, porém o discurso de rebelião já havia sido posto uma década antes com o pessoal do U2.
Se o U2 foi a banda memorável da década de oitenta, o Pearl Jam assumiu a todo vapor o cetro da diferença na década seguinte. Na verdade, ao surgir, como uma típica banda fabricada, a "la MTV", os caras, depois do primeiro disco Ten, passaram a assumir outra postura, negando qualquer coisa que cheirasse a show businees e mainstream. A diferença foi marcante no terceiro disco, Vitalogy, quando o Pearl Jam assumiu uma postura mais intimista, reclusa, sem sequer aparecer nas capas dos discos, e, pasmem, assumindo uma forma de protesto original, numa posição de confronto com a indústria do entretenimento, ao se negar a tocar em estádios se o preço do ingresso não fosse reduzido ( uma vez que a platéia maciça de fãs da banda era formada por universitários) e processar a toda poderosa Ticketmaster, a empresa que monopoliza o mercado americano de distribuição de ingressos, para reduzir seus lucros. Ponto para o Pearl Jam!
O Pearl Jam nunca foi uma banda alternativa, mas o caráter alternativo de seu som, mesclado numa caricatura pop, típica de rolar em FM, faz com que eu me lembre de outra banda com carreira semelhante, que, aqui no Brasil, alternou sua trajetória de ser uma "bandinha" de MTV, para se tornar um grupo de conceito, quanto a público e crítica, na história do rock nacional. Claro! Estou falando do Los Hermanos. Se a banda norte-americana se notabilizou por ter uma sonoridade, que, apesar de roqueira e associada ao rock pesado, tomava emprestado diversas influências do folk de um Bob Dylan, de uma Joan Baez ou de um Neil Young, seu similar brasileiro tomava no samba de Chico Buarque e na bossa-nova influências para a montagem de seu pitoresco som, com mistura de rock e MPB. Outra similaridade é quanto à semelhança de público, e o perfil intelectual dos caras, uma vez que tanto o Pearl Jam quanto o Los Hermanos, tem seu público maciço no circuito universitário.
Essa é outra grande diferença entre o Nirvana e Pearl Jam: o quesito intelectual. Se ambos podem ser tidos como bandas de nerds ( nerd é coisa dos anos oitenta, o termo hoje utilizado com o advento da internet é geek), os jovens fãs do Nirvana mais pareciam saídos de um seriado da família buscapé (assim como se vestiam os fãs do Los Hermanos), com sua barba por fazer, gorro, calça de lenhador, macacões ou camisas de flanela, enquanto que os do Pearl Jam revelavam um lado mais intelectual, mesmo que se valendo de indumentária semelhante. Apesar de poeta, Kurt Kobain não era dado a grandes elaborações filosóficas e sociológicas, enquanto que sua contraparte, na outra banda, arriscava emitir opiniões das mais variadas, sobre os diversos acontecimentos globais.

Outra característica curiosa dessa banda de Seattle é que ela é até hoje a banda de rock com o maior número de produções ao vivo. Dispensando em muitos casos a parafernália de estúdio, entre um álbum e outro, os caras sempre preferiram expor sua sonoridade ao vivo, em seus concertos, seja em Cds ou Dvds, mostrando toda a energia da banda em estádios e teatros lotados, rodeado por milhares de fãs que entoavam em coro suas canções. São ao todo seis álbuns ao vivo, para uma banda que recém completou vinte anos, muito mais do que bandas consagradas como os Rolling Stones, cuja discografia oficial em mais de quarenta anos, não passa dos quatro discos ao vivo.





No tocante à pirataria, os caras do Pearl Jam também se revelaram inovadores, e talvez por isso a estratégia de discos ao vivo tenha dado tanto certo. A cada lançamento de um álbum, o grupo disponibilizava não só a versão original, como também versões ao vivo diferenciadas sobre o mesmo álbum, de acordo com as gravações dos concertos que iam realizando em turnê. Isso garantia sempre um material inédito e disponibilizado somente pela própria banda, pois a cada show criava-se a expectativa de que iria surgir um álbum diferente, com músicas variadas; e isso, naturalmente, atraía os fãs não tão somente aos shows, mas também às lojas de discos, com a oportunidade de comprar um material totalmente novo e original, sem necessitar aguardar cópias piratas.





Talvez o famigerado governo de George W. Bush tenha sido o nêmesis do Pearl Jam, além de outras bandas de rock de protesto, uma vez que o pior governante dos Estados Unidos, em décadas, foi alvo de várias críticas e protestos, em vitude de sua política de combate ao terror, tolhendo liberdades civis, após o 11 de Setembro. Acompanhados de Neil Young, que se tornou amigo de Vedder, e acompanhou a banda em várias turnês, a banda não se cansava de cantar a música de Young, Rockin in a Free World, tocada no filme de Michael Moore, Fahrenheit 11 de Setembro, em alusão às críticas ao governo Bush. Outro destaque para os músicos do Pearl Jam nos cinemas, deu-se quando Eddie Vedder emprestou a sua voz para a trilha sonora do comovente (e premiado) filme do oscarizado ator e diretor Sean Penn, chamado "Na Natureza Selvagem"(Into the Wild). O filme acerca de um jovem de família rica que larga tudo para viver no mato( o ator Emilie Hirsch), em contato com a natureza, torna-se ainda mais bucólico e sensível com a tocante música de Vedder cantada ao fundo.
A qualidade do som da banda norte-americana que hoje completa 20 anos (putz! como o tempo passa rápido) nem se abalou com o surgimento do Creed, no final da década de noventa, banda de heavy metal, com pegada gospel, que estouros nas rádios e na MTV no período, com a música Arms Wild Open, e cuja maior particularidade talvez fosse a de que seu vocalista, Scott Strapp, tinha o tom de voz quase que totalmente idêntico ao de Vedder, gerando, inclusive, algumas piadas e gozações em programas de auditório, e na própria MTV, acerca da semelhança de vozes. Não obstante o "plágio" vocal da banda de Tallahassee, o Pearl Jam seguiu na estrada, com seu vocalista de voz original, encantando legiões e mais legiões de roqueiros pelo mundo todo, e fazendo o que todo fã do Pearl Jam, quando Eddie Vedder começa a entoar as primeiras notas de Alive: Yeahh! I still alive........!!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?