quarta-feira, 11 de novembro de 2009

EDUCAÇÃO: Escândalo na Uniban-Tanta confusão por causa de uma saia???

Em função do caráter prosaico do caso, não imaginei estar escrevendo sobre o problema sofrido pela estudante paulista, Geisy Arruda, de 20 anos, que ganhou súbita notoriedade após ter provocado intenso tumulto na Universidade Bandeirante, em São Bernardo do Campo, onde estuda, após passar pelos corredores vestindo uma minúscula mini-saia. O caso é público e notório e comentado à exaustão na imprensa brasileira. Não tem pré-sal, violência no Rio ou corrida eleitoral que dê mais manchete, brasileiro gosta mesmo é de mulher de saia curta e baixaria!!! Nesse caso, quanto mais curta melhor.

O que me impressiona e revela os motivos de eu estar escrevendo sobre isto no blog é a desproporcional dimensão que foi dada ao caso e as iniciativas, no mínimo, equivocadas, da direção da Uniban. Eu primeiro vi uma inacreditável manifestação de bobagem juvenil ao ver pelo youtube o vídeo postado por uma aluna e divulgado no Brasil inteiro, acerca da confusão ocorrida na universidade, com a passagem de Geisy pelos corredores do campus. Pelo que pude entender, e as imagens não me deixam mentir, a jovem estava provocantemente vestida, produzindo a ira de suas colegas e a cobiça sexual dos colegas, ao exibir parcialmente suas volumosas e jovens carnes por debaixo do minúsculo traje que portava. Até aí tudo bem! Mulher gostosa, seja vulgar ou não, gosta de se exibir e pelo que já pude ler sobre o caso, a jovem estudante já tinha um histórico de entrar na faculdade com roupas que dizem o que falar. O "crime" de Geisy foi chegar ao ponto de provocar um tumulto e ser necessário chamar a polícia. Sim, porque, ao menos pela lógica dos guris da Uniban, mulher que usa roupa chamativa demais corre o risco de ser estuprada em praça, digo, em campus público. Aí já é demais!
Assim como é demais a polarização e o franco antagonismo das posições esquerdistas e liberalizantes dos movimentos populares como a UNE e as feministas, em contraposição aos alunos da UNIBAN, sua reitoria e a todos os chamados "guardiões" da moralidade. De um dia para outro, jovens com ainda espinha no rosto viraram fascistas machistas, enquanto que a sensual estudante pivô do conflito, tornou-se uma espécie de apóstola da sem-vergonhice. Impressionou-me o fato de que educadores de renome, como Içami Tiba, foram até a TV Uol condenar o gesto da moça, numa expressa manifestação de moralismo nipônico, pois, segundo esses pensadores, sala de aula não é lugar para mulher mostrar as pernas.

Fico me perguntando se a Uniban voltou à Idade Média, ou aos tempos em que era considerado obsceno uma mulher deixa aparecer o joelho de fora. As feministas, ahhhh, as feministas, estas ressuscitaram a queima de sutiãs nos primórdios de 68 e desferiram ataques verbais violentos à reitoria da Uniban, após a desastrosa decisão de expulsar a estudante da instituição e a mais desastrosa ainda voltada atrás da reitoria, desistindo da expulsão, demonstrando um certo titubeio a la Mercadante.

Sobrou para Geisy a aura de celebridade repentina, a lotar a audiência do programa Superpop da Luciana Gimenez, ou para servir de pauta de material humorístico certeiro para o pessoal do Pânico. Na celebração do ridículo, diante de um falso moralismo tão fora de moda (se ainda fosse numa igreja evangélica o problema, aí sim teria razão a crítica da conduta da moça), resta-nos indagar até que ponto estamos falando de direitos da mulher, direito à educação, ou tão e simplesmente de pouca vergonha. Creio que uma questão que precede o caos moral na Uniban é a incompetência ou falta de jogo de cintura da direção da universidade paulista, em detectar seus próprios problemas, e resolvê-los de maneira racional, sem ter que envolver a mídia, solapando a reputação de uma instituição de ensino. O que ficou feio neste caso foi a forma selvagem e semitribal manifestada no comportamento dos estudantes que rechaçaram a presença sedutora de Geisy com seus trajes, iniciando um princípio de linchamento moral, ao seguir a moça como uma turba, mediante o coro das palavras nada abonadoras de: "puta","puta","puta"! Ahhh, sim! Eu estava me referindo a estudantes universitários, que bem ao estilo de sua subcultura, acabaram por se comportar de forma pior que trabalhadores da construção civil no meio de uma obra, ao verem uma mulher de parar o trânsito.

E olha que a garota que gerou esse problema nem é tão bonita assim, e, ao menos, não faz propriamente o meu tipo. E considero também de mau gosto ou com certa vulgaridade ver mulheres voluptuosas em trajes reduzidos, em lugares inadequados. Mas creio que qualquer infração moral nesse sentido é mero objeto de reprovação social, censura por parte da instituição de ensino mediante a aplicação de seu regulamento e a adoção de seus mecanismos oficiais, mas não ao ponto de legitimar o crime, como aquele que se viu há semanas atrás nos corredores da Uniban, onde uma centena de alunos bestializados, comportavam-se como hooligans, a ponto de ameaçar estuprar a garota, senão como idiotas completos, ao baterem-boca dias após, com manifestantes da UNE e dos movimentos sociais, que, oportunisticamente, bateram a porta da universidade, para galvanizar a atenção da mídia para seus protestos.

Afinal, estamos vivendo uma nova era de fundamentalismo moral e de radicalismos éticos, ou tudo não passou de um grande imbróglio produzido por uma instituição de ensino que não sabe disciplinar seus próprios alunos? Por toda a dimensão jurídico-institucional dada ao caso, remetendo o problema para especialistas na psicologia, pedagogia e direitos humanos, eu digo que o problema maior é vivermos numa cultura erotizante de sexualização extremada da mulher, que faz com que qualquer "popozuda" queira mostrar seus atributos, desde uma quermesse até uma sala de aula. Não vejo problema nisso, assim como não vejo problema no topless, nas praias de nudismo, em homens andarem mostrando a cueca ou em senhoras de meia-idade andarem de shortinho.
Tudo é uma questão de (bom ou mau) gosto. O problema é quando transformamos nossas questões de moralidade em caso de polícia, ou, em nome da moral pública (será que existe?) nos arvoramos no direito de sermos eternos censores alheios. Enquanto se reclama da saia de Geisy, não reclamamos com a mesma intensidade da prostituição infanto-juvenil no litoral do Nordeste brasileiro ou das redes de pedofilia e abuso sexual infantil que acontecem todos os dias, desde os condomínios de São Bernardo do Campo,até as casas de taipa do Oiapoque. Sim, o problema é sério, amigos, e desta moral que me refiro, que se trata de uma moral humanitária, de uma saudável repugnância por tudo que leve à injustiça, tudo que traga o descalabro, tudo que ofenda, realmente, a integridade humana. E, nesse sentido, a humilhação sofrida por Geisy ao ser repudiada pelos colegas foi bem maior que o deslize moral cometido por ela, ao assumir a vulgaridade de seus gestos, e ter entrado na faculdade com suas partes íntimas à vista. É, Geisy, a Uniban não te merece!!

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