domingo, 29 de novembro de 2009

POLÍTICA: ESCÂNDALO NO DF E O DEMOCRATAS LADEIRA ABAIXO: Será que agora eles caem de vez?

O finado Jãnio Quadros disse que "forças ocultas" o apearam do poder em 1961, ao renunciar à presidência da república. Fico me perguntando se serão "forças descobertas", através de câmeras de video e do Youtube, que irão assombrar o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (filiado ao partido Democratas), flagrado recentemente num vídeo em que se vê o chefe do executivo recebendo dinheiro de seu então secretário, Durval Barbosa. A cena explicita um Arruda relaxado, sentado no sofá de seu gabinete enquanto conta "as verdinhas", dando a nítida impressão de se tratar a grana de propina.


Não demorou para que a turma do "deixa disso" entrasse em campo e questionasse as imagens, dizendo que o dinheiro recebido por Arruda não correspondia à propina, mas sim a recursos destinados à ações sociais, no ano de 2005, como a compra de panetones e brinquedos. Ah,tá! A opinião pública agradece a explicação!

Mas como acreditar em Papai Noel e Mula Sem-Cabeça é mais fácil do que a justificativa apresentada, mesmo que o nobre governador tenha, de fato, mexido com grana tão somente para se vestir de Papai Noel no Natal e distribuir brinquedos e panetones para as criancinhas, o que se percebe é que a ficha de José Roberto Arruda ficou suja, mais muito suja, mesmo. Segundo investigações da Polícia Federal, Arruda comandava um suposto esquema de pagamento de propinas à base aliada do governo, na Câmara Distrital de Brasília, para obter a aprovação de projetos de interesse do governo, numa versão local do mensalão do governo Lula. Se existiu um mensalão nacional, agora, sabe-se, existe o "mensalão de Brasília", o mensalão dos Democratas.

Pra quem quiser entender melhor o caso, o jornal Folha de São Paulo estabeleceu uma cobertura completa do episódio, inclusive remontando a carreira política de José Roberto Arruda, pródiga em verdadeiros "acidentes de percurso", como o célebre caso da violação do sigilo do painel eletrônico do Senado, que levou a cassação do político quando era senador do DF pelo PSDB (sua antiga legenda). Recordo-me de um Arruda choroso, em discurso emocionado no plenário do Senado, quando comunicou sua renúncia. Parecia que a carreira política tinha terminado para o ex-engenheiro; mas, se em política até Collor ressuscita (inclusive, agora como "amigo do rei", aliado do governo federal), porque não daria certo para Arruda. Expulso do PSDB, mas vestindo a nova camisa dos Democratas, Arruda acabou retornando à cena pública, primeiro elegendo-se deputado, para depois chegar ao auge como governador do DF, com direito à reportagem elogiosa da revista Veja. Que baita recuperação, não acham?

Mas algo havia de podre no reino da Dinamarca, digo, no reino de Brasília. Assim como era difícil acreditar que um bondoso governante, tão preocupado assim com os necessitados, supervisionaria pessoalmente a contagem de dinheiro destinado aos sem-teto do Plano-Piloto, também tornou-se difícil acreditar na não-participação do governador brasiliense em esquemas de maracutaias e cooptação ilícita de apoios, com distribuição de propinas a aliados. Além do mais, sabendo-se como Brasilia é!

Brasília não é uma cidade, mas sim um condominínio gigante de funcionários públicos. Na capital federal, nos círculos da burocracia, é comum o peculato, a troca de favores, as negociatas, os clientelismos, na inversão de prioridades entre o público e o privado, já relatada no famoso livro do antropólogo carioca, Roberto da Matta: Carnavais, malandros e heróis. A máquina do Estado, nas três esferas de poder da república, é movida a dinheiro. E esse numerário por vezes sai de forma ilícita por extensos canais de negociação, com vistas a preservar interesses econômicos e privilégios de grupos privados vinculados ao Estado. Isso não é novidade! A novidade é de como esses casos ainda impressionam a opinião pública, são capazes de derrubar chefes políticos, destruir legendas partidárias, e servem como fiel da balança numa eleição, alterando o jogo político.




Os representantes do governo Lula e partidários da candidatura de Dilma Roussef, devem estar de sorriso aberto diante da desgraça havida nas fileiras do partido aliado de seu maior adversário político: os tucanos. Os Democratas, como se sabe, são na verdade o refúgio político daqueles que pertenciam ao PFL (Partido da Frente Liberal), dos períodos de Sarney a Collor, até chegar no auge quando passou oito anos, ocupando a vice-presidência da república e a presidência do Senado, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Muito antes, o PFL foi formado por antigos militantes do famigerado PDS(Partido Democrático Social), do tempo da ditadura e da reforma eleitoral de 1980, que por sua vez era formado por membros da extinta ARENA. Ou seja, no DNA político do atual DEM, está todo tipo de fisiologismo, de sujeira, de ladroagem, clientelismo, roubalheira e reaçonarismo dum partido cujos principais líderes foram verdadeiros "filhotes da ditadura". Em termos estatutários, o Democratas é o único partido nacional ao qual o PT está proibido de fazer alianças ( o que não deixa de gerar raras exceções, nem que seja nos bastidores), justamente por possuir em seu tétrico passado, tantas raízes ainda expostas de seus vínculos com o regime totalitário. Apesar de ter se filiado recentemente o presidente da FIESP (federação das indústrias paulistas) no PSB (Partido Socialista Brasileiro), descaracterizando a legenda, o Democratas ainda é o maior reduto de capitalistas selvagens, usineiros e latifundiários de que se tem notícia no Brasil. É como se fosse uma fusão dos partidos blanco e colorado do Uruguai, sob a forma de uma única e monstruosa legenda.

Legenda essa que se apressa em pular do barco do governo do Distrito Federal (único governo conquistado pelos Democratas na eleição passada) e deixar que José Roberto Arruda afunde sozinho com seu navio. O PPS (Partido Popular Socialista) do deputado Roberto Freire já anunciou sua saída do governo, e no momento em que escrevo, já são centenas as defecções de apoio político ao encurralado governador, caído novamente em desgraça. Já não bastou a violação do painel do Senado, agora, de forma pior, o homem é flagrado contando (dizem) propina. Aí, fica difícil, seu Zé Roberto, muito difícil!!


A meu ver, o DEM é ainda um resquício indigesto de nossa democracia, tendo em vista que o pior da política nacional também teria o direito constitucionalmente assegurado (em tese), de se organizar sob a forma de um partido político. Afinal, compete ao eleitor varrer do mapa esses camaradas e não eu. Enquanto o partido tenta se atualizar, contando com lideranças jovens, na verdade, herdeiros biológicos de grandes caciques políticos de outrora, como Rodrigo Maia e Antonio Carlos Magalhães Neto, o DEM (ou DEMO, segundo Lula) ainda vive a risível contradição de apresentar uma legenda cujo nome nada tem haver com o passado de seus integrantes. Mas a sobrevivência desses personagens se deu com a mãozinha de certo sociólogo, que um dia mandou esquecerem tudo o que ele escreveu, e que acabou se tornando por duas vezes presidente da república. Na epifania neoliberal de FHC, no comando da nação, impulsionado pelo Real, Fernando Henrique acreditava que o antigo PFL poderia se modernizar, a ponto de se tornar o aliado preferencial dos tucanos, tendo em vista as posições ideológicas claramente liberalizantes do senhor Jorge Bornhausen, então um dos principais ideólogos da legenda, correspondiam ao ideário de progresso, privatizações e de abertura econômica propostos pelo anterior mandatário da nação. O PFL industrial, capitalista, e liberal de Bornhausen, se diferenciaria do mesmo partido agrário, latifundiário, conservador e herdeiro da ditadura, como era a legenda também comandada pelo hoje finado Antonio Carlos Magalhães. É dentro desse monstro ideológico e reaçonário, que políticos como José Roberto Arruda puderam renascer politicamente. E é dentro dele que muitos fetos corruptos ainda podem nascer, ou não. Depende apenas do eleitor, dar o último empurrãozinho básico para que a legenda dessa turma desça, de vez, ladeira abaixo, para o fosso do esquecimento da história. Eu sou um dos primeiros, a entrar na fila para empurrar!!! E escutar lá debaixo o estrondo: CABUUUUMMMMMM!!! Adeus!Filhotes da ditadura!!

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