quinta-feira, 25 de junho de 2009

LUTO:"One day in your life!!-LONGA VIDA AO REI, O REI ESTÁ MORTO: A morte de Michael Jackson


Morreu o Pop! Morreu Michael Jackson! Aos 50 anos de idade o coraçao daquele que foi coroado rei da música popular global deu seu último suspiro numa ambulância, a caminho do hospital, em Los Angeles. A notícia pegou de susto o mundo da música. Nao que artistas sejam imortais, mas a morte de astros do quilate e da controvérsia diretamente proporcional ao talento de Jackson causam, naturalmente, profundo espanto. Ao menos foi isso que pude perceber na reaçao de muitas pessoas ao receber a notícia, que, meio atordoadas, achavam que se tratava de alguma brincadeira. Mas, nao, Michael is dead!





Alguns podem me chamar de oportunista ou de nao ter assunto para postar, mas a verdade é que eu gostava (mesmo) de Michael Jackson. Digo nao por causa de sua aura mística de "rei do pop", de sua música contagiante dos primeiros discos, ou pela curiosidade pelas suas esquisitices, mas sim porque ele representou bem uma época. Em meus surtos de nostalgia a música de Jackson e seus videoclipes representavam a essência dos anos oitenta, representavam minha inocência perdida de adolescente descobrindo o mundo (e passando a curtir muitos outros grupos e músicas depois), mas ele representava um tempo que agora, perto de 2010, finalmente terminou. Com Michael Jackson se vao, de vez, os anos oitenta!


A cultura de massa vive de revivals, foi assim com os anos sessenta e é assim nesta primeira década de novo século que está prestes a acabar, com a nostalgia dos anos oitenta, a volta da sonoridade daquele tempo, as remontagens, as bandas e grupos novos de musicalidade inspirada naquela época, na volta de sèries consagradas do período, como o Exterminador do Futuro, nas festas "balonê" que acontecem no sul do país, e nas repetiçoes nas rádios do som de Mister Jackson.

Pois que agora tudo isso acabou com a morte de seu maior ícone. Apesar de Madonna e grupos como o U2 terem se consolidado nos anos oitenta, estes há muito deixaram de ser expressao de seu tempo, e, ao contrário, souberam (ou tentaram) se adaptar aos novos tempos, buscando outras sonoridades, já o velho MJ nunca deixou de registrar sua marca própria, muitas vezes obscurecidas nos últimos anos pela valorizaçao excessiva de suas bizarrices.

Sim, creio que Jackson foi vítima de seu próprio sucesso. Hoje, seu comportamento infantilóide e destrambelhado pode ser explicado pelos melhores psicólogos, mas revela também a voracidade da mídia em explorar os defeitos de seus astros, tornando nao apenas humanos, mas ridículas as fraquezas de seres outrora "imaculados". Os artistas pop sao hoje os santos de antigamente da sociedade midiática, os mitos que fazem multidoes chorarem e cantarem suas cançoes, numa idolatria que há muito deixou o sagrado e acabou por se tornar profana. Grandes nomes da teologia e da ciência da religiao, como Rudolf Otto e Mircea Eliade jà falaram do mito do sagrado, e na cultura pop do final do século XX, em termos de arte, Michael Jackson levou o sagrado até sua última instância, sacralizando o profano, tornando-se ele mesmo um profeta da nova sociedade culturalmente globalizada que viria a surgir, com suas MTVS e internet. O cantor de Billie Jean, Beat it, Thriller e Bad nao foi apenas um músico negro talentoso que saiu de um grupo antológico dos anos setenta, como o Jackson Five, mas foi também um astro que inaugurou uma nova forma de diálogo com o público, numa aura só conquistada hoje por jogadores de futebol. Numa típica alusao weberiana, Michael Jackson extraiu o carisma dos líderes religiosos, para transformar isso num poder midiático que assombrava os palcos, arrastando multidoes e mais multidoes extasiados com seus passos de dança, seus falsetes naturalmente entoados, sua perfeiçao de timbres e agudos, e sua, por que nao dizer, filantropia, quando reuniu os maiores nomes da música popular norte-americana para ensaiar uma versao yankee do Live Aid, em prol das vítimas da fome na África, cantando a clássica We are the world.

Musicalmente falando, e nisso a crítica musical fala no mesmo tom, o primeiro álbum do músico:Off the wall, até mais do que Thriller (o disco mais vendido da história), até hoje é considerado um dos melhores discos de música popular do século, aliando o melhor do velho soul com a mais sofisticada música pop dançante. É como se no Brasil, Jorge Ben Jor, Tim Maia e Roberto Carlos se fundissem num único artista, com qualidades vocais e musicais invejáveis, fazendo uma música que até uma múmia egípcia sairia da tumba para dançar. Um som democrático, palatável, associado a todos os gêneros, faixas etárias e naçoes, seja em qualquer idioma. Essa foi a principal marca do pop e isso foi trazido por Michael Jackson. Com Jackson, o pop se globalizou.





Michael Jackson nao foi apenas um grande músico e fenômeno de massa analisado pelos sociólogos. MJ foi um conceito. Um conceito em que um cantor negro acabou por "enbranquecer" ou ser tao e simplesmente uma celebridade global de origem afro-americana que mais se tornou conhecida no mundo, e que se tornou , de sua maneira, um precursor de Barack Obama. Com Jackson o pop finalmente surgiu nao como uma mera casca comercial, sem conteúdo, mas como uma tendência da música contemporânea, onde o funk "a la James Brown" finalmente saiu do gueto, deixando de ser apenas "música de preto", e se tornando música de brancos, negros, pardos, amarelos, vermelhos, como bem entoou o autor da cançao Black and White. Para mim, é esse tipo de talento e a contribuiçao histórica para a música contemporânea que terao mais relevância e ficarao para a posteridade, do que as acusaçoes de abuso de menores, as excentricidades, a vida perdulária e infantil, os relacionamentos amorosos fracassados (dentre eles, com a própria filha de Elvis), as acusaçoes de querer ficar branco, renunciando a sua cor (apesar de jurar de pé junto e os médicos confirmarem que o astro sofria de vitiligo) ou até mesmo o destrambelhamento do cantor ao expor um de seus filhos pequenos na janela de um hotel, a ponto de assustar os cinegrafistas quase deixando a criança cair.


Outros poderao me detratar por estar lamentando a morte de um suposto pedófilo. Ora, desde o Casseta Planeta, até as comédias juvenis bobalhonas norte-americanas, todos já satirizaram ou ridicularizaram o outrora rei do pop, tornando-se um verdadeiro reality show, o julgamento do artista, no começo dos anos noventa e depois no começo deste século, por acusaçao de abuso sexual de menores. A barra pesou e pesou muito para Jackson, mas o pior foi saber como a pressao acabou por abalar o coraçao do astro, que deu mostras de esgotamento definitivo com seu culminante falecimento, ontem. O pior nao foi, para quem é ou foi fa de Jackson de saber que seu ídolo enfrentava pesadas acusaçoes que poderiam levá-lo à cadeia pelo resto da vida. O ruim foi saber o quanto o peso de tantos anos e anos de insucesso e dúvidas na conduçao de sua vida pessoal, levaram Jackson à ruína, nao só financeira, mas também moral. A Neverland do astro se tornou cara demais, e ele acabou por se fechar em seu mundo cada vez mais desmoronado, que terminou numa parada cardíaca, dentro de casa, quando o artista planejava sua redençao numa nova turnê este ano, programada para o segundo semestre, que jamais se concretizará.

Neste momento, sobretudo nos Estados Unidos, milhares de fas chorosos se encontram em romaria, sem acreditar que seu maior ídolo partiu e nao pertence mais a este mundo. Assim como Elvis, creio que nao tardará para existir uma legiao eterna de fas que sempre acenderao suas velas, e repetirao em uníssono, na negaçao clássica de fa, que: "Michael nao morreu!!". Entretanto, mais do que a tristeza, ao menos para mim que nunca fui fa, mas gostava das músicas e das performances do cara, fica a saudade, de um tempo que nao volta mais, que seu destino é nao voltar, assim como faz parte do destino seguir em frente, e, pelo menos no meu caso, chegar à maturidade e tentar envelhecer com dignidade. Se os anos oitenta morreram em definitivo com Michael Jackson, que venham os noventa! Adeus, MJ! Fique em paz!

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