Na Suiça já é possível acessar a internet sem fio pelas ruas de Genebra apenas ligando o seu notebook. Em vários aeroportos no mundo o serviço já é totalmente gratuito, e a tendência global é de que em pouco tempo (até mesmo meses), teremos uma nova era digital em que os serviços de comunicação via banda larga não serão mais obrigatoriamente cobrados. Será como hoje ocorre com a televisão, em que o consumidor, ao comprar o televisor tem direito à rede aberta, enquanto que o pacote de serviços da Tv paga é opcional.
No final da década passada, quando a conexão a internet ainda era pela jurássica via discada, já era possível utilizar a rede sem pagar um centavo por isso, quer dizer, quase sem pagar, uma vez que na época havia sido feita uma engenhosa matemática entre os provedores e as companhias de telefonia, onde se pagava não pelo pelo acesso, mas sim pelos pulsos consumidos durante a ligação. Logo em breve surgiu a banda larga, e o que ora outrora um capricho burguês tornou-se realidade de milhares de lares da classe média baixa do país, assim como meio único e indispensável de comunicação nas empresas e repartições públicas. Atualmente, a ANATEL tem um projeto de implementar no país um modelo de banda larga sem fio, em todos lugares, mediante um simples modem portátil, no formato de uma tomada, que ligado à rede elétrica já produz o sinal virtual, permitindo o acesso a internet em todos os lugares.
Creio que a popularização da web passa pelo discurso da democracia digital, quebrando-se com as resistências capitalistas da velha visão contratualista do "pague para usar", como apregoava o economista liberal Milton Friedman da Escola de Chicago, ao afirmar que não havia "jantar de graça". A internet há muito deixou de ser um privilégio de poucos abonados que tinham condições de comprar um computador, tornando-se a ordem do dia, na nova realidade do século XXI. Não obstante os ermitãos de ocasião, que pela filosofia de vida abominam celulares, quanto mais a internet, estamos hoje indissoluvelmente ligados, seja pelos nossos notebooks, twitters, blackberrys ou i-phones da vida. A eficácia desses meios de comunicação já restou comprovada desde o controle do tráfego rodoviário mediante a utilização do GPS na telefonia móvel, até a cobertura midiática das reprimidas manifestações populares no Irã por meio do Twitter, quando os celulares substituiram as câmeras de Tv, ao mostrar a repressão à liberdade da imprensa, durante os conflitos de rua após a fraudulenta eleição de Ahmadinejad. Hoje em dia, em milhares de aeroportos, é comum em seus saguões ver-se negócios serem fechados por executivos em trânsito, bem longe de seus escritórios, e, nas universidades, é cada vez mais rotineiro ver estudantes nos pátios das faculdades escreverem suas monografias em seus computadores portáteis, fazendo seus trabalhos acadêmicos ou pesquisando em bibliotecas virtuais utilizando a rede. Temos internet por todo lugar, numa conexão que se tornou realmente inevitável, e não dá mais para o Estado se ver fora disso, na ausência de regulamentação do setor, deixando tudo ao léu da iniciativa privada, uma vez que a concessão do serviço ainda é do poder público, e é obrigação desse poder garantir a universalização da informação, propiciando internet para todos.
Já é possível hoje escapar de pagar um provedor particular levando seu note para um shopping center ou para dentro de uma escola, sem que ninguém lhe cobre pelo serviço. A rede é pública, assim como é pública a conexão, com novos filtros, antivírus e protetores de rede distribuídos no mercado, com a compra de novos computadores. A televisão está cada vez mais fundida com a nova mídia virtual e com o sinal digital os novos aparelhos, cada vez mais sofisticados (inicialmente caros, mas com preços reduzidos em questão de meses com o surgimento de produtos cada vez mais novos) serão capazes de interagir diretamente com a internet, sem que seja necessário sequer comprar um computador, assim como ocorre hoje com os celulares.
Num panoptismo às avessas de um "big brother orwelliano", a exemplo do programa de TV do mesmo nome, que deu fama a Endemol e se tornou parte da cultura de massa do século atual, hoje, todos nós podemos ser vistos ou conectados, aonde queremos e quando queremos, pelos milhares de satélites que nos acompanham todos os dias, além das estrelas que nos piscam dos céus. Somos uma humanidade com as mesmas deficiências dos tempos de nossos antepassados pré-históricos, com consciência de nossa mortalidade, fragilidade diante de epidemias, inclinação para as guerras e propensos irracionalmente ou racionalmente a manter a desigualdade social, a miséria, a exclusão e a fome, mas somos capazes de compartilhar experiências e opiniões sem nunca termos visto sequer a cara de nosso interlocutor, mediante um chat na internet ou por uma conversa de MSN. Sou convidado a ter "um milhão de amigos", como diz a música do Roberto, sem nunca ter conhecido um terço deles, em diversas partes do mundo, conversando pela língua global do inglês ou atrevendo-me a manter um diálogo intercultural através das novas mídias, como o tal do Blackberry. As crianças da atualidade largaram seus carrinhos de brinquedo e suas bonecas de pano e agora vivem entretidos na rede, compenetrados, plugados eternamente na tela de seus computadores cada vez mais minúsculos e inquebráveis, sem perturbar seus sequiosos pais, atarefados também em suas funções laborais ou domésticas. Eu mesmo, ao exercitar meus dotes medíocres de escritor, utilizo da rede como voz para meus fanzines virtuais, meus panfletos digitalizados, sem ter que subir no banco de uma praça ou na mesa de um bar para ditar minhas opiniões ou discursos.
Se quando o primeiro aparelho de televisão ao ser ligado pertencia a uma família rica e abastada dos Estados Unidos na década de quarenta, e hoje pode se encontrado até numa casinha de papelão embaixo do viaduto, acredito que os computadores ou suas mídias futuras correlatas também estarão disponíveis com redes livres em cada metro quadrado desse mundo, seja sob a forma de celulares ou de minúsculos notebooks. É inadmissível, portanto, ter que pagar cifras acima de duas casas decimais para ter acesso a uma linha telefônica e uma internet banda larga, com a democratização cada vez mais do acesso à internet, pela difusão das conexões de rede pública nos espaços destinados à circulação de pessoas, como praças, shoppings, escolas e aeroportos. Assim como no passado nas favelas se defendia as rádios comunitárias, defendo agora as redes comunitárias, com acesso livre a todos, com ou sem computador, com ou sem televisão, ou munidos apenas de seus celulares, com direito a acessar sem restrições a todo o conteúdo que desejarem na rede mundial de informação. No movimento dos Chiapas no México, ou na selva colombiana, revolucionários para uns, e terroristas para os outros já estão furando os bloqueios, esnobando a ganância capitalista dos provedores, e estão lá, divulgando suas ideias, propagando seus manifestos, denunciando as hipocrisias, e gritando alto por via de seus e-mails e mensagens de texto: terra, paz, liberdade e banda larga!!! Abaixo o monopólio e os cartéis da telecomunicação!!! Viva a democracia digital!!
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