segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FUTEBOL: Por que todo esse amor pelo Botafogo? Essa Estrela Solitária me conduz.

Sei que alguns leitores deste blog tem aversão a futebol. Tenho um amigo cineasta que não pode nem ouvir falar em jogo, apesar de sua esposa ser torcedora fanática, e, para alguns, este espaço deveria ser dedicado somente a temas mais profundos, complexos, angustiantes, como nos momentos em que tive a oportunidade de ser bem intimista, sofisticando minha escrita.

Ocorre que o futebol é sim uma das minhas muitas paixões, assim como é a literatura, a filosofia, o cinema, a música, histórias em quadrinhos, o gosto por ensinar na área jurídica e a prática esportiva de gostar de correr. Gosto de futebol por "n" razões, mas nenhuma delas deve ser aqui enumerada, senão para justificar meu apreço por um time especial: o Botafogo Futebol e Regatas, time carioca de General Severiano, cujo bairro homônimo tenho muita vontade de trabalhar.

Toda criança começa a gostar de futebol por influência familiar (principalmente paterna) e no meu caso não foi diferente. Entretanto, não me aficcionei num primeiro momento numa equipe em especial, mas sim em um jogador: Garrincha, o "gênio das pernas tortas". Eu cansava de ouvir meu pai dizendo que Mané Garrincha era muito melhor que Pelé (e o próprio "rei" reconhecia isso) e se não fosse o álcool que estragou a vida do rapaz, seria o maior jogador de todos os tempos. Eu assistia impressionado os documentários retratando as jogadas do cara e vibrava com os dribles inesquecíveis daquele cafuzo que era alagoano de nascimento, como eu e meu pai, mas que tinha uma vida e alma de carioca. Era bonito de se ver o Mané pegando os adversários de "João"(bobo), sobretudo nos torneios internacionais, e na antológica Copa de 58, deixando boquiaberta não só a torcida, mas também os próprios jogadores, que não entendiam como um proletário baixinho, de pernas tortas, conseguia ser tão raçudo em campo, e fazer jogadas e gols tão extraordinários. Durante sua fase áurea, Garrincha sempre vestiu a camisa do Botafogo, e por ela conquistou quatro títulos nacionais, além de, praticamente, todos os títulos cariocas na década de 50, e começo da década de 60. Além dele, outros craques vestiam a camisa do time, como Nilton Santos (até hoje, um verdadeiro "patrimônio moral" do clube), Vavá, Didi, Gerson, Carlos Alberto Torres e o próprio Zagallo. Sim, Mário Jorge Lobo Zagallo, técnico tricampeão de 70, foi zagueiro do time, e até hoje, devotado botafoguense. O Botafogo chegou a ser responsável por mais de 60% do efetivo da seleção brasileira nas Copas de 58 e 62. E se me chamam de saudosista, digo que até hoje, o futebol brasileiro deve demais a esse clube.

Mas foi somente na vida adulta que assumi de vez meu botafoguismo. Pra ser mais preciso em junho de 1989, data do campeonato estadual no Rio de Janeiro, onde um Botafogo invicto, além de ganhar todos os jogos, impressionou a arquibancada ao derrotar o rival Flamengo, do imortal Zico e de um já famoso Bebeto, na final do campeonato. Havia um sofrível jejum de vinte e um anos, em que o time alvinegro não conseguia um título e o Flamengo era franco favorito. O que parecia favas contadas com o favoritismo rubro-negro foi pro brejo, nas pernas do jogador Maurício,  na vitória de 1 x 0. Aquela disputa de David contra Golias me cativou, ao assistir na televisão aquele jogo, e, a partir daquele dia, vesti a camisa alvinegra da estrela solitária.O processo foi irreversível. Sempre tive simpatia pelos injustiçados. Não sei se é por conta do meu cristianismo, de minha índole revoltada ou por influência familiar mesmo. Sei que nunca simpatizei com o Flamengo, e isso, claro, é um caso a parte. Porém, quando vi o Botafogo ganhar de um time que já me era desafeto, aí sim pude vestir a camisa de um time que, a meu ver, representava os injustiçados do esporte no país inteiro.

É, o Botafogo é um time de sofredores, e deve ser por isso que gosto tanto dele. Digo, brincando, que o Botafogo não é recomendável para cardiopatas. Como diria o escritor Paulo Mendes Campos (ele mesmo, um botafoguense doente): "o Botafogo é paixão, é Brasil, é confusão". Tá duvidando de mim? Vá ver um jogo do Botafogo pra você ver! O Botafogo é um time de intelectuais, tendo como seus maiores representantes, além de Mendes Campos, nomes como Olavo Bilac, o saudoso João Saldanha (jornalista e técnico da seleção pré-70),Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Clarice Lispector (sim, ela era botafoguense), Glauber Rocha, Luis Fernando Veríssimo, Ivan Lessa e Antonio Candido, dentre outros. Era o time preferido de um entre cada um jornalista, boêmio e intelectual carioca dos anos 20 até a década de sessenta. O Botafogo é o time da torcida mais romântica do futebol brasileiro, representando na sua insígnia a belle epoche de um Rio de Janeiro que não existe mais. Na pureza de sua desorganização, nos resultados inacreditáveis, seja na derrota, seja na vitória, o Botafogo é esse séquito de loucos, a que eu tenho tanto orgulho de fazer parte, que agora vibram enlouquecidamente diante das jogadas de um El Loco Abreu. Sim, o Botafogo é um time para lunáticos!

Só sendo doido pra torcer por um time que quase foi rebaixado no ano passado no campeonato brasileiro, ou que já desperdiçou tantas chances de ser campeão, como nas últimas finais do Estadual com o Flamengo (arrgggghhh, o Flamengo, sempre o Flamengo!), ou mesmo no campeonato nacional de 2008, onde, apesar de apresentar durante todo o primeiro semestre um futebol tão vistoso, acabou por amargar uma classificação em nono lugar, não chegando sequer a participar da Libertadores. É, o Botafogo não tem ainda em sua sala de troféus títulos mundiais como o Flamengo, o Grêmio ou o Internacional, mas nem por isso se rebaixa e nem deixa de tentar. O Botafogo é o time dos "heróis trágicos" como Mané Garrincha ou Heleno de Freitas. O que faz um torcedor amar um time que lhe faz tanto sofrer, e cujos principais expoentes históricos ou morreram de alcoolismo ou foram para o hospício? A resposta está em outro atributo moral tipicamente humano: somos seres que cultivamos a esperança!

Segundo o cineasta João Moreira Salles (o irmão do Walter), se o Botafogo fosse um capítulo da Bíblia provavelmente seria o Livro de Jó, não pela perseverança em resistir ao sofrimento, mas sim por que ao final dele encontra-se o Cântico dos Cânticos. Nenhum time nesse país tem tanto uma mixórdia de alegria, glória, tragédia, queda, tristeza, retorno e redenção que esse time carioca. É só ver o impressionante resultado do atual campeonato carioca de 2010. No começo do campeonato vi um acabrunhado Botafogo perder numa humilhante goleada para o Vasco de 6 x 0 e ter seu técnico sumariamente demitido. Nuvens negras sempre pairavam sobre o Botafogo, mas conhecedor da capacidade de resiliência do time, não me resignei, porque antes de tudo, torcer pelo Botafogo é um gesto de fé, um ato de devoção quase religiosa. O cara pode ser até ateu, mas o mais empedernido agnóstico acaba acreditando em Deus, quando vê os "milagres" que esse time consegue fazer. Nâo é que aconteceu de novo? Sob a batuta de um velho conhecido dos botafoguenses, o técnico Joel Santana (o "rei do Rio", por ter sido campeão como técnico pelos quatro grandes times cariocas), o Botafogo não só recuperou a autoestima, como também o respeito da torcida adversária, ao derrotar o Flamengo (ahhhh, que coisa boa!!!) na semifinal do primeiro turno do Estadual, de virada, por 2 x 1 (eu estava lá no Maracanã, "meninos, eu vi!!"). Onde estava o "Império do Amor" flamenguista, liderado pelos atacantes estrelares Adriano e Vagnér Love? Nesse caso, a estrela é solitária e mudou de lado: a estrela é botafoguense, e o império ruiu diante da loucura solitária de 11 jogadores alvinegros. Diante desse resultado a equipe ganhou fôlego para fornecer a revanche contra o Vasco, na final do campeonato, arrebatando mais uma vez a Taça Guanabara. Sim, o Botafogo é campeão novamente! Por sua tradição, ganhar a Taça Guanabara no Rio de Janeiro é tão ou mais importante que ganhar o Estadual ou o Campeonato Brasileiro. O Rio de Janeiro pôde sorrir novamente!

Essa vitória e o jogo da semifinal que assisti teve um gosto especial, pois além de ter derrotado o eterno adversário Flamengo (nossa "nêmesis" botafoguense), nos abençoados pés do jogador novato Caio, pude ver o quanto a dedicação, o foco, a persistência e o sentimento de unidade de uma equipe foram fundamentais para sufocar a empáfia flamenguista. No Maracanã a torcida era majoritariamente flamenguista (claro! o Flamengo se gaba de ter a maior torcida do país), mas do outro lado das arquibancadas podia-se ver a ruidosa torcida botafoguense, minoritária, mas crédula e confiante no seu time. Antes do jogo, minutos antes, pude presenciar um ato de sacrilégio futebolístico, quando vi atrevidos torcedores flamenguistas, mais jovens, dando cascudos no busto de Garrincha, no pátio interno do estádio, na entrada de acesso ao campo. Pai! Perdoai! Eles não sabem o que fazem!! Não deu outra, aqueles mesmos desrespeitosos flamenguistas tiveram que engolir  a vitória botafoguense e a consequente desclassificação do primeiro turno do campeonato. Ahhh! Como foi bom poder ver isso! Como é bom ver o meu Botafogo jogar (e vencer é ainda melhor!) ! Obrigado, Deus!!

Ao final do jogo contra o Flamengo pude ver um amigo meu flamenguista rendendo-se ao resultado e exclamando que tinha que reconhecer que assistir o Botafogo ganhar, quando todos achavam que seria derrotado, realmente era um evento emocionante. Imagine assistir um jogo junto comigo da arquibancada. Sou escandalosamente um torcedor devotado, e por muitas vezes saio afônico do estádio, simplesmente pela emoção de torcer pelo meu time, de sofrer por suas angústias e vibrar com suas vitórias. O Botafogo é meu "ser poético" em campo, e para onde eu levo minha torcida, acabo por arranjar discípulos nas torcidas mais distantes. Foi assim que eu conquistei os colorados no Rio Grande do Sul, quando, anos atrás, o mesmo título foi conquistado, num bar, diante de uma torcida do Internacional que vibrava com o campeonato conquistado por seu time, enquanto eu atônito acompanhava pela TV o jogo do Botafogo que ainda não tinha terminado. Minha vibração de "estrela solitária" era tão grande, como único botafoguense no local, que a torcida gaúcha parou de comemorar por um momento a vitória do Inter, e se juntaram todos a mim em frente a TV, torcendo também pelo Botafogo, e comemorando o resultado junto comigo. Por conta desse gesto elegante de solidariedade esportiva, comuniquei à comunidade gaúcha que um dia, ao vir para o Rio Grande do Sul, por camaradagem eu torceria pelo Internacional (para tristeza de meus amigos gremistas). Pois é! Sou botafoguense de coração e colorado por ética. Perdoem-me gremistas! É bem verdade que uma ex-mulher gaúcha e também colorada deu um empurrãozinho pra que isso acontecesse!

Eis que o Botafogo é esse universo de sentimentos e pertencimentos para mim. Em meu blog, como amante do futebol, e, sobretudo, apaixonado pelo Botafogo, não poderia deixar de passar aqui o quanto venero esse sentimento e o quanto admiro esse clube carioca. Como disse o poeta Vinicius de Moraes: o Botafogo "não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania". Termino aqui minha elegia de torcedor, como não poderia deixar de ser, entoando o hino do clube, composto por Lamartine Babo, que encerra com chave de ouro minha homenagem. Podem cantar botafoguenses!!

Botafogo, Botafogo! Campeão, desde 1910!
Foste herói em cada jogo,
Botafogo,
Por isso é que tu és
E hás de ser
Nosso imenso prazer
Tradições,
Aos milhões tens também
Tu és o Glorioso
Não podes perder,
Perder pra ninguém
Noutros Esportes
Tu fibra está presente
Honrando as cores
do Brasil de nossa gente.
À estrada dos louros,
Um facho de luz,
Tua Estrela Solitária
Te conduz!

Botafooooogooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!

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