quarta-feira, 2 de junho de 2010

SAÚDE: Vivemos numa sociedade química??

Na edição n.o. 187 da Revista Trip, em reportagem assinada por Nina Lemos, na seção "comportamento", aparece uma matéria interessante, intitulada "Super-normal", comentando o consumo generalizado do medicamento Rivotril, ansiolítico que se tornou o segundo remédio mais vendido no Brasil, na frente do Tylenol e do Hipoglós. Para se ter uma ideia, no ano de 2008, foram vendidas 14 milhões de caixas do remedinho tarja preta que agora faz a cabeça da galera "descolada". Pois é, tomar Rivotril agora virou cool, e quem tem uma crise de ansiedade, uma deprê, ou não consegue dormir, é só tomar um comprimido de "Rivô", como o remédio é agora chamado carinhosamente por seus consumidores. Detalhe: para um remédio que causa uma forte dependência, para os viciados nele, o medicamento virou uma verdadeira entidade. Bateu tristeza: Rivô nela!!!!

Como sou viciado em leitura ( e não em medicamentos), gosto da Trip, como de outras publicações, porque a revista de Paulo Lima consegue me manter antenado sobre o que a juventude (ou nem tanto)  urbana e classe média do país vem pensando ou consumindo, ou mesmo simplesmente para apontar as tendências ou modismos culturais do período. Há reportagens interessantes e muito bem feitas mesmo, além de ser possível fazer uma verdadeira pesquisa sociológica sobre muitos temas que são abordados pelo periódico, além das célebres "páginas negras", seção inicial da revista, que sempre tem uma matéria de capa sobre alguma personalidade que ganhou (merecidamente ou não) atenção da mídia.

Como exemplo de quão são interessantes as reportagens da revista e o quanto de relevante em termos de reflexão podemos fazer acerca do que é publicado, foi aquela que citei acima sobre o Rivotril. Anteriormente diagnosticados como "doentes emocionais", os usuários do fármaco agora saíram das sombras, revelando o uso em larga escala do medicamento por celebridades, pessoas do meio artístico e intelectuais. O ator e diretor Selton Mello, por exemplo, ao receber no ano passado o prêmio de melhor ator, por sua atuação no filme Meu nome não é Johnny, disse nos alto-falantes em seus agradecimentos, que agradecia não somente a todos os presentes do auditório lotado da premiação, mas também à indústria farmacêutica, ao Pramil e ao Rivotril que faziam as pessoas "ficar tão bem" (sic). Selton Mello toma Rivotril, Pedro Bial também (até pra demonstrar aquela alegria toda de palhaço midiático, meio "Neochaquinha", no BBB), Zeca Pagodinho também é adepto do medicamento, Erika Palomino diz que não vive sem ele, e inúmeros escritores, publicitários e músicos não saem de casa sem tomar seu comprimidinho, deixando sempre à disposição uma caixinha do remédio no bolso, caso a barra comece a pesar . Daqui a pouco, vão dizer que até o Lula toma do remédio!

Alçadas à condição de "mãe de muitos brasileiros", no momento em que aquieta até o mais feroz dos pitbulls, drogas como o Rivotril começam a ser usadas exageradamente em nossa sociedade, burlando inclusive à fiscalização de farmácias que exigem requisição médica para a venda do fármaco, muito em função das pressões da sociedade urbanizada, pós-industrial e globalizada que vivemos, gerando todo um clima de crise, deslocamento, desenraizamento ou aporrinhação mesmo, que nos primórdios da sociologia, na teoria de Durkheim, poderíamos definir como "anomia". A crise ou perturbação pela ausência de valores fixos que levem a uma estabilidade emocional ou a um chão onde os indivíduos possam se firmar, acaba por produzir uma nova fetichização na sociedade de consumo capitalista, forçando muita gente a, literalmente, "comprar felicidade". A indústria farmacêutica segue o rumo da indústria comum; ou seja, produz bens de consumo duráveis ou não duráveis que devem ser produzidos e utilizados em grandes quantidades, a fim de que gere lucro. Sem querer ser o mais marxista dos sujeitos (até porque não sou), entendo que a lógica do sistema capitalista, através do discurso médico-psiquiátrico, acabou por tentar "vender seu peixe", com bastante êxito, na popularização de um produto que promete ser a solução dos males modernos, que tanto produzem danos psicológicos. O consumo desenfreado do Rivotril no Brasil me faz lembrar o filme Requíem para um Sonho, de Darren Aronofski , onde a personagem Sara, interpretada pela atriz Ellen Burstyn,  mãe no filme do viciado em drogas Harry (Jared Leto), também mostra sua dependência química, ao viver entupida de comprimidos pra emagrecer ou que a façam dormir, a fim de participar de um programa de televisão.

O problema não está na nobre intenção da ciência médica de produzir medicamentos que aplaquem a dor, principalmente a dor interna, a dor da alma. O problema é quando o remédio ou o discurso sobre o medicamento se propõem a ser um substitutivo para as necessárias reações internas e naturais, que cada um tem que ter ou ao menos se propõe a reagir, diante de um sentimento ou situação de frustração, de ter chegado ao limite, de angústia, de provação, de dor. Vivemos numa realidade bastante desumanizante e perturbadora, de cobrança crescente por resultados numa "selva de pedra", que consome não só carne, suor e sangue, mas também espíritos, almas e pensamentos. Em países de primeiro-mundo, como Japão, ou em paraísos do bem-estar social, como na Dinamarca ou na Suécia, são comuns casos de pessoas que se suicidam, geralmente até em determinados períodos do ano, numa lógica macabra que revela que muita gente simplesmente não consegue "segurar a onda", diante dos dilemas impactantes de uma rotina e dia a dia cada vez mais sufocante. Imagine quem vive em São Paulo, deparando-se com o cotidiano da grande cidade, com seu monstro metálico de buzinas, congestionamentos, fumaça, barulho incessante e voo ininterrupto de helicópteros, fazendo com que muitas pessoas, em plena situação de pânico, abandonem seu carro em meio ao engarrafamento, simplesmente porque não aguentam mais. É muito fácil escutar na metrópole o coro de corpos exaustos, a voz trêmula de quem não aguentou mais o perturbador e  frenético movimento da urbe, resfolegando em voz trêmula, dizendo: "cansei!". É nesse cenário que o discurso onipresente de valorização de drogas como o Rivotril ganha tanto vulto.

Não tenho nada com a vida das pessoas e nem posso julgar como fracos quaisquer indivíduos que necessitaram prioritariamente de ajuda, e daí, aconselhados por bons profissionais da medicina ou da psicologia, agora se valem de medicamentos para conseguir aguentar o tranco dos dias de hoje, para não ter um "piti" e nem meter uma bala na cabeça. O problema que vejo e que aludi acima é quando todas as demais opções (mudar de cidade, viver no campo, mudar de emprego, casar com outra pessoa, abraçar uma religião ou seita, descobrir novas aptidões artísticas, praticar esportes, ir ao cinema, ou simplesmente encher a cara, tomando várias cervejas) são deletadas em prol de uma solução que vem por um comprimido que promete ser a saída para todos os males da alma. Isso gera um movimento perigoso de perseguição cada vez maior da felicidade a qualquer custo, nem que seja pelo vício e dependência em drogas lícitas, que pode provocar consequências efetivamente trágicas. Afinal de contas, quem não vê nos meios de comunicação, nos últimos tempos, a fila macabra de celebridades mortas por overdose de medicamentos?

Em prol do "culto ao remedinho", figuras célebres como Elvis Presley, nos anos 70, e Michael Jackson, no passado, sucumbiram por tomar remédios demais, achar que a vida passaria a ser vivida no piloto automático, atuando como um brinquedo de corda movido a medicamentos, que para comer ou não engordar precisa de um estimulante ou inibidor de apetite, para dormir um ansiolítico e para não cair em choro copioso, um antidepressivo. Talvez a falta de religiosidade ou a ausência da rigidez de valores tradicionais de outrora que valorizavam a coragem, a temperança ou a paciência, possam servir como explicação para a saída fácil procurada por tantos de resolver seus problemas pessoais na base de medicamentos. Ano passado, fiquei chocado com a morte do ator australiano Heath Ledger, na precocidade de seus 28 anos, por tomar remédios demais (dizem que o cara não conseguia dormir, e depois que separou da mulher, além de beber, vivia na base de medicamentos), e este ano, pela morte no começo do ano da jovem e bela atriz Britany Murphy,  aos 32 anos, e pelo óbito de seu marido, o roteirista Simon Monjack, seis meses depois, pelas mesmas causas: infarto agudo causado por overdose de medicamentos. E eu que vivia tomando medicamento pra dormir e antidepressivos, há um bom tempo atrás. Ai, que medo!!!

Entendo que tem muita gente boa e sensível morrendo jovem demais, devido a esse culto ao medicamento que, paradoxalmente, ao invés de fazer bem, como o propósito de qualquer remédio, no final faz muito mal. Posso estar falando besteira para qualquer profissional da medicina ou da psicologia que esteja lendo este blog, ou  parecer ingênuo para muitos que recorrem a medicamentos como forma de solucionar seus barulhos internos. Sei, sei! Não sou o sabichão e logicamente posso muito bem não compartilhar da dimensão dos problemas que incomodam e inquietam muita gente, deixando-as tão perturbadas que necessitam realmente de alguma medicação. Só digo que, pelo fato de já ter passado por experiências muito ruins na vida, e ter literalmente desabado, sei do peso de nossas escolhas e de como é difícil se reerguer, se não tivermos a mãozinha de alguma caixa de comprimidos que esteja bem próxima, ao nosso lado, de preferência na cabeceira da cama. Porém, sei também da relevância que tem um bom papo reto com um amigo, um desabafo bem chorado no ombro ou no colo de quem nos ama ou de quem a gente gosta, a confissão de nossos erros ou autorresponsabilização de nossas atitudes pra um padre, pastor ou sacerdote, pra quem exerce alguma religiosidade, o ato de dobrar os joelhos ao pé da cama, olhar para o nada, acreditar que existe algo além, e pedir ajuda ao "cara lá de cima"; ou tão e simplesmente a atenção do barman no balcão ou na mesa de bar, ou de algum transeunte disposto a escutar nossas lamúrias, quando a vida pesa, e queremos escutar na voz de Morryssey, do Smiths, o refrão: "mother, I can feel, the soil falling over my head". Se preferirem, como diria Renato Russo: "viver é foda, morrer é difícil", mas mesmo assim, prefiro encarar a maior parte dos meus problemas de cara limpa, sem ter que recorrer à solução fácil do comprimidinho, toda vez que a barra começa a ficar pesada ( e pesa várias vezes). Para os fãs do Rivô, deseje apenas sorte e felicidade na opção. Para mim, "mais uma dose, é claro que tô afim", Pois, afinal: "por que a gente é assim?".

Um comentário:

  1. EU FAÇO USO DO(RIVO)QUE ATÉENTÃO Ñ SABIA DO APELIDO....SOBRE PRESCRIÇÃO MEDICA...FAÇO TRATAMENTO DE UMA DEPRESSÃO PROFUNDA QUE TIVE EM 202..MUITO TEMPO NÊ?MAIS ETÉHOJÉÑ CONSIGODORMI SEM TOMAR 2COMP. E MAIS 4(2 DE CADA)DIFERENTE...PRA QUEM TOMAVA 22 REMEDIO DURANTE O DIA TODO TOU PRGREDINDO..ACHO JÁ TENTEI POR DIRVEÇA VEZES Ñ TOMAR E PASSO A NOITE LENDO,ASSITINDO ...OU NA NET...DEPOIS QUE FIQUEI DOENTE MIM CONVERTI EM UMA IGREJA EVANGWLICA E QUE MUITO TEM MIM AJUDADO...AINDA TENHO SIBROME DO PANICO E Ñ MIM SINTO A VONTADE PRA ENCARAR AS PESSOAS ...PREINCIPALMENTE AS QUE Ñ CONHEÇO,,,AQUI Ñ LEVARIA HORAS FALANDO COM VC. E ISSO MIM FAZ BEM MAIS AMIGO QUANDO O NEGOCIO É CARA A CARA FICA DIFICIL... SINTO MUITA ANSIENDADE E QUERO TUDO PRA ONTÉM...É DIFICIL AS (PESSOAS)NEM SEMPRE ENTENDEM AI AGENTE (EU FICO MAL)NEM SEMPRE GOSTO DE SAI...ÉMAIS DE HORA...AMO FICA EM CASA DE PREFERENÇIA NO MEU QUARTO AMO ISSSO,FAÇO CROCHER PRA MIM DESTRAI E GOSTO DE LÊR....ISSO TUDO QUANDO ESTOU AFIM...ESSE ESTOU AFIM Ñ SOU EU QUE DEFINE E O DIA ,A HORA...SÓ QUEM PASSA OU TÁ PASSANDO QUE SABE....IMFELISMENTE ESSA É A MINHA VIDA...AS VEZES TENTO MASCARAR COM UMA ROUPA NOVA,UMA IDA AS COMPRAS,UM PERFUME,MAIS DEPOIS VEM E QUANDO VEM MEU AMIGO AI DE BAIXO......TENTAR EU ATÉ QUE TENTO...TENHO PSICOLOGA,PSIQUIATRA...JÁ FIQUEI EENTERNADA....VC. Ñ SABE COMO SOFRO...TALVEZ VC. NUNCA VENHA LÊR ISSO...DAI A LIBER DADE DE SAI ASSIM FALANDO ,...FALANDO....JESUS TE ABENÇÕE SEMPRE.UMXEIRO

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