terça-feira, 21 de maio de 2013

REST IN PEACE: Morreu Ray Manzarek, eterno tecladista do The Doors

O tecladista Ray Manzarek na juventude.
Em 1991 estreava nos cinemas o filme The Doors, baseado na história da banda de rock homônima, com o ator Val Kilmer interpretando o protagonista, o cantor Jim Morrison, morto em 1971, ano em que nasci. Morrison era o frontman dos Doors, grupo musical que se encerrou logo após sua morte aos 27 anos, por uma até hoje mal explicada overdose de drogas em sua banheira, num hotel em Paris. Quando o filme saiu, eu tinha acabado de ler a biografia da banda e conhecer o trabalho deles. Recordo que eu estava voltando de um Congresso da UNE em São Paulo, chegando em casa de viagem, quando encontrei minha mãe triste, chorosa, na sala, acompanhada de parentes, e soube naquele dia que tinha morrido minha avó, vítima de um atropelamento. Lembro que pela noite, naquele clima lúgubre da perda de um parente e sozinho com meu aparelho de som no quarto e um fone de ouvido, deu vontade de escutar uma música do The Doors, a canção Riders on the Storm, com o barulho de chuva introdutório, o som dos teclados e a voz inconfundível de Jim Morrison. Além da voz do cantor, também foi ali que eu aprendi a curtir o teclado de Ray Manzarek.

Sem dúvida, Jim Morrison encarnava a banda, é seu principal símbolo até hoje, e sua voz (além de uma performance arrebatadora nos palcos) ficou para a história da música. Assim como o Legião Urbana no Brasil, a história de uma banda de rock é indissoluvelmente ligada ao seu vocalista. Entretanto, se Morrison era o coração da banda, Ray Manzarek, fundador e tecladista do grupo era seu cérebro, o motor motivador de toda a sonoridade que galgou os Doors e Morisson ao estrelato. Manzarek fez com que seu colega de banda, até então um tímido estudante de cinema e aspirante a poeta, fã de Rimbaud, pudesse se tornar um dos maiores vocalistas da história do rock. No filme do diretor Oliver Stone ele é retratado com economia de detalhes pelo bom ator Kyle Maclachlan (da lendária série de TV, Twin Peaks), mas o retrato de Manzarek no cinema é muito pequeno em relação seu legado, e talvez uma das melhores biografias de bandas de rock seja o clássico livro Daqui ninguém sai vivo, dos jornalistas Jerry Hopkins e Danny Sugerman. Lá é possível encontrar a real dimensão de cada integrante dos Doors, e entender melhor o talento e a personalidade de Ray Manzarek.

Nos teclados ele era o cara.
Manzarek morreu ontem, dia 20 de maio de 2013, aos 74 anos, vítima de um câncer, em um hospital em Rosenheim, Alemanha, acompanhado da esposa e dos dois irmãos. Eu tive a (grata) oportunidade de vê-lo tocando em 2002, quando eu morava em São Paulo, numa apresentação do The Doors of 21 Century, tendo o vocalista do The Cult, Ian Ashbury, brincando de clone de Jim Morrison, fazendo uma animada apresentação no Credicard Hall. Lá, eu vi Manzarek, já idoso, acompanhado de seu também envelhecido colega remanescente do The Doors original: o guitarrista Robby Krieger (o baterista John Densmore foi contra a reunião).  Apesar da ausência de Densmore, foi um episódio memorável e que merecia as fotos que eu não tirei, mas fica aqui o registro de um show muito bacana, feito para saudosistas e para as novas gerações que queriam escutar, ao vivo, um som que se difundiu com o filme do Oliver Stone há dez anos, mas que há trinta anos, já naquela época, soava como antológico. Ray Manzarek era o real líder da banda e demonstrou isso durante toda a apresentação do grupo, mostrando competência nos teclados, assim como mostrou talento ao interagir repetidamente com o público, mais do que o vocalista, fazendo piadas sobre uma suposta farra de velhos hippies numa Amazônia lisérgica, rodeados de drogas alucinógenas, florestas e belas índias. A turnê daquela época já revelava que, sem depender das entrevistas para justificar o retorno dos integrantes originais do The Doors, o objetivo de tocar junto com seus velhos companheiros dos anos sessenta era menos do que ganhar dinheiro e mais de se divertir, para um rockeiro de terceira idade. A imprensa já havia revelado, antes da turnê, que o grupo saía em público com o nome requentado (utilizando a expressão 21 Century ao final do logo original da banda, devido a um processo na Justiça movido pela família de Jim Morrison). Os familiares do falecido Morrison queriam, na verdade, abocanhar toda a grana da turnê dos caras e conseguiram, o que dava mais uma cara de aventura a peripércia daqueles músicos veteranos vir à América do Sul, fazer uma turnê que ia dar zero de lucro. Mas foi o que Manzarek e sua turma fizeram.

Com o The Doors, na época da formação clássica do grupo.
Raymond Daniel Manzarek Jr. nasceu em Chicago, no dia 12 de fevereiro de 1939. Um virtuose no piano na infância (apesar de preferir o basquete quando jovem, diz sua biografia), ele foi um dos maiores tecladistas da história do rock, junto com  Jerry Lee Lewis e John Lord, do Deep Purple (este também falecido este ano). É dele o riff inicial e inesquecível da canção Light my Fire, um dos grandes sucessos do The Doors e música tocada até hoje nas rádios, como uma das mais reproduzidas do século XX, assim como de singles famosos dos Doors como The End e People are Strange. Além dos Doors que o tornou célebre, seu talento pode ser encontrado em diversos álbuns solo, participações com outros músicos ou projetos artísticos alternativos desenvolvidos na música popular moderna, nos últimos quarenta anos. Ele já trabalhou com rockeiros como Iggy Pop, músicos experimentalistas como Philip Glass e com bandas clássicas inglesas dos anos oitenta, como o Echo and The Bunnymen. Casado com a mesma mulher, de ascendência japonesa (Dorothy Fujikawa), desde 1967, no The Doors Manzarek compartilhava as personas de maluco beleza, músico virtuose e homem de negócios. Ele sempre foi antenado com o som de seu tempo, e nunca dispensava uma parceria com músicos mais jovens. Não é à toa que pelo twitter, foi comum ver uma centena de músicos e celebridades postarem mensagens de luto, externando seu lamento pela perda de um músico tão extraordinário.

Rendo aqui a minha homenagem a Ray Manzarek, como a tantos outros que fizeram a minha cabeça com seu talento e deixaram como legado para meus ouvidos músicas inesquecíveis. Desejo que descanse em paz, Ray! E desejo todo o consolo do mundo a sua família. É bom salientar que o tecladista falecido deixa esposa, um filho e três netos, que tem agora a missão de honrar sua memória, divulgando sua música. Em tributo ao The Doors, de Jim Morrison e de Ray Manzarek, deixo aqui o vídeo de People are Strange, uma das músicas que mais gosto do grupo,  num tributo ao grupo realizado recentemente pelo cantor Marilyn Manson, contando com a participação de Robby Krieger e uma das últimas aparições de Manzarek, nos palcos, em 2012 :


sexta-feira, 3 de maio de 2013

FUTEBOL: Barcelona-O que aconteceu?

O Barcelona essa semana foi a cara da tristeza.
O futebol alemão sempre foi um desmancha prazeres. Na verdade, com a pelota os alemães honraram sua tradição cultural e filosófica transformando o esporte bretão em ciência. Se os latino-americanos (leia-se Brasil e Argentina) criaram o futebol-arte, os alemães deram ao futebol europeu o caráter de técnica apurada, testada em laboratório e vendida como máquina eficaz. É claro que o time germânico teve sobressaltos pelo caminho, quando sua tão aprimorada técnica não resistiu, nos gramados, aos pés de um certo Ronaldo Nazário (também chamado de "Fenômeno"), que na Copa do Mundo de 2002, que meus olhos não se cansam de lembrar, derrubou com dois chutes marcantes a muralha teutônica formada pelo corpanzil do eficiente goleiro, Oliver Khan, na final do Japão. Mas esses mesmos alemães fizeram muito na história do futebol, seja no time campeão de 1974, liderado pelos galantes passes do kayser Franz Beckenbauer, derrotando uma até então imbatível (e inventiva) "laranja mecânica" holandesa da seleção de Cruyff, como também foi a grande seleção alemã que conquistou o tricampeonato, contra a Argentina de Maradona, na final da Copa de 1990, fechando com chave de ouro a reunificação alemã com a queda do Muro de Berlim.

O competente técnico do Bayern:frieza germânica.
Eis que a Alemanha retorna às manchetes agora, na segunda década do século XXI, nas proximidades de uma nova Copa do Mundo, agora em solo brasileiro, correndo sempre como favorita, e assombrando o mundo com sua técnica e rigor nos resultados alcançados na Europa por seus dois grandes times: o Bayern de Munique e o Borussia Dortmund; que agora estão, ambos, na final da Liga dos Campeões da Europa. Ambas as equipes produziram a façanha continental de derrotar os dois gigantes do futebol espanhol e mundial, os até então consagrados Barcelona e Real Madrid, respectivamente. Em relação ao primeiro, foi impressionante como a chamada "era Messi" parece ter chegado ao seu ocaso, nas pernas de jogadores como Götze, Hummels, Müller, Mario Gomez, Özil, Schweinsteiger, que com quatro gols certeiros no primeiro jogo, como dono da casa, e com três gols no jogo seguinte, na cidade do rival, como visitante, fizeram com o que Bayern também fizesse história, desmoralizando um time até então considerado imbatível, o dream team do futebol internacional, que em 2011 humilhou o Santos de Neymar, numa goleada menos retumbante, mas tão constrangedora quanto aquela que sofreu agora o time catalão, do veneradíssimo técnico Pepe Guardiola, fora da equipe desde o ano passado. O Barcelona foi eliminado de forma primorosa na semifinal do torneio, e agora só lhe resta recolher os cacos de uma derrota que lotou de manchetes a imprensa esportiva internacional e retornar ao dever de casa (ou as suas categorias de base), para recuperar o orgulho ferido. Como diria a música do saudoso compositor paulista, Paulo Vanzolini, morto esta semana: "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima".

Enquanto isso, os jogadores do Bayern comemoram.
O Barcelona era um dos times mais festejados do final da última década. Com seu esquema tático, sua marcação "por pressão", já na saída do campo adversário, o toque rápido e sincronizado entre os jogadores sempre na busca da posse de bola, nas jogadas feitas "em carrossel", o Barcelona fez com que sua equipe espanhola encantasse o mundo inteiro, seja por ter em sua composição grande parte dos heróis da festejada Copa da Alemanha de 2010, conquistada com mérito pelos espanhóis contra  a seleção da Holanda (eterna vice-campeã em Copas); seja porque o  time da Catalunha tem em suas fileiras o grande astro do futebol mundial, o argentino mais famoso na história do esporte de chuteiras, depois de Maradona, o quatro vezes eleito melhor jogador do mundo: Lionel Messi.

Dessa vez, o craque argentino pouco pôde fazer.
Não são justas as comparações entre Messi e outros craques da história do futebol, como Pelé, Maradona ou Zico. Cada um deles teve sua estrela (e técnica) própria, e fizeram sua parte em seu tempo como ídolos, fazendo gols e armando jogadas que até hoje são repetidas à exaustão, em qualquer documentário sobre torneios mundiais e em vídeos do youtube. Não resta dúvida de que Messi é um jogador disciplinado, talentoso e eficiente, à beira da exaustão, e o que mais se elogia nele é o comprometimento com o time. Como um maestro, mas sem assumir o protagonismo da prima-dona em uma ópera, Lionel Messi arma jogadas, dá assistência a seus companheiros, dribla os adversários, arremessa, chuta e faz gols maravilhosos quando tem oportunidade, sem ser "fominha" e nem querer todos os holofotes, e as luzes dos estádios para suas brilhantes atuações. Mas a verdade é que hoje, nos últimos jogos do Barcelona, o gênio baixinho da provinciana Rosario estava começando a dar sinais de cansaço, além do efeito de lesões físicas. Que pena ver isso num jogador ainda tão jovem, que se tornou pai pela primeira vez recentemente, e que ainda necessita coroar sua carreira, como outros astros da pelota o fizeram, levando sua seleção nacional a conquistar o mais alto campeonato mundial ganhando no solo do maior adversário sul-americano, o festejado título de campeão da Copa do Mundo de 2014, além de levar a Argentina ao idílico tricampeonato mundial. Tarefa difícil, mas não impossível, para quem brilhou durante tanto tempo no Barcelona.

Vergonha:manchetes no mundo inteiro.
O Barça, verdade seja dita, precisa se recuperar de derrotas tão magníficas diante dos rivais alemães, remontando seu time e sua tática, sem perder seu brilho e genialidade em prol da mera técnica, como fazem os alemães. "Humilhados e esmagados", essa é a manchete vista no noticiário esportivo do Sport TV e Globo News, que na verdade foi divulgada primeiro pelos meios de comunicação na imprensa espanhola, mostrando lá como o orgulho catalão foi ferido com a derrota de seu  maior símbolo: sua equipe de futebol local. É importante notar que, para quem entende pelo menos de 1% de futebol, "quem não faz, leva", e no caso do Barcelona, pois mais que fosse laureado como time imbatível, teve suas fraquezas exploradas pelo eficiente treinador da equipe alemã, Jupp Heynches. Ele reativou a tradição alemã de decodificar o estilo do adversário, principalmente na desmontagem do esquema ofensivo de equipes que se valem do esquema tático de jogo em carrossel, desestabilizando os jogadores do Barcelona, assim como a seleção da Alemanha fez com a Holanda, na mítica Copa do Mundo de 1974. Se a "Laranja Mecânica" foi derrotada pela astúcia do futebol alemão, em descobrir cientificamente como furar as defesas de um time tão ofensivo, por que a mesma fórmula não funcionaria com o Barcelona? Pois é! Deu certo até demais pela goleada sofrida que milhões de olhos puderam ver pela TV essa semana, deixando os torcedores do time de Messi de queixo caído.

Até o festejado Pique fez gol contra.Consola ele, Shakira!
Inclusive, após a retumbante derrota para o Bayern, os jogadores do Barcelona ainda tiveram que ouvir uma notícia que parece piada pronta: com a saída do atual técnico, que diz que após o torneio pretende se aposentar, o futuro técnico do Bayern de Munique, já contratado, é, ninguém menos que.... adivinhem...... Pepe Guardiola!! É isso mesmo, o ex-treinador da equipe Catalã, que com sua fórmula mágica levou o Barcelona ao auge dos tablóides esportivos, agora se bandeou para o outro lado, e pretende entregar o ouro ao bandido, revelando todo o esquema tático e todas as fraquezas e furos do Barcelona, ao seu novo contratante alemão. É! Segure-se, Barça!!! O mar não está pra peixe, e, definitivamente, este não foi o ano do Barcelona! Boa sorte, Messi!


sexta-feira, 29 de março de 2013

MOVIMENTOS SOCIAIS: A grande sensação de 2013 é o Feliciano.

Protestos pela posse do deputado Feliciano.
Os movimentos sociais não estão felizes. O motivo dessa infelicidade é um jovem deputado, pastor evangélico, que tem felicidade no nome. Com toda uma balbúrdia como muito não se via no Congresso Nacional, Marco Feliciano tomou posse como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Sabe-se que, historicamente, a tradicional comissão parlamentar foi liderada por ex-presos políticos, representantes dos movimentos sociais ou por políticos antenados com as reivindicações de minorias, tais como negros, mulheres, homossexuais, estudantes e outras categorias sociais que costumam se mobilizar em torno da sociedade civil organizada. Acontece que no último dia 4 de março quem assumiu a presidência dessa comissão foi um pastor evangélico conservador, neopentecostal, dono de um discurso populista e com uma trajetória política duvidosa, egresso de uma legenda minúscula, de um partido da base do governo, chamado PSC (Partido Social Cristão). Foi desse partido que surgiu Feliciano, aproveitando-se de um eleitorado de mais de 200 mil evangélicos, elegendo-se com um discurso polêmico, com fortes conotações racistas e homofóbicas.

O polêmico parlamentar evangèlico conseguiu irritar "gregos e baianos".
Não demorou para que os movimentos sociais se insurgissem e fosse feito um grande barulho durante a posse do deputado, praticamente atravancando os trabalhos da comissão pela qual foi eleito. Segundo as regras da própria Câmara, era do PSC a vaga que cabia na comissão de direitos humanos, no momento em que se encerrava a gestão anterior, e Feliciano foi o indicado. Entretanto, assim que apareceram na imprensa e na internet, vídeos de uma pregação do deputado, como pastor de sua igreja, insultando os homossexuais, e uma polêmica declaração sua no twitter, dizendo que os negros da África tinham justificado seu sofrimento, por serem biblicamente filhos de Caim, isso foi suficiente para que se iniciasse um amplo movimento no Congresso para que o pastor renunciasse. O presidente da Câmara, o deputado Henrique Alves, do PMDB, sugeriu aos representantes do PSC que retirassem Marco Feliciano da presidência da comissão de direitos humanos; mas, respeitando-se uma decisão soberana de uma comissão da Casa, e alegando que o deputado Feliciano era "ficha limpa", o partido de Feliciano decidiu apoiá-lo e o polêmico parlamentar segue na comissão, para desgosto de muita gente.

Uma manifestação homoafetiva típica contra o deputado Feliciano.
Mas, por que se fez tanta celeuma e por que, inclusive, manifestantes foram presos por conta da posse de um deputado do perfil de Feliciano em uma das comissões da Câmara? Não existem outros parlamentares tão ou mais reaçonários do que ele? Entre seeus apoiadores, encontra-se o controvertido e sensacionalista deputado Jair Bolsonaro, inimigo declarado dos partidos de esquerda e de todo e qualquer movimento progressista, considerado um político de extrema-direita, saudoso da ditadura militar e uma das criaturais mais desagradáveis em termos de discurso, quando está com um microfone nas mãos. Em diversas entrevistas em programas de televisão, Marcos Feliciano posa de vítima, achando-se incompreendido, e como um pastor dirigindo-se para suas ovelhas eleitoras, Feliciano foca seu futuro político, ameaçando o governo da presidente Dilma Roussef, dizendo que, ao não apoiá-lo, as forças do governo correm o risco de perder votos no eleitorado evangélico. Bravata ou premonição? Valendo-se de uma vaidade extrema que chega até ao autoendeusamento, Marco Feliciano alega na TV que tem uma missão divina, e por isso foi levado até onde chegou. Ele chegou a emitir certo desdém pelo importante cargo de presidente da comissão a qual ocupa, dizendo que, antes dele, a Comissão de Direitos Humanos tinha pouca expressão dentro da Câmara. Vaidoso, carismático, arrogante ou demagogo, não se sabe bem quais epítetos cabem melhor no controverso parlamentar. Entretanto, sabe-se que até mesmo algumas instituições religiosas mais históricas, vinculadas aos movimentos progressistas, como a IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil), publicaram manifesto, exibindo seu descontentamento com a posse de Feliciano no cargo que atualmente ocupa.

Ato contra Feliciano em Copacabana.
É bem verdade que, em nosso regime democrático, o Parlamento é um celeiro de ideias e um zoológico ideológico onde aparece todo tipo de indivíduo, representantivo de uma classe ou categoria social que o elegeu. Marcos Feliciano não é diferente. Ele representa hoje, é bem verdade, um tipico eleitorado conservador, urbano, de baixa ou  média escolaridade, refratário a determinados movimentos sociais, como os representativos de gays e lésbicas, ou outros movimentos de gênero ou raça, como o movimento de mulheres defensoras da legalização do aborto ou do movimento negro e das religiãos afrobrasileiras. Está aí o grande embate que torna o deputado-pastor tão indesejável na liderança de uma das comissões da Câmara. A capacidade para o diálogo, que se cobra extremamente em funções legislativas que envolvem uma articulação e abertura política para diversos setores da sociedade, praticamente é inexistente em parlamentares com o perfil de Feliciano. Como contar com apoio parlamentar para lutas como o combate a AIDS e as doenças sexualmente transmissíveis através da distribuição gratuita de preservativos pela Saúde Pública, se o presidente de uma comissão da Câmara que trata de direitos humanos (onde a saúde está incluída) é contrário ao sexo antes do casamento?  Como defender o apoio público à pesquisa científica e ao desenvolvimento de novos medicamentos no controle de doenças e superação de enferimidades, se importantes parlamentares são contrários às células-tronco, alegando motivos religiosos? Como garantir um lar a uma criança orfã, por meio da adoção por um casal do mesmo sexo, se deputados como Feliciano combatem fervorosamente o casamento gay e adoção de crianças por essas pessoas? O problema da manutenção do deputado Feliciano na presidência da comissão de direitos humanos é que  se trata de um caso clássico do homem errado no lugar errado. 

Por mais que seja lícita a regra que elegeu Feliciano, em prol de uma sociedade democrática, que respeita a convivência entre progressistas e reaçonários, nenhum parlamentar, governante ou membro do Poder Judiciário pode utilizar argumentos religiosos para exercer atos que exigem razões de Estado e não questões de fé. Existem diversas denonimações religiosas que pregam a completa abstinência de seus integrantes da política e outras que, ao contrário, estimulam até demais que seus membros disputem cargos públicos. É o caso das igrejas neopentecostais e de toda uma bancada que se elegeu confundindo o púlpito com o plenário, e de lá saíram deputados como Marco Feliciano. Na verdade, a atuação política desses parlamentares está muito distante de seus vínculos religiosos, uma vez que a fé é utilizada apenas como um pretexto, para dar dividendos eleitorais a determinados pastores e líderes religiosos. É transformando crentes em eleitorado que políticos como Feliciano surgem e crescem na política.

O problema é que a sociedade é  plural, multifacetada e seria, no mínimo, um viés altamente autoritário permitir que parlamentares como Feliciano obrigassem um Legislativo inteiro a ceder aos seus pontos de vista. Se o parlamento é um espaço para o diálogo, que se permita o diálogo público com a sociedade, onde ambas as partes (tanto os movimentos de contestação quanto o parlamentar envolvido nos protestos), cheguem a um denonimador comum; ou, ao menos a um certo nível de respeito, onde o debate democrático seja possível.

Lágrimas de crocodilo?Com os olhos marejados:e agora, Feliciano?
Acredito que os movimentos sociais exageram ao pedir a cabeça de Feliciano, assim como creio que estejam certos em protestar por um presidente de uma importantíssima comissão da Câmara mais adequado à relevância do tema que é explorado pela Comissão de Direitos Humanos, e que seja um parlamentar mais aberto ao diálogo. Por outro lado, creio também que, mesmo debaixo de tanta controvérsia, críticas e com tanta carga negativa contrária, políticos como Feliciano merecem o benefício da dúvida e ao menos uma chance de provar, por meio de uma atuação impecável na comissão, que seus detratores estão errados. Acho bem difícil essa última hipótese acontecer, mas defendo que seja dado um prazo pequeno para que o deputado Feliciano possa mostrar que conduzirá honradamente a citada comissão. Caso contrário, se Cristo ensinou o perdão, ao menos no caso do cristão Marco Feliciano, o coro dos descontentes não perdoa!

quinta-feira, 7 de março de 2013

REST IN PEACE (Parte 1):Morreu Chorão, um dos ícones musicais da Geração Y brasileira.

Alguns sociólogos chamam de "Geração Y", todo aquele contingente de pessoas que nasceu após a década de 80 até o início da década de 90 do século passado (quem veio depois é chamado de Geração Z). Seriam pessoas que cresceram já na época da revolução tecnológica, do fim dos regimes totalitários em boa parte do mundo (principalmente na América Latina) e o término da Guerra Fria,  da abertura econômica e do progresso da informática, com o surgimento e predomínio da internet, dos aparelhos celulares e de toda uma inovação nos veículos de comunicação, até chegarmos aos tablets, I-pads e I-phones atuais. Enfim, é uma geração que presenciou a vivos olhos, enquanto crescia, o atual processo de globalização que vivemos.

Foi essa geração, em termos de música, anterior a dos meninos que nasceram no ano 2000 (mas que viu ainda criança a substituição do vinil pelo CD), quem presenciou a chegada do MP3, e que assistiu a consolidação de uma das bandas de rock nacional mais profícuas do período: o Charlie Brown Jr. Foi dessa banda, com nome de personagem de desenho animado, que ficou famoso e morreu hoje, aos 42 anos, seu vocalista, conhecido nacionalmente apenas como "Chorão". De origem humilde e com pouca instrução, o vocalista do Charlie Brown Jr. acabou se impondo como frontman, tornando-se um dos vocalistas mais requisitados em eventos da MTV, do canal Multishow e de outros meios de comunicação especializados em música. Eu não o considerava um bom letrista, e achava de uma simplicidade quase antropológica algumas rimas de letras das canções do Charlie Brown que Chorão compunha (afinal, quem é que me diz o que afinal é "tcharoladrão" da canção "Rubão", um dos primeiros hits dos primeiros discos da banda de rock santista). De qualquer forma, nos últimos dez anos percebi como a banda e seu vocalista evoluíram, buscando Chorão obter um som mais melódico e letras mais existencialistas e trabalhadas (muitas voltadas para reflexões sobre os sentimentos, experiências e o passado do vocalista). Com o Charlie Brown Jr., Chorão foi para a geração de adolescentes das décadas de 90 e 2000, o que Renato Russo foi para a geração da década anterior.

Alexandre Magno Abrão, o Chorão, foi encontrado morto na manhã de hoje, em seu apartamento, após um de seus seguranças estranhar a ausência do músico e a falta de movimento no local. Chamada a polícia, o delegado responsável pelo caso descartou a tese de suicídio, mas um pó branco encontrado no local sugere overdose de cocaína. Entretanto, apenas daqui há duas semanas saberemos efetivamente do que Chorão morreu, mediante laudo a ser fornecido pelo IML de São Paulo.

Chorão será velado no ginásio do Santos, clube da cidade de onde veio e pelo qual torceu a vida toda. Campeão de skate na juventude (daí o apelido Chorão, dos tempos em que reclamava das manobras mal feitas e tombos que tomava nas competições), ele entrou no mundo da música meio que por acaso. Sem dominar a técnica de qualquer instrumento musical, mas com muito carisma de palco e a facilidade para montar letras improvisadas, Chorão se apresentou no lugar do vocalista de outra banda, certo dia, em um barzinho em Santos, e daí veio a integrar posteriormente, com o amigo Champignon, uma das maiores bandas de rock brasileiro das últimas duas décadas. Foram ao todo dez álbuns do Charlie Brown Jr, e em todos, com formações diferentes de seus integrantes, Chorão permaneceu como vocalista, sendo reconhecido como a voz definitiva de uma banda que, assim como o Legião Urbana, com a morte de seu vocalista, deverá também se encerrar.

Eu, particularmente, não gostava muito do som do Charlie Brown. Tirando algumas letras, e algumas boas tiradas de seus dois primeiros discos, eu não via muita inovação, além de um rock meio punk, meio pop, muito parecido com outras bandas dos anos noventa, como o Green Day. Assim como a citada banda de Billy Armstrong, o Charlie Brown Jr. era um grupo com um líder carismático, um bom naipe de guitarras e capaz de estabelecer riffs e letras grudentas que reverberavam rapidamente pelas rádios. As músicas compostas por Chorão tocaram até em novelas da Rede Globo, e durante anos o hit "Te Levar" era cantado no início do famoso seriado Malhação. O Charlie Brown era uma banda que flertava bem com o marketing, e foi pelo marketing que Chorão e seus companheiros de banda foram criticados por outro grupo, tão cultuado quanto a banda paulista: os cariocas do Los Hermanos, liderados por seu eloquente vocalista, Marcelo Camelo. Diferente de Chorão, Camelo impunha uma visual mais universitário, intelectualizado e romântico a sua banda, montada com Rodrigo Amarante, que revelava influências de George Harrison e de Chico Buarque, e que explodiu nas rádios do Brasil (e do mundo todo), com a clássica canção "Ana Julia". Nada parecido com o rock  quase visceral, mas meio pasteurizado do Charlie Brown. Foi numa crítica de Camelo à banda rival, numa entrevista, em que dizia que sua banda não precisava fazer propaganda de refrigerante para mostrar estilo, que o cantor Chorão foi tomar satisfações com Camelo, na sala de espera de um aeroporto, em Fortaleza, dando-lhe um soco que virou manchete nacional. Por conta disso, Chorão foi processado e teve que pedir desculpas publicamente, além de ter de pagar indenização, por conta de seu temperamento explosivo. Na época, não se sabia que, por conta desse temperamento, Chorão ia acabar encontrando a morte.

Segundo as primeiras notícias, nos dias que antecederam a morte de Chorão ele andava bastante deprimido, meio paranoico face o consumo de álcool e outras drogas, tomando medicamentos, e reagindo mal à separação de sua ex-mulher, a estilista Graziela Gonçalves, que ocorreu no final do ano passado, após 15 anos de casamento. Segundo o que anunciou o delegado que investiga sua morte, ao ser encontrado revirado o apartamento, sem pistas de que alguém tivesse entrado, a suspeita é de que Chorão tenha entrado em surto, começado a destruir seus próprios pertences pessoais, enquanto vivia um delírio alucinado, até que seu coração não aguentou, vindo a falecer. A versão que predomina até o momento é que Chorão não "aguentou o tranco". Ele simplesmente não conseguiu lidar com seus próprios vícios, frustrações e fraquezas, e mesmo com tanta fama viu-se assolado por uma profunda tristeza e solidão. É muito triste ver mais uma velha história de um rock star que não consegue ficar em paz e acaba se destruindo.

Assim como Cazuza, Renato Russo e Cássia Eller, Chorão entra agora no panteão muito seleto das estrelas do rock nacional que sucumbiram cedo, envoltos na fama, mas também prisioneiros de seus próprios fantasmas internos, que os levaram de uma forma ou de outra, seja pela doença, seja pelas drogas, para a morte precoce. Chorão era um ídolo para a Geração Y, aquela que eu me referi no ínicio dessa postagem. Muitos jovens escutavam à exaustão suas músicas pelo rádio, internet ou por meio de clipes na MTV e não duvido nada que estejam escutando agora as músicas mais intimistas do Charlie Brown Jr., com lágrimas nos olhos. Eu respeito esse sentimento: o amor a um ídolo nem tanto por conta de sua pessoa, mas pelas coisas que ele canta; assim como me entristeci ao saber da morte de Renato Russo, há quase vinte anos atrás. Hoje, com a notícia da morte de Chorão, também fico resignado, mantendo uma solidariedade com os fãs do músico que se foi, rendendo-lhe, de certa forma uma homenagem, ao escrever sobre ele nestas linhas, reproduzindo, ao final, os versos de "Só os loucos sabem", uma das últimas canções de sucesso da banda, que tem tudo haver com o espírito poético e a busca do amor que o humilde Chorão queria imprimir no seu som:

"Eles dizem que é impossível encontrar o amor
Sem perder a razão
Mas pra quem tem pensamento forte
O impossível é só questão de opinião".

domingo, 24 de fevereiro de 2013

CINEMA: Jessica Chastain-A ruiva definitiva

A disputa das premiações do Oscar este ano promete ser uma das mais emocionantes e acirradas da história. Tudo porque, tirando o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Anne Hattaway (por sua atuação perfeita no musical "Os Miseráveis"), nas demais categorias não existem favoritos e tudo pode acontecer no Dolby Theater, em Los Angeles,  hoje, no dia 24 de fevereiro.

Agora, imagine uma bela e talentosa atriz, jovem mas madura, aos seus 35 anos, que já contracenou com os maiores astros do cinema e foi dirigida por cineastas que muitos atores disputam aos tapas, e, além disso, ruiva. O nome dela é Jessica Chastain (o sobrenome é artístico, pois o de batismo é Howard). Jessica concorre ao Oscar de melhor atriz juntamente com adversárias igualmente talentosas, como Jennifer Lawrence  ("O Lado Bom da Vida"),  Naomi Watts ("O Impossível"), Quvenzhané Wallis ("Indomável sonhadora") e Emanuelle Riva ("O Amor"). No confronto direto, eu diria que a adversária que pode tirar o prêmio de Chastain é Jennifer Lawrence, cuja atuação em "O Lado Bom da Vida" eu já comentei no post anterior. Por outro lado, Wallis e Riva competem dentro de uma curiosidade histórica: são, respectivamente, a mais jovem e a mais velha atriz a concorrer ao prêmio máximo da Academia, na 85º Edição do Oscar.

Eu tive acesso à atuação e talento de Jessica Chastain pela primeira vez ao vê-la no filme "A Árvore da Vida", de Terence Malick. Contracenando com Brad Pitt, como a esposa dona de casa e mãe de família tipicamente norte-americana, nos anos sessenta, Jessica me comoveu com uma atuação primorosa e intimista, que nos fez sentir todo o afago e amor materno. Na época ela já tinha recebido excelentes comentários, tornando-se uma espécie de "queridinha da crítica" por conta de suas escolhas e interpretações. Na verdade, com os decorrer dos filmes que atuou, ela demonstrou ser uma atriz dedicada e minimalista na escolha de seus papéis, dando um toque especial a todos os seus personagens, como a esposa do general Coriolano, ao lado do ator Ralph Phiennes, incorporando Shakespeare no cinema; ou representando o elegante e sensual interesse amoroso do ator Tom Hardy, no filme de gangsters "Os Infratores". Vale destaque para sua atuação também em "Histórias Cruzadas"( que deu o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer), quando interpretou uma peseudofútil mulher de milionário, odiada por outras mulheres, na Mississipi racista e provinciana do século passado.

Agora, o grande momento de Jessica Chastain, sem dúvida, foi com sua indicação ao Oscar por interpretar uma agente da CIA, no novo filme de Kathryn Bigelow (a mesma que dirigiu e ganhou o Oscar de melhor direção por "Guerra ao Terror"), o thriller político "A Hora mais Escura". No filme, Jessica é Maya, uma agente novata que, ao ingressar no serviço secreto após o terrível atentado terrorista das Torres Gêmeas, no 11 de setembro (que ceifou milhares de vidas, como todos sabem), dedica dez anos de sua vida a pegar o terrorista Osama Bin Laden. O filme parece uma continuação de "Guerra ao Terror", com seu tom de quase documentário, e com uma protagonista mulher no lugar de um homem, mas se a diretora Bigelow conseguiu transformar o ator Jeremy Renner em um astro, no filme anterior, aqui ela trabalhou com uma atriz completa. O filme é totalmente feito para ser conduzido por uma protagonista feminina, e Jessica Chastain consegue dar conta da responsabilidade, nas duas horas de uma película em que o espectador acompanha as buscas, fracassos, tentativas, erros e estratégias montadas pela personagem, até conseguir seu objetivo maior que é matar o terrorista saudita que assombrou o inconsciente coletivo norte-americano, durante toda a primeira década do nosso século.

O filme era para ter um nome diferente, pois se tratava apenas da caçada a Osama Bin Laden, sem ter um final definitivo, até que Bigelow foi surpreendida pela notícia da morte de Bin Laden, alvejado por forças especiais norte-americanas em Abbotabad, no Paquistão, em uma operação secreta autorizada pelo governo Obama, num episódio já conhecido historicamente por todos. A diretora recria a operação, em sua riqueza de detalhes, contando como uma mulher esteve na supervisão disso o tempo inteiro, mostrando em cenas dramáticas e de tirar o fôlego, o suspense dos soldados ao entrar de helicóptero no meio da noite, na fortaleza onde estaria escondido um dos homens mais perigosos do mundo. Fiel à narrativa oficial, o grande mérito do filme é mostrar as últimas horas de Bin Laden, do ponto de vista de quem o matou, além de mostrar a gama de sentimentos que permeava o coração de todos os funcionários da CIA, depois de anos de fracassos na tentativa de localizar e matar o terrorista. É justamente nesse processo de acerto de contas com o passado recente da história americana, que a personagem de Jessica Chastain brilha no filme.

Sua atuação mereceu destaque e indicação ao Oscar, por mostrar a metamorfose de Maya no momento em que ela ingressa de cabeça na missão de destruir Bin Laden. De uma novata relutante, que se assusta com o grau de violência, no emprego da tortura de supostos membros da Al Qaeda, numa prisão em Guantánamo e numa base no Iraque, surge uma agente experimentada, firme mas sem cair no clichê, que dá uma lição de moral num figurão da CIA, num dos grandes momentos do filme, quando ela começa a encontrar obstáculos colocados pelo próprio governo, para encontrar o autor dos atentados das Torres Gêmeas. Destaque especial para uma reunião com o Secretário de Defesa norte-americano, quando é apresentado o plano para localizar Bin Laden e o secretário pergunta quem fez o plano. "Eu fui o filho da puta que fiz esse plano", responde a inquieta agente, prenunciando o climax do filme, que está para acontecer. O grande mérito da atuação de Chastain é o de mostrar o desgaste e a ruptura emocional de alguém que acaba transformando uma missão oficial numa cruzada, em que desejos de vingança e sentimentos de cumprimento do dever misturam-se, a ponto de quebrar a sanidade de quem não esteja preparado. Não é o que acontece com Maya, que, apesar de toda a pressão e das cobranças em não conseguir localizar o terrorista durante anos, não se deixa desabar, ao menos até completar sua missão final, e dar satisfação muito mais a si própria do que a seus superiores, de que o êxito é possível numa tarefa tão complicada e perigosa.


Na noite de hoje as apostas estão lançadas e Jessica Chastain pode sair da cerimônia do Oscar premiada ou não. De qualquer forma, somente o fato de ter recebido uma indicação já lhe dá cacife para ser considerada uma grandes atrizes em atividade, na indústria do cinema atual. O fato de ser ruiva é apenas um plus que realça de charme uma artista que consegue se tornar visível não apenas pela beleza, mas pela imponência na atuação. Que venham novos papéis, novas heróinas e novos personagens, para uma tão talentosa e equilibrada Jessica Chastain. Nós, os fanáticos por cinema, agradecemos muito!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

CINEMA: Em "O Lado Bom da Vida" o bom é saber que nem sempre as coisas acontecem como pensamos.

A atriz Jennifer Lawrence é a mais nova grande sensação das jovens atrizes de cinema norte-americanas, como de todas que aparecem todos os anos, numa indústria que nunca cansa de se refazer. Com apenas 22 anos, ela foi indicada ao Oscar deste ano, de melhor atriz, pelo filme "O Lado Bom da Vida" (Silver Linings Playbook). Bem diferente da personagem que a fez concorrer anteriormente no mesmo prêmio há três anos atrás, no drama "Inverno da Alma", aqui, Lawrence participa de uma comédia dramática, onde as agruras dos personagens servem como tema para uma bem humorada estória contando de coisas ruins.

Mas como é que isso? É possível falar bem humoradamente de coisas ruins que nos acontecem, principalmente se elas se dão no aspecto afetivo? O mote principal do filme dirigido por David Russel ( de "O Vencedor") é exatamente esse: o de colocar o espectador na condição daquele segundo observador que já se passou pelo primeiro, vivendo um certo drama já vivido por ele mesmo, em situações de desemparo ou abandono. Afinal de contas, quem nunca lamentou a perda de um estilo de vida ou de um relacionamento e teve que recomeçar do zero, reconstruindo tudo de novo?

Esse é o fio condutor principal do roteiro de "O Lado Bom da Vida". Não se trata de um filme absolutamente original, pelo contrário, é até previsível (meio "feijão com arroz" para alguns); mas o que o marca em sua previsibilidade é a riqueza de detalhes que podem ser explorados no roteiro e que tornam o filme tão charmoso e interessante, como num longa-metragem de sessão da tarde que nos deixa com sorrisos no rosto. O filme trata da história de Pat Solitano Jr., um professor de história desempregado, e com transtorno bipolar, que ao flagrar a esposa em casa, transando com outro homem, entra em surto, causando-lhe consequências nefastas. Meses após o incidente, ao sair de um manicônimo judiciário, Pat é levado aos cuidados da família, especificamente de seu pai, Pat Senior (interpretado por Robert De Niro) e sua mãe Dolores ( a veterana Jacky Weaver). Recusando-se a tomar sua medicação, Pat vive em delírio, obcecado por reconquistar a mulher, mas impedido disso por conta de uma ordem judicial proibindo-o de vê-la. Sob ameaças contantes de retornar ao isolamento psiquiátrico, ele vive então situações para lá de constrangedoras, associadas com seu estado mental e nas discussões com seu psicoterapeuta indiano, que revelam, na verdade, uma imaturidade emocional angelical ou quase pueril, pois Pat ainda é um dos daqueles adultos que vive um romantismo adolescente de que tudo levará a um final feliz.

É em suas peripércias na busca do reencontro amoroso que Pat encontra Tiffany, a personagem de Jennifer Lawrence, cunhada de um de de seus amigos que é tão ou mais perturbada emocionamente do que Pat. Tiffany é uma jovem viúva, sem filhos, que ao perder o marido muito cedo, também perde o controle de sua vida, e levada pela carência perde o emprego, após ter se relacionado sexualmente com todos os funcionários da firma onde trabalhava. Pat e Tiffany se completam, mas ainda não sabem disso, e quando Tiffany conta a Pat detalhes de como se relacionava com os colegas da firma numa lanchonete, vemos uma das cenas mais hilárias (e também bastante fortes emocionalmente) do filme. Pat e Tiffany firmam pacto de amizade, onde decidem se ajudar mutuamente, dentro das paranoias de cada um, e a partir daí se desdobra toda uma bela história.

Assim como "Melhor é Impossível" que rendeu pela terceira vez o Oscar de melhor ator para Jack Nicholson e revelou a atriz Helen Hunt, também em "O Lado Bom da Vida", o casal de protagonistas apresenta uma boa química, suficiente para sólidas indicações ao prêmio máximo da Academia, caso a premiação deste ano resolva homenagear, novamente, uma boa comédia. Em ambos os filmes fala-se de doença mental (no filme de Nicholson, o transtorno era obssessivo-compulsivo e no filme atual, um dos protagonistas é bipolar e a outra, ninfomaníaca), e neles temos personagens emocionalmente perturbados, mas que vão melhorando gradativamente à medida que conhecem outras pessoas e a si próprios, obtendo sua redenção. Não são apenas Pat e Tiffany quem precisa de ajuda, pois o pai de Pat é supersticioso, viciado em apostas e vê partidas de futebol americano todos dias, sendo proibido de frequentar os estádios por provocar brigas. Um dos melhores amigos de Pat tem um casamento disfuncional, que, segundo ele, nas horas sufocantes o faz se trancar na garagem com seu I-pod, ouvindo Metallica e Megadeth, enquanto que um dos amigos que Pat fez no hospício vive fugindo do internamento, indo para a casa de seus pais. No final das contas, com as loucuras de cada um, todos querem, apenas, ser felizes.

Ora, para os que acusam o filme de ser um tanto óbvio quanto à busca de um final feliz, será que não é isso que todos procuramos? A cena em que Pat acorda seus pais de madrugada, após ler "Adeus às Armas" de Ernest Hemingway, jogando o livro pela janela, ao reclamar de seu final é uma das grandes tiradas do filme. Já passei por momentos complicados da minha vida, assim como vi amigos queridos passarem por situações semelhantes ou até piores, sentindo a experiência da perda, simplesmente para poder recuperar a autoestima e conquistar a maturidade, obtendo experiências novas. Foi assim que conheci minha esposa, por exemplo, e foi assim que muitos amigos meus obtiveram a felicidade, no momento em que souberam dar a volta por cima, e, como diz no título original do filme, conseguir "ler nas entrelinhas", as silver linings que dão toda a diferença na vida de Pat e Tiffany, no decorrer do desenvolvimento da estória.

Indicado a 8 (oito) Oscars, inclusive de melhor filme, diretor, ator para Bradley Cooper, atriz para Jennifer Lawrence, além de concorrer também De Niro como ator coadjuvante e Jacky Weaver como atriz na mesma categoria, o filme também é forte favorito na categoria de roteiro adaptado, podendo sair da noite de premiação como um dos grandes vencedores (ou compartilhar prêmios com outros filmes tão bons quanto).  Como pode se ver, não é à toa que o filme concorre em todas as categorias principais de interpretação (tanto para ator e atriz principal quanto para coadjuvantes), pois, se o roteiro trata de um simples história de amor, é a atuação dos atores que segura o filme, dando-lhe toda uma cor especial, podendo ser "O Lado Bom da Vida" o típico "filme de ator", em que seus personagens atuam prazeroamente, dando brilho em suas interpretações, provocando cenas e diálogos memoráveis, que deixam seu lugar na história do cinema. Além de linda e adequada ao papel, Jennifer Lawrence dá todo o contorno da heroina romântica, quando aparece na tela, e sua desenvoltura diante de um consagrado Robert De Niro, num divertido duelo de interpretação em que o velho ator, ao final, entrega os pontos, é de cair o queixo. Ela pode até não ganhar o Oscar, por concorrer com outras atrizes mais maduras e igualmente talentosas (como Jessica Chastain por "A Hora Mais Escura" ou a veterana atriz francesa, Emanuelle Riva, por "O Amor"), mas, com certeza, já ganhou nossos corações ao interpretar  a carente, mas adorável Tiffany. Se ainda não viu o filme, EXCELSIOR para você, meu (minha) caro(a)!

Então, se você ainda não o assistiu, vale a pena ver que "O Lado Bom..."merece ser assistido, ao menos para se ter a certeza de que o lado ruim a gente pode conhecer, mas o lado bom, muitas vezes a gente não percebe que se encontra bem debaixo de nossos narizes, além das entrelinhas. OBS: Dica para a música-tema do filme, Always  Alright, da banda norte-americana de folk e blues, Alabama Shakes, que se apresentará no Brasil no festival Lolapalooza, em março de 2013, que representa bem o espírito do filme.

POLÍTICA: Cuba, Yoani Sanchez e a patuleia esquerdista e direitista.Quem tem a razão?

(foto:jornalistasdaweb.com.br)
Causou alvoroço a chegada da blogueira e jornalista cubana Yoani Sanchez ao Brasil, nos últimos três dias, desde sua chegada no aeroporto de Recife até sua passagem pelo Congresso Nacional. Yoani tornou-se famosa a partir de seu blog, Generacion Y, em que, sob a forma de breves crônicas, relata a realidade de seu país e do povo cubano em tempos de crise econômica, desabastecimento e ausência de liberdade de expressão. O blog de Yoani já tem seis anos, e nessa época, já tive a oportunidade aqui de comentar em meu blog o que eu achava de seus escritos, estabelecendo, a meu ver, uma crítica na medida certa acerca das conquistas da Revolução Cubana, através de seu líder maior, Fidel Castro, há cinquenta anos atrás, até a realidade atual da ilha, governada por seu irmão, Raul. Não obstante as paixões que dividem esquerda e direita em campos opostos, acho que a realidade de Cuba é muito mais complexa do que os jargões e as palavras de ordem de enfurecidos militantes de partidos de esquerda ou de direita, que, sob protesto, recepcionaram debaixo de vaias a blogueira Yoani, assim que ela chegou no aeroporto.

A revista Veja, nesta semana, publicou uma reportagem tratando de um suposto dossiê,  montado por representantes da embaixada cubana no Brasil e supostamente entregue a autoridades diplomáticas brasileiras, com informações desabonadoras sobre a blogueira cubana que visita o Brasil. Acusada de mercenária ou contrarrevolucionária pelo governo cubano, Yoani foi surpreendida por cerca de vinte militantes no aeroporto de Recife, que, gritando palavras de ordem e se comportando de maneira agressiva, jogaram contra ela notas de dólares falsos. O gesto simbolizava o espírito do suposto dossiê, onde insinuava-se que a blogueira recebesse dinheiro dos Estados Unidos, de dissidentes cubanos radicados em Miami e vinculados a CIA, para desestabilizar o governo cubano pela internet, através de seu blog.

O que ocorre é que Yoani Sanchez é pouco conhecida em seu país natal. Ela é muito mais uma celebridade fora  de Cuba, ganhando fama internacional agora, devido à divulgação de um documentário, feito por um cineasta brasileiro, acerca da realidade da blogueira em seu país, relatando episódios de perseguição política e mesmo ataques diretos dos defensores do regime dos irmãos Castro. Assim, o filme Conexão Cuba-Honduras tem tudo para ser um enorme sucesso, mais por conta do alarde e das polêmicas travadas com a vinda de cubana ao Brasil, e sua viagem tantas vezes proibida, num ciclo que promete visitar outras países, divulgando o trabalho da blogueira, devido a recente decisão do governo cubano de liberar viagens ao exterior de residentes no país, flexibilizando as regras para sua locomoção, num processo de abertura política iniciado com o presidente, Raul Castro.

Alvoroço na chegada ao Brasil.(noticias.terra.com.br)
Yoani é uma mulher de baixa estatura, magra, da pele pálida e com estilo meio hiponga, com seu cabelo semelhante ao da cantora Maria Betânia. É uma mulher  aparentemente de hábitos simples, que gosta de ir à feira comprar frutas e tomar cerveja, e sem filiação político-partidária definida. Aos 37 anos, ela  é filóloga formada pela Universidade de Havana, e já trabalhou como webmaster na Suiça, no curto período em que passou fora de Cuba, entre os anos de 2000 a 2004. Retornando ao seu país, e com os conhecimentos de internet adquiridos no tempo em que permaneceu fora, Yoani começou a trabalhar no seu blog, que, ao narrar o cotidiano de pessoas comuns da ilha caribenha, e suas dificuldades num país com a economia em colapso, num regime politicamente fechado e mais caótico ainda, com reduzida liberdade de expressão, ela acabou chamando a atenção de boa parte do mundo, sendo convidada para eventos e colecionando prêmios. Nesse intervalo de tempo, a blogueira também pagou um alto custo por emitir suas opiniões, sofrendo perseguição política, sendo presa por diversas vezes e tendo seu direito de postar em seu blog bastante diminuído. Ela alegou por diversas vezes que não tinha sequer uma conexão em seu notebook para acessar a internet de sua casa, e por isso era obrigada a  trabalhar em seu blog de uma lan house, em determinados horários do dia, experimentando uma conexão lentíssima e altamente vigiada. Para muitos, Yoani acabou se tornando uma das heroínas da democracia digital.

Para mim, o grande problema da visita de Yoani Sanchez ao Brasil foi o nível de polarização ideológica gerado com sua chegada, insuflada pela imprensa nacional, pelos erros do governo na sua tibieza em tratar diplomaticamente da chegada da blogueira aqui, e pela claque dos partidos de oposição, empobrecendo o debate sobre o futuro de Cuba, e consequentemente da América Latina, tal como a discussão sobre o fim do embargo econômico mantido pelos EUA, que contribuiu para prejudicar ainda mais a fragilizada (ou arruinada) economia cubana. Yoani é acusada por seus detratores, dentre seus compatriotas, de receber oficiais da representação diplomática norte-americana em Havana e de manter contato contínuo com grupos radicais anticastristas, sediados em Miami. 

Com a chegada da blogueira:protestos (uol.noticias.com.br)
Não estamos mais num clima de Guerra Fria e as manifestações no Congresso Nacional pró e contra Yoani Sanchez apenas me remetem a um tempo passado, há mais de trinta anos, quando ainda estávamos divididos em um bloco imperialista, liderado pelos EUA e outro socialista, capitaneado pela extinta União Soviética. A repercussão da passagem da blogueira por aqui foi um marco para a oposição. Yoani foi automaticamente eleita a "musa cubana da oposição", passeando de mãos dadas pelos corredores do Congresso com o virtual candidato do PSDB à Presidência da República no ano que vem, o senador mineiro Aécio Neves. Na comitiva de parlamentares que acompanhou Yoani, na tumultuada sessão do Congresso de ontem, também estavam políticos de extrema-direita, como o reaçonário deputado Jair Bolsonaro, defendor da antiga ditadura militar no Brasil, que, oportunisticamente, paparicava Yoani como pretexto para desqualificar o governo brasileiro, defenestrar o governo cubano  e insultar a esquerda, que ele tanto odeia. O deputado ruralista e defensor dos latifundiários, Ronaldo Caiado, também estava presente no encontro. Dos parlamentares de esquerda, apenas o solitário e educado senador, Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, acompanhou a blogueira cubana, desculpando-se, talvez, pelos excessos da turba que a acolhia, tanto de um lado quanto de outro, do espectro político nacional.

Posando ao lado de Aécio no Congresso (uol.noticias.com.br)
Creio que a discussão sobre o futuro de Cuba ficou totalmente empobrecida ou até inexistente devido à espetacularização medonha da chegada da blogueira Yoani Sanchez ao Brasil. Ao invés de se promover um franco e democrático debate sobre a necessidade de apoio mundial à ilha caribenha em seu momento de crise, como também de defesa de democracia e liberdade de expressão, o que se viu foi um mero bate e boca de tendências políticas opostas, antecipando a campanha eleitoral do ano que vem. A vinda de Yoani serviu muito mais como um palanque para o PSDB e seus aliados criticarem a orientação de esquerda do atual governo petista da presidente Dilma Roussef, simpático ao governo cubano. A cobertura midiática da confusão que foi a chegada da blogueira ao Congresso, foi muito mais intensa que o lançamento oficial da candidatura da presidente brasileira a sua reeleição, feita pelo ex-presidente Lula, no evento comemorativo dos 10 anos de governo e 33 anos de Partido dos Trabalhadores, realizado ontem, em São Paulo. Em síntese, o que deveria ter sido um fato histórico relevante para as relações internacionais entre Brasil e Cuba, com a recepção não só de agentes oficiais do governo cubano, mas também de personalidades daquele país que divergem democraticamente do governo, acabou por se diluir totalmente numa chanchada de militantes, que, em sua fanfarronice insuflaram uma briga violenta de torcidas que só seria dirimida com a chegada da polícia. Triste episódio!

E daí que a blogueira cubana recebe diplomatas norte-americanos em sua residência em Havana? E daí que ela recebe alguns trocados do exterior, se a maior parte dos cubanos que vive em sua ilha também vive de dólares remetidos de fora, ou de atividades no mercado negro do próprio país, como forma de escapar dos miseráveis salários pagos pelo governo de Raul Castro. E daí que Yoani possa ter cometido a travessura de montar perfis falsos de si própria nas redes sociais, para aumentar sua quantidade de seguidores no twitter, tão e simplesmente para arrecadar mais atenção e difusão de seus posts, que são lidos pelo mundo inteiro? Acredito que quaisquer das infrações que hoje são atribuídas à jornalista e blogueira que visita o nosso país são pequenas, diante de tantas violações de direitos humanos, e tantas arbitrariedades já cometidas por regimes ditatoriais de esquerda, seja nos tempos da União Soviética de Stálin, na China de Mao, seja na Cuba de Fidel, não obstante as conquistas de sua grandiosa revolução. Ora! Já é tempo de deixarmos as paixões de lado e pensarmos com objetividade e racionalidade questões que são fundamentais para o futuro e prosperidade dos povos latino-americanos. Não dá mais para fechar o sol com a peneira, fechando os olhos para o anacronismo e atraso do governo cubano, e sua necessidade de modernização. Assim como, os atuais presidentes, Barack Obama, e Raul Castro, devem sim buscar um entedimento histórico, a fim de extinguir por definitivo o embargo econômico entre os dois países, para que enfim os ares no Caribe possam ser melhor respirados. Somente dessa forma é que a viagem de Yoani pode fazer algum sentido. Enquanto isso, dou meu recado para o governo e para a oposição: deixam Yoani viajar! Afinal, essa mulher quer somente experimentar uns dias emocionantes de um passeio global onde pode conhecer novas pessoas, culturas e novas tecnologias. Boa viagem para você, Yoani!!

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?