sexta-feira, 3 de abril de 2009

LULA & OBAMA NA CONFERÊNCIA DO G20:É namoro ou amizade?

O atual bafafá da política internacional é a "rasgação de seda" flagrante do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama para o presidente Lula, na conferência dos vinte países mais importantes do mundo (o G20), realizada ontem, dia 2 de abril, em Londres. A reunião, convocada para discutir a crise financeira mundial, antes de seu início, parecia mais um encontro de camaradas, com direito a brincadeiras, tapas nas costas, risadas, brincadeiras, e poses para fotos. Parecia mais um encontro de ex-colegiais numa festa de aniversário da turma ou uma roda de bate-papo diante do churrasco, após uma pelada de futebol. A descontração, a intimidade e a desinibição mais evidentes e impressionantes, foram justamente do recentemente empossado presidente norte-americano e o presidente brasileiro, e contrastavam com o sentimento global de medo, insegurança e ansiedade diante de um incerto e desolador quadro de colapso das finanças mundiais, com onda galopante de desemprego, recessão, quebradeira de empresas e bancos e encarecimento de produtos.

Filmados pelas câmeras de TV do mundo inteiro, o que ganhou mais destaque na mídia brasileira, do que a própria conferência, foi o elogio espontâneo conferido por Obama a Lula, no encontro dos dois no evento. Se o presidente brasileiro já se mostrava bem à vontade, e andava de braços dados com o presidente da França Nicolas Sarkozy (parece que a visita dele ao Brasil, acompanhado da estonteante primeira-dama Carla Bruni, o sol da Bahia e a caipirinha fizeram muito bem ao presidente francês), a cena posterior com a chegada de Obama parecia o reencontro de velhos e queridos amigos. Lula não disfarçou o contentamento de sorriso largo, e recebeu o novo "amigo" norte-americano com direito a longos abraços e amistosas conversas de compadre (naturalmente acompanhadas de perto pelo intérprete oficial do Palácio do Planalto). Ao apresentar Lula ao secretário do tesouro americano, Timothy Geithner, Obama deixou sair um comentário elogioso típico dos brothers negros do bairro do Harlem, quando reconhecem um parceiro ou um bom chapa ao reencontrá-lo. Foi o comentário do "sangue bão": Obama referiu-se a Lula como "this is the man"(esse é o cara), "I love this man", dizendo ao secretário do tesouro, que ele estava falando com "o político mais popular do mundo". E ainda completou a amigável brincadeira, dizendo que Lula deveria ser mais importante que ele, Obama, por ser "mais boa-pinta".He,he,he,he,he,he,h,e. Ué? Alguém não achou graça??

Imagino o senador Artur Virgílio do PSDB, inflamado crítico do governo, assistindo o episódio na TV e cuspindo na hora o cafézinho que tomara em seu gabinete, afirmando: "Obama tá dizendo isso porque não é brasileiro". Que o diga então a parcela do eleitorado brasileiro antilulista (especialmente aquele majoritário sediado em São Paulo, por que será?), que se não pulou de raiva pelo elogio rasgado a nível planetário de Obama a seu maior desafeto, deve ter feito coro junto aos parlamentares de oposição no Congresso, fazendo desdém do elogio do presidente norte-americando, e afirmando em tom impessoal:"ele tava apenas brincando". Que será que vai dizer o Diogo Mainardi? Tô me coçando pra saber! Bom! Pelo que eu saiba, ele não gosta de Obama também! Na verdade, acho que o nobre articulista da Veja não gosta de ninguém "pop" que não seja ele mesmo. É o "meio bronzeadinho" sujo (como disse Berlusconi, da Itália, presente no evento) falando da mal lavada "anta" do Mainardi. Aguenta essa Revista Veja!

Na verdade, desde o primeiro encontro oficial entre Lula e Obama em Washington, no mês passado, havia ficado mais do que evidente a mútua simpatia entre ambos. Lula e Obama naturalmente tem histórias diferentes, mas ambos são produto de seu tempo, sendo autênticos representantes de transformações extraordinárias no processo político global dos últimos tempos, e fruto do amadurecimento da democracia e da nova consciência despertada no eleitorado. Há pouco mais de vinte anos atrás, em plenos anos oitenta do século passado, seria inconcebível ou mesmo loucura considerar que um iracundo torneiro mecânico barbudo, líder de um partido de sindicalistas de esquerda, chamados na época de radicais ou de "xiitas", e um negro, filho de um queniano, pudessem ser, respectivamente, presidentes de uma nação de dimensões continentais e passado autoritário e populista como o Brasil, e da maior potência econômica, bélica e política, da mais poderosa nação do planeta. É, foi um avanço e tanto!

Emblemática e digna de nota na imprensa nacional foi, não apenas os comentários sobre as impressões de Lula, acerca do primeiro encontro do brasileiro com o presidente norte-americano na Casa Branca, mês passado, mas também o simbólico gesto de Lula, feito naquela ocasião, ao segurar com uma das mãos o peito de Obama, desejando-lhe sorte e sucesso em sua administração, aconselhando-o a "ouvir seu coração". O gesto, apesar de ser precipitadamente retratado por alguns como uma espécie de "viadagem" sentimentalóide ou pura demagogia, na verdade sintetiza a forma como ambos os presidentes se relacionam entre si e com o povo ao seu redor. Lula e Obama podem ser taxados de serem populistas, mas não o são por seus simples atributos pessoais, uma vez que carisma pode ser confundido com populismo, toda vez que o detentor dessa característica moral comporta-se como mais um do povão.

Longe dos gestos requintados, professorais ou academicistas de um Fernando Henrique, ou menos que "um Sartre", mas muito mais comportando-se como um "encanador"(como se referiu desdenhosamente a viúva do jornalista Roberto Marinho, na primeira eleição que Lula concorria com FHC), o atual presidente brasileiro popularizou-se ou tornou-se a liderança mais popular do mundo, como apregoa Obama, justamente por manter em sua postura condutas avessas ao protocolo tradicional dos chefes do Estado. Lula usa frases feitas, é claro, mas estas condizem muito mais a um repetitivo cacoete de alguém que procura se expressar da forma mais direta e clara possível ao seu eleitorado ( e ele consegue isso como ninguém), do que a um discurso pronto arquitetado por marqueteiros. Se Lula fosse artificial não teria vingado sequer como liderança no sindicato. Da mesma forma, Obama manifestou ter personalidade semelhante, seja pelo bom humor, pela boa lábia ou pela humildade. "Nunca antes nesse país" um presidente brasileiro foi tão bem elogiado pelo líder de uma grande potência.

Em seus traquejos, virtudes e erros, Lula e Obama firmaram-se como líderes não apenas como personagens já consagrados nos livros de história por sua impressionante trajetória pessoal, mas também pela sua inegável capacidade de cativarem seus interlocutores, utilizando a simplicidade da conversa informal como eficaz arma de retórica política convincente. Ambos são hábeis e ágeis comunicadores, muitas vezes falando em seus discursos de improviso, cultivados pela genuína convivência com as camadas populares, que lhes deram vivência e aguçada articulação política, durante o percurso de suas vidas. Lula e Obama nem sempre seguem a orientação de seus assessores, colhendos os frutos e dividendos políticos de suas opções, como também pagam o preço de suas gafes eventuais (vide a repercussão da declaração feita por Lula, dias antes, diante de um estupefato Gordon Brown, primeiro-ministro britânico, ao atribuir à crise mundial a um bando de "banqueiros brancos de olhos azuis", num suposto racismo às avessas. Olha o que tu falas, Lula!!!).

Agora o que importa mesmo saber depois de tantos afagos, é se a simpatia cultivada naturalmente como um "amor à primeira vista" entre os dois presidentes, vai ser revertida em benefícios para a nação e para o povo brasileiro por meio de medidas menos protecionistas por parte do presidente yankee. Não podemos esquecer que Obama está a serviço de seu país e dos interesses de seus empresários, investidores e produtores, naturalmente vinculado (como deve estar) plenamente aos interesses nacionais. Não acredito que a amizade entre esses presidentes fará ceder um milímetro a intransigência norte-americana quanto à abertura das importações e o fim das reservas quanto ao etanol brasileiro. Ao mesmo tempo foi dada uma trégua para Obama, em função da inegável e evidente responsabilidade a que ele está submetido, em virtude de ter que carregar nas costas o fardo de ter de ajustar as contas globais, sob pena do cataclisma absoluto, em função de um legado maldito herdado por seu antecessor. Como se não bastasse, Obama tem que ligar com guerras, o combate ao terrorismo internacional, a necessidade de reparação da imagem dos EUA no cenário internacional, e ainda tem que aguentar as pressões internas e externas quanto ao anacrônico e pesado bloqueio econômico ainda imposto a Cuba. Obama não tem tempo para a América Latina, e nem sei se terá, mesmo que consiga se eleger para um segundo mandato. Creio que o máximo que podemos esperar dele em seu carisma de figura histórica, é livrar o mundo do colapso econômico ( se conseguir), além de sua sincera cordialidade.

O fato de ter recebido um elogio do presidente americano de fazer corar, e que o faria ficar sem dormir de tanto orgulho e excitação, não significa necessariamente que Lula esteja imune à crise. Pelo contrário, um dos traços mais marcantes da globalização é a sua lógica de contrastes entre o global e o local, e, de forma bem dialética, quanto mais a crise cresce, mais a popularidade de Lula sobe entre seus pares nas relações internacionais, pela postura do presidente brasileiro de não mostrar abatimento, mesmo com uma economia precária como a brasileira, diante de consagradas potências mundiais presentes no G-20; ao mesmo tempo que seus índices de aprovação no Brasil começam a apresentar desgaste, revelando a dificuldade que terá o mais prestigiado presidente da história nacional de eleger sua sucessora, sobretudo num dantesco ambiente de crise econômica. O tempo não é para deslumbramentos e Lula sabe disso.

Se uma coisa podemos atestar como legado do governo Lula foi, sem dúvida, o sucesso da diplomacia presidencial, fazendo com que uma outrora "república das bananas" fizesse jus ao tamanho de seu continente, merecendo destaque na política internacional. Sob os auspícios do governo Lula, o Brasil deixou de ser um país apenas reconhecido pelo antológico futebol no cenário mundial ou pelas belas mulatas, mas também se revelou um franco e combativo candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Hoje, é impensável e inconcebível, no contexto da globalização, realizar qualquer fórum mundial sem a presença do presidente brasileiro, e pegando carona, seu tímido vizinho argentino, nas discussões de temas caros à humanidade e necessários para a segurança e estabilidade globais. O Brasil é um país rico, eu sei, mas com inúmeras deficiências como se apressa em dizer a oposição; e Obama, por mais negro ou simpático que seja, ainda é um representante do imperialismo yankee e da burguesia internacional, como apregoam os representantes da extrema-esquerda, conforme o virulento discurso da aguerrida e destemidade ex-senadora Heloísa Helena, do P-SOL. Mas, permitindo-me um rasgo nacionalista e uma plena manifestação de orgulho nacional, mesmo sob pena de pieguice, é muito bom ver Lula ou qualquer presidente brasileiro na mesma condição, divindo espaço na foto, sentado, ao lado da rainha da Inglaterra, e tendo o presidente americano em pé, bem atrás, como numa fotografia da seleção dos 20 mais importantes, onde os craques ficam agachados e bem na foto, justamente ao lado dos melhores artilheiros. Inveja mata, FHC! E para todos os críticos do presidente brasileiro, que na campanha de 89 chamavam o cara de analfabeto e objeto de vexame para o Brasil caso assumisse a presidência, não deixa de ter um gostinho de "cala a boca" ver o quanto o atual presidente brasileiro é respeitado, mesmo não tendo feito faculdade na USP, pós-graduação na Sorbonne e nem falar quatro ou mais idiomas.

O Brasil ganhou respeitabilidade internacional pelo fato de ter seguido à cartilha da economia global, mantendo uma política econômica interna de austeridade, investindo nas exportações, regulando o capital, mas mantendo a personalidade, sem se deixar subjugar pelos desmandos dos bancos internacionais e nem ter gastado muito, como outrora fizeram milhares de vezes os governos anteriores. Enquanto o capitalismo no berço dos neoliberais naufragou, pela ganância de seus próprios investidores no famigerado governo Bush, o governo brasileiro não cometeu irresponsabilidades como os argentinos e nem comprou brigas desnecessárias com parceiros raivosos no continente, como Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai, e estreitou seus laços com potências emergentes como a China, os países árabes, além de manter um pé na União Européia, com uma relação mais do que proveitosa com a França. A chegada de Obama ao poder apenas revelou-se uma cereja no bolo, num histórico de relações que transpôs em muito os ritos protocolores da cordialidade, uma vez que até mesmo com Bush em suas trapalhadas, Lula soube tirar proveito mantendo uma boa relação, prosseguindo com laços comerciais intactos, imunes à crises, que só tenderam a se fortalecer.

Podem me acusar de ser "lulista" ao extremo ao estabelecer aqui meus comentários acerca do peculiar elogio feito por Obama ao presidente brasileiro. Mas retruco, dizendo, nessa altura do campeonato, que quem é mais lulista é Obama! This is the man!

Um comentário:

  1. obama resolveu os problemas does estados unidos que eram muitos, e o brasil sem problemas o lula arranjou um monte

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