quarta-feira, 22 de abril de 2009

MÚSICA: Nunca julgue um livro pela capa!

"Nunca julgue um livro pela capa!" É através desse antigo adágio popular que eu inicio meu comentário em nossas conexões musicais, tratando talvez de um maiores fatos de 2009 no mundo da música. É, o ano não está nem na metade, mas eu me arrisco a dizer, contra todos os prognósticos, que nunca vi manifestação tão bela, tão encantadora, e tão surpreendentemente comovente, como a apresentação da escocesa Susan Boyle, no programa de calouros inglês Britain's Got Talent (assemelhado ao programa Ídolos, com versão produzida aqui no Brasil), ocorrido semana passada.



A primeira vez que ouvi falar da mulher foi através dos jornais, já que a notícia pipocou no mundo todo, e depois em revistas e na internet. Hoje, animei-me a ver a apresentação no Youtube, e o resultado é isso que você vê ao lado, no vídeo selecionado, que deixei à disposição dos leitores do blog.



Pieguiesmos a parte, vocês hão de convir ao ver a apresentação, que, de fato, a estória foi comovente. Como num bom conto de fadas materializado na vida real, um patinho feio, uma verdadeira "Betty, a Feia" britânica, arrasou, matou a pau, encantou e surpreendeu a todos, numa apresentação impecável, digna de ser vista e revista várias vezes. Sim! Podem me chamar de sentimentalóide, mas a verdade é que chorei à beça, emocionei-me francamente, senti mesmo um arrepio, quando vi pela primeira vez esse vídeo. Chorei de verdade, repito, e não por pieguismo, mas sim pela constatação de que num mundo tão caótico e de coisas tão feias, a singeleza ainda existe numa bela voz!



Por falar em feiúra foi isso o que mais surpreendeu na apresentação de Susan. A caloura que se apresentou no programa era uma típica pobre coitada, vítima da vida e das circunstâncias, num bom roteiro de filme de sessão da tarde, no velho clichê da autossuperação. Mas a verdade é que os clichês existem pois reproduzem uma realidade que se repete. Tem muita gente por aí com talento, com conteúdo, com beleza moral e artística, verdadeiros diamantes brutos ou flores por trás de cactus prontas a desabrochar, desde de que se dê uma oportunidade. Viva a musa da beleza interior!! Como diriam os comediantes Vesgo e Silvio do Pânico na TV. Pois, desta vez, a feia conseguiu superar até as anedotas. A feíura de Susan foi compensada pela beleza do óbvio, da grandeza inestimável da alma humana em toda sua singeleza de humildade, calando todos aqueles que riram mesmo antes da mulher abrir a boca. Sim! Porque Susan é feia e desengonçada mesmo, e nenhum homem no seu perfeito juízo, ou mesmo com doses cavalares de barris de whisky escocês, iria encarar uma mulher dessas, antes de ver do que ela seria capaz. Pois a feia Susan mostrou que na verdade é bela, muito bela.



Susan Boyle é uma senhora de 47 anos, desempregada, sozinha na vida e depauperada, vivendo num vilarejo perdido no mapa na Escócia, sem nunca (segundo ela) ter tido um namorado, com dificuldades de aprendizado na infância por falta de oxigenação no nascimento, e que a única coisa que tinha a oferecer era sua voz, e que voz!! Quando chegou ao palco do Britain's Got Talent, Susan chegou a ser desdenhada de longe pelos jurados. Assim como aqui no Brasil, no programa semelhante "Ídolos", apresentado pelo SBT, onde jurados como Arnaldo Saccomani detonavam os candidatos de forma tão vergonhosa que faria corar o Chacrinha ( para alegria dos interessados num freak show de calouros), os jurados do programa inglês quase se contorciam de rir, ao ver entrar no palco aquela senhora gorducha, cabelo desalinhado, vestido bege quadrado, papada flácida, sobrancelha de dois dedos e aquele sotaque de interior que denuncia um caipira a cem metros de distância. Esperava-se na audiência um vexame cabal. Mas o que veio depois é a prova de que Deus existe e que o Espírito Santo se manifesta nas horas e lugares mais inusitados. Como um anjo descido dos céus, foi só Susan abrir a boca para começar a cantar a primeira nota da canção I dreamed a dream, da intérprete Elaine Page, para que o teatro do programa quase viesse abaixo.

A voz límpida, cristalina, de afinação perfeita e empostação que fariam corar uma cantora de ópera, fez com que Susan fosse aplaudida de pé, e arrancasse lágrimas ao invés de gargalhadas dos jurados, outrora detratores, agora convertidos à condição de fãs. É, pois uma voz daquelas converte até o mais impiedoso dos infíeis, faz chorar até um caminhoneiro, e mesmo quem não entende patavina de inglês, fica comovido pela beleza da melodia cantada pela feiosa escocesa. Susan conquistou com seu canto não apenas os jurados, mas o mundo, com convites para cantar em diversos programas, culminando com uma viagem sua aos Estados Unidos, onde ela irá se apresentar no programa da megaapresentadora Oprah Winfrey. É a glória! Ó Deus! Ó glória!

A estória de Susan me remete a um famoso musical britânico, transformado em filme de 1998, dirigido por Mark Herman, chamado Little Voice (apesar de aqui, ter recebido em vídeo o insosso nome de "Laura-nasce uma estrela"). Lá, a protagonista do mesmo nome, interpretada pela cantora Jane Horrocks, faz juz ao apelido de "pequena voz", por ser uma introvertida garota, feia e desengonçada, que quase não fala, trancada no quarto da casa onde vive com sua alcóolatra mãe víúva, num subúrbio londrino, escutando discos antigos, dos cantores prediletos de seu finado pai. Um belo dia a garota é descoberta por um empresário musical de quinta categoria, namorado recente de sua mãe, que fica surpreendido com o talento e a beleza da voz da moça ao ouvi-la casualmente cantar. E o patinho feio transforma-se numa grandiosa estrela.

Da mesma forma, penso ser esse o destino da gorducha Susan, torcendo para que ela não seja moída pelo oportunista e ganancioso sistema capitalista da indústria musical. Entretanto, sem quere predizer o futuro, não há hoje quem não se comova, por mais insensível, chato ou ignorante que seja, com essa unanimidade que é Susan Boyle! Que Deus te abençoe Susan! Que você possa cantar ainda por muitos e muitos anos e (en)cantar as belezas da vida com sua voz de rouxinol. Agora você já pode arrumar um namorado, apesar de não ser eu o felizardo! I dreamed a dream!

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