"Quem dera, pudesse todo homem compreender, oh mãe, quem dera! O super-homem venha nos restituir a glória. Mudando como um Deus o curso da história: por causa da mulher!". É ouvindo a célebre canção de Gilberto Gil que comento esse dia especial para todas as mulheres do meu Brasil varonil. Quer dizer, não só apenas do Brasil, da América, do mundo, do planeta. Como seres temporais que somos, a humanidade adora eternizar uma data (e o brasileiro aproveita pra fazer um feriado!) e hoje, 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher, um marco naturalmente para o movimento feminista e todos os segmentos engajados da sociedade civil que apoiam as lutas de um gênero durante séculos tão secundarizado, minimizado, e subjugado pelo machismo, chauvismo, patriarcalismo e todos os "ismos" que você permitir do gênero oposto: nós, homens! Nós, essas bestas truculentas e às vezes, insensíveis, mas que as mulheres não podem viver sem. Nós, a quem elas tanto amam, seja como pais, irmãos, primos, tios, sobrinhos,amigos, namorados, maridos, amantes, colegas de trabalho, sala de aula ou patrões. É, as mulheres nos adoram, apesar de tudo, e já as sacaneamos tanto!!!
Nesse dia especial, tomo a liberdade de comentar curiosos artigos que saíram na edição dominical da Folha de São Paulo de ontem (7 de março), no Caderno Mais, contando com dois extensos artigos escritos, respectivamente, pelo filósofo Renato Janine Ribeiro, da USP e pela professora da PUC/SP Lucia Santaella. Ambos comentam a polêmica suspensão pelo CONAR da propaganda da cerveja Devassa, após aparecer o comercial mostrando a socialite e dublê de atriz Paris Hilton, em poses sensuais, erotizando a já erotizada relação que nós, homens, fazemos entre mulher e garrafa de cerveja. Digo isso porque, de fato, em nossa safadeza mental, que deram vazão a tantas "dancinhas da garrafa", associamos a garrafa de cerveja a um instrumento fálico, e é por isso que vemos tantos comerciais envolvendo mulher bonita, das quais a atriz Juliana Paes é uma das grandes musas. Ou ninguém se lembra da propaganda daquela cerveja que se dizia que era: "a boa"???
Mau gostos a parte, permitam-me analisar os comentários de ambos os intelectuais que escreveram para a Folha acerca do assunto. O professor Janine Ribeiro questionou a atuação tardia do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) porque em outros casos polêmicos de "mulheres-garrafas", o órgão não se manifestou, e agora, numa propaganda que chega a ser até trivial, cria-se uma decisão que, no âmbito das feministas, pode até ser uma conquista. Vejamos bem! Trata-se afinal de erotismo ou sexismo? Ribeiro cita um autor árabe para dizer que o erotismo emana de um corpo velado: o que conta é o ato de "imaginar pelo som das joias se chocando, pelo perfume, pelo movimento do corpo andando", enfim, para o filósofo paulista: "erotismo é imaginação".
Concordo em parte com o argumento do professor Janine Ribeiro. Entretanto, fico a imaginar a velha discussão entre os limites do que é erotismo e o que é pornografia, ao pensar na polêmica (e suspendida em alguns países), propaganda da cerveja Guinnes, uma das mais tradicionais cervejas do mundo. Para as minhas horrorizadas leitoras feministas, aí vaí o link da propaganda para que fiquem à vontade para manifestar sua opinião: Propaganda Cerveja Britânica Após verem o vídeo, questiono se a vulgaridade do comercial estrelado por Paris Hilton é superior a certas barbaridades que vemos por aí, em prol de uma suposta liberdade de expressão, liberdade de mercado, ou ânsia publicitária de ganhar dinheiro mesmo, às custas da exploração do corpo (e da dignidade) da mulher.
Nesse sentido, no mesmo jornal, vem o artigo levantando outra tese, da professora Lucia Santaella, comentando que a decisão do CONAR de suspender a propaganda da cerveja Devassa, "deu até no New York Times". A professora comenta que o CONAR levou em conta na decisão as denúncias da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que considerou a propaganda "sexista e desrespeitosa". Mas, peraí! Antes que eu continue! Não existe toneladas de peças publicitárias pelo Brasil afora que podem indicar ser tão sexistas ou desrespeitosas tanto?? Ou será que a publicidade ou as músicas do grupo Calcinha Preta são pérolas de elogio à dignidade feminina?? A professora da PUC cita a experiência envolvendo publicitários alemães de marcas de cerveja, que ao virem ao Brasil ficaram impactados com o forte grau de sexismo e a frequente associação de cerveja com mulher, nos comerciais divulgados pela publicidade brasileira. Disse ela que segundo a preferência estilística dos publicitários germânicos, eles preferem enfatizar em seus comerciais a origem natural dos ingredientes da bebida, ou o prazer socializador da cerveja, com comerciais onde amigos bebem juntos ( o que é comum também na nossa publicidade). Ah, tá! Até concordo com os argumentos, mas também penso que num país latino-americano como o Brasil, com sua sensualidade tropical e um suposto "liberalismo de costumes"(tirando o episódio da minissaia da Uniban), o exibicionismo das passistas e modelos nos desfiles do Carnaval carioca, e as roupas sumárias de nossas dançarinas de forró e axé-music, creio que o pito dado pelo CONAR a senhorita Paris Hilton foi até pesado demais!
Não sou fã da vulgaridade, apenas me excito com o erotismo, como é a proposta de qualquer peça ou manifestação artística que o tenha o próposito de erotizar. Mulher de lingerie é erótico, mas apresentá-la mostrando a bunda já dá sinais de vulgaridade.Voltando ao texto de Janine Ribeiro, ele disse que durante décadas a revista Playboy no Brasil estrelava suas capas com atrizes brasileiras nuas, e que agora a dinâmica é colocar ex-integrantes do programa Big Brother. Concordo, posso até dar uma espiada, mas não gasto meu dinheiro com isso! Porém, Ribeiro acrescenta um argumento interessante: não se trata mais de simplesmente considerar que o corpo da mulher tornou-se um objeto (no caso, um objeto à disposição da fetichização do mercado capitalista); mas sim de que também através do corpo, a mulher que posa nua exerce uma certa relação de poder através do desejo (poder econômico, principalmente, já que muitas turbinam suas carreiras ao tirar a roupa). O problema não está em se despir (tese de Janine Ribeiro), mas sim que o poder obtido com a fetichização do corpo feminino não é universal e nem majoritário, pois ao mesmo tempo em que atrizes e "big sisters" tiram a roupa diante das câmeras, faturando uma boa grana com isso, milhares de mulheres são despidas à força, atacadas sexualmente pelas ruas, sem ter a menor condição de defesa. Aí sim, a erotização deixa de produzir poder, e produz violência.
Acredito que o erótico perpassa a relação entre os gêneros e pode ser difundido tanto de homens para mulheres, quanto vice-versa. Garotas adolescentes suspiram ao ver as fotos e o torso nu de jovens galãs como Robert Pattinson e Taylor Lautner, da série Crepúsculo e Lua Nova, assim como o ator pornô Alexandre Frota, e alguns jogadores de futebol, fazem sucesso em capas de revistas gays. O erotismo não é uma qualidade apenas feminina, apesar de durante séculos o corpo da mulher ter sido tão explorado, principalmente na pintura. Retorno à discussão da vulgaridade por acreditar que comerciais como o da cerveja Devassa podem pecar pela falta de seu principal propósito: o erotismo, rendido à vulgaridade.
Sim, pois detesto mulher vulgar! Sei que muitos homens (e amigos meus) gostam do estilo de "mulher pistoleira", daquelas que está escrito na testa: "sou uma bandida", ou que se valem da vulgaridade como um certo exercício de poder (vide Foucault, em História da Sexualidade). Ok,ok!Gosto não se discute, mas na minha preferência por garotas mais "sérias"(digamos assim), tipinhos nerds ou meio indies, num tesão pueril a la Zooey Deschanel, não deixo de ver a dimensão do erotismo muito mais enfatizada por detrás da suposta pureza, daquilo que está por se descobrir, por ser desvelado, e aí é que esta, a meu ver, a lógica de todo o desejo que leva à inteligência da mensagem erótica. Algo é erótico por ser espontâneo, por ser convidativo, por despertar a curiosidade, até mesmo um certo voyerismo, e essa é uma das qualidades encantadoras do gênero humano, especialmente das mulheres, quando querem, sinceramente, conquistar um homem. Aí sim acredito que, de fato, as mulheres se mostram mais uma vez superiores, aí sim elas se valorizam e são mais valorizadas, pois não adianta em nada (e, perdoem-me as feministas) se a mulher só disputar com o homem melhores salários, melhores condições de trabalho, melhores oportunidades, os mesmos direitos, se também ela não afirmar sua feminilidade e sua supremacia sobre o homem a partir do encanto, a partir do desejo. Mulheres são encantadoras porque são sensuais, porque se valorizam, porque apresentam, muitas vezes, uma autoestima bem maior que a dos homens, e sabem do valor que seus corpos (e suas almas) tem no denso imaginário masculino.
Gosto de mulheres porque são mulheres, ou seja, não são apenas fêmeas, de um sexo oposto, que por um destino da natureza, devemos transar e reproduzir, mas sim porque o encanto erótico da mulher não se prende apenas ao coito, ao acasalamento. Mulheres encantam porque conseguem nos deixar, homens, extasiados, pelo seu mero contato, pelo seu cheiro, forma de deixar cair os cabelos, sorrisos, forma de andar, pelos trajes, maquiagens e adereços que usam. É nisso que reside o erotismo, e não tem nada haver com vulgaridade. Creio ser possível fazer comerciais sensuais, publicidade de bom gosto, eroticamente bem traçada, valorizando a mulher em seu encanto erótico, e não a reduzindo a um mero pedaço de carne. Homem gosta sim de mulher bonita, homem quer sim sentir desejo e tesão por uma mulher que ele ache gostosa, mas nem por isso ele quer que simplesmente as mulheres saíam tirando a roupa por aí, imitando a atriz pornô Monica Mattos ou a veterana Cicciolina. Não gosto da Paris Hilton porque acho ela sem graça, até cômica nos seus trejeitos desajeitados de femme fatalle, mas acho que a decisão do CONAR pegou mais pela pessoa que estava estrelando o comercial (uma figura crônica nos tablóides, recordista de escândalos, que já apareceu na internet transando com o namorado e que adora aparecer), do que propriamente pelo caráter "sexista e desrespeitoso" da peça publicitária, atribuído pela nossa Secretaria Especial de Mulheres.
Pois é! Mulher pra mim não é só uma gostosona em propaganda da cerveja, sem dúvida, mas como todo homem gosto (e acredito que toda mulher goste de que o homem goste) de ver uma mulher e acha-la gostosa. É por isso que as propagandas de cerveja adoram colocar mulheres como protagonistas. Afinal, se mulher é gostosa, cerveja também é; portanto, por que não associar duas boas "coisas" da vida? O problema não é associar mulher ao tesão, mas sim transformar a mulher em coisa em prol desse tesão. É nisso que entendo quando o movimento feminista acusa as propagandas de serem sexistas; mas, nas propagandas de perfume, já é possível ver o belo ator britânico Jude Law, também encantando as mulheres com sua virilidade. Portanto, o sexismo não é só masculino, mas creio que de ambos os gêneros, e a publicidade, lógico, explora isso. Para mim, que sou heterossexual, mulheres são maravilhosas não apenas porque nos geram(mães), nos acompanham (irmãs), são nossas parceiras (amigas), nos levam ao gozo (amantes), nos comprometem (esposas) ou nos servem de inspiração (musas), mas porque nos excitam, graças a todo o erotismo genuíno que carregam consigo e que nos deixam loucos. É muito bom se relacionar com uma mulher, amar uma mulher, conquistar uma mulher e, acima de tudo, desfrutar dos mistérios que povoam o complexo imaginário das mulheres. Deve ser por isso que privilegio minhas amizades com as mulheres, apesar de saber que jamais, na minha insignificância, considerei compreendê-las de todo. Afinal, perderia a graça, não é mesmo??!!
Valorizo o 8 de março porque valorizo as lutas da mulher como trabalhadora e revolucionária, injustiçada durante séculos pelo poder masculino, mas também valorizo a mulher pelo poder que ela extraí de seu próprio encanto: por essa mágica maravilhosa e adorável de ser mulher, e que me deixa tão encantado, e com a certeza de que não consigo mesmo viver sem mulher, sem amar vocês todas: maravilhosas mulheres.Se alguém me pergunta se não sou machista ao exercitar meu encantamento toda vez que me excito ao ver uma mulher bonita, digo: não, não sou machista, apenas gosto de mulher!!!
Aproveito inclusive o ensejo para elogiar outra conquista histórica das mulheres ontem, na entrega do Oscar. Graças ao filme Guerra ao Terror, a cineasta Kathryn Bigelow tornou-se a primeira mulher na história a ganhar um Oscar de melhor direção, desbancando Avatar, o filme concorrente favorito, de seu ex-marido James Cameron. Um feito e tanto, às vesperas de uma data simbólica para as mulheres. Parabéns!!
FELIZ 8 DE MARÇO, MINHAS QUERIDAS LEITORAS, MINHAS QUERIDAS MULHERES!! VOCÊS MERECEM A FELICIDADE DO MUNDO, POR GARANTIR A NÓS HOMENS, A FELICIDADE DE A TERMOS, MARAVILHOSAS MULHERES!! GRAÇAS A VOCÊS PODEMOS RESTITUIR A GLÓRIA DA HISTÓRIA: "POR CAUSA DA MULHERRR!!!", TOCA GIL!
Adorei!
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