quarta-feira, 31 de março de 2010

Testemunho: Combater o bom combate!

"Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé".É assim que o apóstolo Paulo prevê, com serenidade, o seu martírio, na passagem bíblica de II Timóteo 4:7. Na verdade ele fala da experiência de cada homem, ao utilizar como referência o povo de Israel, acostumado a trajetos, duras caminhadas, tribulações. Da história do homem, desde seu nascimento, todos combatemos as agruras em busca da sobrevivência, e continuaremos a combater, prosseguiremos na luta, até a nossa morte.

Sou um ser dotado de fúria. Fúria não no seu sentido negativo, diabólico, violento, conectado com o ódio ou a raiva. Muito pelo contrário, minha fúria vem da alegria, do ímpeto, da ânsia do combate, do prazer pela luta, da disposição em sempre encarar, em querer singrar novos horizontes, em destruir os obstáculos maldosamente deixados pelo tempo. Enquanto eu tiver fôlego, enquanto eu viver, até o momento em que o "cara lá de cima" me detenha e diga: "agora, descanse".

Vemos pessoas o tempo inteiro lutando, batalhando por vidas, combatendo a miséria, o desemprego, a fome. Vemos mulheres lutando para escapar da violência masculina, educando seus filhos, batalhando por dias melhores, assim como observamos os enfermos lutarem contra suas doenças, buscando até o último suspiro a cura para a dor que os acomete, vemos estudantes humildes que saem do analfabetismo em busca de sua redenção pela educação, ou artistas que passam fome por escolher viver da arte até que seu talento seja reconhecido, e vemos que a necessidade da batalha é algo premente, se queremos chegar a algum lugar.

Para Aristóteles os homens combatiam em busca de sua felicidade. Agostinho dirá que essa felicidade, no final das contas é Deus, e para conseguir isso o homem tem que lutar contra si próprio. Lutar contra suas imperfeições, seus erros, suas más avaliações. É nesse exercício contínuo de combater, que, por vezes, saboreio o prazer da vitória, o sabor delicioso da tão buscada e sonhada fruta, depois de subir galhos e mais galhos, com suas folhagens cerradas, cheias de espinhos, às vezes hesitante pelo medo da queda no rompimento de um galho, mas sempre subindo mais alto, para atingir aquela fruta saborosa no topo da árvore, porque queremos crescer!

Quando corro pelo parque da Redenção, em Porto Alegre, podem acreditar, medito. As batidas aceleradas do meu coração, o suor escorrendo pelo meu rosto, a respiração marcada, é acompanhada de pensamentos, reflexões, orações, conversas com um Deus que eu acredito, que me consola, aconselha, acompanha, dando um caráter sagrado a minha solidão. Nele encontro conforto, vislumbro sabedoria, e naqueles momentos (como em vários outros), dou-me a oportunidade de transcender. Pois é, podem achar que estou delirando, mas, pra mim, correr é transcendência. Santo Agostinho meditava caminhando de pés descalços pela praia do norte da África, eu, simplesmente corro. Se não correrei mais pela Redenção, correrei sempre em outros lugares (creio que a próxima pista de corrida será no Aterro do Flamengo).

Ao correr, e ao dialogar com meu pai espiritual, lembro-me também de meu pai aqui na terra, meu bom e saudoso Antonio William Alves. Ao ver as crianças correndo junto com seus pais, lembro-me quando corria com meu velho, ele então jovem, forte, vigoroso, e eu um moleque de 10 anos, correndo pela mata amazônica, no período em que vivia num conjunto residencial militar em Belém do Pará. As corridas remetem a um tempo de saudosismo, quando meu pai, com a idade que eu tenho hoje, deveria também meditar em seu trote entre as trilhas de corrida, carregando consigo em cada passada de pernas os seus pensamentos, as suas reflexões. É, meu velho! Pena que a idade hoje e as enfermidades não permitam que continuemos a correr juntos; mas ainda existem as caminhadas pela praia, e isso, ao seu lado, e com meu braço em volta de seu ombro, ainda iremos fazer!!!

A corrida faz parte do combate. Temos que correr para combater. Correr contra o tempo, principalmente, e nessa corrida, nesse combate, fico pensando nas oportunidades que passam e naquelas que podem vir a ser perdidas, e me pergunto: " e agora, meu Deus?". É justamente isso que passa pela minha cabeça agora, ao ter sido bem sucedido em mais um combate, ao ser aprovado em um recente concurso público para professor. A oportunidade está batendo a porta, os obstáculos imensos para se abrir a fechadura, resta saber se terei ânimo e estado de espírito suficiente para pagar o preço pela vitória.

Sim, as vitórias não vem de graça e cobram um preço, às vezes, para alguns, altíssimo, como o sacrifício e a perda de bens materiais. Tenho uma vida razoavelmente confortável, devido ao salário que recebo de outro cargo público, cuja função não mais me apraz. Entristece-me mesmo a possibilidade de continuar a ficar fazendo as mesmas velhas coisas; coisas que não fui, ou não sou mais talhado para fazer. É como se meu tempo já tivesse passado numa dada atividade, e eu sinta que não sou mais calibrado para exercer certas funções, participar de certos habitus, corresponder a um determinado status social. Enfim, as vitórias envolvem sacrifícios e para que não transforme as minhas em "vítórias de Pirro" tenho sempre que analisar o preço de meu sacrifício!

É por isso que luto e sei que a luta é árdua! Moisés não teve "melzinho na chupeta" quando quis libertar o povo hebreu da escravidão egípcia. Também me dá trabalho fugir da senzala, sou sujeito à provações. Mas ao mesmo tempo em que sei que posso cair na maldição dos faraós, também sei que posso ser ungido pelos anjos! Já escuto vozes dissonantes entre pessoas do meu meio ou que se encontram na minha própria cabeça querendo dizer para onde devo ir, o que devo fazer; mas sei que no fim das contas, no meu ajuste com "papai do céu", como dizia minha mãe quando eu era criança, as coisas devem e vão se ajustar.
É, creio que Deus gosta dos lutadores! Escuto Ele dizendo pela voz de Paulo Vanzolini: "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Pois é, Lázaro: "Levanta-te e anda!".Levanto e continuarei a levantar até onde Ele permitir. Vivi, vivo e continuarei vivendo essas sensações: o prazer da luta e a glória da vitória.

Aqui vai, minha transcrição literal do Salmo 23: "O Senhor é meu pastor e nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça, pelo amor ao seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam". Amém meeeeesmmooo!! Obrigado, Deus!

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