segunda-feira, 26 de abril de 2010

POLÍTICA: A saída de Ciro Gomes do páreo e as repercussões na campanha presidencial.

Ciro Gomes é um cara desbocado, e disso ninguém tem dúvida. Só não digo, assim como o presidente, que "nunca antes na história desse país" tivemos um político tão boca frouxa quanto Ciro, uma vez que já tivemos, no cenário da política nacional, tipos até mais histriônicos, como o cacique e deputado federal Juruna, o cantor e dublê de político Agnaldo Timóteo, o saudoso Enéas Carneiro e uma série de outros que ficaram mais conhecidos pela falácia e tato zero na hora de dizer alguma coisa, do que, necessariamente, pelos grandes empreendimentos em prol da coisa pública (falei bonito, não acham?). Creio que nem o presidente Lula, com suas gags indefectíveis, que geraram até obras literárias e dissertações de mestrado no âmbito da linguística, conseguiu ser tão faceiro na hora de conversar com jornalistas como Ciro Gomes.

Duvidam? Veja-se o exemplo da última entrevista do nobre deputado na revista Playboy (é, das várias publicações que leio, também tenho na cabeceira a legendária revista de Hugh Hefner, mas não é só pelas fotos das belas BBBs peladas). Ciro ataca José Serra sem dó, nem piedade, como sua nêmesis na política brasileira, como se Serra se incomodasse com isso depois de tantos processos movidos contra o ex-chefe político cearense. Ciro diz que Serra não é humano, é quase um "Hannibal Lecter da política" (mais do que um "vampiro brasileiro"), não gosta de pobre, é frio e calculista na sua obsessão gerencial, e, em síntese, seria um cara chato pra caramba. Ora, que Serra é chato disso ninguém duvida. Basta colocar uma criança ou adolescente em frente a TV e assistir um minuto da propaganda do PSDB com Serra estrelando pra ver que a garotada vai dormir ou sentir vontade de vomitar. A diferença é que Ciro, dentro de sua visibilidade midiática, diz o óbvio pra todo mundo em cadeia nacional, utiliza-se dos meios de comunicação (internet, rádio, TV e jornais) para espinafrar seu desafeto de longa data. E dentro disso acaba se tornando até uma relevantíssima arma eleitoral. A lógica é simples: se é no Serra que tem que se bater, deixa com o Ciro, que ele dá conta do recado!

Eis que Ciro, até então o propalado candidato do PSB à sucessão presidencial, teve o tapete puxado pelo Palácio do Planalto. Levou uma verdadeira rasteira de Lula na corrida presidencial, que minou suas chances de sair candidato, visto a articulação do governo em manter o PSB sob a asa presidencial, na adesão à candidata Dilma. Projeções de pesquisa de opinião já colocam Serra mais à dianteira de Dilma, quando Ciro Gomes não é citado, e isso significa, num olhar inicial, que Ciro realmente tirava votos de Serra. Apesar do Planalto ter desenvolvido um plano inicial de lançar Ciro candidato ao governo de São Paulo ( mas o cara não era cearense??Ah,tá! Fez-se na política do Ceará, mas apesar do sotaque, Ciro nasceu em São Paulo). Frustrada a tentativa inicial de convencer o ex-cacique político cearente (agora paulista) em se candidatar ao Palácio Bandeirante, restou a Ciro a vontade de realizar seu projeto eleitoral mais ambicioso, jamais consumado, o de ser eleito presidente da república. Frustado nessa expectativa, e dada sua personalidade, o Planalto não pode se surpreender se vier "fogo amigo", uma vez que um exaltado Ciro já disse nos meios de comunicação o quanto ficou irritado com a posição do governo, arricando bancar o profeta, anunciando uma vitória de Serra na próxima eleição, apesar de,  segundo ele, como "ser humano", Dilma ser bem melhor.

Ciro Gomes surgiu na política nacional como uma promessa, mas uma promessa com muitas contradições. Ao iniciar sua carreira política quando bem jovem no extinto PDS, depois migrando para o PMDB nos anos oitenta, até virar tucano e chegar no PSDB, quando se elegeu prefeito de Fortaleza, Ciro manifestou sua fraca adesão ideológica e vocação para trocar de legenda como quem troca de camisa, até se firmar no grupo de Fernando Henrique Cardoso, quando apoiou o candidato do partido, Mário Covas, em 1989, na primeira eleição presidencial direta após a ditadura. Ciro ficou conhecido nos anos noventa como político tucano, como governador do Ceará e ministro do governo Itamar Franco, até romper com FHC e Serra, tornando-se, na esfera pessoal, desafeto desse último. Saindo da seara tucana, Ciro foi para o PPS de Roberto Freire, e foi o terceiro candidato mais votado na eleição presidencial de 1998. Até então, para a eleição seguinte, de 2002, Ciro parecia ser o candidato certo, a terceira via diante da polarização PSDB de Fernando Henrique Cardoso X PT de Lula. Um candidato jovem, vigoroso, intelectualizado, com uma sólida biografia no poder público e casado com uma das mais belas atrizes do país, Patrícia Pillar. Eis que Ciro pisou na bola, por mãos próprias!

Ciro se revelou um político confuso, à imagem e semelhança de um finado Jânio Quadros, quando sua conhecidíssima boca frouxa começou a soltar impropérios na campanha presidencial de 2002 (ganha enfim por Lula após quatro tentativas), demonstrando sua fragilidade, e as marcas autoritárias e coronelistas de um político cearense. A campanha de Serra explorou até as raízes o despreparo emocional de Ciro, e suas reações diante de provocações, quando foi exibida na propaganda eleitoral a frase de Ciro, num programa de rádio, chamando um eleitor de burro, ou de quando chamou os aposentados de otários, na crise da previdência, no governo Itamar, ou  mesmo quando disse que o principal papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha eleitoral, caso eleita primeira-dama, seria a de "dormir com ele". Ciro passou a imagem de um sujeito esquentado, cabeça-dura, pavio curto e despreparado para governar uma grande nação, e com isso perdeu votos. Sobrou pra Ciro, no segundo turno da eleição de 2002, apoiar Lula e com ele construir um sólido apoio político durante todo o governo petista, migrando para o PSB, com pretensões eleitorais claras, que só se exauriu agora, às vésperas da eleição de 2010.

É certo que o governo deve sentir falta do capital eleitoral significativo, porém restrito, que se esvai com a saída de Ciro. Se, matematicamente, tornava-se impossível Ciro Gomes ganhar a eleição, tendo em vista a congelante cifra de eleitores que ainda dão algum crédito ao deputado egresso do Ceará, é verdade que esse contingente servia como fiel da balança, num eventual confronto de segundo turno entre Dilma e Serra. A polarização eleitoral entre os dois é perigosa; pois, se por um lado os tucanos apostam, de forma temerária, suas fichas numa liquidação da fatura já no primeiro turno, já para as hostes petistas um segundo turno torna-se bem mais dificultoso com uma eleição polarizada, em que aliados são fundamentais na hora de disputar os votos cruciais. Dilma terá que se esforçar para afastar o epíteto de mero "poste" de Lula, assim como Serra tentará cabalar mais votos nos grandes centros, sobretudo em São Paulo onde é um verdadeiro Midas, e em Minas Gerais, onde conta com o apoio ostensivo (mas não leal) de seu colega de legenda Aécio Neves ( o "vice dos sonhos", que nunca foi), além de contar com o eleitorado do sul do país, com um PMDB dividido no apoio ou não a Dilma, e no nordeste, com o apoio das oligarquias locais, onde o governo federal fez sua candidata franco-favorita. É certo que a eleição deste ano será emocionante, com ou sem Ciro, mas que Ciro, com sua boca aberta de metralhadora verbal, vai fazer falta, isso vai!!

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