Na antiga concepção da relação entre Estados, pelo Direito Internacional, presumia-se que eventuais querelas, envolvendo cidadãos de uma nacionalidade com nações estrangeiras, no território de outro país, não teria o condão de comprometer a relação diplomática entre Estados. Parece que os primeiros meses do ano de 2009 estão provando o contrário. Ao menos no que se trata do Brasil com as nações européias. Não vou aqui nem me pronunciar ainda, de forma detalhada, sobre a celeuma montada em torno da extradição do italiano Cesare Battisti, pois seu caso ainda não foi julgado pelo STF, e, enquanto isso, resta somente a italianada, eleitora de Silvio Berlusconi, estrebuchar da audácia do ministro da Justiça de uma republiqueta sul-americana ( no entendimento deles), que ousou desrespeitar um entendimento nacional da terra dos pratos de caneloni, dos discos do Eros Ramazotti, e da seleção de Zambrotta e Cannavarro, de que lugar de esquerdista da década de 70 é na cadeia!
Na verdade, a pátria amada verde-amarela encontra-se agora em outra encrenca. Agora com a Suiça. Veja bem, a Suiça!! Mas a Suiça não é país neutro? Não foi a Suiça que sempre se absteve de se envolver em conflitos mundiais? Não seriam os suiços o povo mais cordial, gentil, hospitaleiro, receptivo e educado do planeta? Quando eu me lembrava da Suiça quando pequeno, só me recordava de coisas belas e chiques: do chocolate e dos bolos suiços deliciosos, todos recheados, que engordavam as prateleiras de supermercados e as minhas calorias; ou então dos relógios, que geraram aquela conhecida expressão que denota pontualidade, quando se diz: "fulano é tão certeiro quanto um relógio suiço!". Poderia aqui falar dos alpes, das estaçoes de esqui, da diversão de rico, e, sobretudo, no que aprendi na vida adulta do sistema bancário desse país, também tão gentil, cordial, hospitaleiro e receptivo quanto seu povo, permitindo que nossos muitos dignos representantes da classe política, pudessem deixar suas "modestas" economias depositadas nos bancos daquela nação, em paraísos fiscais, onde ninguém notava, e ninguém perguntava, de onde vinha o dinheiro.
Pois é! Na verdade talvez tão irados, ou até mais "p. da vida" que os italianos, nossos novos desafetos nas relações internacionais são os suiços. Se antes, o embaixador italiano "puxou o carro" do solo brasileiro, mediante a birra do governo da Itália, após o resultado mal sucedido da extradição de Battisti, agora é o governo suiço, mais precisamente: sua polícia e seu judiciário, e praticamente toda a mídia impressa e televisa daquele país, que está metendo o pau no governo brasileiro e em seu povo. Tudo isso em função de todo alarde iniciado há pouco mais de uma semana, com o suposto caso de agressão sofrido pela advogada brasileira Paula Oliveira, acusando grupos de skinheads, ou neonazistas, de terem produzido o fato em solo suiço. Quem já conhece o caso, popularizado até enjoar em todos os canais de televisão, no último dia 12 de fevereiro, a imprensa noticiou que a citada advogada teria sido atacada numa estação de trem em Zurique, por 3 indivíduos carecas, parecendo skinheads, que, na ocasião, entre chutes e bofetões, teriam provocado o aborto da vítima, que estaria grávida de gêmeos, a ainda por cima teriam talhado no corpo da coitada, iniciais do partido ultraconservador de direita SVP (parece sigla de time de futebol), e deixado a infeliz aos prantos, enquanto esta ligava estarrecida para os pais, num episódio com fortes contornos de trama, de séries como CSI, Law & Order ou 24 Horas.
Passada uma semana do episódio, nada melhor do que um dia após o outro. Num primeiro momento, num digno exemplo cabal de "afobação diplomática", o ministro Celso Amorim apressou-se em cobrar iniciativas do governo suiço, acusando o país dos chocolates de incentivar a xenofobia, visto que é notório que a Suiça vive um momento político complicado, de acirramento do discurso nacionalista, à beira de uma votação contra o ingresso de imigrantes e com o avanço da extrema-direita, numa Europa corróida pelo fracasso da social-democracia, nas políticas de um mal sucedido Estado de Bem Estar Social.
Ocorre que, como toda novela policial, sempre há reviravoltas, e a mais chocante foi a de que, provavelmente, a advogada supostamente agredida estava mentindo, podendo ter produzido nela mesma, os ferimentos realçados pela chocante foto trazida pelo Jornal Nacional da Rede Globo. Ao menos se teve uma certeza até agora, a de que Paula Oliveira não estava grávida, segundo conclusões da perícia suiça, no momento em que foi supostamente atacada por skinheads.
Aí é que, como nas típicas novelas de Gloria Perez ( que deveria escolher a Suiça como próxima locação de suas novelas, já que a globalizada novelista já fez estórias no Marrocos e agora na India), a mocinha na verdade se transforma em vilã. Como na novela das oito que antecedeu a atual e foi destaque no ano passado, a "Flora" da vez demonstrou, que, de repente, a mocinha passou a ser a bandida. No lugar de vítima, Paula Oliveira foi agora denunciada pelo Ministério Público Suiço por falsa acusação de crime, teve sua identidade e passaporte retido, e pode agora, além de multa, pegar 3 anos de cadeia, por ter, segundo a Justiça suiça, comprometido a reputação do governo suiço e de suas instituições, e de ter produzido, possivelmente, uma das maiores armações midiáticas da história recente, nas relações entre Brasil e Suiça.
Ora, é claro que o caso ainda não foi encerrado, obviamente muitas águas rolarão, provavelmente muito ainda há de ser descoberto, diante (ou não) dos holofotes da mídia, e a pobre senhorita Paula terá que se ver com a Justiça suiça, e empregar dos meios legais que ela tem à disposição (além de advogado) para se defender e expor suas razões. O que se questiona aqui, na verdade, não é a mentira, não é o fato escabroso de alguém poder ter se autofragelado, e produzido toda uma comoção pública mediante um fato supostamente falso, mentindo sobre sua agressão e gravidez. Na verdade, o que comprometeu o Brasil não foi Paula em sua tragédia pessoal, seja lá o que tenha acontecido, mas sim a afobação de nossa diplomacia e, mais uma vez, a cega e sedenta fome de informação e sensacionalismo dos meios de comunicação brazucas, que, mais uma vez, produziram, de forma irresponsável, mais um dos diversos factóides que acabam por comprometer a atuação de nossos agentes públicos. Não é novidade para ninguém que hoje, governantes, ministros e até juízes, adotam iniciativas e tomam suas decisões muitas vezes não influenciados por suas próprias convicções ou fundamentos legais, mas sim pela pressão da mídia, pela "forcação de barra" da opinião pública, manipulada pelos meios de comunicação.
Se Paula errou, errou por que tinha problemas, errou por que vivia trechos de um drama pessoal que só compete a ela resolver e que só ela tem conhecimento. O problema em si, não é a possibilidade, de que tudo por que esta jovem passou, tratou-se de uma farsa, mas sim o burlesco de nossos meios de comunicação, que, apressadamente, e sem fundamento algum, tão e simplesmente à cata de vender manchetes, comprometem as relações diplomáticas entre países amigos, arranhando mais uma vez a reputação de uma nação que se candidata, eternamente, a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU ( onde tu estás com a cabeça, Celso Amorim?!).
A meu ver, inteligentes foram os comentários no site "Observatório da Imprensa", revelando a insensatez e a irresponsabilidade da mídia brasileira no caso de Paula, como no artigo do correspondente Rui Martins, em Berna, dizendo que se a barriga de grávida de Paula, na verdade não existiu, ao menos a imprensa brasileira criou sua própria "barriga"(termo jornalístico): conceito empregado para definir informação imprópria ou desinformação promovida por um meio de comunicação, tão e simplesmente para encher pauta ou chamar atenção para vender jornais e matérias. Foi cobrada, em especial, a responsabilidade da Rede Globo (ahh! ela! a velha Globo), que numa "galvãobuenização" da informação, transformara em espetáculo grotesco a exposição da barriga riscada a estilete de Paula Oliveira, sem nem sequer aguardar as primeiras conclusões dos trabalhos da polícia suiça, e a veracidade da própria informação.
Agora eu pergunto: quem vai apagar o incêndio da má reputação do Brasil perante a Comunidade Européia, em especial a Suiça, por um triste episódio, que mereceu mais atenção do que deveria, e que acabou por comprometer a imagem recíproca que europeus tem dos brasileiros? Quem vai pagar a conta do desgaste, ainda mais que, pela mídia nacional, os suiços ficaram com fama de serem xenófobos, ultraconservadores, neonazistas e direitistas, quando, ao contrário, a maoria de sua população votou favorável a políticas de incentivo à imigração?
Saí é que tua governo brasileiro!! E agora José? E agora Celso?
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Quando eu crescer quero ser igual a você!
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