quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A (falsa) polêmica entre evangélicos e homossexuais: SERÁ A HOMOFOBIA CRIME?

Recebi na minha caixa de mensagens, através de um colega fundamentalista, um link de acesso ao blog do pensador conservador e escritor evangélico Julio Severo, que por sinal tem um interessante e movimentado blog na rede. Severo é autor do livro "O Movimento Homossexual", sendo um feroz crítico dessa orientação sexual, como também considerado "o inimigo público número um" dos gays, com vários processos na Justiça, sob acusação de homofobia. Em seu blog podemos ver, por exemplo, que o articulista evangélico faz jus ao nome, tratando com severidade de temas polêmicos como casamento gay, adoção de crianças por casais do mesmo sexo, aborto, uso de contraceptivos, educação para crianças, desintegração do casamento tradicional, críticas ao movimento feminista e sobra até para os defensores da teoria de Darwin. Pode-se ver no blog um sugestivo atalho, indicando o seguinte título: "Quer sair do homossexualismo, clique aqui". Em termos políticos, assumidamente anti-governista, anti-petista e anti-socialista, Severo agora lidera em seu blog um movimento nacional pela extradição do italiano Cesare Battisti, acusado na Itália da prática de vários crimes, após lhe ter sido concedido asilo político pelo Ministro da Justiça Tarso Genro. Sobre os recentes acontecimentos em Gaza, com a chacina de palestinos por Israel, Severo procurou estabelecer uma suposta explicação bíblica, para as barbaridades perpetradas pelo Estado Judeu. É declaradamente amigo de Olavo de Carvalho, outro ás do pensamento conservador brasileiro, que, inclusive, tem uma mensagem postada no You Tube em defesa do articulista, quanto aos vários processos movidos por organizações em defesa dos homossexuais, contra o radical escritor e blogueiro.



Naturalmente percorri o blog de Severo, li vários de seus artigos e links e, espontaneamente, adicionei seu blog a minha lista de Favoritos. Como já disse em outras ocasiões, como sou rotulado de liberal de esquerda, apraz-me saber por quantas anda o pensamento conservador a que me oponho, sobretudo se é tracejado inteligentemente em boas linhas.



Porém, além de liberal também sou protestante, ou evangélico, como queiram, mas, antes que meus diletos amigos ou leitores ateus torçam o nariz, informo que como cristão sou libertário, e como cidadão minimamente politizado, radicalmente democrático; pois entendo que na primeira opção, para mim, a mensagem de Cristo é eminentemente libertadora, e não corresponde a um Deus rude, "severo"(ao estilo dos conservadores) e autoritário. Deus é onisciente e onipotente sim, porém não tão implacável e julgador, que a tudo olhe e a tudo acuse, exigindo-nos o tempo inteiro a redenção dos pecados e o sublime arrependimento, para que não queimemos no fogo do inferno ( ao menos conforme pensa o alerta dos crentes fundamentalistas). Ser um cristão libertário não significa ser conivente com uma suposta libertinagem de conduta, e nem defensor de um "Deus do oba-oba", que permita que se faça tudo e se queira tudo, mas sim acreditar que o Deus pregado por Cristo no Evangelho é um Deus que liberta através de seu perdão, libertando inclusive as consciências das amarras da opressão de pensamento.



Na verdade ao pensar assim, antes que alguns irmãos cristãos me chamem de, no mínimo equivocado, e, no máximo, herege ou possuído pelo Diabo, creio que ao me pronunciar desta forma, uma vez tendo estudado numa faculdade luterana apesar de minhas origens batistas, sou, senão oficialmente, ao menos implicitamente, um descarado luterano! Sim! Pois ao ler os textos de Martinho Lutero, senti o mesmo avivamento espiritual combinado com uma dose de inspirada racionalidade, quando li pela primeira vez as palavras de Cristo nos versículos da Bíblia. Claro que Lutero não se compara a Cristo, pois não é santo, e a própria doutrina luterana é avessa ao culto de santos ( um dos motivos de rompimento com a Igreja Católica), pois, afinal, nenhum homem que viveu ou ainda viverá será santo, e só nos resta como criaturas de Deus (pra quem acredita) viver com dignidade nossa condição de pecadores, sabendo ao menos que temos um Deus piedoso, misericordioso, que nos ilumina e nos salva da destruição mediante sua Graça.



Acho cômico alguns de meus interlocutores fundamentalistas me acusarem de promover uma graça barata, ou de dizer que não vivi exponecialmente a dimensão sagrada do arrependimento. Dizem que ao promover a graça é como se Deus não exigisse nada em troca. Ora, se nos reconhecemos como pecadores e imperfeitos, por mais que demos a Deus algo em troca, nada disso adiantará! Não adianta ser filhinhos bem comportados, bons fazedores do dever de casa, austeros, legalistas, cumpridores das exigências e recomendações bíblicas, bons frequentadores dos cultos dominicais na igreja, e adeptos de uma vida ascética ou "santa", se não temos o principal: que é a fé, mas muita, muita fé no coração, para seguirmos os ensinamentos de Cristo no tocante à pregação do amor ao próximo, da tolerância, da justiça (principalmente a social), da defesa dos oprimidos e incapacitados, do respeito às diferenças, da humildade e da capacidade de servir para ser servido. Afinal de contas, você quer um exemplo de troca maior que a de Cristo, ao sacrificar sua própria vida na cruz, para redimir os pecados da humanidade, dando a Deus sua própria existência física em troca de todos nós? Por que tanta expiação agora? Por que tanta preocupação com o arrependimento? Lutero alertava, segundo Paul Tilich em "História do Pensamento Cristão", que o pior pecado do ser humano seria não crer. E hoje, face ao fundamentalismo religioso, vemos que na pós-modernidade, cada vez mais as pessoas deixam de crer, ou vão crer em outra coisa (fama,carros, dinheiro, ascensão social, prostituição, bebidas, drogas, esoterismo barato etc).



Mas chegando ao cerne de nossa discussão, já que fugi muito do assunto na minha introdução, retornando ao tema do título deste comentário, interessa-me em particular toda a polêmica e os embates travados após a proposição e tramitação do projeto de lei 122/06, que criminaliza a homofobia. Segundo o texto do projeto, a futura lei cominaria a pena de prisão ou multa para aqueles que discriminassem homossexuais, e não demorou para que muitos representantes das igrejas evangélicas no país se insurgissem contra o projeto da senadora Fátima Cleide (PT/RO), alegando que o citado projeto, se for aprovado, instituíra automaticamente uma verdadeira perseguição aos cristãos, nunca vista desde os tempos de Roma com Nero, pois prejudicaria todos os pastores e líderes religiosos, que se pronunciassem publicamente de seus púlpitos, contra as práticas homossexuais. Foi no calor desses acontecimentos que Julio Severo foi entrevistado pela revista gay "A Capa", e interessado na opinião de seus leitores, o articulista apressou-se em divulgar os trechos de sua entrevista via e-mail para todos os seus leitores.

Gentilmente respondendo as perguntas que lhe foram formuladas, Severo reforçou seu compromisso de fé cristã e num saudável ambiente democrático declarou quais eram suas opções de vida e convicções. Durante a entrevista ele ressentiu-se bastante dos processos movidos contra ele por entidades de homossexuais, reclamando especialmente de processo movido contra ele pelo Ministério Público Federal. Severo foi bastante indagado se achava que o projeto de lei 122/06 não serviria para coibir as agressões e assassinatos de homossexuais, e o escritor evangélico refutou, afirmando que o contingente de gays assassinados no país não corresponde sequer a 10% das pessoas que são mortas violentamente a cada ano, e insinuou que muitos dos que morreram procuraram por isso, pois foram mortos por estarem na rua, altas horas da noite, em zonas de drogas e prostituição. Severo reclamou das ameaças que vinha recebendo e da censura em seu blog, pelo simples fato de emitir suas opiniões cristãs. Ele disse que se o citado projeto fosse aprovado ele seria um dos maiores prejudicados, e quando foi perguntado se, ao recomendar em seus livros que os pais fossem vigilantes e não se descuidassem de perceber na escola de seus filhos, se algum professor ou aluno aparentava ser homossexual, ele não estaria desta forma promovendo o ódio, a intolerância e a exclusão, ele respondeu que tão e simplesmente estava tentando alertar a sociedade brasileira para as nocivas práticas homossexuais, que somente contribuíriam para a desagregação social. Severo chegou a afirmar que seria o homossexualismo, na verdade, que promoveria o ódio e a violência, uma vez que em um de seus livros ele alerta para os perigosos da homossexualidade, informando, por exemplo, que boa parte dos casos de estupros de adolescentes, pedofilia e corrupção de menores eram provocados por criminosos homossexuais.

Tratando a respeito da acirrada polêmica de Julio Severo com os homossexuais, a título de exemplificação dos conflitos havidos entre segmentos evangélicos e combatentes da homofobia, em função do projeto de lei 122, penso que posso me manifestar não apenas como cristão, mas também como um estudioso do Direito, entre os vários ramos do conhecimento onde já queimei as pestanas.

Sabemos que a Constituição assegura a liberdade religiosa, assim como estabelece a liberdade de pensamento, o direito à intimidade e à inviolabilidade da vida privada, a proteção contra qualquer tipo de discriminação e não obriga ninguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei. A Constituição estabelece estas normas e princípios porque é uma norma maior de um Estado democrático e cidadão, pois se não fosse assim seríamos uma ditadura ou teocracia. Recordo-me de excelente discurso do atual presidente norte-americano, Barack Obama (ele também um professor de direito constitucional), dizendo que numa sociedade democrática e respeitadora de sua constituição, todos seriam ao mesmo tempo cristãos, muçulmanos, budistas, hinduístas, taoístas, confucionistas e toda e qualquer crença possível num ambiente de respeito entre diferentes. Isso se aplica, inclusive aos ateus, conservadores, liberais, heterossexuais, homossexuais, hermafroditas, eunucos e toda gama de orientação sexual possível. Se admito pela Constituição uma sociedade onde todas essas pessoas diferentes podem (e devem) conviver, é porque asseguro que em termos constitucionais, todas essas pessoas estão protegidas e a salvo de discriminações.

Agora se penso como cristão, entendo que nem pode se discriminar pessoas por sua orientação sexual e nem por sua crença religiosa. "Cada macaco no seu galho" e " a cada um, o direito de cada um". Nem posso tentar criminalizar aqueles que por sua crença repudiam o homossexualismo, como também não posso prender quem manifesta aguda homofobia. Posso discordar de quem tem uma opinião ou orientação sexual diferente de mim, mas não posso prendê-lo por causa disso!

Portanto, em termos gerais, ambos os argumentos, tanto o de conservadores crentes devotos como Julio Severo, quanto os dos ardorosos defensores da causa gay, incentivadores do projeto de Fátima Cleide, estão equivocados não em seu princípio, mas sim em seus desdobramentos. Uma coisa é manifestar sua opinião teólogica face o texto das escrituras sagradas, interpretando como prática pecaminosa e reprovável a homossexualidade, outra é estimular e aprofundar a cultura do ódio ao diferente, insuflando a discriminação, no momento em que um escritor evangélico defende que homossexuais sejam detectados nos locais de trabalho, nas escolas ou na própria igreja. Voltar a esse tipo de pensamento é legitimar técnicas como a da Gestapo, a polícia política nazista, que como sua política discriminatória e pseudo-cristã, perseguia igualmente ciganos, judeus e homossexuais. O Estado, por ter uma constituição democrática, estaria a salvo das perseguições por orientação de gênero ou preferência sexual, mas e as igrejas? Será que nelas também, por se aterem a uma ordem constitucional que proíbe a discriminação, apesar de garantidora da liberdade religiosa, não deveria ser coibido o preconceito?

Simultaneamente, não poderia apoiar o estímulo à criminalização de condutas que expusessem a desaprovação à práticas homossexuais, tão e simplesmente por uma opção de crença. Se sou defensor de um abolicionismo penal e de um Estado Penal Mínimo na resolução de conflitos sociais, em que necessariamente questões de divergência de opinião não virem caso de polícia, entendo que essa mesma Constituição democrática permite o debate entre diferentes, sem que um tenha que colocar na cadeia o outro. Nem na igreja o debate sobre a homossexualidade está resolvido, face a recente crise da Igreja Anglicana e posterior racha, com a ruptura por exemplo, de um mais importantes e geniais críticos da religião e teólogos do país, o bispo Robinson Cavalcanti, com as posições adotadas por essa igreja em relação à ordenação de bispos assumidamente homossexuais.

O problema é que a discussão sobre a orientação sexual de cada um acaba por ser deformada pelo enraizamento das paixões que envolvem tanto aqueles que abraçam uma religião, quanto aqueles que querem ver tão e simplesmente sua opção de vida ser reconhecida e livre de discriminações. Preconceitos sempre haverão de toda parte, pois a crítica, a autocrítica e a divergência de opiniões é típica do gênero humano. Para aqueles que acreditam num Deus superior, único e absoluto, somente a Ele cabe a detenção das verdades eternas e o entendimento que só é Dele, um entendimento incompreensível para o saber dos homens. Resta apenas interpretar e localizar as pistas que Deus colocou a cada um em seu percurso de vida, e cada qual saber lidar melhor com suas opções e com os caminhos que lhe foram oferecidos durante sua existência.

Recordo-me certa vez, de um fato interessante, quando estava sentado em uma mesa, rodeado de pessoas tanto hetero quanto homossexuais, durante a folga de uma campanha eleitoral do PT, quando me deparei com o discurso de um jovem petista engajado, gay assumido e militante da causa homossexual, que dizia se sentir muito discriminado pela igreja em geral e chegava a questionar os cristãos e o cristianismo, uma vez que sempre que tentava se aproximar dessas pessoas, era rechaçado e taxado com o rótulo de gay, pervertido, cria do demônio ou pecador. Eu disse a ele que o mesmo sentimento de exclusão a que ele se referia, era o sentimento sentido por muitas pessoas excluídas, mendigos, pobres, bêbados, prostitutas, cegos, mancos, criminosos, e todas aqueles à margem da sociedade, consolados por um Cristo que não se melindrava de sentar ao lado e compartilhar a mesa com essas pessoas.

Em João 4, vérsículos 7 a 26, Jesus em peregrinação com seus apóstolos vai até a região da Samaria, lugar onde Jacó viveu, e lá cansado da viagem e com sede, dirige-se até um poço, onde avista uma mulher samaritana. Jesus pede a mulher que lhe dê água, e a mulher se surpreende de como é que um judeu poderia estar conversando com uma samaritana, uma vez que era público que judeus e samaritanos não se davam bem. Jesus então fala que quem conhece o dom de Deus poderia pedir, pois Deus concederia água viva. Depois, Jesus pede que a mulher chame seu marido, eis que ela responde que não tem marido. Jesus sabia que aquela mulher já teve cinco esposos, sendo que o último com quem ela vivia não era casado com ela, mas apenas seu consorte. Mesmo assim, é através de uma mulher samaritana ( de um povo hostil ao povo judeu de Jesus) e amasiada, que Jesus proclama seu evangelho, fazendo com que muitos samaritanos passassem a crer em suas palavras. Não é à toa que seus discípulos, ao verem Jesus conversando com aquela mulher de "vida duvidosa", ficam surpresos por causa do preconceito, mas mesmo assim se calam. Quem dera que muitos crentes hoje preconceituosos, nessas horas, também fossem arrebatados por Cristo e ficassem em muda sabedoria!

Em Cafarnaum, Jesus também acolhe ao pedido de um centurião, em Lucas 7, versículos 2 a 9. O centurião pede com emoção a Jesus que cure um servo que estimava muito, que estava à beira da morte.Porém, pede envergonhado que Jesus não entre em sua casa, pois não se sentia digno de um encontro com Jesus debaixo daquele teto. Pergunta-se aqui porque aquele homem estava tão envergonhado e não queria que Jesus entrasse. Porém, Jesus não apenas cura o servo, restabelecendo sua saúde, como anuncia para a multidão, ao falar do centurião, que nunca tinha visto antes um homem com tanta fé. É justamente nas pessoas que menos esperamos, e nas quais depositamos algum preconceito que as envergonha ou as exclui, que nas horas mais difíceis demonstram uma fé genuína e um amor a Deus. Por que será que pessoas como orientações sexuais diversas, seriam diferentes? Será que essas pessoas também não teriam fé?

Contando tudo isso ao jovem homossexual revoltado, fiz com que ele visse que o Deus punitivo, encontrado no discurso raivoso dos crentes que o repudiaram, não correspondia necessariamente ao Deus ensinado por Jesus em suas pregações. Na verdade Cristo foi, senão o maior, um dos maiores pregadores do respeito à diversidade e a tolerância, acolhendo a todos, sem fazer distinções. Quando Paulo dirige-se em suas cartas a igreja de Corinto, alertando sobre o perigo da imoralidade em 1 Coríntios 12, versículos 18 a 20, ou quando fala especificamente de práticas homoeróticas, ao tratar da ira de Deus sobre a humanidade em Romanos 1, versículos 26 e 27, ele trata justamente tanto da história de Israel e dos erros cometidos pelo povo judeu, como da realidade decadente de imoralidade e promiscuidade sexual de Roma, dirigindo seu texto a típicas civilizações em estado de decomposição social e moral. Ao criticar os pederastas (termo empregado à época), Paulo se refere não apenas ao homossexualismo, mas a todo tipo de perversão ou relação sexual onde o amor ao próximo, seguido do sexo aliado ao compromisso afetivo, não é realizado. A degeneração moral através da prostituição da carne, o sexo com fins meramente egoístas e mesquinhos afim de satisfazer depravações sexuais como o estupro, a pedofilia ou a necrofilia, são práticas que são plenamente reconhecíveis e criticáveis até hoje, independente da opção sexual ser hetero ou homo. No começo do capítulo bíblico, Paulo trata da imoralidade dentro do tema da injustiça dos homens, que pela sua natureza corrompida a tudo destroem, inclusive a si mesmos, pois entregues a seus próprios desejos ( os sexuais, inclusive) geram todo tipo de ganância, exploração, violência e desagregação. Quem irá duvidar disso? Quem irá questionar como punível a prostituição infanto-juvenil, o tráfico de escravas brancas ou a exploração sexual de adultos, homens ou mulheres?

Mas o que dizer de homens e mulheres com coração sensato, nos dizeres de Paulo, que independente das convenções, decidem dirigir-se amorosamente a seu próximo, independente de gênero, e resolvem consentidamente construir uma vida em comum, com suporte e afeto recíprocos? O que dizer de casais homossexuais que vivem juntos toda uma vida, envelhecendo com compromisso de fidelidade, e quando um deles falece, nem sequer ao outro é dado o direito de opinar sobre a herança? Ou de casais do mesmo sexo que adotam ou resgatam da morte, do frio, da violência e da miséria uma criança abandonada, dando-lhe carinho, atenção, proteção e uma formação, propiciando seu desenvolvimento digno, onde, comprovadamente não existem evidências científicas e psicológicas de que tal criação irá comprometer seu crescimento moral, emocional ou interferir em sua opção sexual? Devemos deixar pessoas sem direitos? Deixar crianças sem lares? Deixar que o medo ou o peso de nossos preconceitos interfira em nosso julgamento, a ponto de nos acharmos os donos da verdade bíblica, e assim, de forma sectária e legalista, apenas atirarmos a pedra como se não tívessemos nenhum pecado? Creio que é muito perigoso pensar assim, e mais uma vez voltando-me para outro texto, não o bíblico, mas o constitucional, creio que uma sociedade democrática não é essa onde apenas os "salvos" tenham razão, e aos "perdidos" só reste a morte e as chamas do inferno.


"Não julgem, para que vocês não sejam julgados". É assim que Jesus se pronuncia em Mateus 7. Deus age de formas misteriosas, e assim como é dito no Antigo Testamento em Provérbios 2: "todos os caminhos do homem lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito". Desta forma, sejamos sensatos ao não propagar o ódio, a intolerância e a violência gratuita ao promovermos a exclusão de homossexuais, como quer o irmão evangélico Julio Severo, através da discriminação nas escolas, ruas ou locais de trabalho, e nem sejamos tontos ou tolos de achar que pela criminalização a homofobia irá deixar de existir, acreditando que é penalizando criminalmente os autores de discriminação ou preconceito, que as conquistas da comunidade homossexual serão atingidas. Ainda em Provérbios, no capítulo 11 vemos que: " o Senhor repudia balanças desonestas, mas os pesos exatos lhe dão prazer". Que tenhamos a devida sabedoria para pesar nossas diferenças sem perder nossa dignidade, nem humildade. Que Deus nos abençoe!

4 comentários:

  1. acho que esse projeto de lei é um ponto importante na agenda das liberdades individuais.

    o que a direita religiosa tem esperneando por conta deste projeto é revoltante! eles distorcem tudo, dizem que a idéia é que dois homens possam se beijar numa igreja! claro que não, os templos religiosos tem um estatuto próprio pelo sentimento religioso que também é protegido por lei. o aplicador da lei pode ter claramente este discernimento e usar a lei pro que interessa, seleção de empregos, logradouros públicos, estabelecimentos comerciais etc.
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    estes caras são medievais, é lamentável que no Brasil se leia ainda coisas assim. como fico desconcertado quando chego numa seção de filosofia na livraria e vejo um livro de Olavo de Carvalho. não é filósofo, é bruto e mal-educado, não tem respeito pelo interlocutor ou qualquer um que pense diferente dele. não consigo visualizar atitude mais anti-filosófica. não passa de um dogmático metafísico, e dos mais vulgares.

    e nem acho que a lei proibiria alguém de criticar em tese a homossexualidade. eu li o projeto e não achei isso. se o fizer, é inconstitucional, pois fere a liberdade de pensamento (agora, é a volta do cipó, pois os conservadores gostam de prender quem defende a descriminalização da maconha dizendo que é apologia ao crime, tipo penal que eu acho que não pode se sobrepôr ao direito constitucional de exercer o uso público do pensamento; seria ótimo ver essa lei aprovada e estes caras tendo que propor dois pesos e duas medidas...). então, creio que isso não mudaria, se você acha que a homossexualidade é errada, feia, imoral, é seu direito constitucional dizê-lo. O que não pode é injuriar especificamente alguém in concreto, dizer que fulano de tal é inferior e deve ser vigiado e perseguido por ser homossexual.

    essa turma, hein, tem tanto medo da homossexualidade, é porque a tentação deve ser forte, viu?

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  2. Olá, descarado luterano,

    Achei seu texto fantástico. Conheço você, lá dos tempos de Natal. Nada do que diz poderia ser diferente. Mas além do estilo, agradável, acho que você coloca na medida certa, com extrema lucidez, o tema discriminação e religião. Como sabe, sou budista, mas nasci em ambiente católico e sempre confrontei a mensagem de Jesus com a discriminação aos homossexuais, às prostitutas, às mães solteiras, aos divorciados, etc.. Não há, pelo menos até onde eu pude me aproximar do Novo Testamento, uma palavra de Jesus, que orientasse a comunidade cristã para uma prática discriminatória. Pelo contrário, há mais que tolerância, há um abraço comovente àqueles considerados malditos, à mulher que seria apedrejada, aos ladrões, mesmo ao mau. Aceitou Madalena, como discípula e lembrou a todos, sem exceção, por ações e não apenas palavras, que todos os homens são imperfeitos, falíveis. Nunca entendi tamanha discrepância de sentimentos, intenções e ações entre uma instituição e seu mestre maior. Apesar de achar Paulo, um discípulo mais interessado em fundar as bases de uma instituição religiosa, um tanto distanciada da palavra genuína de Jesus, escreveu uma das passagens de que mais gosto, não apenas pela força poética mas também por dizer que ação e intenção devem constituir uma religião incorporada, o fundamento existencial do cristão:
    ¨Ainda que eu falasse a língua dos homens, que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.¨ Para mim, ainda que me falte condições de exegese teológica, significa que podemos ser o máximo dos cidadãos, cumprirmos todas as leis à risca, sermos obedientes ao Estado, como inclusive eram os nazistas; podemos ser o maior cumpridores dos mandamentos da Igreja, sermos seus defensores, como eram os inquisidores da ¨santa¨ inquisição, se não tivermos o maior de todos os fundamentos, o amor, o cristão usará a fé como uma máscara. Significa que o amor é o dom maior, é a expressão máxima do cristianismo. Maus ¨menores¨ praticados todos os dias como a intolerância, a arrogância dos portadores de princípios que excluem e negam a humanidade, reiteradamente, o que é pior em nome de Jesus, estão claramente na contramão de um ensinamento maior. Se fosse cristã e entendida de seus assuntos, diria que, no sentido em que entendo o que é amor, a dicriminação, seja ele qual for, é pecado. Mas, amigo, estive em Berlin e vi que nada do que os alemães fazem para se redimir dos horrores nazistas é suficiente para que fiquem em paz. Esta ¨consciência pesada não deveria ser apensa alemã. Poderíamos pensar que somos da mesma matéria, que dentro de nós, lutam as forças dop bem e do mal. Poderíamos com esse exemplo, aprimorar e fazer emergir o que temos de melhor, sem negar os forças negativas que nos parasitam. Mas parece que a história, para muitas pessoas, não serve de guia, de experiência para que a humanidade não repita os mesmos erros. Encontrei, outro dia um site de um padre católico, que tem uma comunidade muito frequentada no Orkut, que defende o revisionismo histórico para as ações da Igreja Católica na Idade Média(as perseguições, os matírios, a tortura e seus instrumentos requintados que iam desde espetar com ferros os ¨hereges¨ até a queima e amputação dos seios das pecadoras). Pois é, essa propagação do rancor e horror da diferença, se repete na história, não como farsa, como pensava Marx, mas sempre como tragéida da condição humana, de nossa civilização ainda em sua condição de animalidade. Humberto Maturana qualificou nosso fundamento estrutural, como vivo, de amoroso. Desde o nível celular é a acoplamento, a junção, a ligação, que estrutura todo o universo, todo o Cosmo. É uma visão que se aproxima em muito da budista e a de Jesus. O mestre da organização de que faço parte diz que se Jesus, Maomé e Sakyamuni estivessem vivos, estariam dialogando, estariam preocupados com o desamor, com a intolerância diária, com os pequenos delitos que ao final tornam-se venenos para toda a humanidade.
    Parabéns pelo blog!
    Beijo
    Rita

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  3. Graça e paz Irmão!

    Excelente artigo. Realmente, foste muito feliz em contrapor e levar para a discussão os dois pontos de vista, de um lado o juridíco, do outro, o teológico.
    Compartilho contigo de que nós, cristãos-evangélicos, temos que ter uma postura tolerânte, pois não há como mantêr um diálogo respeitoso, taxando de "endemoníado", todo aquele que diverge de opinião realativo a nossa crença.
    Comcordo com a Irmã Uwerita que o Amor é a expressão máxima do Cristianismo, e em 1Co 13, Paulo expressa de forma esplêndida esse amor, mas amar ao próximo como a si mesmo, não significa concordar com sua prática sexual.
    É triste quando um cristão-evangélico, ao defender sua postura de fé é taxado de "Homofóbico", pois os grupos GLS não entendem que nós amamos os homossexuais, só não concordamos com a prática sexual por eles assumida, pois, assumindo tal postura, estaríamos sendo hipócritas, e indo contra os princípios que regem a nossa fé.

    SOLA DEO GLORIA.

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  4. Vi uma fala tua no Blog de Ailtom Medeiros e estou conferindo aqui o seu blog. Parabéns.

    Eneas Peixoto

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