quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CINEMA: Algumas razões para amar George Clooney, a partir de "Amor sem Escalas".


George Clooney é o cara! Desde que o vi no cult movie de Tarantino, "Um Drink no Inferno", na década de 90, gostei do estilo do cara, e, sobretudo, da tentativa de sair da pele de galã de seriado de televisão (através da série ER-Plantão Médico) e tentar embalar no cinema. Não é que deu certo? Após anos de labuta e com mais de 40 anos nas costas é que o cara conseguiu arrumar papéis legais e mostrar que não é só um tipo bonitão, mas muito talentoso.  Na verdade, Clooney incorpora hoje aquele amigo coroa, boa-praça, bonitão e espirituoso, que tem sempre uma pitada de sabedoria pra ditar, ao longo de sua experiência de vida. É assim que Clooney incorpora alguns de seus protagonistas no cinema, e não foi diferente no último ( e bom) filme de Jason Reitman, chamado Up in the Air, aqui mais uma vez porcamente mal traduzido para o adocicado título: "Amor sem Escalas".

O filme parece, à primeira vista, uma comédia romântica (Pô! Já perceberam que ando vendo muitas comédias românticas? Que será que tá acontecendo comigo?). Mas não, na verdade, trata-se, no jargão cinematográfico, de uma "comédia de costumes"; ou seja, pega-se uma situação corriqueiramente banal do cotidiano e a se transforma numa boa e divertida estória. Não foi à toa que o filme ganhou o Globo de Ouro de melhor roteiro, e deve repetir o feito na entrega do Oscar.

Por falar em Oscar, não duvido nada e me junto ao quociente de apostadores, acreditando que é bem possível que Clooney leve para a casa a estatueta dessa vez. Nos últimos anos o ator tem tido desempenhos notáveis, especialmente acompanhado de bons diretores, como as duas parcerias com os irmãos Cohen, ambas em comédias, como "E aí, meu irmão, cadê você?" e "Queime depois de ler", além do papel espetacular do protagonista em "Siryana", quando engordou mais de dez quilos para viver um agente decadente da CIA. Tá certo que em sua carreira, George Clooney não escapou de uns fiascos, como a horrorosa ( e esquecível) versão de Batman para o cinema, de Joel Schumacher (que quase acabou com a franquia), e uns ou outros filmes medianos, que não correspondem ao seu talento, mas a verdade é que Clooney se superou, e além de ator, também como diretor mereceu destaque na crítica, no pouco visto mas também cult "Bom dia, boa sorte", que trata da perseguição macartista na década de 50 do século passado. Não posso esquecer de "Conduta de Risco" (Michel Clayton), que lhe valeu a primeira indicação para o oscar de melhor ator, em 2007. Claro que não vou esquecer da ótima trilogia de Steven Sodbergh, na série Ocean's Eleven, Twelve e Thirteen (aquela dos "Onze homens e não sei lá quantos segredos").

Mas nesse último filme dirigido por Jason Reitman (filho de outro grande diretor de comédias dos anos 80, Ivan Reitman), percebe-se também o talento do diretor nas chamadas comédias de costume, após seus dois êxitos anteriores: "Obrigado por Fumar" e "Juno". O personagem de Clooney em "Amor sem Escalas" assemelha-se em parte ao de Aron Eckhart no primeiro filme de Reitman, quando o personagem dele fazia um cara-de-pau lobista da indústria do tabaco, fazendo o impossível e a politicamente incorreta função de convencer as pessoas a fumarem mais. Em Up in the Air, George Clooney interpreta o papel de Ryan Bingham, um executivo de uma empresa terceirizada que tem a função mais f.d.p. do mundo: ele é encarregado da tarefa espinhosa de comunicar a funcionários de empresas nos Estados Unidos que eles estão demitidos. Tudo isso com profissionalismo, frieza, muita cara-de-pau e até um sorrisinho no rosto.

Aí é que nós deparamos com a parte mais interessante do filme, que o tira da chatice, e transforma uma função tão anódina como a desempenhada pelo personagem, no ponto de partida para se entender a personalidade de Bingham. Assim como o personagem de Eckhart no filme anterior citado, neste, o personagem de George Clooney adora seu trabalho, por mais escabroso que seja, e desempenha com talento sua função tão somente pelo prazer de estar sempre voando, a serviço da empresa, ficando mais tempo dentro de aviões e aeroportos do que em casa, ou fazendo "bicos", em palestras de autoajuda, afirmando as vantagens de se carregar "uma vida na mochila". O personagem se vangloria de passar 320 dias do ano viajando, passando as noites em hotéis refinados, usando carros de luxo alugados pela empresa, e tendo relacionamentos casuais, sem nunca estabelecer vínculos com alguém. Em seu estilo de vida, ele chega a ter dificuldades de se relacionar com os parentes, e até de ir ao casamento de uma de suas irmãs, já que isso implicaria num retorno à chata vida familiar. A maior meta de Bingham não é casar e constituir uma família, mas sim a prosaica proeza de atingir a meta insuperável de ter o maior número possível de milhagens de voo que se possa imaginar, chegando a 10 milhões de milhas voadas, a fim de bater um recorde próprio. Na verdade, aqui, o diretor Jason Reitman satiriza o capitalismo e o mito da "livre iniciativa", no momento em que mostra os efeitos de um sistema econômico que prega o individualismo e a obsessão pelo sucesso, quando na verdade isso se repercute na solidão do personagem, que começa a sentir o peso de suas escolhas, assim como o choque em perceber o rosto desesperado e amargurado de cada pai e mãe de família contactado por Bingham, que descobre que agora está desempregado.


É nesse cenário que a vida de Bingham passa pelas reviravoltas típicas de um bom roteiro de cinema, sem necessariamente chegar aos clichês, quando aparecem na vida dele duas mulheres com dimensões afetivas distintas: primeiro, Alex (a atriz Vera Farmiga), uma encantadora funcionária de uma empresa em Chicago, que Bingham conhece por acaso em suas viagens, correspondendo a dimensão amorosa; enquanto que a dimensão profissional é manifestada através de Natalie  ( interpretada pela "revelação" Anna Kendrick), uma funcionária novata e promissora, representando a nova geração,que quer revolucionar a empresa em que Bingham trabalha revendo os métodos de seus predecessores, introduzindo um novo sistema de demissões on line, que implicaria no afastamento de Bingham, pela ausência de necessidade de se fazer novas viagens, e consequentemente com a produção de seu maior medo: ficar em terra e ter que encarar uma vida normal, sedentária, de relacionamentos fixos e uma vida estável, de compromisso familiar. Transformado, a contragosto, em mestre de sua nova pupila Natalie, Bingham é obrigado a viajar junto com ela pelo país, demonstrando os métodos de demissão da "velha escola", e a experiência além de nova, não deixa de ser transformadora para o executivo veterano, acompanhado de sua nova discípula, visto que ele se vê na condição de continuar com a velha vida, ou procurar outra, e, quem sabe, incluir Alex em seu projeto futuro. Vale salientar que Anna Kendrick também está cotada a uma indicação pelo oscar de melhor atriz coadjuvante, pelo desempenho no filme.

Percebe-se que o filme de Reitman parte de dois pressupostos básicos: o primeiro é o da crítica social, pois faz uma aguda crítica do capitalismo através da comédia, demonstrando o absurdo e a selvageria da política de corte de gastos e recessão produzida pela última crise econômica da era Bush, que agora é o abacaxi segurado por Obama; um segundo aspecto diz respeito à intimidade dos personagens, suas buscas e angústias interiores, como na desadequação de Bingham a uma vida familiar, o que é interpretado, como eu disse, com talento, por George Clooney, como também pelo destaque dado a jovem atriz Anna Kendrick, quando revela que sua personagem, ao tentar aparentar segurança e eficiência na empresa, na verdade trata-se de uma menina ainda frágil, mal saída da faculdade, com toda ingenuidade pueril do amor da juventude, e extremamente ambiciosa em querer vencer na carreira, mas  que mesmo assim, permanece no âmbito das afetividades apenas como uma menina. Resta a personagem Alex, que faz o par romântico de Bingham no filme e que guarda um segredo que sela a trama dramática, mas este, eu não vou contar aqui pra não estragar quem quer assistir o filme.

Em síntese, sei que "Avatar" deve conquistar a maior parte das estatuetas na próxima entrega do oscar, além de saber de muitos outros bons filmes e artistas excepcionais que vão concorrer ao prêmio. Porém, fica aqui minha torcida por George Clooney, o reconhecimento de sua trajetória e talento. Além de eu ceder um pouco à tietagem e afirmar em alto e bom som que gostaria de chegar aos 50 anos como ele. Seria tudo de bom! Afinal, o Antonio Fagundes com 60 tá bem pra caramba e  namorando a maior gata, por que eu não posso também conseguir?? Uma boa sessão de cinema pra quem for assistir "Amor sem Escalas"!

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