Pois é, corrijo tudo o que disse antes após assistir ao filme "500 dia com ela", do diretor estreante Marc Webb. Webb revitaliza o gênero do tìpico filme romântico ": rapaz encontra garota", para estrear uma original fábula sobre o desencontro, tratando de finais infelizes, que, na verdade, podem não ser bem infelizes assim.
Tratando-se do final, no início do filme o narrador já nos alerta: "esse não é um velho filme romântico com final feliz", ou seja, já sabemos desde o começo que a relação entre os personagens Tom (interpretado por Joseph Gordon Levitt) e Summer (a cada vez mais maravilhosa Zooey Deschanel) não vai dar certo. A relação tem começo, meio e fim, justamente nos 500 dias apontados no filme, onde dia após a dia (acreditem, o diretor conseguiu narrar os 500 dias de uma relação amorosa, sem ser chato em uma hora e meia de filme), vivemos as agruras do personagem Tom, atormentado pelos altos e baixos de sua relação com a namorada (será?) Summer.
Tom é exatamente idêntico, de forma inteiramente realista, a todos nós, homens, que já fomos ou ainda somos rapazes apaixonados, frágeis (acreditem, por detrás desse corpanzil, também sou), e que ainda acreditam no amor. Tom incorpora aquela nossa faceta de rapaz de vinte e poucos anos, ainda buscando experiências na vida pra se firmar profissionalmente e afetivamente, fã de músicas dos anos oitenta e que num casual encontro de elevador, ao escutar uma música de The Smiths, acaba se encontrando com seu objeto de desejo: a bela companheira de trabalho Summer.
Sobre Summer, para alguns aqui soará familiar, pois não posso escrever sobre a personagem sem me referir a atriz que a interpreta, já que sou fã confesso de Zooey Deschanel. Escrevi um artigo extenso sobre ela no ano passado, revelando minha tietagem, não apenas por ela ser linda, mas por ter um talento que transcende as telas de cinema e se traduz na bela voz, compondo e cantando na ótima banda indie She & Him(se ainda não baixou na internet ou não comprou o disco, não sabe o que está perdendo). É exatamente por ser essa garota indie, linda e descolada que é, que Deschanel consegue imprimir com leveza e naturalidade a sua Summer, que, de fato, se assemelha a toda garota linda que uma vez na vida conhecemos, e nos apaixonamos, mas sabíamos no fundo do coração, por mais que sofressemos, que não ia dar em nada. Summer não é uma vilã, uma sacana, ou uma "vadia" que quer roubar nossos corações, machucando-os com sua indiferença ou falta de amor. Na verdade, Summer é apenas uma garota que não acredita ( ou pensa que não acredita) no amor.
Por ser realista, é que o filme parece ter a pretensão de ser sério demais e talvez ganhar os ares de um drama. Ledo engano, "500 dias" consegue mesmo assim ser leve, engraçado e delicioso, porque com um sorriso no rosto, nós (principalmente os homens) irresistivelmente somos compelidos a nos identificar com Tom, e até torcer por ele (como fazem seus amigos no filme, que vira e mexe lhe dão conselhos), mas sabemos que, no fundo no fundo, aquilo não vai dar certo. Não dará certo porque somos vítimas de nossas paixões ( e sobre paixões já falei bastante aqui neste blog) e é justamente por isso que as paixões merecem ser vividas. Acompanhamos as desventuras de Tom não como se ele fosse um coitadinho, traído pelo amor; mas, ao contrário,vemos como ele se torna uma criatura que cresce, alguém que se agiganta na pequenez de seus sofrimentos miúdos, e que apesar de deixar a emoção levar o cérebro a cometer desastres, nos deixa a grande lição que o amor (inclusive o amor por nós mesmos) só se completa numa relação de aprendizado. E é isso que Tom acaba obtendo com Summer e vice-versa.
A trilha sonora então contribui mais ainda para açucarar os dias apaixonados de nosso herói da desventura amorosa, Tom. Só mesmo o melhor do rock britânico dos anos 80, com suas letras igualmente açucaradas e byronianas pra acompanhar o enredo das emoções tão típicas para quem está apaixonado. Nos 500 dias de que trata o filme em toda a sua extensão, Marc Webb, ele mesmo diretor de videoclipes, assim como seu colega Anton Corbjin (diretor do ótimo "Control", sobre a vida de Ian Curtis, do Joy Division), conjuga música e imagem numa estética de videoclipe já vista em filmes antes como "Corra Lola", mas com alguns toques de esperteza e originalidade. Basta ver a cena (opsss, não vou contar tudo) de um Tom já desiludido, abandonado, sozinho numa sala de cinema, e o que acontece quando ele vê os personagens na tela (nada haver com "A Rosa Púrpura do Cairo", mas quem for bom cinéfilo, ao ver, vai entender o que estou falando). É simplesmente hilariante e criativo. Outra cena impagável, é quando Tom, tentando recuperar seu relacionamento com a amada, vai até uma festa no apartamento dela, e podemos acompanhar em duas telas sincrônicas as duas perspectivas daquele dia: expectativa e realidade. É simplesmente o maior barato!!!!
Tenho um fraco por garotas indie, é verdade, não só eu, mas noventa por cento dos caras sensíveis que conheço, e por isso já quebrei a cara (assim como o personagem Tom). Porém, a graça está exatamente nisso, por termos a oportunidade de nos apaixonar pela garota errada; pois o erro faz parte do acerto de ter vivido uma experiência tão arrebatadora e ao mesmo edificante. Se podemos tirar mais lições do ótimo filme de Webb é de que a partir da paixão é que realmente vivemos, sobretudo quando passamos por ela e sabemos saborear o delicioso gosto do que ficou, que é o amor pela vida e a sensação de mudança, de transformação, que a paixão vivida nos trouxe. Na verdade, "500 dias com ela" não fala só de paixão, mas principalmente de transformação, e este é, a meu ver, o grande legado do filme. E como dizem na popular e velha frase que todo apaixonado que ainda tá se remoendo não quer escutar, mas quando passar a fase, vai concordar com certeza: a fila anda! O amor é lindo, com (ou sem) ela.
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