Foi com pesar e profundo respeito que soube da morte do mestre das artes marciais Helio Gracie, aos 95 anos, um dos responsáveis pela recriação e modernização do jiu-jítsu. Pra quem não entende nada de artes marciais ou só se recorda disso lembrando dos filmes de Karatê Kid na década de 80, antes de iniciar meu comentário, cabe dizer que sou sim admirador das artes marciais, especialmente da modalidade de luta desenvolvida pela família Gracie.
Quem assistiu ou quer assistir ao filme Red Belt ("Cinturão Vermelho"), dirigido pelo cineasta e escritor David Mamet (ele também um aficcionado por esse esporte), poderá perceber que fora a beleza de Alice Braga e o esforço de Rodrigo Santoro num elenco internacional, o grande cerne do filme é sobre o espírito dessa arte marcial chamada jiu-jítsu. O que há de tão fascinante nessa luta? Por que mais e mais academias abrem e mais e mais pessoas se dedicam a estudar e praticar esse esporte? Como o jiu-jítsu tornou-se um esporte milionário, a ponto de bater em audiência as antigas lutas de boxe, criando o ultimate fighting e se tornando um dos eventos televisionados mais assistidos no planeta? Será que o jiu-jítsu foi responsável pelo aumento da violência das ruas e pela formação das gangues de pit-boys?
A resposta encontra-se no começo do século XX, quando o brasileiro Carlos Gracie teve contato pela primeira vez na década de vinte com Mitsuo Maeda Koma ( o legendário conde Koma), campeão japonês emigrado para o Brasil. A partir dali iniciou-se uma grande amizade entre mestre e discípulo, e Carlos, assim como seu irmão mais novo Hélio, garotos franzinos e baixinhos, aprenderam a "Arte Suave" (jiu-jítsu em japonês), introduzindo novas técnicas e fundamentos, até transformar a luta numa modalidade esportiva totalmente nova, quase que 100% nacional. Daí, surgir a expressão utilizada hoje nos dicionários sobre esporte, de uma luta chamada brazilian Jiu-Jítsu ou estilo Gracie de jiu-jítsu.
A luta não tem propriamente suas origens no Japão, mas sim, segundo alguns autores, nos distantes rincões da India no período medieval, onde monges budistas criaram uma modalidade de luta baseada na defesa, que não fosse mortal e nem causasse danos ao adversário. Essa é a principal essência do jiu-jítsu. Uma arte de defesa, uma modalidade de luta para os subjugados e oprimidos. Tal prática fez sucesso no Japão feudal, pois possibilitou aos samurais desenvolverem uma sucessão de golpes e processos, que permitiam a um homem desarmado se defender de vários adversários armados ou não, com chance de vitória. Uma luta que não tinha por objetivo liquidar, mas sim neutralizar, imobilizar seu adversário a fim de que ele não mais ataque. Não é à toa que o jiu-jítsu passou a ser utilizado como técnica de defesa pessoal e acabou por se adotado por todos os cursos de formação policial e militar do mundo, no sentido de conter e neutralizar agressões, sem necessitar utilizar uma via letal. Na verdade o jiu-jítsu é empregado para conter a violência e não fomentá-la. Foi isso que impulsionou e motivou os irmãos Gracie por toda vida, criando uma linhagem de autênticos lutadores.
Hélio Gracie, em seus últimos anos de vida, foi bastante crítico ao que fizeram com o legado dele e do irmão com a mercantilização do esporte. Para ele, o jiu-jítsu tinha sido criado para dar chance aos mais fracos e oprimidos de enfrentarem os mais fortes, pesados e poderosos e não uma máquina de fazer dinheiro. De fato, ao se assistir uma luta de jiu-jítsu, percebe-se que tamanho e peso faz pouca diferença. Qualquer moleque franzino ou uma moça frágil podem derrubar um brutamontes, sabendo apenas algumas técnicas desenvolvidas numa luta de profunda sutileza. Como um xadrez da luta corporal, a riqueza do jiu-jítsu é justamente trabalhar uma harmonia mental e tranquilidade que permita ao lutador estudar o adversário, até empregar o melhor golpe que o imobilize em definitivo, utilizando-se de sua própria força e violência para derrotá-lo. Ficou para história a luta ocorrida em 1955, em pleno Maracanãzinho, quando Gracie, um baixinho fracote de 63 quilos, enfrentou por 3 horas e 45 minutos o japonês Masahiko Kimura, de cem quilos. Isso mesmo! Três horas e meia de luta, que só terminou quando Gracie, exausto, por descuido teve o braço quebrado.
Para o finado Gracie, o que prejudicou o esporte foi a introdução do capitalismo selvagem, que transformou a luta numa competição com regras específicas, duração limitada e privilégios aos mais fortes e pesados. Ou seja, tudo que ía na direção contrária do que pregava o mestre brasileiro. Em uma passagem brilhante do filme de Mamet, o personagem principal do filme, um professor de academia chamado Mike Terry (interpretado por Chiwetel Ejiofor), é perguntado, ao se esquivar de participar de lutas pagas, se ele ensinava seus alunos de jiu-jítsu a lutar. Eis que ele responde, bem dentro da filosofia do esporte: " eu não os ensino a lutar, os ensino a vencer!". De fato, o autêntico lutador de jiu-jítsu, que entende qual a mensagem que o esporte quer passar, é avesso à competições que visem lucro e desenvolve a luta muito mais como uma forma de aprimorar a mente e o corpo, e propiciar sua defesa diante de uma situação de violência ou agressão não justificada, tornando oprimidos vencedores. Percebe-se, portanto, que o jiu-jítsu em sua filosofia tem fortes traços de religiosidade, que poderiam muito bem terem sido extraídas do budismo, e que também podem ser interpretadas pelo cristianismo. Ao invés de promover a violência, na verdade o jiu-jítsu é muito mais um instrumento da paz e de promoção da justiça, quando aqueles que são agredidos reagem, imobilizando seus agressores.
Nesse sentido, a legião de pitboys, garotões bombados das academias, que se reunem em gangues tão somente para causar confusão em festas e boates, não tem absolutamente nada haver com os princípios do jiu-jítsu ou os seguidores da família Grace. Talvez como produto dessa mercantilização do esporte, esses rapazes são tão somente meninos mimados e frustrados que se impressionaram com as lutas vistas na televisão, e passam a promover agitações e pancadarias tão somente para aparecer. Sabe-se que o jiu-jítsu, como se trata de uma arte de defesa, nunca inicia uma luta, e, na verdade, só pode ser empregado após uma reação a uma provocação. Assim, os marmanjos valentões que criam confusões nas ruas, tem que sair nos lugares provocando seus desafetos, para que então possam, de forma vil e criminosa, deturpar todos os ensinamentos do velho mestre Koma e dos irmãos Gracie, utilizando-se de golpes de jiu-jítsu para promover a violência e não o contrário.
Mas, fora a deformação de toda grande arte, assim como as tragédias pessoais que abalaram a família Gracie ( a última o falecimento de Ryan, neto de Carlos, campeão panamericando de jiu-jítsu em 1997, por envolvimento com drogas), esse clã de lutadores continua agora sua jornada sem a figura de seu último patriarca, com a obrigação de perpetuar o legado de um mito. O sobrenome Gracie já ficou registrado indelevelmente na história das artes marciais, resta saber se seus pupilos manterão o respeito e a filosofia budista que sempre inspirou esse belo esporte. Descanse em paz mestre Gracie!
Um blog em forma de almanaque, com comentários sobre cultura, política, economia, esporte, direito, história, religião, quadrinhos, a vida do próximo, o que você desejar, ou que os seus olhos se permitam a ler e comentar, contribuindo para as reflexões desse humilde missivista, neófito nos mares internaúticos, em meio a esta paranoia moderna.
sábado, 31 de janeiro de 2009
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
PEDALA ROBINHO!!
Parece que já está fazendo parte da crônica esportiva a imprensa noticiar não mais o talento ou os dotes futebolísticos de nossos atletas, mas sim seus encândalos sexuais. Vide a triste exposição ao ridículo a que foi submetido o agora craque do timão Ronaldo Nazário (ex-fenômeno), no célebre imbróglio com travestis no Rio de Janeiro, ano passado, que rendeu uns bons trocados no mercado de filmes pornôs para a transexual Andréia. Creio que quem realmente lucrou no período foram os programas humorísticos, pois nosso craque acima do peso proporcionou assunto para piadas e tiradas cômicas durante uma porção de meses.
Ainda durante o ano passado, o outro Ronaldo (o gáucho), não bastou demonstrar uma atuação pífia e insossa durante os Jogos Olímpicos, conquistando apenas a já manjada medalha de bronze para o futebol nacional (convenhamos! medalha de bronze em futebol pra brasileiro é a mesma coisa que chupar um picolé ainda com a embalagem!), como também envolveu-se num quiprocó com uma bela jogadora da seleção feminina norueguesa, numa paquera mal feita que acabou rendendo também risadas nos jornais, sobre um suposto pedido de casamento mal sucedido, entre um assédio e outro nos corredores da Vila Olímpica. Pô! O cara pode ser feio de doer e dentuço, mas o problema do repúdio da gata escandinava não foi a feiúra do rapaz, mas sim o flerte mal feito. Ronaldinho Gaúcho contribuiu para afetar a hombridade e ao autoestima do macho brasileiro, quando fez com que ficássemos com a fama de paqueradores incompetentes. Já não bastava não termos ganho a medalha de ouro nas Olimpíadas, dando-a de mão beijada pros argentinos, ainda ficamos com fama de não saber "dar em cima" de mulher bonita estrangeira.
Agora, para completar a salada de escândalos sexuais, atônito fiquei ao saber que o nosso eterno atacante Robinho, o gênio das pernas pedalantes, também caiu na gandaia e numa fria literalmente, ao tentar se dar bem numa boate britânica, na chuvosa e gélida noite inglesa.
Segundo informações da polícia da Inglaterra, Robinho foi preso e acusado, no dia 16 de janeiro, de ter estuprado uma estudante universitária britânica de 18 anos, durante uma noitada. A acusação é muito séria, seríssima, até porque sabemos do abalo que provocam tais acusações no mundo do esporte. Quem não se lembra do calvário de Mike Tison na década passada, jurando de pé junto que não tinha estuprado a modelo Desiré Washington, ao entrar em seu quarto de hotel, acabando por ter que cumprir uma dolorosa pena de 5 anos num presídio norte-americano? É, com isso não se brinca, e acredito que nossos jogadores ao se meterem nessas enrascadas, envolvem-se não por maldade, acredito, mas pela completa, absurda e impressionante ingenuidade.
Acredito que a fama por vezes pode tornar ingênuas as pessoas. A ilusão do ser intocável se desfaz no momento em que, no mundo dos vivos são cobradas as responsabilidades. Em reportagem interessante na Revista Galileu do mês passado, li entre outras coisas um estudo científico sobre a burrice. Isso mesmo, sobre a impressionante capacidade humana de dar mancada justamente nas ocasiões mais improváveis. Entre um dos motivos estaria a teoria de que o poder emburrece. Sim! O poder. Seja ele na sua dimensão política, econômica ou midiática, o poder acaba por afetar as decisões de seu detentor, acabando ele por tomar atitudes consideradas por muitos como absurdas ou sem pé nem cabeça. No caso das celebridades, e, em especial, aquelas do mundo do esporte, a ilusão de que são super-heróis, tais quais um sobrehumano Michael Phelps, capaz de ultrapassar os limites físicos de muitas pessoas (o que leva a trazer fama e fortuna), acaba por levar essas pessoas a na vida cotidiana a adotar determinadas práticas que não condizem com as de pessoas sensatas ou minimamente racionais.
No caso de Robinho muito ainda não foi explicado, o que não deve induzir a pré-julgamentos, mas é tão somente lamentável ver que nossos craques lá fora, acabam por voltar da Europa com o filme queimado. Como que numa lavagem de roupa suja e reputações, nos habituamos ao ouvir falar das confusões de Adriano com a Inter de Milão e seus excessos alcóolicos, o desligamento melancólico de Ronaldo do Milan após o escândalo com os travestis cariocas, e agora a inadaptação de Robinho ao Manchester City. Parece que os jogadores brasileiros estão sendo vistos agora no exterior não mais como criativos gênios da bola, autênticos craques consagrados no futebol mundial, mas sim como uma corja de desordeiros ou desajustados, moleques imaturos ou que já deveriam ter alcançado a maturidade, ou como "animais" tais quais um Edmundo que depois de tantos processos, e tantas escaramuças na vida privada, acabou também por se despedir melancolicamente de um Vasco na segunda divisão.
Pode ser até que Robinho seja inocente dessas graves acusações. Queira Deus que sim! Porém, o que pode se julgar aqui não é a acusação em si, mas sim a capacidade humana desses jogadores de entrarem em fria. Numa crescente espiral de escandâlos resta saber, afinal: o que está acontecendo com nossos jogadores?
Um outro tema que merece comentário, mediante o que ocorreu com Robinho, é assunto já tratado em muitas mesas-redondas de futebol hoje em dia, aqui no Brasil. Trata-se de qual cultura futebolística está sendo formada hoje em dia na formação moral de nossos craques. Explico fazendo comparações nas minhas conexões com astros da bola do passado, tão ou bem mais encrencados como Robinho ou Ronaldinho Gaúcho, tais quais um Garrincha ou um Heleno. Poderia falar de outros casos de atletas que souberam envelhecer com dignidade, sem a obviedade de Pelé, tais como Zico ou Paulo Roberto Falcão. Ou daqueles que após visitarem o fundo do poço, depois de passarem pelo mundo das drogas se reerguem, numa comovente redenção, como Marinho ou Casagrande.
Em todos esses atletas o futebol esteve presente não apenas como meio de vida, mas como uma filosofia da pelota que norteou suas escolhas e os transformou em referenciais para toda uma juventude. Além dos meus heróis de gibi, os meus heróis na vida (além do meu pai) eram aqueles jogadores estampados em álbuns de figurinhas que colecionávamos na infância, nas embalagens de chicletes ou tampinhas de refrigerantes. Explico para os que não gostam de futebol, que parte da mítica que o futebol introduz no torcedor é esse imaginário épico, típico das estórias de Julio Verne ou Walter Scott. Os heróis da bola eram não apenas um plantel de jogadores, que se reunia os 90 minutos para disputar uma partida entre traves num vasto gramado. Podem me chamar de piegas, mas para mim naquela época de criança, os craques eram aquelas figuras míticas, eram bravos, destemidos, guerreiros ostentando, entre o número da camiseta o brasão de seu time, a disposição de vencer a partida, nem que fosse nos últimos derradeiros e emocionantes minutos. Eram seres de carne e osso, porém também referenciais, o irmão mais velho que você queria ter, para as mulheres o noivo amado que saía em batalha e voltava exausto e com as pernas sangrando para os braços da amada, ou simbolizavam (freudianamente falando) a figura de meu pai ainda jovem, chamando-me para uma partida solitária no campo atrás de casa, para repetirmos em nossa fábula juvenil, as façanhas dos jogadores que vínhamos na TV, entoando com orgulho o hino da seleção canarinho.
Hoje em dia parece que tudo mudou. A subcultura do futebol assimilou os piores traços da cultura consumista e globalizada transformando os jogadores em precoces homens de negócio que negociam através de empresários seus próprios passos ( e passes). Parece não haver mais lugar para ideologias no futebol ou a manutenção de valores caros ao tradiconal esporte bretão, tais como: lealdade, fidelidade ou paixão a um time ou seleção. Como mercadores do mundo globalizado que negociam sua própria mão de obra, os jogadores hoje em dia só pensam em engordar suas contas bancárias, meio que justamente, dizem, para ajudarem suas famílias. É verdade que ainda hoje a grande maioria dos jogadores de futebol profissional vem de famílias pobres ou de classe média das periferias das grandes cidades (salvo raras exceções como o caso do jogador Kaká). Porém, eis o diferencial, os valores cultivados no tempo de jogadores também tidos como desajustados como Garrincha, são bem diferentes hoje dos alcançados por um Adriano ou um Robinho.
Garrincha era um típico jogador de tempos passados, produto de sua zeitgeist, ou seja, era um representante do espírito de seu tempo. Naquela época, nos idos dos anos cinquenta, num Brasil ainda traumatizado pela perda do Mundial de 50 nas mãos da seleção celeste uruguaia, o futebol ainda era uma modalidade esportiva para desocupados, pretos preguiçosos pobres, explorados por seus clubes, que, quando muito, podiam comprar com muito custo um carro usado e manter uma casa para suas famílias, pois o esporte não tinha o grau de profissionalismo, propaganda e sofisticação que tem hoje. Ver a seleção canarinho então fazer bonito sendo a primeira sul-americana a conquistar um mundial, derrotando os favoritíssimos suecos na Copa de 58, sinalizou para um período novo na história do futebol brasileiro, mas também para uma redimensão do papel do jogador, sua relação com os clubes e com o público. Com o passar do tempo, os jogadores da seleção brasileira passaram a ser reconhecidos como atletas da grandeza a que eles merecidamente possuíam. Porém, demorou mais de duas décadas, até que craques genuínos como um Paulo Roberto Falcão pudessem fazer sucesso no futebol profissional estrangeiro, gerenciar sua própria carreira e poder constituir verdadeiras fortunas.
A meu ver esse é o marco diferenciador da postura moral do jogador de futebol bem sucedido, integrante da seleção brasileira hoje. Se, outrora, havia componentes sociais responsáveis por uma identificação moral do jogador com sua comunidade e sua pátria, a ponto dele naturalmente adotar uma conduta diligente quanto a sua preparação física e mental no desempenho das partidas. Hoje, com os avanços da medicina desportiva, o advento do merchandising futebolístico e a consequente transformação dos times em grandes empresas e corporações econômicas transnacionais, o jogador passou a ser visto apenas como uma engrenagem do sistema, com direito a tratamento vip: roupas caras, carros velozes, mansões nababescas, contratos milionários em clubes europeus, baladas em grandes festas, bebidas e mulheres, muitas mulheres!
Como um novo playboy do mundo globalizado, o jogador astro de futebol brasileiro afastou-se de vez de sua torcida, distanciou-se da comunidade. Agora, preparado desde cedo para galgar a glória num alpinismo social, não se cultiva mais na cultura futebolística a vitória através do sucesso de uma empreitada coletiva de 11 homens em campo, mas sim o simples êxito individual. Nossos jogadores ficaram mais individualistas sim, e nesse individualismo tornaram-se arrogantes, e nessa arrogância acharam que tinham muito poder, e com o poder vem os erros, com o poder vem a burrice. Pois como já dizia o saudoso tio Ben a Peter Parker:"grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Pedala Robinho!
Ainda durante o ano passado, o outro Ronaldo (o gáucho), não bastou demonstrar uma atuação pífia e insossa durante os Jogos Olímpicos, conquistando apenas a já manjada medalha de bronze para o futebol nacional (convenhamos! medalha de bronze em futebol pra brasileiro é a mesma coisa que chupar um picolé ainda com a embalagem!), como também envolveu-se num quiprocó com uma bela jogadora da seleção feminina norueguesa, numa paquera mal feita que acabou rendendo também risadas nos jornais, sobre um suposto pedido de casamento mal sucedido, entre um assédio e outro nos corredores da Vila Olímpica. Pô! O cara pode ser feio de doer e dentuço, mas o problema do repúdio da gata escandinava não foi a feiúra do rapaz, mas sim o flerte mal feito. Ronaldinho Gaúcho contribuiu para afetar a hombridade e ao autoestima do macho brasileiro, quando fez com que ficássemos com a fama de paqueradores incompetentes. Já não bastava não termos ganho a medalha de ouro nas Olimpíadas, dando-a de mão beijada pros argentinos, ainda ficamos com fama de não saber "dar em cima" de mulher bonita estrangeira.
Agora, para completar a salada de escândalos sexuais, atônito fiquei ao saber que o nosso eterno atacante Robinho, o gênio das pernas pedalantes, também caiu na gandaia e numa fria literalmente, ao tentar se dar bem numa boate britânica, na chuvosa e gélida noite inglesa.
Segundo informações da polícia da Inglaterra, Robinho foi preso e acusado, no dia 16 de janeiro, de ter estuprado uma estudante universitária britânica de 18 anos, durante uma noitada. A acusação é muito séria, seríssima, até porque sabemos do abalo que provocam tais acusações no mundo do esporte. Quem não se lembra do calvário de Mike Tison na década passada, jurando de pé junto que não tinha estuprado a modelo Desiré Washington, ao entrar em seu quarto de hotel, acabando por ter que cumprir uma dolorosa pena de 5 anos num presídio norte-americano? É, com isso não se brinca, e acredito que nossos jogadores ao se meterem nessas enrascadas, envolvem-se não por maldade, acredito, mas pela completa, absurda e impressionante ingenuidade.
Acredito que a fama por vezes pode tornar ingênuas as pessoas. A ilusão do ser intocável se desfaz no momento em que, no mundo dos vivos são cobradas as responsabilidades. Em reportagem interessante na Revista Galileu do mês passado, li entre outras coisas um estudo científico sobre a burrice. Isso mesmo, sobre a impressionante capacidade humana de dar mancada justamente nas ocasiões mais improváveis. Entre um dos motivos estaria a teoria de que o poder emburrece. Sim! O poder. Seja ele na sua dimensão política, econômica ou midiática, o poder acaba por afetar as decisões de seu detentor, acabando ele por tomar atitudes consideradas por muitos como absurdas ou sem pé nem cabeça. No caso das celebridades, e, em especial, aquelas do mundo do esporte, a ilusão de que são super-heróis, tais quais um sobrehumano Michael Phelps, capaz de ultrapassar os limites físicos de muitas pessoas (o que leva a trazer fama e fortuna), acaba por levar essas pessoas a na vida cotidiana a adotar determinadas práticas que não condizem com as de pessoas sensatas ou minimamente racionais.
No caso de Robinho muito ainda não foi explicado, o que não deve induzir a pré-julgamentos, mas é tão somente lamentável ver que nossos craques lá fora, acabam por voltar da Europa com o filme queimado. Como que numa lavagem de roupa suja e reputações, nos habituamos ao ouvir falar das confusões de Adriano com a Inter de Milão e seus excessos alcóolicos, o desligamento melancólico de Ronaldo do Milan após o escândalo com os travestis cariocas, e agora a inadaptação de Robinho ao Manchester City. Parece que os jogadores brasileiros estão sendo vistos agora no exterior não mais como criativos gênios da bola, autênticos craques consagrados no futebol mundial, mas sim como uma corja de desordeiros ou desajustados, moleques imaturos ou que já deveriam ter alcançado a maturidade, ou como "animais" tais quais um Edmundo que depois de tantos processos, e tantas escaramuças na vida privada, acabou também por se despedir melancolicamente de um Vasco na segunda divisão.
Pode ser até que Robinho seja inocente dessas graves acusações. Queira Deus que sim! Porém, o que pode se julgar aqui não é a acusação em si, mas sim a capacidade humana desses jogadores de entrarem em fria. Numa crescente espiral de escandâlos resta saber, afinal: o que está acontecendo com nossos jogadores?
Um outro tema que merece comentário, mediante o que ocorreu com Robinho, é assunto já tratado em muitas mesas-redondas de futebol hoje em dia, aqui no Brasil. Trata-se de qual cultura futebolística está sendo formada hoje em dia na formação moral de nossos craques. Explico fazendo comparações nas minhas conexões com astros da bola do passado, tão ou bem mais encrencados como Robinho ou Ronaldinho Gaúcho, tais quais um Garrincha ou um Heleno. Poderia falar de outros casos de atletas que souberam envelhecer com dignidade, sem a obviedade de Pelé, tais como Zico ou Paulo Roberto Falcão. Ou daqueles que após visitarem o fundo do poço, depois de passarem pelo mundo das drogas se reerguem, numa comovente redenção, como Marinho ou Casagrande.
Em todos esses atletas o futebol esteve presente não apenas como meio de vida, mas como uma filosofia da pelota que norteou suas escolhas e os transformou em referenciais para toda uma juventude. Além dos meus heróis de gibi, os meus heróis na vida (além do meu pai) eram aqueles jogadores estampados em álbuns de figurinhas que colecionávamos na infância, nas embalagens de chicletes ou tampinhas de refrigerantes. Explico para os que não gostam de futebol, que parte da mítica que o futebol introduz no torcedor é esse imaginário épico, típico das estórias de Julio Verne ou Walter Scott. Os heróis da bola eram não apenas um plantel de jogadores, que se reunia os 90 minutos para disputar uma partida entre traves num vasto gramado. Podem me chamar de piegas, mas para mim naquela época de criança, os craques eram aquelas figuras míticas, eram bravos, destemidos, guerreiros ostentando, entre o número da camiseta o brasão de seu time, a disposição de vencer a partida, nem que fosse nos últimos derradeiros e emocionantes minutos. Eram seres de carne e osso, porém também referenciais, o irmão mais velho que você queria ter, para as mulheres o noivo amado que saía em batalha e voltava exausto e com as pernas sangrando para os braços da amada, ou simbolizavam (freudianamente falando) a figura de meu pai ainda jovem, chamando-me para uma partida solitária no campo atrás de casa, para repetirmos em nossa fábula juvenil, as façanhas dos jogadores que vínhamos na TV, entoando com orgulho o hino da seleção canarinho.
Hoje em dia parece que tudo mudou. A subcultura do futebol assimilou os piores traços da cultura consumista e globalizada transformando os jogadores em precoces homens de negócio que negociam através de empresários seus próprios passos ( e passes). Parece não haver mais lugar para ideologias no futebol ou a manutenção de valores caros ao tradiconal esporte bretão, tais como: lealdade, fidelidade ou paixão a um time ou seleção. Como mercadores do mundo globalizado que negociam sua própria mão de obra, os jogadores hoje em dia só pensam em engordar suas contas bancárias, meio que justamente, dizem, para ajudarem suas famílias. É verdade que ainda hoje a grande maioria dos jogadores de futebol profissional vem de famílias pobres ou de classe média das periferias das grandes cidades (salvo raras exceções como o caso do jogador Kaká). Porém, eis o diferencial, os valores cultivados no tempo de jogadores também tidos como desajustados como Garrincha, são bem diferentes hoje dos alcançados por um Adriano ou um Robinho.
Garrincha era um típico jogador de tempos passados, produto de sua zeitgeist, ou seja, era um representante do espírito de seu tempo. Naquela época, nos idos dos anos cinquenta, num Brasil ainda traumatizado pela perda do Mundial de 50 nas mãos da seleção celeste uruguaia, o futebol ainda era uma modalidade esportiva para desocupados, pretos preguiçosos pobres, explorados por seus clubes, que, quando muito, podiam comprar com muito custo um carro usado e manter uma casa para suas famílias, pois o esporte não tinha o grau de profissionalismo, propaganda e sofisticação que tem hoje. Ver a seleção canarinho então fazer bonito sendo a primeira sul-americana a conquistar um mundial, derrotando os favoritíssimos suecos na Copa de 58, sinalizou para um período novo na história do futebol brasileiro, mas também para uma redimensão do papel do jogador, sua relação com os clubes e com o público. Com o passar do tempo, os jogadores da seleção brasileira passaram a ser reconhecidos como atletas da grandeza a que eles merecidamente possuíam. Porém, demorou mais de duas décadas, até que craques genuínos como um Paulo Roberto Falcão pudessem fazer sucesso no futebol profissional estrangeiro, gerenciar sua própria carreira e poder constituir verdadeiras fortunas.
A meu ver esse é o marco diferenciador da postura moral do jogador de futebol bem sucedido, integrante da seleção brasileira hoje. Se, outrora, havia componentes sociais responsáveis por uma identificação moral do jogador com sua comunidade e sua pátria, a ponto dele naturalmente adotar uma conduta diligente quanto a sua preparação física e mental no desempenho das partidas. Hoje, com os avanços da medicina desportiva, o advento do merchandising futebolístico e a consequente transformação dos times em grandes empresas e corporações econômicas transnacionais, o jogador passou a ser visto apenas como uma engrenagem do sistema, com direito a tratamento vip: roupas caras, carros velozes, mansões nababescas, contratos milionários em clubes europeus, baladas em grandes festas, bebidas e mulheres, muitas mulheres!
Como um novo playboy do mundo globalizado, o jogador astro de futebol brasileiro afastou-se de vez de sua torcida, distanciou-se da comunidade. Agora, preparado desde cedo para galgar a glória num alpinismo social, não se cultiva mais na cultura futebolística a vitória através do sucesso de uma empreitada coletiva de 11 homens em campo, mas sim o simples êxito individual. Nossos jogadores ficaram mais individualistas sim, e nesse individualismo tornaram-se arrogantes, e nessa arrogância acharam que tinham muito poder, e com o poder vem os erros, com o poder vem a burrice. Pois como já dizia o saudoso tio Ben a Peter Parker:"grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Pedala Robinho!
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
A CRIMINALIZAÇÃO DO MST
A revista Veja, em recente edição publicada essa semana, alfineta o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra já em sua capa, com a seguinte manchete: "MST-25 anos de crimes e impunidade". A reportagem de cinco páginas atesta o óbvio "lulante"(perdoem o trocadilho), acerca das controvérsias e críticas sobre a atuação desse polêmico movimento social. Não é de hoje que parte da mídia qualifica o movimento como um grupo terrorista ou uma quadrilha ( vide a UDR que já dizia isso desde o seu nascedouro), mas a novidade que os senhores da Veja querem nos mostrar é que o grupo é hoje, comprovadamente criminoso.
Certa ocasião, em minhas perambulações universitárias pelo sul do país, deparei-me com uma mestranda em Direito, militante das causas sociais que reagiu com indignação e uma certa arrogância quando eu disse a ela num bate-papo que eu comprava e lia a VEJA. Sim! Para alegria da Editora Abril e de seus funcionários, saibam que eu contribuo para as contas da revista e a consequente folha de pagamento de pessoal, depositando meus R$ 8,40 no caixinha da empresa, ao menos quinzenalmente. Essa estudante me disse na ocasião que era inteligente e que pessoas inteligentes não liam aquela porcaria chamada Veja. Sim, num instante perdi a razão e a paquera, pelo simples fato de ter em meu acervo de periódicos a digníssima publicação da família Civita. Ora, vale bem lembrar que como leitor voraz e compulsivo, exercito meus vícios consumistas adquirindo o mais variado repertório de publicações em língua nacional ou estrangeira. Poderia ter dito a ela que também era leitor da Bravo (outra publicação da Abril), ou da Carta Capital, ou ainda da militante e aguerrida Caros Amigos, como também da Época, da Isto É, da Rolling Stone Brasil, da Newsweek e até de bula de remédio! Só não vou comprar a CARAS, aí que me perdoem meus caros leitores dessa revista, mas aí já é demais!! O exercício masoquista de ver ricos e famosos comendo, bebendo, viajando a lugares magnifícos, namorando, e morando em casas luxuosas, enquanto estou em casa liso, pra mim não dá certo!
Tenho sim um especial apreço pela revista e curiosidade sobre suas reportagens não porque seja idólatra ou fiel assinante da Editora Abril e nem o idiota que me fez supor a adorável jovem citada, que repudiou meu gosto literário. Gosto da Veja porque gosto de ver como pensam e como resmungam aqueles que pensam intensamente o contrário de mim. É muito bom poder conhecer seus inimigos, nem que sejam apenas seus inimigos verbais. Assim, me dá gosto poder ler os caminhos editoriais ideologicamente bem traçados pelo senhor Mário Sabino (redator-chefe) da Revista, assim como os deliciosos textos de Reinaldo de Azevedo, as elucubrações do hilariante Diogo Mainardi, assim como a crítica cinematográfica da cinéfila de botequim Isabela Boscov. Interessantes textos, pois é interessante ver o quanto é divertido, curioso e engraçado ver a extensão do mau gosto. Como um tele-espectador de um programa "Pânico na TV", fico percebendo até que ponto a galhofa, a canastrice, o pieguismo de ideias, o latido neoliberal e a pomposa arrogância dos senhores prostrados à beira da Marginal Pinheiros pode atingir os limites do inconcebível, em sua crítica engenhosamente dantesca e bem trabalhada, no sentido de desmoralizar todo e qualquer pensamento humanista ou humanizante, socialista, favorável à democracia e aos movimentos sociais, "politicamente correto" como queiram, ou ao menos comprometido com a transformação social. Esse pensamento é dos partidários do abalo da mesmice, da crítica da idiotice ou da acomodação da classe média ambiciosa e resmungona, um pensamento defensor de direitos sociais constitucionalmente assegurados e garantidos.
Vão me falar que posso estar sendo contraditório quanto à defesa da liberdade de expressão ao criticar a Revista Veja neste comentário, antes de introduzir aqueles que leem estas linhas, o que verdadeiramente quero tratar quanto ao assunto no título. Porém, é justamente em prol dessa liberdade e sendo um profundo defensor da permanência de publicações como essa, que teço minhas críticas no sentido propriamente de ingressar no assunto deste texto, a fim de que os queridos amigos leitores do blog possam entender melhor minha formulação.
Pois bem, Veja espinafra o MST, e na visão de seus articulistas ( que reproduz naturalmente boa parte do que pensam seus ávidos leitores), os militantes desse grupo já deviam todos estar na cadeia há muito tempo. É importante salientar que não assumo aqui qualquer postura de apaixonado defensor do movimento e nem vou aqui tecer qualquer crítica ingênua. Já disse em outros comentários que, a meu ver, as ideologias também envelhecem, e é remando no contrafluxo desse maré ideológica que considero que faltou a Veja apenas vestir a carapuça neoliberal que a revista já ostenta há muito tempo. Quem não se lembra dos alardes golpistas praticados pela revista quando do escândalo do Mensalão? Na época Veja, assim como o insípido movimento de socialites paulistas chamado "CANSEI" apressaram-se em entoar o coro do "Fora Lula"! O quanto foi engraçado, e por isso um dos motivos de gostar de ler a revista que me traz divertimento, na hilária e impagável assertiva dos boquiabertos articulistas da Veja, afirmando em antológica frase que: "o povo venceu a opinião pública", quando Lula alcançou fácil sua reeleição, com altíssimos e históricos índices de aprovação, e tornou-se o governante mais bem avaliado das Américas, apesar da agressiva campanha de VEJA. Pois é, resta saber se a opinião pública a que se referiram os nobres senhores da revista é formada por altos executivos paulistas de empresas privadas, privilegiados economicamente em seus cercados e protegidos condomínios de luxo, com aversão a pobres, pretos e nordestinos, e quando não assíduos frequentadores, com suas digníssimas esposas(os) e filhos, dos cintilantes shopping centers da capital paulista. Mais, resta saber se essa opinião pública está sediada no bairro de Alto dos Pinheiros, onde se localiza quase que em sua maioria a cúpula de todo o PSDB paulista (por coincidência, pelo que eu saiba, onde mora a Regina Duarte também).
Como em Lula não deu pra bater, o novo-velho "boi de piranha" da mídia sebosa agora é o MST. Como se ninguém soubesse que vários militantes do movimento usam armas. Como se ninguém soubesse do tempo em que seus integrantes levavam chumbo direto dos latinfundiários, com comunidades inteiras sendo recebidas à bala pela polícia, como se fossem a pobre coitada população civil de palestinos em Gaza, mediante a bárbara atuação canhestra e genocida do exército israelense. Ora, se seus integrantes cometem crimes, que sejam enquadrados no Código Penal, presos, processados e fiquem na cadeia! O que não dá pra engolir é a mesmice do papo de donzela indignada da VEJA de que, mediante a aquisição pela reportagem da revista de cadernos com manual de guerrilha, o MST possa agora ser qualificado tão somente como um grupo terrorista. Que desmoralização pra Al Quaeda se o MST virar terrorista! Que agressão ao léxico linguístico e a reforma ortográfica a conceituação que os repórteres da Veja estão dando ao que seja terrorismo.Vai ver pensam que seus leitores são burros, e ainda por cima querem confirmar o que aquela estudante universitária disse pra mim quando eu falei pra ela que lia essa revista. Vai ver ela é quem tem razão! Sou idiota mesmo!
A reportagem de Veja diz que os militantes do MST utilizam cartilhas de formação maoísta, ensinando inclusive as crianças nos assentamentos como montar guarda, fabricação de bombas e táticas de guerrilha. Ora, se for caso de corrupção de menores, cadeia para seus autores e pronto! Agora se o fato é que o movimento inteiro é criminoso por ter uma rede interna de ensino bitolada, pautada num esquerdismo tosco, aí de bitolação estamos cheios no país inteiro e isso não é obra só do MST. Posso dizer, por exemplo, que é bitolado o ensino religioso em muitas igrejas de linha conservadora e fundamentalista, que entendem que educação sexual é ensinar a crianças e adolescentes que foram gerados através de uma abençoada cegonha.
Os dirigentes do MST são acusados pela revista de manter confinados seus integrantes, e não permitir, sequer a saída temporária deles para a realização de cirurgias, como descreve um dos cadernos apreendidos, pois a militante só poderia sair naquele caso com autorização da coordenação. Ué? Em muitas empresas privadas, senão todas, onde predomina o capitalismo selvagem, o pobre coitado ou coitada saiu da empresa pra cuidar de filho doente, dançou, pois vai entrar outro no lugar. Surpreende-me a denúncia de Veja, uma vez que se eles entrarem lá no bairro do Brás em São Paulo, vão perceber que ainda tem muito trabalhador e trabalhadora sem poder sair durante o expediente, sob pena de ser demitido, assim como no MST, há o expediente de desligar alguém do grupo caso se ausente por muito tempo do movimento. Pode ser questionável a prática, mas garanto que criminosa não é!
A matéria da revista ainda diz que o MST tem entre seus integrantes indivíduos com passagem pela polícia, ex-integrantes das FARC, muitos desvalidos, alguns aproveitadores e bandidos de todo tipo. Ora, se eu fosse identificar em várias organizações, empresas, associações que se espalham por aí, quantos dos seus integrantes são fichados criminalmente ou negativados no SPC, eu teria que prender parte do Congressso Nacional, fechar alguns templos de igrejas, demitir metade do funcionalismo público e boa parte dos integrantes das polícias e, sobretudo, meter na cadeia o Dado Dolabella, já que o ator global de gênio explosivo foi acusado pela imprensa e pela Justiça de agredir a ex-namorada Luana Piovani e a empregada dela, e, naturalmente, não terá mais nas novelas uma ficha criminal limpa.
Mas, vamos lá! Se eu comparar o MST as FARC, como há anos tenta provar VEJA, eu terei que demonstrar que o grupo quer tomar alguma parte do território nacional ( talvez o "Bico do Papagaio" ou a "Serra das Araras"), terei que demonstrar que os caras abertamente recusam qualquer caminho democrático nos termos de uma institucionalidade (como, por exemplo: eleições), e serem abertamente defensores da queda do governo e apolegetas de uma revolução. VEJA acusa o governo de ser leniente com o MST, ou até mesmo seu cúmplice. E mais uma vez a revista não atesta qualquer novidade ao dizer que o movimento nasceu com boa parte de colaboração da legenda do presidente Lula. Inclusive, deputados gaúchos do partido são citados como principais incentivadores e quem sabe, protetores do movimento, numa acusação que pode até render processo de calúnia, uma vez que o texto da reportagem nos faz entender que os citados parlamentares estariam acobertando supostas ações criminosas. Daí é que percebo a principal contradição no texto da reportagem. Se o governo é cúmplice do movimento, como é que o movimento pode ser terrorista se age contra um Estado que o protege? Seria no mínimo um exercício de burrice, ou estupenda loucura esquizofrênica, o movimento como um todo se insurgir contra um governo que, efetivamente, trabalha uma política de assentamentos muito mais eficaz que o governo anterior, e que auxilia boa parte das famílias que compõem a organização; pois são beneficiadas pelo bolsa-família do governo, o que minimizaria qualquer jargão anti-governista. Afinal, não se cospe no prato que se come, não é?!
Fico me perguntando se não foi por falta de pauta ou do que fazer, que os repórteres de VEJA voltaram com a ladainha de criminalizar o MST.
O problema de Veja é que a revista faz aquele típico jornalismo marrom no estilo "Notícias Populares", e há muito abandonou aquela linha séria e comprometida com a democracia e transformação social, nos tempos do saudoso Victor Civita (este sim um homem digno, de respeito e boa memória, que nos tempos da ditadura deu uma linha combativa e compromissária na Revista, sob cerco da censura), prosseguindo o caminho jornalístico traçado pela antiga Revista Realidade, a antecessora de Veja. Com a democracia, a liberdade de expressão e o advento da era FHC, a revista preferiu mudar de rumos, assumindo quase que capciosamente um discurso claramente neoliberal e anti-petista. Não que eu faça aqui um discurso purista, salvacionista do PT, até porque é uma legenda que admiro, mas repleta de grandes erros e elementares equívocos.
Veja tornou-se ruim não porque tenha guinado para uma posição ideológica definida, mas sim porque não assumiu publicamente essa opção. Em outros países democráticos, principalmente nos Estados Unidos, os grandes meios de comunicação e as grandes publicações assumem claramente suas opções e preferências políticas, indicando, inclusive em seus editoriais, e recomendando aos seus leitores, a opção por aquele ou outro candidato. Veja faria bem à democracia no Brasil se assumisse de vez que é uma revista assumidamente tucana, já que já faz na prática uma linha oposicionista. Assim como a Carta Capital é governista da capa à contra-capa, e a Caros Amigos às vezes é quase um boletim semanal de uma cartilha do PSOL ou do PSTU, Veja também teria que admitir suas posições ideológicas. Chega daquele tempo que nego de direita e reaçonário era aquele que ficava calado num canto, nos botequins universitários, sem abrir uma só palavra e nem se manifestar, sob pena de ser linchado pela torcida adversária, formada por aqueles barbudos maconheiros, pôrra-loucas petistas, de sandálias de dedo, que só falavam em revolução! Espero algum dia arrancar uma confissão dos responsáveis pela Veja! Quem sabe num belo e ensolarado dia eu não assista a um articulista da revista dizer orgulhoso a plenos pulmões: "Sim, nós somos neoliberais!"; Sim, nós somos tucanos! Serra pra Presidente!"; "OK! São Paulo é o centro do universo! Nordestinos, go home!" Dos articulistas que citei da revista, cito com admiração o André Petry. Ao menos aquele é um liberal clássico de carteirinha, elegante e assumido nas suas definições e comentários sobre economia e política. Já o Reinaldo de Azevedo também merece menção, por ser ao menos um direitaço assumido e convicto anti-petista ( que pra ele são o alter-ego do demônio). Desencana VEJA!! Saí do armário VEJA! VEJA o que você se tornou! Provem que não sou idiota! Talvez assim eu até recomende aos amigos a assinatura da revista.
Certa ocasião, em minhas perambulações universitárias pelo sul do país, deparei-me com uma mestranda em Direito, militante das causas sociais que reagiu com indignação e uma certa arrogância quando eu disse a ela num bate-papo que eu comprava e lia a VEJA. Sim! Para alegria da Editora Abril e de seus funcionários, saibam que eu contribuo para as contas da revista e a consequente folha de pagamento de pessoal, depositando meus R$ 8,40 no caixinha da empresa, ao menos quinzenalmente. Essa estudante me disse na ocasião que era inteligente e que pessoas inteligentes não liam aquela porcaria chamada Veja. Sim, num instante perdi a razão e a paquera, pelo simples fato de ter em meu acervo de periódicos a digníssima publicação da família Civita. Ora, vale bem lembrar que como leitor voraz e compulsivo, exercito meus vícios consumistas adquirindo o mais variado repertório de publicações em língua nacional ou estrangeira. Poderia ter dito a ela que também era leitor da Bravo (outra publicação da Abril), ou da Carta Capital, ou ainda da militante e aguerrida Caros Amigos, como também da Época, da Isto É, da Rolling Stone Brasil, da Newsweek e até de bula de remédio! Só não vou comprar a CARAS, aí que me perdoem meus caros leitores dessa revista, mas aí já é demais!! O exercício masoquista de ver ricos e famosos comendo, bebendo, viajando a lugares magnifícos, namorando, e morando em casas luxuosas, enquanto estou em casa liso, pra mim não dá certo!
Tenho sim um especial apreço pela revista e curiosidade sobre suas reportagens não porque seja idólatra ou fiel assinante da Editora Abril e nem o idiota que me fez supor a adorável jovem citada, que repudiou meu gosto literário. Gosto da Veja porque gosto de ver como pensam e como resmungam aqueles que pensam intensamente o contrário de mim. É muito bom poder conhecer seus inimigos, nem que sejam apenas seus inimigos verbais. Assim, me dá gosto poder ler os caminhos editoriais ideologicamente bem traçados pelo senhor Mário Sabino (redator-chefe) da Revista, assim como os deliciosos textos de Reinaldo de Azevedo, as elucubrações do hilariante Diogo Mainardi, assim como a crítica cinematográfica da cinéfila de botequim Isabela Boscov. Interessantes textos, pois é interessante ver o quanto é divertido, curioso e engraçado ver a extensão do mau gosto. Como um tele-espectador de um programa "Pânico na TV", fico percebendo até que ponto a galhofa, a canastrice, o pieguismo de ideias, o latido neoliberal e a pomposa arrogância dos senhores prostrados à beira da Marginal Pinheiros pode atingir os limites do inconcebível, em sua crítica engenhosamente dantesca e bem trabalhada, no sentido de desmoralizar todo e qualquer pensamento humanista ou humanizante, socialista, favorável à democracia e aos movimentos sociais, "politicamente correto" como queiram, ou ao menos comprometido com a transformação social. Esse pensamento é dos partidários do abalo da mesmice, da crítica da idiotice ou da acomodação da classe média ambiciosa e resmungona, um pensamento defensor de direitos sociais constitucionalmente assegurados e garantidos.
Vão me falar que posso estar sendo contraditório quanto à defesa da liberdade de expressão ao criticar a Revista Veja neste comentário, antes de introduzir aqueles que leem estas linhas, o que verdadeiramente quero tratar quanto ao assunto no título. Porém, é justamente em prol dessa liberdade e sendo um profundo defensor da permanência de publicações como essa, que teço minhas críticas no sentido propriamente de ingressar no assunto deste texto, a fim de que os queridos amigos leitores do blog possam entender melhor minha formulação.
Pois bem, Veja espinafra o MST, e na visão de seus articulistas ( que reproduz naturalmente boa parte do que pensam seus ávidos leitores), os militantes desse grupo já deviam todos estar na cadeia há muito tempo. É importante salientar que não assumo aqui qualquer postura de apaixonado defensor do movimento e nem vou aqui tecer qualquer crítica ingênua. Já disse em outros comentários que, a meu ver, as ideologias também envelhecem, e é remando no contrafluxo desse maré ideológica que considero que faltou a Veja apenas vestir a carapuça neoliberal que a revista já ostenta há muito tempo. Quem não se lembra dos alardes golpistas praticados pela revista quando do escândalo do Mensalão? Na época Veja, assim como o insípido movimento de socialites paulistas chamado "CANSEI" apressaram-se em entoar o coro do "Fora Lula"! O quanto foi engraçado, e por isso um dos motivos de gostar de ler a revista que me traz divertimento, na hilária e impagável assertiva dos boquiabertos articulistas da Veja, afirmando em antológica frase que: "o povo venceu a opinião pública", quando Lula alcançou fácil sua reeleição, com altíssimos e históricos índices de aprovação, e tornou-se o governante mais bem avaliado das Américas, apesar da agressiva campanha de VEJA. Pois é, resta saber se a opinião pública a que se referiram os nobres senhores da revista é formada por altos executivos paulistas de empresas privadas, privilegiados economicamente em seus cercados e protegidos condomínios de luxo, com aversão a pobres, pretos e nordestinos, e quando não assíduos frequentadores, com suas digníssimas esposas(os) e filhos, dos cintilantes shopping centers da capital paulista. Mais, resta saber se essa opinião pública está sediada no bairro de Alto dos Pinheiros, onde se localiza quase que em sua maioria a cúpula de todo o PSDB paulista (por coincidência, pelo que eu saiba, onde mora a Regina Duarte também).
Como em Lula não deu pra bater, o novo-velho "boi de piranha" da mídia sebosa agora é o MST. Como se ninguém soubesse que vários militantes do movimento usam armas. Como se ninguém soubesse do tempo em que seus integrantes levavam chumbo direto dos latinfundiários, com comunidades inteiras sendo recebidas à bala pela polícia, como se fossem a pobre coitada população civil de palestinos em Gaza, mediante a bárbara atuação canhestra e genocida do exército israelense. Ora, se seus integrantes cometem crimes, que sejam enquadrados no Código Penal, presos, processados e fiquem na cadeia! O que não dá pra engolir é a mesmice do papo de donzela indignada da VEJA de que, mediante a aquisição pela reportagem da revista de cadernos com manual de guerrilha, o MST possa agora ser qualificado tão somente como um grupo terrorista. Que desmoralização pra Al Quaeda se o MST virar terrorista! Que agressão ao léxico linguístico e a reforma ortográfica a conceituação que os repórteres da Veja estão dando ao que seja terrorismo.Vai ver pensam que seus leitores são burros, e ainda por cima querem confirmar o que aquela estudante universitária disse pra mim quando eu falei pra ela que lia essa revista. Vai ver ela é quem tem razão! Sou idiota mesmo!
A reportagem de Veja diz que os militantes do MST utilizam cartilhas de formação maoísta, ensinando inclusive as crianças nos assentamentos como montar guarda, fabricação de bombas e táticas de guerrilha. Ora, se for caso de corrupção de menores, cadeia para seus autores e pronto! Agora se o fato é que o movimento inteiro é criminoso por ter uma rede interna de ensino bitolada, pautada num esquerdismo tosco, aí de bitolação estamos cheios no país inteiro e isso não é obra só do MST. Posso dizer, por exemplo, que é bitolado o ensino religioso em muitas igrejas de linha conservadora e fundamentalista, que entendem que educação sexual é ensinar a crianças e adolescentes que foram gerados através de uma abençoada cegonha.
Os dirigentes do MST são acusados pela revista de manter confinados seus integrantes, e não permitir, sequer a saída temporária deles para a realização de cirurgias, como descreve um dos cadernos apreendidos, pois a militante só poderia sair naquele caso com autorização da coordenação. Ué? Em muitas empresas privadas, senão todas, onde predomina o capitalismo selvagem, o pobre coitado ou coitada saiu da empresa pra cuidar de filho doente, dançou, pois vai entrar outro no lugar. Surpreende-me a denúncia de Veja, uma vez que se eles entrarem lá no bairro do Brás em São Paulo, vão perceber que ainda tem muito trabalhador e trabalhadora sem poder sair durante o expediente, sob pena de ser demitido, assim como no MST, há o expediente de desligar alguém do grupo caso se ausente por muito tempo do movimento. Pode ser questionável a prática, mas garanto que criminosa não é!
A matéria da revista ainda diz que o MST tem entre seus integrantes indivíduos com passagem pela polícia, ex-integrantes das FARC, muitos desvalidos, alguns aproveitadores e bandidos de todo tipo. Ora, se eu fosse identificar em várias organizações, empresas, associações que se espalham por aí, quantos dos seus integrantes são fichados criminalmente ou negativados no SPC, eu teria que prender parte do Congressso Nacional, fechar alguns templos de igrejas, demitir metade do funcionalismo público e boa parte dos integrantes das polícias e, sobretudo, meter na cadeia o Dado Dolabella, já que o ator global de gênio explosivo foi acusado pela imprensa e pela Justiça de agredir a ex-namorada Luana Piovani e a empregada dela, e, naturalmente, não terá mais nas novelas uma ficha criminal limpa.
Mas, vamos lá! Se eu comparar o MST as FARC, como há anos tenta provar VEJA, eu terei que demonstrar que o grupo quer tomar alguma parte do território nacional ( talvez o "Bico do Papagaio" ou a "Serra das Araras"), terei que demonstrar que os caras abertamente recusam qualquer caminho democrático nos termos de uma institucionalidade (como, por exemplo: eleições), e serem abertamente defensores da queda do governo e apolegetas de uma revolução. VEJA acusa o governo de ser leniente com o MST, ou até mesmo seu cúmplice. E mais uma vez a revista não atesta qualquer novidade ao dizer que o movimento nasceu com boa parte de colaboração da legenda do presidente Lula. Inclusive, deputados gaúchos do partido são citados como principais incentivadores e quem sabe, protetores do movimento, numa acusação que pode até render processo de calúnia, uma vez que o texto da reportagem nos faz entender que os citados parlamentares estariam acobertando supostas ações criminosas. Daí é que percebo a principal contradição no texto da reportagem. Se o governo é cúmplice do movimento, como é que o movimento pode ser terrorista se age contra um Estado que o protege? Seria no mínimo um exercício de burrice, ou estupenda loucura esquizofrênica, o movimento como um todo se insurgir contra um governo que, efetivamente, trabalha uma política de assentamentos muito mais eficaz que o governo anterior, e que auxilia boa parte das famílias que compõem a organização; pois são beneficiadas pelo bolsa-família do governo, o que minimizaria qualquer jargão anti-governista. Afinal, não se cospe no prato que se come, não é?!
Fico me perguntando se não foi por falta de pauta ou do que fazer, que os repórteres de VEJA voltaram com a ladainha de criminalizar o MST.
O problema de Veja é que a revista faz aquele típico jornalismo marrom no estilo "Notícias Populares", e há muito abandonou aquela linha séria e comprometida com a democracia e transformação social, nos tempos do saudoso Victor Civita (este sim um homem digno, de respeito e boa memória, que nos tempos da ditadura deu uma linha combativa e compromissária na Revista, sob cerco da censura), prosseguindo o caminho jornalístico traçado pela antiga Revista Realidade, a antecessora de Veja. Com a democracia, a liberdade de expressão e o advento da era FHC, a revista preferiu mudar de rumos, assumindo quase que capciosamente um discurso claramente neoliberal e anti-petista. Não que eu faça aqui um discurso purista, salvacionista do PT, até porque é uma legenda que admiro, mas repleta de grandes erros e elementares equívocos.
Veja tornou-se ruim não porque tenha guinado para uma posição ideológica definida, mas sim porque não assumiu publicamente essa opção. Em outros países democráticos, principalmente nos Estados Unidos, os grandes meios de comunicação e as grandes publicações assumem claramente suas opções e preferências políticas, indicando, inclusive em seus editoriais, e recomendando aos seus leitores, a opção por aquele ou outro candidato. Veja faria bem à democracia no Brasil se assumisse de vez que é uma revista assumidamente tucana, já que já faz na prática uma linha oposicionista. Assim como a Carta Capital é governista da capa à contra-capa, e a Caros Amigos às vezes é quase um boletim semanal de uma cartilha do PSOL ou do PSTU, Veja também teria que admitir suas posições ideológicas. Chega daquele tempo que nego de direita e reaçonário era aquele que ficava calado num canto, nos botequins universitários, sem abrir uma só palavra e nem se manifestar, sob pena de ser linchado pela torcida adversária, formada por aqueles barbudos maconheiros, pôrra-loucas petistas, de sandálias de dedo, que só falavam em revolução! Espero algum dia arrancar uma confissão dos responsáveis pela Veja! Quem sabe num belo e ensolarado dia eu não assista a um articulista da revista dizer orgulhoso a plenos pulmões: "Sim, nós somos neoliberais!"; Sim, nós somos tucanos! Serra pra Presidente!"; "OK! São Paulo é o centro do universo! Nordestinos, go home!" Dos articulistas que citei da revista, cito com admiração o André Petry. Ao menos aquele é um liberal clássico de carteirinha, elegante e assumido nas suas definições e comentários sobre economia e política. Já o Reinaldo de Azevedo também merece menção, por ser ao menos um direitaço assumido e convicto anti-petista ( que pra ele são o alter-ego do demônio). Desencana VEJA!! Saí do armário VEJA! VEJA o que você se tornou! Provem que não sou idiota! Talvez assim eu até recomende aos amigos a assinatura da revista.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
FILME " A Troca":E NÃO É QUE CLINT EASTWOOD É FOUCAULTIANO?
Assisti neste final de semana ao filme "A Troca" (Changeling) do diretor norte-americano Clint Eastwood, com Angelina Jolie no papel de Cristine Collins, a principal protagonista.
Prosseguindo com meu circuito de assistir aos filmes do casal 20 do momento: Pitt-Jolie, tendo já comentado o filme Benjamin Button, resta agora comentar o filme estrelado pela senhora Brad Pitt. Ambos, inclusive, cotados para levar uma estatueta do Oscar, no próximo mês de março.
"A Troca" repete uma fórmula curiosamente explorada pelo diretor Eastwood acerca do tema do abuso infantil (vide o oscarizado "Sobre Meninos e Lobos"), em filme baseado no romance ficcção de Denis Lehane. Só que, desta vez, o diretor norte-americano enfatiza mais o drama da mãe do que o do menino que é submetido a abuso, baseando-se num fato real ocorrido na Los Angeles da década de 20 do século passado.
O que ocorre ao se ver o filme é não deixar de ver, pra quem é iniciado nas leituras sociológicas, às influências do filósofo francês Michel Foucault, pela apresentação de muitos temas caros a sua teoria. Parece que Eastwood, ao contrário de muitas pessoas da sua idade, cedeu ao pensamento progressista, ou virou um militante antiestatal de uma hora pra outra, após muitos anos em que sua perfomance artística presenciou muitas mudanças na sua forma de ver a vida. Ora, vale salientar que Clint Eastwood, apesar de bom ator e agora consagrado diretor, sempre foi simpatizante do Partido Republicano de Ronald Reagan e George W. Bush, e ele, agora, como um eleitor vira-casaca de Obama na calada da noite, deixou para sempre o estereótipo do fascista policial Harry Calahan da série dos anos setenta "Perseguidor Implacável"(o famoso "Dirty Harry, como clara inspiração para filmes hoje como "Tropa de Elite"), e se tornou um humilde servidor de causas humanitárias e defensor dos direitos fundamentais. Vide a película rodada recentemente que concorre ao Oscar, estrelada por uma das mais belas, mas também mais convincentes estrelas da hollywood pós-era da globalização.
O enredo do filme é de dar angústia e fornecer traumas a dezenas de mães amigas minhas, pesarosas com a simples suspeita de que um belo dia ao voltar do trabalho, não possam encontrar mais seus rebentos em casa, e não ter a menor ideia para onde eles foram. O filme de Eastwood explora essa caótica situação ao tratar da estória de uma jovem e bonita telefonista chamada Cristine Collins, que em 1928, numa Los Angeles em crescimento e conturbada pela corrupção policial, descobriu num tenebroso dia, que seu filho Walter de 10 anos havia desaparecido sem deixar notícias e nem vestígios.
A partir daí, ressalvados os clichês dignos de um filme de drama policial, a telefonista Cristine inicia sua cruzada para encontrar seu filho, contando com o apoio de um pastor presbiteriano inimigo da polícia, interpretado por John Malkovich. A dupla denuncia a apatia e a negligência policial, até o dia em que, passados meses do desaparecimento do rebento, Cristine tem a notícia de que encontraram seu desejado filho perdido, acompanhado de um andarilho num fim de mundo nos confins do estado. O que parecia ser uma estória com final feliz, acaba em pesadelo, no momento em que Cristine descobre que o filho trazido pela polícia não é seu filho, e mesmo assim, o incompetente delegado responsável pelas investigações, obriga a jovem mãe a acenar para a imprensa e confirmar que a valorosa porém criticada polícia de Los Angeles, ao menos tinha feito uma coisa certa, tendo encontrado o filho de uma angustiada mãe. A partir daí o filme começa de verdade e inicia-se um roteiro digno dos escritos de Dostoievski ou dos filmes de suspense de Hitchcok.
Negando, "de marré marré marré", que o garoto encontrado seja seu, Cristine acaba por irritar a polícia de Los Angeles, sendo então sujeita ao cúmulo do arbítrio, típico de ditaduras sul-americanas, como a malfaldada experiência de Pinochet no Chile. A mulher é dada como louca por não reconhecer seu próprio filho, taxada pela polícia de mãe negligente, e por fim é encarcerada numa instituição manicominial junto com outras tristes mulheres. É a partir daí que o enredo do filme passa a apresentar fortes traços foucaultianos. O que falei no início desse comentário.
Para não estragar a estória, e, principalmente o final do filme, uma vez tendo sido acusado carinhosamente por alguns dos leitores deste blog de antecipar o final da estória em meus comentários, não vou estragar a surpresa. Porém, creio que devo estabelecer algumas conexões (nosso objetivo básico nesse fórum virtual), tecendo algumas reflexões que considerei interessantes:
Todos os temas explorados por Foucault acerca de palavras ou conceitos talvez ininteligíveis para neófitos como "panoptismo", disciplina e sociedade de controle estão ali no filme. Pra começar, a jovem mãe critica um sistema estatal falho e deformado, responsável por atos duvidosos, autoritários e intimidatórios ao questionar a responsabilidade da polícia de Los Angeles, acabando por ela mesma ser encarcerada. Junto ao controle policial, está o controle combinado da instituição policial estatal com a tecnologia médica, vide o parecer de um médico picareta, acionado pelo delegado, dentro das micro relações de poder entre membros do Estado e profissionais da área médica, que confirma em seu laudo que aquela mãe transtornada está psicologicamente instável e sensivelmente perturbada ( vide "Microfísica do Poder" e "História da Loucura" de Foucault). Depois, como se não bastasse, ao ser levada para o hospício, Cristine é submetida aos mais variados tipos de humilhação, uma vez que uma mulher na condição dela (que deve se portar como submissa, diga-se de passagem), não reconheceu o trabalho dos agentes da lei, apresentando-se como histérica e confusa, conforme o relatório do psiquiatra responsável pela direção do estabelecimento. Uma cena antológica é quando uma das internas, uma prostituta levada ao manicômio por ter justamente reclamado de não ter sido paga por um policial, chega para uma atônita Cristine Collins e lhe confirma a lógica dos excluídos, dizendo, em outras palavras, numa época em que os movimentos de emancipação da mulher estavam apenas começando: " o que você esperava, somos mulheres. Mulher é frágil, qualquer comportamento que afete essa fragilidade é tido como desvio ou loucura!". As mulheres que eventualmente questionam o sistema, são jogadas nos corredores do hospício, enquanto "comportadas" mães continuam a ser exploradas, espancadas ou humilhadas por seus maridos, num autêntico "american way of life".
O filme remete a Foucault o tempo inteiro porque ele justamente denuncia as condições de vigilância e opressão a que estavam destinadas as mulheres no começo do século XX, e inova no momento em que descortina que as mulheres, assim como hoje, são apenas um dos pólos, ou um dos destinatários da opressão. Oprimidos são, na verdade, todos aqueles que questionam os rumos de uma sociedade vigente, inclusive as mulheres. E, Cristine, somando sua voz a de todas as mulheres detidas injustamente naquele hospício, torna-se apenas uma fagulha de um movimento de liberdade e desobediência civil que vai tomar todo o filme, além de entrar para os livros de história.
Para trabalhadores que reclamam de salário: a demissão ou a cadeia, para as mulheres: os hospícios. No tempo em que o discurso psiquiátrico é utilizado como forma de dominação ( tá aí Foucault novamente), qualquer manifestação de exaltação feminina diante da opressão ou rebeldia é visto como histeria ou como uma forma de perturbação psíquica que só ocorre naqueles seres humanos desprovidos do cromossomo Y. Diante duma realidade dantesca, opressora, corrupta, totalitária e masculina, eis que surgem vozes como as da personagem de Angelina Jolie, que, inadvertidamente, quando tão e simplesmente buscavam encontrar seu filho perdido, acabam se tornando almas da revolução!
Deixando pra lá aqui as críticas de Isabela Boscov da revista Veja ( que como cinéfila é uma boa frequentadora de videolocadora), toda a suposta afetação de uma Angelina Jolie que quer ganhar o Oscar no desempenho de um comovente papel, apenas traduz o sentimento das indignadas, o sentimento de mulheres que ainda hoje, em todos os rincões do país são vistas com pouco caso em estabelecimentos policiais e penais, seja com desdém ou um misto de provocação, diante de acusações de maus tratos de seus maridos, abandono e desaparecimento de filhos ou quaisquer outros dramas que perpetram a vida de jovens mulheres suburbanas . Que pena tenho eu das jovens mães! Pena não, corrijo, mas sim sublime admiração! Porque, na verdade, mulheres como Cristine Collins, ou muitas outras em tempos e lugares diferentes, tiveram que ser muito "homens" para desafiar e questionar um sistema masculino opressor, que lembra muito bem as instituições nebulosas e decadentes, do autor francês de "Vigiar e Punir".
Prosseguindo com meu circuito de assistir aos filmes do casal 20 do momento: Pitt-Jolie, tendo já comentado o filme Benjamin Button, resta agora comentar o filme estrelado pela senhora Brad Pitt. Ambos, inclusive, cotados para levar uma estatueta do Oscar, no próximo mês de março.
"A Troca" repete uma fórmula curiosamente explorada pelo diretor Eastwood acerca do tema do abuso infantil (vide o oscarizado "Sobre Meninos e Lobos"), em filme baseado no romance ficcção de Denis Lehane. Só que, desta vez, o diretor norte-americano enfatiza mais o drama da mãe do que o do menino que é submetido a abuso, baseando-se num fato real ocorrido na Los Angeles da década de 20 do século passado.
O que ocorre ao se ver o filme é não deixar de ver, pra quem é iniciado nas leituras sociológicas, às influências do filósofo francês Michel Foucault, pela apresentação de muitos temas caros a sua teoria. Parece que Eastwood, ao contrário de muitas pessoas da sua idade, cedeu ao pensamento progressista, ou virou um militante antiestatal de uma hora pra outra, após muitos anos em que sua perfomance artística presenciou muitas mudanças na sua forma de ver a vida. Ora, vale salientar que Clint Eastwood, apesar de bom ator e agora consagrado diretor, sempre foi simpatizante do Partido Republicano de Ronald Reagan e George W. Bush, e ele, agora, como um eleitor vira-casaca de Obama na calada da noite, deixou para sempre o estereótipo do fascista policial Harry Calahan da série dos anos setenta "Perseguidor Implacável"(o famoso "Dirty Harry, como clara inspiração para filmes hoje como "Tropa de Elite"), e se tornou um humilde servidor de causas humanitárias e defensor dos direitos fundamentais. Vide a película rodada recentemente que concorre ao Oscar, estrelada por uma das mais belas, mas também mais convincentes estrelas da hollywood pós-era da globalização.
O enredo do filme é de dar angústia e fornecer traumas a dezenas de mães amigas minhas, pesarosas com a simples suspeita de que um belo dia ao voltar do trabalho, não possam encontrar mais seus rebentos em casa, e não ter a menor ideia para onde eles foram. O filme de Eastwood explora essa caótica situação ao tratar da estória de uma jovem e bonita telefonista chamada Cristine Collins, que em 1928, numa Los Angeles em crescimento e conturbada pela corrupção policial, descobriu num tenebroso dia, que seu filho Walter de 10 anos havia desaparecido sem deixar notícias e nem vestígios.
A partir daí, ressalvados os clichês dignos de um filme de drama policial, a telefonista Cristine inicia sua cruzada para encontrar seu filho, contando com o apoio de um pastor presbiteriano inimigo da polícia, interpretado por John Malkovich. A dupla denuncia a apatia e a negligência policial, até o dia em que, passados meses do desaparecimento do rebento, Cristine tem a notícia de que encontraram seu desejado filho perdido, acompanhado de um andarilho num fim de mundo nos confins do estado. O que parecia ser uma estória com final feliz, acaba em pesadelo, no momento em que Cristine descobre que o filho trazido pela polícia não é seu filho, e mesmo assim, o incompetente delegado responsável pelas investigações, obriga a jovem mãe a acenar para a imprensa e confirmar que a valorosa porém criticada polícia de Los Angeles, ao menos tinha feito uma coisa certa, tendo encontrado o filho de uma angustiada mãe. A partir daí o filme começa de verdade e inicia-se um roteiro digno dos escritos de Dostoievski ou dos filmes de suspense de Hitchcok.
Negando, "de marré marré marré", que o garoto encontrado seja seu, Cristine acaba por irritar a polícia de Los Angeles, sendo então sujeita ao cúmulo do arbítrio, típico de ditaduras sul-americanas, como a malfaldada experiência de Pinochet no Chile. A mulher é dada como louca por não reconhecer seu próprio filho, taxada pela polícia de mãe negligente, e por fim é encarcerada numa instituição manicominial junto com outras tristes mulheres. É a partir daí que o enredo do filme passa a apresentar fortes traços foucaultianos. O que falei no início desse comentário.
Para não estragar a estória, e, principalmente o final do filme, uma vez tendo sido acusado carinhosamente por alguns dos leitores deste blog de antecipar o final da estória em meus comentários, não vou estragar a surpresa. Porém, creio que devo estabelecer algumas conexões (nosso objetivo básico nesse fórum virtual), tecendo algumas reflexões que considerei interessantes:
Todos os temas explorados por Foucault acerca de palavras ou conceitos talvez ininteligíveis para neófitos como "panoptismo", disciplina e sociedade de controle estão ali no filme. Pra começar, a jovem mãe critica um sistema estatal falho e deformado, responsável por atos duvidosos, autoritários e intimidatórios ao questionar a responsabilidade da polícia de Los Angeles, acabando por ela mesma ser encarcerada. Junto ao controle policial, está o controle combinado da instituição policial estatal com a tecnologia médica, vide o parecer de um médico picareta, acionado pelo delegado, dentro das micro relações de poder entre membros do Estado e profissionais da área médica, que confirma em seu laudo que aquela mãe transtornada está psicologicamente instável e sensivelmente perturbada ( vide "Microfísica do Poder" e "História da Loucura" de Foucault). Depois, como se não bastasse, ao ser levada para o hospício, Cristine é submetida aos mais variados tipos de humilhação, uma vez que uma mulher na condição dela (que deve se portar como submissa, diga-se de passagem), não reconheceu o trabalho dos agentes da lei, apresentando-se como histérica e confusa, conforme o relatório do psiquiatra responsável pela direção do estabelecimento. Uma cena antológica é quando uma das internas, uma prostituta levada ao manicômio por ter justamente reclamado de não ter sido paga por um policial, chega para uma atônita Cristine Collins e lhe confirma a lógica dos excluídos, dizendo, em outras palavras, numa época em que os movimentos de emancipação da mulher estavam apenas começando: " o que você esperava, somos mulheres. Mulher é frágil, qualquer comportamento que afete essa fragilidade é tido como desvio ou loucura!". As mulheres que eventualmente questionam o sistema, são jogadas nos corredores do hospício, enquanto "comportadas" mães continuam a ser exploradas, espancadas ou humilhadas por seus maridos, num autêntico "american way of life".
O filme remete a Foucault o tempo inteiro porque ele justamente denuncia as condições de vigilância e opressão a que estavam destinadas as mulheres no começo do século XX, e inova no momento em que descortina que as mulheres, assim como hoje, são apenas um dos pólos, ou um dos destinatários da opressão. Oprimidos são, na verdade, todos aqueles que questionam os rumos de uma sociedade vigente, inclusive as mulheres. E, Cristine, somando sua voz a de todas as mulheres detidas injustamente naquele hospício, torna-se apenas uma fagulha de um movimento de liberdade e desobediência civil que vai tomar todo o filme, além de entrar para os livros de história.
Para trabalhadores que reclamam de salário: a demissão ou a cadeia, para as mulheres: os hospícios. No tempo em que o discurso psiquiátrico é utilizado como forma de dominação ( tá aí Foucault novamente), qualquer manifestação de exaltação feminina diante da opressão ou rebeldia é visto como histeria ou como uma forma de perturbação psíquica que só ocorre naqueles seres humanos desprovidos do cromossomo Y. Diante duma realidade dantesca, opressora, corrupta, totalitária e masculina, eis que surgem vozes como as da personagem de Angelina Jolie, que, inadvertidamente, quando tão e simplesmente buscavam encontrar seu filho perdido, acabam se tornando almas da revolução!
Deixando pra lá aqui as críticas de Isabela Boscov da revista Veja ( que como cinéfila é uma boa frequentadora de videolocadora), toda a suposta afetação de uma Angelina Jolie que quer ganhar o Oscar no desempenho de um comovente papel, apenas traduz o sentimento das indignadas, o sentimento de mulheres que ainda hoje, em todos os rincões do país são vistas com pouco caso em estabelecimentos policiais e penais, seja com desdém ou um misto de provocação, diante de acusações de maus tratos de seus maridos, abandono e desaparecimento de filhos ou quaisquer outros dramas que perpetram a vida de jovens mulheres suburbanas . Que pena tenho eu das jovens mães! Pena não, corrijo, mas sim sublime admiração! Porque, na verdade, mulheres como Cristine Collins, ou muitas outras em tempos e lugares diferentes, tiveram que ser muito "homens" para desafiar e questionar um sistema masculino opressor, que lembra muito bem as instituições nebulosas e decadentes, do autor francês de "Vigiar e Punir".
domingo, 25 de janeiro de 2009
SERÁ QUE ELA VOLTOU AMERICANIZADA?
Certo dia acordei pela manhã e ainda com os olhos sonolentos e remelentos liguei a TV como é de costume e dei de cara direto com o Canal GNT. Naquele momento estava passando na tela o documentário "Banana is my business", de 1994, dirigido por Helena Solberg. Confesso que no começo não dei a menor bola para o filme e já ia mudar de canal enquanto ganhava coragem para escovar os dentes. Porém o filme foi lentamente me cativando, cativando, até que quando vi tinha saído da cama e havia passado duas horas compenetrado, assistindo a uma interessante cinebiografia, que me provocou profundas reflexões.
Fui saber por exemplo, que ao contrário da minha tosca ignorância quanto o assunto, Carmen Miranda não foi apenas uma inocente útil a serviço do mainstream cinematográfico yankee, e nem uma simples vedete, garota-propaganda de uma república de bananas chamada Brazil, que devia, aos olhos do americano média da época, não ser muito diferente da África, com suas florestas, macacos e, principalmente, brasileiros.
Na verdade, a Carmen que passei a conhecer de fato, tinha alma e gingado brasileiro, apesar de ter nascido portuguesa. A infância e a adolescência passados no Rio de Janeiro fizeram com que a bela morena portuguesa se abrasileirasse, a ponto de incorporar no sotaque e no jeito de ser, e não apenas na vestimenta, a expressão cultural daquele Rio nostálgico, das rodas de samba, das batucadas e das composições de Noel, que hoje só se recorda em museus, em livrarias ou em lojas de discos para aficcionados, ou em alguma videoteca de faculdade. Foi esse legado cultural que Carmen exportou para os EUA. Carmen Miranda na verdade, fora o café, a cana-de-açúcar e a cachaça, foi nosso principal produto nacional de exportação. O futebol, Pelé e seus demais jogadores viriam depois, primeiro veio Carmen!
No documentário pude perceber que, no princípio, Carmen sabia muito bem como gerenciar sua carreira, chegando a ser a atriz e cantora mais bem paga dos Estados Unidos. E olha que se tratava de uma atriz estrangeira, que falava e cantava em inglês com sotaque, nunca se esquecia de representar em português e era personagem dotada de um completo exotismo, que até para os dias de hoje ainda carrega fortes traços carnavalescos, e tão excêntricos que fariam corar uma modelo de um filme de Almodóvar.
Pois é, pois Carmen era carnavalesca sim. A mulher era a própria expressão do Carnaval. Com seus trejeitos, a artista (brasileira sim, não mais portuguesa) abriu caminho para outras mulheres-ícones também se tornarem estrelas carregando em sua simbologia o Carnaval. Que o diga Leila Diniz, uma década após a morte de Carmen, ou mesmo hoje, a ainda musa Luma de Oliveira. Sim, perdoem-me as feministas, mas Carmen Miranda inaugurou um modelo de mulher latina, não apenas brasileira, que se tornaria épico e marcaria notadamente a identidade sul-americana, o inconsciente coletivo global, a referência de sensualidade caliente da mulher morena, de belas pernas e curvas, autêntica e graciosa ao mesmo tempo, mas que não perde o rebolado, nem se deixa instrumentalizar pela dominação masculina, pois, na verdade, seriam os homens que gostariam de estar aos seus pés. A meu ver, é esse "quê" de sensualidade da mulher brasileira que em tempos globais invade outras searas do globo, conquistando o que se diria inconquistável. Foi dessa forma, por exemplo, que por mais que se considere "anta" a mulher, Luciana Gimenez conquistou Mick Jagger, fazendo exatamente aquilo que qualquer mulher gostaria de fazer com uma lenda mítica do rock do porte de um rolling stone: um filho. Enfim, através de discípulas involuntárias de Carmen Miranda como La Gimenez, o Brasil entrou de forma oblíqua até para a história do rock mundial. De "anta" a mulher revelou que não tem nada, e valendo-se da lendária malandragem carioca, na verdade a esperta foi ela! No final das contas, assim como no final de todos os filmes da Carmen, quem se dava bem no fim da estória era sempre a brazilian bomshell.
Voltando para Carmen e para o filme de Solberg, pude perceber também que Carmen tinha nas mãos o dono do legendário estúdio Twenty Century Fox ( hoje somente Fox), e opinava sobre tudo menos sobre tirar a característica fantasia de baiana e os cachos de banana dos cabelos, sua logomarca por excelência. Foi através dos filmes de Carmen de altas bilheterias, num tempo de apogeu dos musicais, que na Segunda Guerra Mundial a artista acabou se tornando uma involuntária embaixatriz cultural do Brasil, no episódio da participação brasileira no conflito mundial. Numa época em que os EUA necessitavam de cooperação internacional, sobretudo latino-americana, mediante a eclosão das batalhas na Europa e no norte da África, a aliança Roosevelt e Vargas foi essencial no sentido de colocar o Brasil no mapa da geopolítica global e propiciar aos Aliados a passagem geográfica, provisões e material humano para o desmantelamento da máquina nazista; uma vez, inclusive, que a Argentina de Peron ainda flertava com a Alemanha de Hitler, capítulo que os compatriotas de Maradona se esforçam por esquecer. Pois foi fundamentalmente através dos filmes de Carmen que o Brasil pôde ser mostrado não só como um país de macacos, bananas, baianas e pretos sorridentes, ou papagaios cantantes como o Zé Carioca, mas sim como uma nação com identidade própria, com soldados raquíticos, maltrapilhos, porém valentes vivendo sob o regime totalitário e populista varguista, como o único país sul-americano que participou ativamente de batalhas que botaram os militares de Hitler pra correr.
O grande problema de Carmen foi, portanto, seus detratores brasileiros, o fogo amigo direcionado contra ela, do seu próprio solo nacional após o fim da II Guerra. Pois aliado ao desgaste da fórmula da fantasia de baiana, as críticas quanto a sua falta de brasilidade e aparente americanização e um casamento fracacassado, as luzes começaram lentamente a se apagar para aquela sorridente cantora de "tico-tico no fubá". O que dava certo, começou a dar errado!
Não deixei de ficar chocado ao ver uma Carmen decadente voltando para casa após 14 anos ausentes do Brasil no começo da década de 50, numa época em que não era tão comum artistas estrangeiros voltarem para casa ou viverem em seu país de origem após fazerem sucesso em hollywood. Pra se ter uma ideia, a realidade para artistas brasileiros como Gil, Caetano, ou os jovens Alice Braga e Rodrigo Santoro é bem diferente (graças a Deus!). A Carmen que desceu do avião no Galeão não era mais aquela Carmen sorridente e sensual dos musicais, mas sim uma mulher sofrida, atingida pelo tempo e pelas intempéries do destino. Uma mulher que sofria de depressão, que apanhava do marido, que chegava a consumir até 10 comprimidos de calmantes para poder dormir após extenuantes shows, apresentações e gravações que duravam no mínimo quatro horas todos os dias. Uma Carmen envelhecida, enrrugada, chorosa, grogue, trancada em um quarto do Copabacana Palace e com pânico das ruas de um Rio de Janeiro que ela outrora tanto amava, e onde aprendeu a gingar. Tudo isso numa mulher de apenas quarenta e poucos anos, e que fez ver a forma triste como a indústria do show business pode fabricar e ao mesmo tempo destruir seus mitos. Talvez o choque final tenha vindo a mim no final do documentário, quando me deparei com o último registro de uma Carmen Miranda viva, na gravação de seu último filme, em um fatídico 5 de agosto de 1955 ( o dia e mês do meu aniversário, olha a coincidência!), em que se percebia visivelmente os sinais de estafa e a proximidade dos males de um coração que naquela noite deixaria de bater em sua casa em Beverly Hills, ante uma Carmen exausta, trôpega, que chegou a cair no meio de uma dança e se retirou do lugar como todo artista ao fechar das cortinas, dando seu aceno final para a platéia.
Só restaria ao mundo ver as imagens de um Rio de Janeiro comovido diante do retorno final de sua grande musa. No caixão, uma Carmen morta de 46 anos era chorada e lamentada por seus sequiosos fãs, enquanto que seus trajes, sua voz, sua dança e seu sorriso permaneceriam inalterados na história da cultura popular pelo resto dos tempos. Será que o destino de toda estrela é,ao final, deixar de brilhar? O que se destina aos astros após o findar das luzes? Será que eles realmente se apagam? Acredito que, de uma certa forma, esse é o destino natural dos grandes artistas e a predestinação divina a que lhes foi conferida. Estrela que é estrela sempre será trágica, pois é na tragédia da morte que nasce a lenda! E sua alegria e tragédia servem para que eles reservem seu lugar lá onde sempre serão lembrados: na história.
Fui saber por exemplo, que ao contrário da minha tosca ignorância quanto o assunto, Carmen Miranda não foi apenas uma inocente útil a serviço do mainstream cinematográfico yankee, e nem uma simples vedete, garota-propaganda de uma república de bananas chamada Brazil, que devia, aos olhos do americano média da época, não ser muito diferente da África, com suas florestas, macacos e, principalmente, brasileiros.
Na verdade, a Carmen que passei a conhecer de fato, tinha alma e gingado brasileiro, apesar de ter nascido portuguesa. A infância e a adolescência passados no Rio de Janeiro fizeram com que a bela morena portuguesa se abrasileirasse, a ponto de incorporar no sotaque e no jeito de ser, e não apenas na vestimenta, a expressão cultural daquele Rio nostálgico, das rodas de samba, das batucadas e das composições de Noel, que hoje só se recorda em museus, em livrarias ou em lojas de discos para aficcionados, ou em alguma videoteca de faculdade. Foi esse legado cultural que Carmen exportou para os EUA. Carmen Miranda na verdade, fora o café, a cana-de-açúcar e a cachaça, foi nosso principal produto nacional de exportação. O futebol, Pelé e seus demais jogadores viriam depois, primeiro veio Carmen!
No documentário pude perceber que, no princípio, Carmen sabia muito bem como gerenciar sua carreira, chegando a ser a atriz e cantora mais bem paga dos Estados Unidos. E olha que se tratava de uma atriz estrangeira, que falava e cantava em inglês com sotaque, nunca se esquecia de representar em português e era personagem dotada de um completo exotismo, que até para os dias de hoje ainda carrega fortes traços carnavalescos, e tão excêntricos que fariam corar uma modelo de um filme de Almodóvar.
Pois é, pois Carmen era carnavalesca sim. A mulher era a própria expressão do Carnaval. Com seus trejeitos, a artista (brasileira sim, não mais portuguesa) abriu caminho para outras mulheres-ícones também se tornarem estrelas carregando em sua simbologia o Carnaval. Que o diga Leila Diniz, uma década após a morte de Carmen, ou mesmo hoje, a ainda musa Luma de Oliveira. Sim, perdoem-me as feministas, mas Carmen Miranda inaugurou um modelo de mulher latina, não apenas brasileira, que se tornaria épico e marcaria notadamente a identidade sul-americana, o inconsciente coletivo global, a referência de sensualidade caliente da mulher morena, de belas pernas e curvas, autêntica e graciosa ao mesmo tempo, mas que não perde o rebolado, nem se deixa instrumentalizar pela dominação masculina, pois, na verdade, seriam os homens que gostariam de estar aos seus pés. A meu ver, é esse "quê" de sensualidade da mulher brasileira que em tempos globais invade outras searas do globo, conquistando o que se diria inconquistável. Foi dessa forma, por exemplo, que por mais que se considere "anta" a mulher, Luciana Gimenez conquistou Mick Jagger, fazendo exatamente aquilo que qualquer mulher gostaria de fazer com uma lenda mítica do rock do porte de um rolling stone: um filho. Enfim, através de discípulas involuntárias de Carmen Miranda como La Gimenez, o Brasil entrou de forma oblíqua até para a história do rock mundial. De "anta" a mulher revelou que não tem nada, e valendo-se da lendária malandragem carioca, na verdade a esperta foi ela! No final das contas, assim como no final de todos os filmes da Carmen, quem se dava bem no fim da estória era sempre a brazilian bomshell.
Voltando para Carmen e para o filme de Solberg, pude perceber também que Carmen tinha nas mãos o dono do legendário estúdio Twenty Century Fox ( hoje somente Fox), e opinava sobre tudo menos sobre tirar a característica fantasia de baiana e os cachos de banana dos cabelos, sua logomarca por excelência. Foi através dos filmes de Carmen de altas bilheterias, num tempo de apogeu dos musicais, que na Segunda Guerra Mundial a artista acabou se tornando uma involuntária embaixatriz cultural do Brasil, no episódio da participação brasileira no conflito mundial. Numa época em que os EUA necessitavam de cooperação internacional, sobretudo latino-americana, mediante a eclosão das batalhas na Europa e no norte da África, a aliança Roosevelt e Vargas foi essencial no sentido de colocar o Brasil no mapa da geopolítica global e propiciar aos Aliados a passagem geográfica, provisões e material humano para o desmantelamento da máquina nazista; uma vez, inclusive, que a Argentina de Peron ainda flertava com a Alemanha de Hitler, capítulo que os compatriotas de Maradona se esforçam por esquecer. Pois foi fundamentalmente através dos filmes de Carmen que o Brasil pôde ser mostrado não só como um país de macacos, bananas, baianas e pretos sorridentes, ou papagaios cantantes como o Zé Carioca, mas sim como uma nação com identidade própria, com soldados raquíticos, maltrapilhos, porém valentes vivendo sob o regime totalitário e populista varguista, como o único país sul-americano que participou ativamente de batalhas que botaram os militares de Hitler pra correr.
O grande problema de Carmen foi, portanto, seus detratores brasileiros, o fogo amigo direcionado contra ela, do seu próprio solo nacional após o fim da II Guerra. Pois aliado ao desgaste da fórmula da fantasia de baiana, as críticas quanto a sua falta de brasilidade e aparente americanização e um casamento fracacassado, as luzes começaram lentamente a se apagar para aquela sorridente cantora de "tico-tico no fubá". O que dava certo, começou a dar errado!
Não deixei de ficar chocado ao ver uma Carmen decadente voltando para casa após 14 anos ausentes do Brasil no começo da década de 50, numa época em que não era tão comum artistas estrangeiros voltarem para casa ou viverem em seu país de origem após fazerem sucesso em hollywood. Pra se ter uma ideia, a realidade para artistas brasileiros como Gil, Caetano, ou os jovens Alice Braga e Rodrigo Santoro é bem diferente (graças a Deus!). A Carmen que desceu do avião no Galeão não era mais aquela Carmen sorridente e sensual dos musicais, mas sim uma mulher sofrida, atingida pelo tempo e pelas intempéries do destino. Uma mulher que sofria de depressão, que apanhava do marido, que chegava a consumir até 10 comprimidos de calmantes para poder dormir após extenuantes shows, apresentações e gravações que duravam no mínimo quatro horas todos os dias. Uma Carmen envelhecida, enrrugada, chorosa, grogue, trancada em um quarto do Copabacana Palace e com pânico das ruas de um Rio de Janeiro que ela outrora tanto amava, e onde aprendeu a gingar. Tudo isso numa mulher de apenas quarenta e poucos anos, e que fez ver a forma triste como a indústria do show business pode fabricar e ao mesmo tempo destruir seus mitos. Talvez o choque final tenha vindo a mim no final do documentário, quando me deparei com o último registro de uma Carmen Miranda viva, na gravação de seu último filme, em um fatídico 5 de agosto de 1955 ( o dia e mês do meu aniversário, olha a coincidência!), em que se percebia visivelmente os sinais de estafa e a proximidade dos males de um coração que naquela noite deixaria de bater em sua casa em Beverly Hills, ante uma Carmen exausta, trôpega, que chegou a cair no meio de uma dança e se retirou do lugar como todo artista ao fechar das cortinas, dando seu aceno final para a platéia.
Só restaria ao mundo ver as imagens de um Rio de Janeiro comovido diante do retorno final de sua grande musa. No caixão, uma Carmen morta de 46 anos era chorada e lamentada por seus sequiosos fãs, enquanto que seus trajes, sua voz, sua dança e seu sorriso permaneceriam inalterados na história da cultura popular pelo resto dos tempos. Será que o destino de toda estrela é,ao final, deixar de brilhar? O que se destina aos astros após o findar das luzes? Será que eles realmente se apagam? Acredito que, de uma certa forma, esse é o destino natural dos grandes artistas e a predestinação divina a que lhes foi conferida. Estrela que é estrela sempre será trágica, pois é na tragédia da morte que nasce a lenda! E sua alegria e tragédia servem para que eles reservem seu lugar lá onde sempre serão lembrados: na história.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O QUE SERÁ DA MAÇÃ?
Recentemente soube do novo abalo do mundo dos negócios. Trata-se da possível, inevitável e iminente saída de Steve Jobs da Apple, companhia que preside e ajudou a criar. Doente em função de um câncer de pâncreas, pode ser que o cara nunca volte e que agora sua licença para tratamento de saúde seja, na verdade, uma melancólica despedida.
Mas por que falar desse sujeito nas conexões deste blog? Pra quem não conhece a história do cara, não é do meio corporativo ( assim como eu não sou) ou tá pouco se lixando pra computadores ou pro que diabo é Apple, informo que Steve Jobs não é apenas mais um executivo bem sucedido norte-americano. Na verdade foi ele que, em 1977 inventou o computador pessoal, o personal computer, ou simplesmente PC.
Para os mais jovens que não conhecem isso, numa época em que crianças e adolescentes (entre eles eu) iam para os cinemas se encantar com Guerra nas Estrelas de George Lucas, na década de 70 da novela Dancing Days (ai Sônia Braga, que saudade!) dos tempos da discoteca, dos seriados Kojac ou Baretta na televisão, com o fim do Vila Sésamo, no tempo do uso dos cigarros Continental e a efervescência de Opalas, Caravans e Mavericks no trânsito, computador ainda era sinônimo de filme de ficção científica. Eram aquelas latas de aço enormes, repletas de botões, umas tinham até alavanca e tinha modelos muito parecidos com os usados pelos personagens de Jornada nas Estrelas, toda vez que o capitão Kirk dava um esporro no Senhor Spock ou se ouvia lá atrás a risada do Doutor Mccoy. Internet então era coisa do exército americano pra espionar e saber o que rolava na Rússia(antiga União Soviética) nos mais agudos tempos da Guerra Fria.
Pois foi nessa época que um moleque, um jovem recém saído das baladas dos Bee Gees nas primeiras FMS da época, tornou-se o Professor Pardal da nova era midiática, e revolucionou o mundo transformando aqueles monstros metálicos e esquisitos naquilo que conhecemos hoje como computador(primeiro os desktops ou computadores de mesa, depois vieram os notebooks). Nascia a Apple. Como um Adão atrevendo-se a comer da árvore do conhecimento, Jobs intrometeu-se no mundo das máquinas, tornando-as acessíveis a nós pobres mortais. Sem Jobs não haveria portanto Keanu Reeves interpretando Neo em Matrix. Sem Jobs não haveria computadores em escritórios, acabando com a rotina maçante das máquinas de escrever e suas borrachas ou erroex. Sem Jobs o mundo virtual não existiria, e a vida poderia ser bem mais chata, ou, no mínimo, primitiva!
Muito se fala do Bill Gates, de como ele revolucionou a informática criando o Windows, de como essa empresa foi a logomarca da última década e de como pessoas como eu e você, hoje aos quarenta ou com trinta e poucos anos aprenderam o bê-a-bá da computação usando o produto do figurão Gates. Ocorre que poucos se lembram do rapaz da maçã. Durante esse período, quando achavam que Jobs tinha jogado a toalha ante o monopólio da Microsoft, o azarão correu por fora, comendo pelas beiradas, caladinho engolindo sapos enquanto sua mente engenhosa pensava naquilo que só aquele homem sabia efetivamente fazer, ou seja: engenhocas.
Se eu fosse falar aqui e conectar com outras áreas tratando de comparações, naturalmente revelarei minhas preferências. E aí vai: pra mim Jobs e Gates estão como que Piquet para Senna na fórmula 1 dos computadores. Tá certo que vocês vão me dizer que Airton Senna virou ídolo, mito, herói, sobretudo depois de ter batido as botas na curva Tamborello ( que Deus o tenha!), mas, assim como Piquet, Jobs foi pioneiro e tinha mais talento, enquanto Bill Gates ficou com toda a fama e os milhões a mais. Se fosse na música a gente podia comparar ambos como: de um lado os Beatles, e de outro os Rolling Stones. Os Beatles acabaram logo depois de muita briga, e a empresa do Gates também brigou com a mídia e a opinião pública após ser acusado e processado por monopólio, acabando por sair "à francesa" do mundo dos negócios. Já Jobs, mesmo velho e doente pra burro, assim como os Stones de Keith Richards com sua tosse expectorante, permaneceram em cena, e devem permanecer até o dia que abotoarem de vez e subirem aos céus ( ou será o inferno no caso da banda de Mick Jagger?). Até na vestimenta Jobs inovou. Num tempo de executivos classudos de terno e gravata, com cara de nerd, clones ou gêmeos idênticos a um certo Bill Gates, Jobs preferiu o expediente de trabalhar sem gravata, sempre de camiseta, calça jeans e par de tênis, acompanhado de sua indefectível garrafinha de água mineral.
Por falar em música, Jobs revolucionou de novo não só a tecnologia, como também o mundo da música quando, aproveitando-se do surgimento do MP3, criou aquele aparelhinho simpático, do tamanho de um celular, que hoje a gente vê pendurado no ouvido de todo mundo, seja no metrô de um ambiente urbano como São Paulo ou nos cafundós do Judas como a divisa do Brasil com o Uruguai, como Chuí. Sim, eu estou falando deles, os populares, simples mas sofisticados I-Pods.
Na era da sociedade global digitalizada até o Obama tem o seu para escutar suas músicas de Bob Dylan e Stevie Wonder. O cara conseguiu sacudir a indústria musical, aposentar o CD, e ainda por cima dar um toque nostálgico de revival através de uma nova safra de aparelhos de música que lembram os antigos walkmen, também típicos da aludida década de setenta. Quem é que precisa comprar CD em loja agora se você pode baixar tudinho pela internet ou gravar no seu computador de um amigo e armazenar milhares e milhares de música num aparelho que cabe na palma de sua mão? Graças a tecnologia inventada (ou no mínimo aproveitada) pela Apple, acabaram-se aquelas infernais prateleiras onde eu nunca achava o meu disco predileto, mesmo que organizasse tudo em ordem alfabética (uma verdadeira heresia para os autênticos colecionadores). Através de um verdadeiro jukebox portátil, qualquer um virou seu próprio DJ, abalando e ainda por cima cativando umas gatinhas ao chegar nas festas ou nos bons pedaços da garotada levando um trambolho daqueles, ligando numa tomada e num amplificador, e botando o som pra rolar a noite inteira, por horas, quem sabe por dias, semanas, ou até mesmo meses. Como poderia ter dito o filósofo Zeca Baleiro:"Kd vinil, quando é que tu vai comprar I-Pod?"
Já sei o que responder quando alguém quiser me perguntar se posso tocar sua música predileta:"Ihhh! Pod!" Depois de revolucionar o mundo da música, Steve Jobs acabou também por se intrometer no mundo da velha comunicação telefônica, fazendo um verdadeiro mosaico, uma autêntica colagem das mídias existentes criando o I-phone. Apesar do preço ainda salgadinho, quem é que não quer ter um aparelho utilitário que funcione ao mesmo tempo como telefone, toca-discos, aparelho de vídeo, câmera fotográfica, navegador de internet, e, quem sabe um dia, até fazer cafézinho? Só faltava ao homem entrar no lucrativo mercado das sex shops, revolucionando o ramo, e também encontrar uma utilidade sexual para suas modernas invenções, se é que já não tem.
É simplesmente um mito no mundo corporativo haver pessoas insubstituíveis. Claro que isso se aplica a funcionários e subordinados, mas não ao dono da empresa. Sobretudo se esse dono é um grande inventor quanto Jobs. O cara, que tem trabalho até no nome ("job"), botou a cuca criativa pra funcionar e proporcionou ao mundo uma série de invenções que, ao contrário da aviação ou da indústria das armas, poupou de trantornos e aborrecimentos muita gente. Será de fato uma perda irrecuperável para a empresa Apple a perda de seu principal protagonista. O que será da Apple sem Steve Jobs? O que seria do Queen sem Fred Mercury ou do Legião Urbana sem Renato Russo? Aí fica difícil, e muito sem graça!
E tem mais. Tô doido pra comprar meu I-phone! Viva a tecnologia! Viva a maçã! Que Deus te abençoe e cuide da tua saúde, Jobs!
Mas por que falar desse sujeito nas conexões deste blog? Pra quem não conhece a história do cara, não é do meio corporativo ( assim como eu não sou) ou tá pouco se lixando pra computadores ou pro que diabo é Apple, informo que Steve Jobs não é apenas mais um executivo bem sucedido norte-americano. Na verdade foi ele que, em 1977 inventou o computador pessoal, o personal computer, ou simplesmente PC.
Para os mais jovens que não conhecem isso, numa época em que crianças e adolescentes (entre eles eu) iam para os cinemas se encantar com Guerra nas Estrelas de George Lucas, na década de 70 da novela Dancing Days (ai Sônia Braga, que saudade!) dos tempos da discoteca, dos seriados Kojac ou Baretta na televisão, com o fim do Vila Sésamo, no tempo do uso dos cigarros Continental e a efervescência de Opalas, Caravans e Mavericks no trânsito, computador ainda era sinônimo de filme de ficção científica. Eram aquelas latas de aço enormes, repletas de botões, umas tinham até alavanca e tinha modelos muito parecidos com os usados pelos personagens de Jornada nas Estrelas, toda vez que o capitão Kirk dava um esporro no Senhor Spock ou se ouvia lá atrás a risada do Doutor Mccoy. Internet então era coisa do exército americano pra espionar e saber o que rolava na Rússia(antiga União Soviética) nos mais agudos tempos da Guerra Fria.
Pois foi nessa época que um moleque, um jovem recém saído das baladas dos Bee Gees nas primeiras FMS da época, tornou-se o Professor Pardal da nova era midiática, e revolucionou o mundo transformando aqueles monstros metálicos e esquisitos naquilo que conhecemos hoje como computador(primeiro os desktops ou computadores de mesa, depois vieram os notebooks). Nascia a Apple. Como um Adão atrevendo-se a comer da árvore do conhecimento, Jobs intrometeu-se no mundo das máquinas, tornando-as acessíveis a nós pobres mortais. Sem Jobs não haveria portanto Keanu Reeves interpretando Neo em Matrix. Sem Jobs não haveria computadores em escritórios, acabando com a rotina maçante das máquinas de escrever e suas borrachas ou erroex. Sem Jobs o mundo virtual não existiria, e a vida poderia ser bem mais chata, ou, no mínimo, primitiva!
Muito se fala do Bill Gates, de como ele revolucionou a informática criando o Windows, de como essa empresa foi a logomarca da última década e de como pessoas como eu e você, hoje aos quarenta ou com trinta e poucos anos aprenderam o bê-a-bá da computação usando o produto do figurão Gates. Ocorre que poucos se lembram do rapaz da maçã. Durante esse período, quando achavam que Jobs tinha jogado a toalha ante o monopólio da Microsoft, o azarão correu por fora, comendo pelas beiradas, caladinho engolindo sapos enquanto sua mente engenhosa pensava naquilo que só aquele homem sabia efetivamente fazer, ou seja: engenhocas.
Se eu fosse falar aqui e conectar com outras áreas tratando de comparações, naturalmente revelarei minhas preferências. E aí vai: pra mim Jobs e Gates estão como que Piquet para Senna na fórmula 1 dos computadores. Tá certo que vocês vão me dizer que Airton Senna virou ídolo, mito, herói, sobretudo depois de ter batido as botas na curva Tamborello ( que Deus o tenha!), mas, assim como Piquet, Jobs foi pioneiro e tinha mais talento, enquanto Bill Gates ficou com toda a fama e os milhões a mais. Se fosse na música a gente podia comparar ambos como: de um lado os Beatles, e de outro os Rolling Stones. Os Beatles acabaram logo depois de muita briga, e a empresa do Gates também brigou com a mídia e a opinião pública após ser acusado e processado por monopólio, acabando por sair "à francesa" do mundo dos negócios. Já Jobs, mesmo velho e doente pra burro, assim como os Stones de Keith Richards com sua tosse expectorante, permaneceram em cena, e devem permanecer até o dia que abotoarem de vez e subirem aos céus ( ou será o inferno no caso da banda de Mick Jagger?). Até na vestimenta Jobs inovou. Num tempo de executivos classudos de terno e gravata, com cara de nerd, clones ou gêmeos idênticos a um certo Bill Gates, Jobs preferiu o expediente de trabalhar sem gravata, sempre de camiseta, calça jeans e par de tênis, acompanhado de sua indefectível garrafinha de água mineral.
Por falar em música, Jobs revolucionou de novo não só a tecnologia, como também o mundo da música quando, aproveitando-se do surgimento do MP3, criou aquele aparelhinho simpático, do tamanho de um celular, que hoje a gente vê pendurado no ouvido de todo mundo, seja no metrô de um ambiente urbano como São Paulo ou nos cafundós do Judas como a divisa do Brasil com o Uruguai, como Chuí. Sim, eu estou falando deles, os populares, simples mas sofisticados I-Pods.
Na era da sociedade global digitalizada até o Obama tem o seu para escutar suas músicas de Bob Dylan e Stevie Wonder. O cara conseguiu sacudir a indústria musical, aposentar o CD, e ainda por cima dar um toque nostálgico de revival através de uma nova safra de aparelhos de música que lembram os antigos walkmen, também típicos da aludida década de setenta. Quem é que precisa comprar CD em loja agora se você pode baixar tudinho pela internet ou gravar no seu computador de um amigo e armazenar milhares e milhares de música num aparelho que cabe na palma de sua mão? Graças a tecnologia inventada (ou no mínimo aproveitada) pela Apple, acabaram-se aquelas infernais prateleiras onde eu nunca achava o meu disco predileto, mesmo que organizasse tudo em ordem alfabética (uma verdadeira heresia para os autênticos colecionadores). Através de um verdadeiro jukebox portátil, qualquer um virou seu próprio DJ, abalando e ainda por cima cativando umas gatinhas ao chegar nas festas ou nos bons pedaços da garotada levando um trambolho daqueles, ligando numa tomada e num amplificador, e botando o som pra rolar a noite inteira, por horas, quem sabe por dias, semanas, ou até mesmo meses. Como poderia ter dito o filósofo Zeca Baleiro:"Kd vinil, quando é que tu vai comprar I-Pod?"
Já sei o que responder quando alguém quiser me perguntar se posso tocar sua música predileta:"Ihhh! Pod!" Depois de revolucionar o mundo da música, Steve Jobs acabou também por se intrometer no mundo da velha comunicação telefônica, fazendo um verdadeiro mosaico, uma autêntica colagem das mídias existentes criando o I-phone. Apesar do preço ainda salgadinho, quem é que não quer ter um aparelho utilitário que funcione ao mesmo tempo como telefone, toca-discos, aparelho de vídeo, câmera fotográfica, navegador de internet, e, quem sabe um dia, até fazer cafézinho? Só faltava ao homem entrar no lucrativo mercado das sex shops, revolucionando o ramo, e também encontrar uma utilidade sexual para suas modernas invenções, se é que já não tem.
É simplesmente um mito no mundo corporativo haver pessoas insubstituíveis. Claro que isso se aplica a funcionários e subordinados, mas não ao dono da empresa. Sobretudo se esse dono é um grande inventor quanto Jobs. O cara, que tem trabalho até no nome ("job"), botou a cuca criativa pra funcionar e proporcionou ao mundo uma série de invenções que, ao contrário da aviação ou da indústria das armas, poupou de trantornos e aborrecimentos muita gente. Será de fato uma perda irrecuperável para a empresa Apple a perda de seu principal protagonista. O que será da Apple sem Steve Jobs? O que seria do Queen sem Fred Mercury ou do Legião Urbana sem Renato Russo? Aí fica difícil, e muito sem graça!
E tem mais. Tô doido pra comprar meu I-phone! Viva a tecnologia! Viva a maçã! Que Deus te abençoe e cuide da tua saúde, Jobs!
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
A VIDA É UM CONCURSO!
Começamos agora nossas conexões anunciando o seguinte: como todo começo de ano, começou a corrida, a verdadeira maratona dos concursos públicos em solo nacional!! Quem tiver sua apostila, oriente-se! Preparar! Carregar a tinta na caneta! Apontar para o "x" da questão! JÁAA!!!
Desde o fim dos terceirizados anos da era FHC, o governo Lula foi pródigo na realização de concursos. Bom pra contratação de mão de obra, nem tanto para o erário. Mas quem é que se preocupa? Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Estado gasta primeiro pra depois arrecadar, e, comparando com a realidade do cidadão comum hoje no Brasil (especialmente o de classe média baixa, se é que ainda existe), muitos dos que, como eu, fizeram a mesma coisa, se vêem às voltas hoje com a possibilidade dos concursos.
Concursar ou não concursar? Competir ou não competir? O concurso já tomou conta da realidade nacional e do imaginário coletivo, como se fosse uma diretriz cultural já traçada desde que nascemos. Não duvido nada que em alguns lares do país já existam mães dizendo a seus filhos: "Olhe, meu filho, cresça, estude, faça um concurso e apareça!". O concurso é a mais evidente forma de seleção natural, que bem poderia ser aplicada por Darwin em seu evolucionismo. De um lado: teríamos os primatas maiores, os concursados, os bem de vida, os estáveis profissionalmente e financeiramente, que, ainda por cima, tem que trabalhar pouco ou podem dar uma escapadinha pro cafézinho da repartição, enquanto o dinheiro certo pinga na conta no final do mês; do outro lado: os primatas não concursados, classe inferior, analfabeta, semialfabetizados ou desastrados na reforma ortográfica, ou que simplesmente não contaram (para aqueles que crêem) com uma mãozinha do cara lá de cima pra passar numa prova, ou simplesmente, para os ateus, não obtiveram a palavrinha mágica: sorte.
Fico pensando em quantos concursos passamos na vida até conseguirmos alcançar o panteão sagrado dos privilegiados com vida estável. O concurso é o test drive da vida bem sucedida. Ou será que as entrevistas de emprego no setor privado também não são um tipo de concurso?Desde a escola primária somos submetidos a concursos toda vez que somos trocados de colégio e necessitamos preencher certos requisitos, que cada instituição tem, para então ingressar na vida escolar. Na adolescência até a vida adulta, as relações afetivas também são submetidas a concurso. Quem nunca concorreu com outros garotos pelo amor ou por um simples beijo da garota desejada ou pela atenção e boa vontade do pai dela. Fico imaginando a fila, enquanto o pai solene se pronuncia publicamente em edital: "fica instaurado o prazo para os interessados se candidatarem a desposar a mão de minha filha", ou, mesmo no ato da inscrição o candidato a noivo já se ater aos pré-requisitos: grana, ter emprego fixo, ter terminado ou estar fazendo faculdade, não ser homossexual e nem impotente, e, sobretudo, manter uma relação de subordinação ou subserviência ao seu superior hierárquico, sob pena de processo disciplinar.
E quando levamos bomba nos concursos? Não vão me dizer que nunca ninguém sentiu aquela sensação de desânimo, de sabor de limão chupado ou após ter assistido um jogo do Vasco de se sentir sem eira nem beira, o coliforme fecal do cavalo de Napoleão, aquilo que o gato enterra. É! Nossa sociedade é capitalista, eu sei! Viva a livre iniciativa! Bem dizendo, iniciativa até temos, resta saber se dá em alguma coisa. Assim como se dá no setor privado, fico impressionado às vezes com o teor de formalismo cortês de certas instituições ao dispensar um contingente de candidatos, após serem excluídos do processo seletivo. Por exemplo, um dizia: "por decisão do ilustríssimo(a) ( ou magnifíco(a), ou excelentissimo(a)) senhor(a) chefe da empresa tal, decidimos que sua contratação não foi priorizada por esta nobre instituição". Ou melhor, poderiam dizer assim: " o aproveitamento de seus talentos profissionais não é, no momento, prioridade absoluta desta empresa". Que pérolas da linguagem! Que exercício bem escrito de retórica profissional! Só resta um problema: quem se f... foi você!!
É, a vida é dura, mas assim como são os homens, assim são os cadernos de provas. A caravana passa e os concursos prosseguem! Tem concurso até pra gari com filas imensas em todo o território nacional! Não é que lixo é também matéria de prova?! Fico imaginando o dia que tiver concurso para guardador de carros, e aí, mediante o resultado mal sucedido, chega o chefe da comissão encarregada do concurso e lhe diz no linguajar típico das ruas: "pois é, mano, a casa caiu, perdeu, perdeu!". E o vizinho ou o amigo do lado que já passou pela maratona e como um Lewis Hamilton dos concursos sorri feliz com aquele olhar triunfante:"pois é, meu camarada, passei em primeiro lugar, quem estuda vence!". Poxa! Mas aquelas duzentas toneladas de apostilas e livros lidos por mim, serviram pra que? Nessa hora, é momento de correr aos sebos e saber se lá ao menos você fatura uma graninha vendendo pela metade do preço o que comprou. Afinal, vai ter uma fila de candidatos querendo fazer concurso e estudar o que você leu!
E tem o concursado militante. Aquele que na propaganda do governo Lula diz, estufando o peito, que é brasileiro e não desiste nunca. Chego a pensar que, no final das contas, todo candidato a concursos é meio botafoguense. Sim! Porque pra não desistir depois de levar tanta cacetada, só sendo torcedor da Estrela Solitária mesmo!
E os concursos pra juiz! Ah! Para alguns da área jurídica o inferno de Dante dos concursos, sobretudo se o cargo é pra juiz federal. O que tolhe os nervos do concursando não é tanto o caráter das provas (difícilimas, diga-se de passagem), mas sim as cruéis e extenuantes etapas. E a etapa final? A acalentada prova oral? Aí sim o "bicho pega"! Tenho amigos que se depararam com esse atroz exercício de sadismo e crueldade animal e justamente ali, viram seu sonho do salário de mais de vinte mil mangos, carro e casa quitada e quem sabe, uma lancha nos finais de semana, naufragar diante de uma impiedosa banca examinadora. Por falar nisso, deveriam verificar se no preenchimento de requisitos do cargo de carrasco, até então função pública nos tempos do Brasil Colônia, haveria algum pré-requisito de capacidade individual que envolvesse altos graus de perversão, que pudesse hoje ser comparada a de alguns de nossos digníssimos membros de bancas examinadoras.
E tem concurso também pra servir cafézinho. Ah! Esse eu garantiria que muitas de nossas tias lá do interior, solteironas e já idosas iriam ganhar de lavada, se fosse levado em conta apenas os conhecimentos domésticos. Afinal, pra que o candidato tem que saber de português e matemática, se na verdade a única coisa que tem que fazer é preparar um café quentinho pro chefe da repartição ou da empresa?
Também existem os concursos no meio eclesiástico. Certo amigo meu pastor presbiteriano contou-me uma vez dos percalços e da exigente preparação a que se viu obrigado de sete anos de formação teológica, para enfim ser galgado ao posto máximo de autoridade sacerdotal. Sete anos? Ó Glória!!! Uma verdadeira faculdade de medicina com direito à residência. Os irmãos presbiterianos inventaram o sub-concurso do concurso, quando o seminarista além das provas é obrigado a apresentar um rendimento médio pastoral, seguido de acompanhamento e monitoramento, além de ser sabatinado semestralmente durante o curso por uma comissão de presbíteros. A OAB que babe de inveja! Exame de Ordem após faculdade de direito é fichinha!
Por fim, já que falamos tanto da institucionalidade e do meio corporativo em nossas diversas conexões, por que não falar dos concursos no meio virtual? Sim, porque hoje o mercado virtual está em franca expansão, vendedores de tudo o que existe e não existe já se acotovelam entre os teclados concorrendo pra vender seus produtos em sites, blogs, pop-ups da vida e todo tipo de publicidade dos "mercados livres" da vida. Certo dia, decidi vender alguns livros que já tinha lido de meu acervo pra arrecadar uma graninha e afugentar as baratas, e fui repreendido pela dona de um sebo, que disse que o melhor negócio seria eu tentar vender meus livros numa "estante virtual".É, só que vi ali naquele mercado outrora promissor o advento da era dos concursos em matéria de hospedagem de sites, pois tive que enfrentar um extenso cadastro e ainda tive que esperar por dias até verificar se meu credenciamento estava aprovado. É, amigos, até pra vender livro velho a gente tem que fazer concurso. Viva a sociedade globalizada! Viva o concurso!
Ué? Será que tem concurso também pra blogueiro?
Desde o fim dos terceirizados anos da era FHC, o governo Lula foi pródigo na realização de concursos. Bom pra contratação de mão de obra, nem tanto para o erário. Mas quem é que se preocupa? Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Estado gasta primeiro pra depois arrecadar, e, comparando com a realidade do cidadão comum hoje no Brasil (especialmente o de classe média baixa, se é que ainda existe), muitos dos que, como eu, fizeram a mesma coisa, se vêem às voltas hoje com a possibilidade dos concursos.
Concursar ou não concursar? Competir ou não competir? O concurso já tomou conta da realidade nacional e do imaginário coletivo, como se fosse uma diretriz cultural já traçada desde que nascemos. Não duvido nada que em alguns lares do país já existam mães dizendo a seus filhos: "Olhe, meu filho, cresça, estude, faça um concurso e apareça!". O concurso é a mais evidente forma de seleção natural, que bem poderia ser aplicada por Darwin em seu evolucionismo. De um lado: teríamos os primatas maiores, os concursados, os bem de vida, os estáveis profissionalmente e financeiramente, que, ainda por cima, tem que trabalhar pouco ou podem dar uma escapadinha pro cafézinho da repartição, enquanto o dinheiro certo pinga na conta no final do mês; do outro lado: os primatas não concursados, classe inferior, analfabeta, semialfabetizados ou desastrados na reforma ortográfica, ou que simplesmente não contaram (para aqueles que crêem) com uma mãozinha do cara lá de cima pra passar numa prova, ou simplesmente, para os ateus, não obtiveram a palavrinha mágica: sorte.
Fico pensando em quantos concursos passamos na vida até conseguirmos alcançar o panteão sagrado dos privilegiados com vida estável. O concurso é o test drive da vida bem sucedida. Ou será que as entrevistas de emprego no setor privado também não são um tipo de concurso?Desde a escola primária somos submetidos a concursos toda vez que somos trocados de colégio e necessitamos preencher certos requisitos, que cada instituição tem, para então ingressar na vida escolar. Na adolescência até a vida adulta, as relações afetivas também são submetidas a concurso. Quem nunca concorreu com outros garotos pelo amor ou por um simples beijo da garota desejada ou pela atenção e boa vontade do pai dela. Fico imaginando a fila, enquanto o pai solene se pronuncia publicamente em edital: "fica instaurado o prazo para os interessados se candidatarem a desposar a mão de minha filha", ou, mesmo no ato da inscrição o candidato a noivo já se ater aos pré-requisitos: grana, ter emprego fixo, ter terminado ou estar fazendo faculdade, não ser homossexual e nem impotente, e, sobretudo, manter uma relação de subordinação ou subserviência ao seu superior hierárquico, sob pena de processo disciplinar.
E quando levamos bomba nos concursos? Não vão me dizer que nunca ninguém sentiu aquela sensação de desânimo, de sabor de limão chupado ou após ter assistido um jogo do Vasco de se sentir sem eira nem beira, o coliforme fecal do cavalo de Napoleão, aquilo que o gato enterra. É! Nossa sociedade é capitalista, eu sei! Viva a livre iniciativa! Bem dizendo, iniciativa até temos, resta saber se dá em alguma coisa. Assim como se dá no setor privado, fico impressionado às vezes com o teor de formalismo cortês de certas instituições ao dispensar um contingente de candidatos, após serem excluídos do processo seletivo. Por exemplo, um dizia: "por decisão do ilustríssimo(a) ( ou magnifíco(a), ou excelentissimo(a)) senhor(a) chefe da empresa tal, decidimos que sua contratação não foi priorizada por esta nobre instituição". Ou melhor, poderiam dizer assim: " o aproveitamento de seus talentos profissionais não é, no momento, prioridade absoluta desta empresa". Que pérolas da linguagem! Que exercício bem escrito de retórica profissional! Só resta um problema: quem se f... foi você!!
É, a vida é dura, mas assim como são os homens, assim são os cadernos de provas. A caravana passa e os concursos prosseguem! Tem concurso até pra gari com filas imensas em todo o território nacional! Não é que lixo é também matéria de prova?! Fico imaginando o dia que tiver concurso para guardador de carros, e aí, mediante o resultado mal sucedido, chega o chefe da comissão encarregada do concurso e lhe diz no linguajar típico das ruas: "pois é, mano, a casa caiu, perdeu, perdeu!". E o vizinho ou o amigo do lado que já passou pela maratona e como um Lewis Hamilton dos concursos sorri feliz com aquele olhar triunfante:"pois é, meu camarada, passei em primeiro lugar, quem estuda vence!". Poxa! Mas aquelas duzentas toneladas de apostilas e livros lidos por mim, serviram pra que? Nessa hora, é momento de correr aos sebos e saber se lá ao menos você fatura uma graninha vendendo pela metade do preço o que comprou. Afinal, vai ter uma fila de candidatos querendo fazer concurso e estudar o que você leu!
E tem o concursado militante. Aquele que na propaganda do governo Lula diz, estufando o peito, que é brasileiro e não desiste nunca. Chego a pensar que, no final das contas, todo candidato a concursos é meio botafoguense. Sim! Porque pra não desistir depois de levar tanta cacetada, só sendo torcedor da Estrela Solitária mesmo!
E os concursos pra juiz! Ah! Para alguns da área jurídica o inferno de Dante dos concursos, sobretudo se o cargo é pra juiz federal. O que tolhe os nervos do concursando não é tanto o caráter das provas (difícilimas, diga-se de passagem), mas sim as cruéis e extenuantes etapas. E a etapa final? A acalentada prova oral? Aí sim o "bicho pega"! Tenho amigos que se depararam com esse atroz exercício de sadismo e crueldade animal e justamente ali, viram seu sonho do salário de mais de vinte mil mangos, carro e casa quitada e quem sabe, uma lancha nos finais de semana, naufragar diante de uma impiedosa banca examinadora. Por falar nisso, deveriam verificar se no preenchimento de requisitos do cargo de carrasco, até então função pública nos tempos do Brasil Colônia, haveria algum pré-requisito de capacidade individual que envolvesse altos graus de perversão, que pudesse hoje ser comparada a de alguns de nossos digníssimos membros de bancas examinadoras.
E tem concurso também pra servir cafézinho. Ah! Esse eu garantiria que muitas de nossas tias lá do interior, solteironas e já idosas iriam ganhar de lavada, se fosse levado em conta apenas os conhecimentos domésticos. Afinal, pra que o candidato tem que saber de português e matemática, se na verdade a única coisa que tem que fazer é preparar um café quentinho pro chefe da repartição ou da empresa?
Também existem os concursos no meio eclesiástico. Certo amigo meu pastor presbiteriano contou-me uma vez dos percalços e da exigente preparação a que se viu obrigado de sete anos de formação teológica, para enfim ser galgado ao posto máximo de autoridade sacerdotal. Sete anos? Ó Glória!!! Uma verdadeira faculdade de medicina com direito à residência. Os irmãos presbiterianos inventaram o sub-concurso do concurso, quando o seminarista além das provas é obrigado a apresentar um rendimento médio pastoral, seguido de acompanhamento e monitoramento, além de ser sabatinado semestralmente durante o curso por uma comissão de presbíteros. A OAB que babe de inveja! Exame de Ordem após faculdade de direito é fichinha!
Por fim, já que falamos tanto da institucionalidade e do meio corporativo em nossas diversas conexões, por que não falar dos concursos no meio virtual? Sim, porque hoje o mercado virtual está em franca expansão, vendedores de tudo o que existe e não existe já se acotovelam entre os teclados concorrendo pra vender seus produtos em sites, blogs, pop-ups da vida e todo tipo de publicidade dos "mercados livres" da vida. Certo dia, decidi vender alguns livros que já tinha lido de meu acervo pra arrecadar uma graninha e afugentar as baratas, e fui repreendido pela dona de um sebo, que disse que o melhor negócio seria eu tentar vender meus livros numa "estante virtual".É, só que vi ali naquele mercado outrora promissor o advento da era dos concursos em matéria de hospedagem de sites, pois tive que enfrentar um extenso cadastro e ainda tive que esperar por dias até verificar se meu credenciamento estava aprovado. É, amigos, até pra vender livro velho a gente tem que fazer concurso. Viva a sociedade globalizada! Viva o concurso!
Ué? Será que tem concurso também pra blogueiro?
Enquanto isso em Caracas!
Saiu na Folha de São Paulo que Hugo Chavez pretende copiar seu ídolo Fidel e também virar colunista de jornal. O presidente venezuelano alegou que pretendia escrever uma série de colunas semanais, sobre temas que remetem a sua tão autoproclamada revolução bolivariana! Para se ter uma ideia, pasmem, o primeiro texto das "Linhas Gerais de Chavez" trata de sua vivência como jogador de beisebol! É, acho que o líder venezuelano vai ter que dar muitas tacadas pra conseguir ganhar credibilidade junto as Nações Unidas. Quanto a copiar Fidel, deve ser salientado que o mitológico líder cubano encontra-se com o pé na cova, e o exercício literário, diga-se de passagem, nunca foi o seu forte. Que o digam as centenas de intelectuais e escritores postos na cadeia por Fidel, por escreverem alguma linha considerada "contra-revolucionária" ou mesmo simpática aos Estados Unidos. Não que eu seja um aguerrido anticomunista ou que antipatize com o camarada Fidel. Afinal de contas, durante anos fui um grande entusiasta da Revolução Cubana, e agora em seus 50 anos de aniversário, acho justo a história rememorar o importante fato de um punhado de guerrilheiros barbudos ter conseguido "fazer o diabo" na Sierra Maestra e ter deposto um ditador típico de uma república de bananas.
O problema é que Cuba, e corre-se o risco também a Venezuela, ainda não se ajustou a um fluxo para mim inevitável chamado abertura política e econômica, ditada pela globalização. Não se trata de arriar as calças para o capitalismo yankee, mas sim de reconhecer que os mitos envelhecem ( a exemplo de Fidel) e as ideologias também. O mundo de Karl Marx no apogeu do capitalismo industrial na Europa do século XIX, certamente não é o mesmo mundo de hoje, assim como o período histórico que proporcionou a vitória a Fidel e seus camaradas, não é o mesmo acalentado por Chavez, em seus demagógicos discursos de novo xodó da esquerda latino-americana.
Não faço aqui uma crítica desconfiada, oportunista e irresponsável, tal qual a que é feita pelos articulistas da Veja; porém não deixo de notar que a condescendência com algumas cavilações do discurso bolivariano de Chavez e a satanização da classe média que é feita em seu governo, não ganham mais respaldo de boa parte da esquerda brasileira, seja ela a esquerda institucionalizada do governo Lula, ou a outsider capitaneada por partidos como o PSOL ou o PSTU. Quando digo que Chavez passou do ponto, enfatizo necessariamente em minhas conexões, comparações com outros grandes líderes latino-americanos de vulto, como Salvador Allende, no Chile ou mesmo Lula, na atual realidade brasileira, por sua predisposição de, mesmo com os erros, estimular a boa convivência democrática dos contrários. Chavez copia em Fidel o militarismo, seja pelo apego ao uso de farda ou ao discurso xenófobo e messiânico da luta de classes, mas não tem um pingo do carisma e do charme guerrilheiro de quem levou bala escapando dos helicópteros de Fulgêncio Batista nos tempos da revolução. Além disso, como negociador Chavez se revelou mais um bom vendedor de sabonetes do que um autêntico mediador de conflitos ao se ingerir na negociação de reféns entre as FARC e o governo colombiano.
Agora, odiado pela oposição, questionado pela ONU e hostilizado pela mídia internacional, só resta a Chavez a pirueta de conseguir um terceiro mandato, nem que seja pela força das baionetas ( o que, diga-se de passagem, não é grande novidade na história política da Venezuela), pois sua tentativa de saída a la Fidel não obteve muito resultado ao tentar controlar o Congresso e calar a oposição, vide o resultado do último plebiscito. Caracas ainda não é ambiente para el paredon, ao menos ainda não é, e tomara que não seja; porém Chavez já demonstrou que juízo, ao menos de não colocar a mão na caneta, ele não tem!
Bem! Quanto as colunas de jornal que o presidente venezuelano pretende redigir, resta saber se ele vai escrever também sobre qual sua predileção de cuecas, visto a densidade, profundidade e a abrangência de conteúdo de suas missivas já apresentadas no primeiro texto anunciado. Haja saco, leitores venezuelanos!
O problema é que Cuba, e corre-se o risco também a Venezuela, ainda não se ajustou a um fluxo para mim inevitável chamado abertura política e econômica, ditada pela globalização. Não se trata de arriar as calças para o capitalismo yankee, mas sim de reconhecer que os mitos envelhecem ( a exemplo de Fidel) e as ideologias também. O mundo de Karl Marx no apogeu do capitalismo industrial na Europa do século XIX, certamente não é o mesmo mundo de hoje, assim como o período histórico que proporcionou a vitória a Fidel e seus camaradas, não é o mesmo acalentado por Chavez, em seus demagógicos discursos de novo xodó da esquerda latino-americana.
Não faço aqui uma crítica desconfiada, oportunista e irresponsável, tal qual a que é feita pelos articulistas da Veja; porém não deixo de notar que a condescendência com algumas cavilações do discurso bolivariano de Chavez e a satanização da classe média que é feita em seu governo, não ganham mais respaldo de boa parte da esquerda brasileira, seja ela a esquerda institucionalizada do governo Lula, ou a outsider capitaneada por partidos como o PSOL ou o PSTU. Quando digo que Chavez passou do ponto, enfatizo necessariamente em minhas conexões, comparações com outros grandes líderes latino-americanos de vulto, como Salvador Allende, no Chile ou mesmo Lula, na atual realidade brasileira, por sua predisposição de, mesmo com os erros, estimular a boa convivência democrática dos contrários. Chavez copia em Fidel o militarismo, seja pelo apego ao uso de farda ou ao discurso xenófobo e messiânico da luta de classes, mas não tem um pingo do carisma e do charme guerrilheiro de quem levou bala escapando dos helicópteros de Fulgêncio Batista nos tempos da revolução. Além disso, como negociador Chavez se revelou mais um bom vendedor de sabonetes do que um autêntico mediador de conflitos ao se ingerir na negociação de reféns entre as FARC e o governo colombiano.
Agora, odiado pela oposição, questionado pela ONU e hostilizado pela mídia internacional, só resta a Chavez a pirueta de conseguir um terceiro mandato, nem que seja pela força das baionetas ( o que, diga-se de passagem, não é grande novidade na história política da Venezuela), pois sua tentativa de saída a la Fidel não obteve muito resultado ao tentar controlar o Congresso e calar a oposição, vide o resultado do último plebiscito. Caracas ainda não é ambiente para el paredon, ao menos ainda não é, e tomara que não seja; porém Chavez já demonstrou que juízo, ao menos de não colocar a mão na caneta, ele não tem!
Bem! Quanto as colunas de jornal que o presidente venezuelano pretende redigir, resta saber se ele vai escrever também sobre qual sua predileção de cuecas, visto a densidade, profundidade e a abrangência de conteúdo de suas missivas já apresentadas no primeiro texto anunciado. Haja saco, leitores venezuelanos!
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
ERA BUSH: UMA RETROSPECTIVA
GOD BLESS AMERICA!! Saí Bush, entra Obama! Até aí uma saudável e histórica passagem do poder, onde o primeiro político da cor negra assume a presidência da nação mais poderosa do planeta. Porém, como se trata de um blog cujo tema são as conexões, naturalmente elas se tornam inevitáveis ao comparar Bush com seu principal ícone Ronald Reagan ou Obama ao maior expoente político de toda a história norte-americana, Abraham Lincoln. Afinal, no Brasil Lula já tentou se comparar a Vargas ou a JK, herdando do primeiro a pretensão de passar para a história como o estadista que mais passou tempo no poder (vide as especulações sobre o terceiro mandato), mas que teve o maior índice de aprovação da história das Américas num segundo mandato (mesmo com crises políticas domésticas de primeiro mandato, como o "mensalão" ou a avassaladora crise econômica mundial atual).
Bush herdou de Reagan a retórica conservadora e a fome neoliberal, contribuindo não como o Reagan para o fortalecimento de um modelo político, econômico e cultural, mas sim para seu colapso ou deterioração. Quem duvida é só ver no campo político do que resultou sua ideologia dos "Falcões" na intervenção militar no Afeganistão ou no Iraque, ou sua política pró-Israel no Oriente Médio, que só contribuiu para rasgar de vez o tratado de Oslo, firmado uma década antes, numa desiludida trégua entre israelenses e palestinos. A política interna não foi melhor no âmbito cultural, pois sua defesa do ensino do criacionismo nas escolas (revelando bem sua opção religiosa fundamentalista), muito ao sabor do desejo da direita conservadora norte-americana, ruiu diante dos baixos índices de escolaridade e da constante evasão escolar, sobretudo de negros e latinos, engrossando as ilícitas camadas da marginalidade, pululando gangues juvenis nos grandes centros como Los Angeles e Nova Iorque.
No campo econômico, está aí a crise para comprovar. Não deixa de ser tragicômico ver Allen Greenspan, ex todo-poderoso representante dos banqueiros internacionais, um dos mais dedicados militantes da causa neoliberal e defensor ardoroso do capitalismo, ter que explicar a crise numa sessão do Senado Americano, confessando que já beirando os oitenta anos de idade, tudo que ele acreditava acerca da miraculosa "mão invisível do mercado" havia ruído junto com as economias de milhões de mutuários de casa própria em solo yankee, justamente em função do modelo de gestão econômica desflexibilizada adotada por Bush.
Apesar de tudo Bush deu uma grande lição no marketing político ao se reeleger, demonstrando que, em tempos de medo e de avanço do terrorismo internacional, com a queda das Torres Gêmeas nos atentados de 2001, bastava bancar o cowboy, do alto de sua mesa na Casa Branca, falar com o sotaque texano do eleitorado branco e interiorano médio, além de falar fluentemente em espanhol para as comunidades latinas, para dizer que ele, o grande "W", estaria ali para ser o super-herói na causa da segurança nacional e na defesa do mundo contra os malvados terroritas, "inimigos da liberdade", componentes do Eixo do Mal, assim como na Califórnia o eleitorado já tinha dito sim ao eterno Exterminador do Futuro, Arnold Scharwezenneger. Sim! Porque americano adora televisão e cinema, e não deixa de adular seus ícones culturais, seja na sétima arte ou no esporte. E como um Chuck Norris da globalização, Bush pegou em armas e foi a luta, não se preocupando com os gastos trilionários em armamento e nos lucros exorbitantes da indústria armamentista, e nem no prejuízo moral de não ter conseguido capturar em toda sua gestão, o inimigo público número 1, o doutor Fu Manchu, o bicho-papão de todo americano médio comedor de cheese burguer: Osama Bin Laden. Sobrou pro Saddam! Resta lembrar que o discurso fanfarrão do político "daquilo roxo", que num messiassismo de ocasião promete botar pra quebrar nos homens maus, ainda ganha boa repercussão nas eleições aqui no Brasil em muitos grotões do país, especialmente no Nordeste brasileiro. Vide a eleição de uma bela e jovem deputada em Natal, no Rio Grande do Norte, herdeira do legado político e do canal de televisão de seu pai, falecido senador da República e amigo dos filhotes da ditadura, que com o mesmo discurso conservador de "mulher-macho", contrária a tudo o que está aí, logrou êxito em uma capital que ao mesmo tempo que ostenta as maiores rotas de turismo do país, também tristemente adorna seu histórico como uma das capitais com um dos maiores índices de prostituição infanto-juvenil, lavagem de dinheiro, super-faturamento de obras e tráfico de drogas.
Enquanto isso, no mundo, Bin Laden fazia pilhéria do fracasso americano em alguma gruta paquistanesa, dando entrevistas a torto e direito no canal Al-Jazeera, enquanto só restava a George W. seu pacotinho de Donuts entre um e outro pronunciamento oficial. Na época em que a esquerda norte-americana não conseguia viabilzar uma candidatura viável que vencesse o filho de Bush pai, o que se viu foi o fracasso eleitoral de 4 anos atrás, quando foi colocado um insosso John Carry pra se digladiar com Bush. Mas foi nessa mesma época que se gerava o mito Barack Obama. Sim! Porque Obama é, nos dizeres de Maquiavel, o político de virtu que soube aproveitar a hora da fortuna. Não se pode dizer que Obama foi uma cria de Bush face sua biografia, carisma e oratória inigualáveis, mas que o presidente que saiu agora ajudou, ajudou. Assim como Micarla de Souza em Natal, Obama soube esperar e fazer campanha subterraneamente nas instâncias do partido, fazendo crescer o seu nome através de vídeos no You Tube e de blogs na internet, assim como sua correlata potiguar soube utilizar muito bem do canal de TV que lhe pertencia, nos quatro anos anteriores ao pleito eleitoral natalense. Viva a sociedade virtual da era da globalização! "Enquanto isso, na sala de justiça", o conservadorismo dos lacaios de Bush os tornou míopes para uma forma de difusão de seus valores que não passasse por pronunciamentos oficiais ou pela difusão de seu modelo de ver a vida nas escolas públicas do país. Obama ganhou por que tem talento, sem dúvida, mas também porque soube aliar o discurso do novo, não só associado a sua condição de raça, como primeiro afro-descendente a ganhar uma eleição pra presidente em um país racista, mas também como cidadão do mundo, filho do mundo globalizado, que através de uma política de cotas criada quarenta anos atrás, a partir dos movimentos civis de negros como Luther King, era o representante de um povo já não mais identificado com aquele velho estereótipo do americano yankee branco, puritano, de chapéu de cowboy, comedor de fast-food e fã de baseball , mas sim de um povo miscigenado, globalizado ao extremo, inter-relacionado, inter-conectado a um mundo que, necessariamente, não representava as aspirações do american way of life.
Bush deixou para Obama um triste legado, isto sim, um horroroso abacaxi, difícil de descascar; porém Bush fica para a história não só como um dos piores presidentes norte-americanos, mas também aquele que por sua tosca biografia de um filhinho de papai que acabou chegando lá, ser um modelo inverso do nosso presidente Lula, mas que talvez em função disso mantenham uma curiosa simpatia mútua. Ambos são populistas, ambos falam a linguagem do povão, ambos falaram muitas asneiras durante suas gestões, mas a diferença é que um saí ovacionado pelo povo com altíssimos indíces de aprovação, enquanto que para o outro só lhe restam os tomates. Quem sabe se Bush tentasse a presidência em algum país sul-americano, a realidade não teria sido outra?
Bush herdou de Reagan a retórica conservadora e a fome neoliberal, contribuindo não como o Reagan para o fortalecimento de um modelo político, econômico e cultural, mas sim para seu colapso ou deterioração. Quem duvida é só ver no campo político do que resultou sua ideologia dos "Falcões" na intervenção militar no Afeganistão ou no Iraque, ou sua política pró-Israel no Oriente Médio, que só contribuiu para rasgar de vez o tratado de Oslo, firmado uma década antes, numa desiludida trégua entre israelenses e palestinos. A política interna não foi melhor no âmbito cultural, pois sua defesa do ensino do criacionismo nas escolas (revelando bem sua opção religiosa fundamentalista), muito ao sabor do desejo da direita conservadora norte-americana, ruiu diante dos baixos índices de escolaridade e da constante evasão escolar, sobretudo de negros e latinos, engrossando as ilícitas camadas da marginalidade, pululando gangues juvenis nos grandes centros como Los Angeles e Nova Iorque.
No campo econômico, está aí a crise para comprovar. Não deixa de ser tragicômico ver Allen Greenspan, ex todo-poderoso representante dos banqueiros internacionais, um dos mais dedicados militantes da causa neoliberal e defensor ardoroso do capitalismo, ter que explicar a crise numa sessão do Senado Americano, confessando que já beirando os oitenta anos de idade, tudo que ele acreditava acerca da miraculosa "mão invisível do mercado" havia ruído junto com as economias de milhões de mutuários de casa própria em solo yankee, justamente em função do modelo de gestão econômica desflexibilizada adotada por Bush.
Apesar de tudo Bush deu uma grande lição no marketing político ao se reeleger, demonstrando que, em tempos de medo e de avanço do terrorismo internacional, com a queda das Torres Gêmeas nos atentados de 2001, bastava bancar o cowboy, do alto de sua mesa na Casa Branca, falar com o sotaque texano do eleitorado branco e interiorano médio, além de falar fluentemente em espanhol para as comunidades latinas, para dizer que ele, o grande "W", estaria ali para ser o super-herói na causa da segurança nacional e na defesa do mundo contra os malvados terroritas, "inimigos da liberdade", componentes do Eixo do Mal, assim como na Califórnia o eleitorado já tinha dito sim ao eterno Exterminador do Futuro, Arnold Scharwezenneger. Sim! Porque americano adora televisão e cinema, e não deixa de adular seus ícones culturais, seja na sétima arte ou no esporte. E como um Chuck Norris da globalização, Bush pegou em armas e foi a luta, não se preocupando com os gastos trilionários em armamento e nos lucros exorbitantes da indústria armamentista, e nem no prejuízo moral de não ter conseguido capturar em toda sua gestão, o inimigo público número 1, o doutor Fu Manchu, o bicho-papão de todo americano médio comedor de cheese burguer: Osama Bin Laden. Sobrou pro Saddam! Resta lembrar que o discurso fanfarrão do político "daquilo roxo", que num messiassismo de ocasião promete botar pra quebrar nos homens maus, ainda ganha boa repercussão nas eleições aqui no Brasil em muitos grotões do país, especialmente no Nordeste brasileiro. Vide a eleição de uma bela e jovem deputada em Natal, no Rio Grande do Norte, herdeira do legado político e do canal de televisão de seu pai, falecido senador da República e amigo dos filhotes da ditadura, que com o mesmo discurso conservador de "mulher-macho", contrária a tudo o que está aí, logrou êxito em uma capital que ao mesmo tempo que ostenta as maiores rotas de turismo do país, também tristemente adorna seu histórico como uma das capitais com um dos maiores índices de prostituição infanto-juvenil, lavagem de dinheiro, super-faturamento de obras e tráfico de drogas.
Enquanto isso, no mundo, Bin Laden fazia pilhéria do fracasso americano em alguma gruta paquistanesa, dando entrevistas a torto e direito no canal Al-Jazeera, enquanto só restava a George W. seu pacotinho de Donuts entre um e outro pronunciamento oficial. Na época em que a esquerda norte-americana não conseguia viabilzar uma candidatura viável que vencesse o filho de Bush pai, o que se viu foi o fracasso eleitoral de 4 anos atrás, quando foi colocado um insosso John Carry pra se digladiar com Bush. Mas foi nessa mesma época que se gerava o mito Barack Obama. Sim! Porque Obama é, nos dizeres de Maquiavel, o político de virtu que soube aproveitar a hora da fortuna. Não se pode dizer que Obama foi uma cria de Bush face sua biografia, carisma e oratória inigualáveis, mas que o presidente que saiu agora ajudou, ajudou. Assim como Micarla de Souza em Natal, Obama soube esperar e fazer campanha subterraneamente nas instâncias do partido, fazendo crescer o seu nome através de vídeos no You Tube e de blogs na internet, assim como sua correlata potiguar soube utilizar muito bem do canal de TV que lhe pertencia, nos quatro anos anteriores ao pleito eleitoral natalense. Viva a sociedade virtual da era da globalização! "Enquanto isso, na sala de justiça", o conservadorismo dos lacaios de Bush os tornou míopes para uma forma de difusão de seus valores que não passasse por pronunciamentos oficiais ou pela difusão de seu modelo de ver a vida nas escolas públicas do país. Obama ganhou por que tem talento, sem dúvida, mas também porque soube aliar o discurso do novo, não só associado a sua condição de raça, como primeiro afro-descendente a ganhar uma eleição pra presidente em um país racista, mas também como cidadão do mundo, filho do mundo globalizado, que através de uma política de cotas criada quarenta anos atrás, a partir dos movimentos civis de negros como Luther King, era o representante de um povo já não mais identificado com aquele velho estereótipo do americano yankee branco, puritano, de chapéu de cowboy, comedor de fast-food e fã de baseball , mas sim de um povo miscigenado, globalizado ao extremo, inter-relacionado, inter-conectado a um mundo que, necessariamente, não representava as aspirações do american way of life.
Bush deixou para Obama um triste legado, isto sim, um horroroso abacaxi, difícil de descascar; porém Bush fica para a história não só como um dos piores presidentes norte-americanos, mas também aquele que por sua tosca biografia de um filhinho de papai que acabou chegando lá, ser um modelo inverso do nosso presidente Lula, mas que talvez em função disso mantenham uma curiosa simpatia mútua. Ambos são populistas, ambos falam a linguagem do povão, ambos falaram muitas asneiras durante suas gestões, mas a diferença é que um saí ovacionado pelo povo com altíssimos indíces de aprovação, enquanto que para o outro só lhe restam os tomates. Quem sabe se Bush tentasse a presidência em algum país sul-americano, a realidade não teria sido outra?
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
ESTÉTICA DO DESABAMENTO: EM SÃO PAULO, ATÉ O TETO DA IGREJA DESABA!
Como diria a antológica canção do grupo musical paulista Premeditando o Breque ( numa sarcástica paródia de Sinatra): "é sempre lindo andar na cidade de São Paulo!". O grande problema de se andar hoje na metrópole paulistana é correr o risco de enfrentar desabamentos ou cair num buraco. Sabemos que por sua localização geográfica privilegiada, o Brasil é uma das regiões do mundo supostamente a salvo de cataclismos naturais como os terremotos, mas parece que não é preciso isso, segundo a lógica de gestão de nossos administradores públicos, para que a terra comece a tremer ou o teto de grandes edifícios desabe sobre nossas cabeças. Vide o exemplo da tragédia das obras do metrô paulista, onde num fatídico e ainda não esquecido dia 12 de janeiro de 2007, o cotidiano de engarrafamentos, helicópteros, filas e poluição do paulistano médio foi abalado por uma novidade digna dos filmes de cinema-catástrofe dos anos setenta. Naquele dia o túnel das obras da estação Pinheiros de metrô desabou, tragando tudo o que havia a seu redor. Numa fração de segundos, carros, caminhões, micro-ônibus foram engolidos pela terra e sete pessoas morreram tristemente soterradas, além de mais de duzentas pessoas perderem suas casas. Após isso, o sossego virou lenda ou conto da carochinha nas estorinhas que os pais contam para seus filhos dormirem, após colocarem o tapa-ouvidos, num cotidiano noturno de batida de bate-estacas, na já nem tão sonolenta assim metrópole paulista.
Na semana passada, após dois anos de intensa especulação sobre a responsabilidade do governo estadual tucano no desastre de 2007, como também acerca do papel dos membros da Companhia do Metrô, e dos representantes das empreiteiras integrantes do consórcio responsável pela obra, o Ministério Públicou denunciou 12 profissionais, prováveis 12 "bois de piranhas", os 12 condenados pela opinião pública em um desastre cujas proporções e grau de responsabilidade é bem maior do que os limites estabelecidos pela lei. Dizem que o assunto ainda é tabu e motivo de cochichos no Palácio dos Bandeirantes ou fator catalisador de gerar pigarros no excenlentíssimo chefe do Executivo.
Somando-se a isso, ontem, dia 19 de janeiro (macabra coincidência os grandes desabamentos em São Paulo ocorrerem no primeiro mês do ano?), os olhos dos expectadores brasileiros ficaram chocados ao ver a televisão, com mais uma das já cotidianas grandes tragédias nacionais desde as enchentes do final do ano passado em Santa Catarina. Desta vez, foi num lugar supostamente a salvo das maldades do homem, pois se tratava de um templo religioso, um edifício de Deus, um solo sagrado que, para os fervorosos que acreditam, deveria estar livre da ganância, da incompetência e da idiotice humana. Não foi isso que aconteceu! O teto do templo central da Igreja Renascer simplesmente desabou, levando consigo de forma antecipada para os céus mais 7 vidas tristemente encerradas (será que é coincidência que o número de mortos nas duas tragédias seja ímpar, e sempre crescendo em pequena progressão geométrica?). Apressaram-se em correr para o local, sob os flashes e holofotes da mídia, o governador José Serra, acompanhado de seu novo pupilo, o prefeito reeleito Gilberto Kassab. Para Serra, "o céu simplesmente caiu", como ele declarou em entrevista logo após o incidente. Resta saber qual o grau da parcela de responsabilidade da prefeitura, aliada declarada do governador em sua eterna pretensão presidencial, no tocante à fiscalização da segurança acerca da construção do templo. Afinal, tudo que se constrói em São Paulo, com exceção dos barracos de papelão dos sem-teto, necessita de alvará da prefeitura! Nesse momento de dor dos familiares pela perda de seus entes queridos, o céu a que se refere o nobre governador paulista provavelmente não é de brigadeiro, e resta perguntar se alguns incautos, ao se precipitar em isentar o poder público de responsabilidade, não vão alegar que os pobres fiéis da Renascer acabaram por ser vítimas de uma espécie de castigo divino, dadas as denúncias de falcatruas e a consequente prisão norte-americana dos principais fundadores da Igreja, os bispos Sonia e Estevam Hernandez. Tomara que o dízimo milionário que o jogador Kaká costuma depositar nos cofres da igreja seja suficiente para atender os feridos da tragédia, e quem sabe consolar as famílias, que muito provavelmente só estavam ali naquele templo, numa noite de domingo ,para tentar se afastar dos pecados do mundo, e foram vítimas do maior pecado que pode atingir aqueles mais necessitados a quem se destina os recursos públicos: a negligência.
Na semana passada, após dois anos de intensa especulação sobre a responsabilidade do governo estadual tucano no desastre de 2007, como também acerca do papel dos membros da Companhia do Metrô, e dos representantes das empreiteiras integrantes do consórcio responsável pela obra, o Ministério Públicou denunciou 12 profissionais, prováveis 12 "bois de piranhas", os 12 condenados pela opinião pública em um desastre cujas proporções e grau de responsabilidade é bem maior do que os limites estabelecidos pela lei. Dizem que o assunto ainda é tabu e motivo de cochichos no Palácio dos Bandeirantes ou fator catalisador de gerar pigarros no excenlentíssimo chefe do Executivo.
Somando-se a isso, ontem, dia 19 de janeiro (macabra coincidência os grandes desabamentos em São Paulo ocorrerem no primeiro mês do ano?), os olhos dos expectadores brasileiros ficaram chocados ao ver a televisão, com mais uma das já cotidianas grandes tragédias nacionais desde as enchentes do final do ano passado em Santa Catarina. Desta vez, foi num lugar supostamente a salvo das maldades do homem, pois se tratava de um templo religioso, um edifício de Deus, um solo sagrado que, para os fervorosos que acreditam, deveria estar livre da ganância, da incompetência e da idiotice humana. Não foi isso que aconteceu! O teto do templo central da Igreja Renascer simplesmente desabou, levando consigo de forma antecipada para os céus mais 7 vidas tristemente encerradas (será que é coincidência que o número de mortos nas duas tragédias seja ímpar, e sempre crescendo em pequena progressão geométrica?). Apressaram-se em correr para o local, sob os flashes e holofotes da mídia, o governador José Serra, acompanhado de seu novo pupilo, o prefeito reeleito Gilberto Kassab. Para Serra, "o céu simplesmente caiu", como ele declarou em entrevista logo após o incidente. Resta saber qual o grau da parcela de responsabilidade da prefeitura, aliada declarada do governador em sua eterna pretensão presidencial, no tocante à fiscalização da segurança acerca da construção do templo. Afinal, tudo que se constrói em São Paulo, com exceção dos barracos de papelão dos sem-teto, necessita de alvará da prefeitura! Nesse momento de dor dos familiares pela perda de seus entes queridos, o céu a que se refere o nobre governador paulista provavelmente não é de brigadeiro, e resta perguntar se alguns incautos, ao se precipitar em isentar o poder público de responsabilidade, não vão alegar que os pobres fiéis da Renascer acabaram por ser vítimas de uma espécie de castigo divino, dadas as denúncias de falcatruas e a consequente prisão norte-americana dos principais fundadores da Igreja, os bispos Sonia e Estevam Hernandez. Tomara que o dízimo milionário que o jogador Kaká costuma depositar nos cofres da igreja seja suficiente para atender os feridos da tragédia, e quem sabe consolar as famílias, que muito provavelmente só estavam ali naquele templo, numa noite de domingo ,para tentar se afastar dos pecados do mundo, e foram vítimas do maior pecado que pode atingir aqueles mais necessitados a quem se destina os recursos públicos: a negligência.
domingo, 18 de janeiro de 2009
"Benjamin Button", nascimento, velhice e morte durante a passagem do tempo
Como bom cinéfilo sem carteirinha, fui recentemente com meus escassos trocados assistir numa sessão de sexta-feira o mais recente filme de Brad Pitt, em parceria com o diretor David Fincher, ( o mesmo que o filmou em "Seven", pra quem se recorda), chamado " O Curioso Caso de Benjamin Button". Existem filmes para se assistir sozinho, em pleno conluio existencial consigo próprio, e outros em que necessariamente o convívio com a alteridade é necessária (leia-se, levar alguém a tiracolo que pode ou não gostar do filme que você está vendo). No caso deste filme que assisti, acredito que a primeira opção foi a mais acertada, pois a sétima arte tem esse fascínio de não apenas entreter ou se entretém auxiliar na reflexão individual, ao mesmo tempo mexendo com pensamentos e sentimentos de um expectador solitário, compenetrado em suas próprias reflexões numa sala de cinema. E foi isso que pude ter ao ver a película que traz ainda o talento e a beleza da atriz Cate Blanchett.
Pra quem leu a sinopse ou já viu o filme, a estória trata dos efeitos da passagem do tempo e qual sabedoria podemos extrair disso. Ver um personagem que nasce fisicamente velho e rejuvenesce com a passagem do tempo bem podia ser roteiro de ficção científica, ou, para os mais ignorantes que não entendem de cinema, ser "tudo mentira". Porém, é na estória adaptada de um conto de Scott Fitzgerald que encontramos uma das mais sombrias e manjadas lições da vida: um dia tudo passa e os outros se vão, inclusive você!
Alguns críticos de cinema trataram do filme como uma fábula sobre a impossibilidade do amor eterno. Eu iria mais longe ou trataria de outro enfoque, dizendo que na verdade esse amor tem que se deparar continuamente com a perda, inclusive com a perda de sua própria juventude. Poderia citar aqui o queo filósofo francês Andre Comte Sponville empregou no seu estudo filosófico sobre o amor, em seu "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", falando da sabedoria de Sócrates ao definir a paixão como perda passageira e o amor como permanência. Sim, pois o amor permanece, mesmo que a perda se avizinhe, e é isso que acontece quando a personagem Deise (vivida por Cate Blanchett) resigna-se já no fim da vida a cuidar do homem que ela tanto amou por anos, relegado à condição de uma criança com a mente de um velho. A velhice e a iminência da morte são vistos aqui não como uma experiência solitária, mas sim como uma vivência compartilhada. Recordo-me, nesse sentido, do livro que Norbert Elias escreveu em sua velhice, já no fim da vida, chamado "A solidão dos moribundos", onde ele explica antropologicamente que a sociedade moderna com sua técnica, seu progresso e sua ciência avançada, acaba por gerar também um consumismo da juventude, com novos métodos de rejuvenescimento, cirurgias plásticas, dietas, medicamentos, cosméticos, mas ao final, só resta ao velho moribundo o esquecimento entre tubos e mais tubos de oxigênio, na solidão de um quarto de hospital. A proximidade do fim vista na estória do filme, deixando-nos a par na narrativa das aventuras e desventuras de Benjamin em sua jornada de nascimento, vida e morte, é conduzida por uma Deise nonagenária e moribunda num leito de hospital, ao lado de sua filha. O que só demonstra a tese contrária de que a velhice e a morte podem sim ser experiências dignas, e não algo que não se possa contar ou se afastar as crianças. Não pude deixar de me lembrar ao ver na tela do cinema aquela personagem debilitada, com seus olhos se apagando ante o passar do tempo, o mesmo olhar em minha avó, morta recentemente, também com seus noventa e poucos anos, acometida de dores, entorpecida de medicamentos, com sua mente apagada e esquecida, comprometida pelo mal de Alzeheimer, sob o olhar resignado de seus parentes que ao olhar para aquela anciã, perguntavam-se se antes do fim, ela ainda conseguia reconhecer, como de um último olhar, a prole e a descendência que ela gerou durante sua longa jornada de vida.
Nascimento, vida em crescimento, velhice e morte não são necessariamente um ciclo vivido a partir da juventude, como demonstra a fábula filmada por David Fincher. O que importa durante esse ciclo são quais as lições que podemos tirar disso e, sobretudo, como lidar com a iminência do inevitável. O personagem Benjamin( de Brad Pitt) passa sua infância e adolescência vivendo num asilo de idosos, lugar natural para uma criança que nasceu dentro do corpo de um ancião. Entretanto, é nesse lugar onde a morte espreita a todo momento, naturalmente em função da idade avançada de seus moradores, é que na transitoriedade da relação entre vivos que logo vão partir, que Benjamin tem sua jornada de auto-conhecimento e amadurecimento. Afinal, porque ficamos velhos e morremos? Ele pergunta numa passagem do filme. Eis que a resposta que recebe diz que é justamente por isso que damos importância às pessoas que vivem conosco, pois se elas não partissem, nós nunca saberíamos o quanto elas são importantes para nós.
Pra quem leu a sinopse ou já viu o filme, a estória trata dos efeitos da passagem do tempo e qual sabedoria podemos extrair disso. Ver um personagem que nasce fisicamente velho e rejuvenesce com a passagem do tempo bem podia ser roteiro de ficção científica, ou, para os mais ignorantes que não entendem de cinema, ser "tudo mentira". Porém, é na estória adaptada de um conto de Scott Fitzgerald que encontramos uma das mais sombrias e manjadas lições da vida: um dia tudo passa e os outros se vão, inclusive você!
Alguns críticos de cinema trataram do filme como uma fábula sobre a impossibilidade do amor eterno. Eu iria mais longe ou trataria de outro enfoque, dizendo que na verdade esse amor tem que se deparar continuamente com a perda, inclusive com a perda de sua própria juventude. Poderia citar aqui o queo filósofo francês Andre Comte Sponville empregou no seu estudo filosófico sobre o amor, em seu "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", falando da sabedoria de Sócrates ao definir a paixão como perda passageira e o amor como permanência. Sim, pois o amor permanece, mesmo que a perda se avizinhe, e é isso que acontece quando a personagem Deise (vivida por Cate Blanchett) resigna-se já no fim da vida a cuidar do homem que ela tanto amou por anos, relegado à condição de uma criança com a mente de um velho. A velhice e a iminência da morte são vistos aqui não como uma experiência solitária, mas sim como uma vivência compartilhada. Recordo-me, nesse sentido, do livro que Norbert Elias escreveu em sua velhice, já no fim da vida, chamado "A solidão dos moribundos", onde ele explica antropologicamente que a sociedade moderna com sua técnica, seu progresso e sua ciência avançada, acaba por gerar também um consumismo da juventude, com novos métodos de rejuvenescimento, cirurgias plásticas, dietas, medicamentos, cosméticos, mas ao final, só resta ao velho moribundo o esquecimento entre tubos e mais tubos de oxigênio, na solidão de um quarto de hospital. A proximidade do fim vista na estória do filme, deixando-nos a par na narrativa das aventuras e desventuras de Benjamin em sua jornada de nascimento, vida e morte, é conduzida por uma Deise nonagenária e moribunda num leito de hospital, ao lado de sua filha. O que só demonstra a tese contrária de que a velhice e a morte podem sim ser experiências dignas, e não algo que não se possa contar ou se afastar as crianças. Não pude deixar de me lembrar ao ver na tela do cinema aquela personagem debilitada, com seus olhos se apagando ante o passar do tempo, o mesmo olhar em minha avó, morta recentemente, também com seus noventa e poucos anos, acometida de dores, entorpecida de medicamentos, com sua mente apagada e esquecida, comprometida pelo mal de Alzeheimer, sob o olhar resignado de seus parentes que ao olhar para aquela anciã, perguntavam-se se antes do fim, ela ainda conseguia reconhecer, como de um último olhar, a prole e a descendência que ela gerou durante sua longa jornada de vida.
Nascimento, vida em crescimento, velhice e morte não são necessariamente um ciclo vivido a partir da juventude, como demonstra a fábula filmada por David Fincher. O que importa durante esse ciclo são quais as lições que podemos tirar disso e, sobretudo, como lidar com a iminência do inevitável. O personagem Benjamin( de Brad Pitt) passa sua infância e adolescência vivendo num asilo de idosos, lugar natural para uma criança que nasceu dentro do corpo de um ancião. Entretanto, é nesse lugar onde a morte espreita a todo momento, naturalmente em função da idade avançada de seus moradores, é que na transitoriedade da relação entre vivos que logo vão partir, que Benjamin tem sua jornada de auto-conhecimento e amadurecimento. Afinal, porque ficamos velhos e morremos? Ele pergunta numa passagem do filme. Eis que a resposta que recebe diz que é justamente por isso que damos importância às pessoas que vivem conosco, pois se elas não partissem, nós nunca saberíamos o quanto elas são importantes para nós.
A FAIXA DE GAZA E O TERRORISMO CONTEMPORÂNEO
Como se trata de um espaço onde tudo se conecta ou se interconecta (em respeito à reforma ortográfica) numa multidisciplinariedade ( como preferem os morinanianos adeptos da complexidade), não poderíamos deixar de iniciar os trabalhos nesse blog tratando tanto do conflito em Gaza, quanto da polêmica sobre a concessão de asilo político a Cesare Battisti, no controvertido parecer do Ministro da Justiça Tarso Genro. Em ambos os casos, a palavra "terrorismo" soou forte, como se na chamada sociedade de risco de hoje, tudo terminasse não em samba, mas sim em terrorismo. Em Gaza Israel justificou seus ataques ao povo palestino e as mortes de milhares de crianças, velhos e mulheres inocentes, alegando seu legítimo direito de defesa diante dos ataques terroristas do Hamas. Da mesma forma, do outro lado, aqueles que advogam a causa Palestina, afirmam que Israel utiliza-se do terrorismo de Estado, na forma de ataques indiscriminados a civis inocentes nos bombardeios em Gaza, num excesso criminoso em que a desproporção da reação israelense é tão grande em relação aos ataques desferidos pelos foguetes do Hamas, que na verdade o ofendido é o terrorista, e não a vítima.
E no Brasil? Enquanto o ministro das relações exteriores Celso Amorim preocupa-se em representar o Brasil no conflito do Oriente Médio e não fazer feio a nossa diplomacia, encarregada de candidatar a Pátria Amada a um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU, o mesmo ministro se aborrece com a suposta leviandade ou a "barbeiragem" diplomática de seu colega de ministério, nosso ministro da Justiça Tarso Genro, acerca da decisão do último de, contrariando as orientações do CONARE (Comitê Nacional de Refugiados) e o eminente parecer do procurador geral da república, quando o nobre ministro gaúcho decidiu não conceder a extradição de Cesare Battisti, também suposto terrorista, vinculado à extrema-esquerda italiana nos anos de chumbo, acusado de crimes enquanto compunha um grupo armado, durante a década de setenta na Itália. Não foi de se surpreender a indignação do governo italiano, acusando inclusive o Brasil do presidente Lula de ser um país conivente com o terrorismo internacional, graças ao esdrúxulo e ideológico até a raiz dos cabelos parecer do nosso digníssimo ministro da Justiça ( ideológico sim, vide qual foi o entendimento do ministro Tarso durante o Pan do Rio, em relação aos atletas cubanos que alegaram a mesma condição de refugiados políticos). Enfim, tudo descamba em terrorismo. Para o Ministério Público do Rio Grande do Sul, por exemplo, o MST faz terrorismo, assim como para o governo da Colômbia e para os EUA, as FARC são terroristas.
Não tem jeito! Estamos cercados de terroristas. Se entendermos o terrorismo todo e qualquer ato premeditamente direcionado à população civil, que provoque algum tipo de estrecimento ou comoção social, o mundo respira terrorismo. Resta dizer se somos vítimas também do terrorismo dos banqueiros e dos investidores americanos, responsáveis pela maior crise econômica dos últimos tempos desde o New Deal, após o crack da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Ou o terrorismo de Estado da era Bush com a manutenção de prisioneiros ilegais na base militar de Guantánamo, ou os governos europeus que, como a Inglaterra, tem uma polícia que persegue e mata civis inocentes tão e simplesmente por parecerem suspeitos, como ocorreu no triste caso de Jean Charles de Menezes. Ou para não ir muito longe, o terrorismo do BOPE nos morros cariocas, transformando em festa macabra com direitos a fogos de artifício o extermínio de pretos pobres e favelados dos morros cariocas, a pretexto de combate ao narcotráfico, tão alardeado no terrorismo cinematográfico bombardeado nas telas de cinema com o filme Tropa de Elite, tão bem aclamado no Festival de Berlim. Tudo é terrorismo, e só resta saber se vamos escapar ao terrorismo dos Planos de Saúde com seus aumentos de mensalidade mediante a aterrorizante situação caótica da saúde pública no país, ou o terrorismo aos cofres públicos perpetrados por antigos Lalaus ou Marcos Valérios da vida, ou modernos Daniéis Dantas, de hoje em dia. Haja tanto terrorismo!
E no Brasil? Enquanto o ministro das relações exteriores Celso Amorim preocupa-se em representar o Brasil no conflito do Oriente Médio e não fazer feio a nossa diplomacia, encarregada de candidatar a Pátria Amada a um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU, o mesmo ministro se aborrece com a suposta leviandade ou a "barbeiragem" diplomática de seu colega de ministério, nosso ministro da Justiça Tarso Genro, acerca da decisão do último de, contrariando as orientações do CONARE (Comitê Nacional de Refugiados) e o eminente parecer do procurador geral da república, quando o nobre ministro gaúcho decidiu não conceder a extradição de Cesare Battisti, também suposto terrorista, vinculado à extrema-esquerda italiana nos anos de chumbo, acusado de crimes enquanto compunha um grupo armado, durante a década de setenta na Itália. Não foi de se surpreender a indignação do governo italiano, acusando inclusive o Brasil do presidente Lula de ser um país conivente com o terrorismo internacional, graças ao esdrúxulo e ideológico até a raiz dos cabelos parecer do nosso digníssimo ministro da Justiça ( ideológico sim, vide qual foi o entendimento do ministro Tarso durante o Pan do Rio, em relação aos atletas cubanos que alegaram a mesma condição de refugiados políticos). Enfim, tudo descamba em terrorismo. Para o Ministério Público do Rio Grande do Sul, por exemplo, o MST faz terrorismo, assim como para o governo da Colômbia e para os EUA, as FARC são terroristas.
Não tem jeito! Estamos cercados de terroristas. Se entendermos o terrorismo todo e qualquer ato premeditamente direcionado à população civil, que provoque algum tipo de estrecimento ou comoção social, o mundo respira terrorismo. Resta dizer se somos vítimas também do terrorismo dos banqueiros e dos investidores americanos, responsáveis pela maior crise econômica dos últimos tempos desde o New Deal, após o crack da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Ou o terrorismo de Estado da era Bush com a manutenção de prisioneiros ilegais na base militar de Guantánamo, ou os governos europeus que, como a Inglaterra, tem uma polícia que persegue e mata civis inocentes tão e simplesmente por parecerem suspeitos, como ocorreu no triste caso de Jean Charles de Menezes. Ou para não ir muito longe, o terrorismo do BOPE nos morros cariocas, transformando em festa macabra com direitos a fogos de artifício o extermínio de pretos pobres e favelados dos morros cariocas, a pretexto de combate ao narcotráfico, tão alardeado no terrorismo cinematográfico bombardeado nas telas de cinema com o filme Tropa de Elite, tão bem aclamado no Festival de Berlim. Tudo é terrorismo, e só resta saber se vamos escapar ao terrorismo dos Planos de Saúde com seus aumentos de mensalidade mediante a aterrorizante situação caótica da saúde pública no país, ou o terrorismo aos cofres públicos perpetrados por antigos Lalaus ou Marcos Valérios da vida, ou modernos Daniéis Dantas, de hoje em dia. Haja tanto terrorismo!
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