segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

ESTÉTICA DO DESABAMENTO: EM SÃO PAULO, ATÉ O TETO DA IGREJA DESABA!

Como diria a antológica canção do grupo musical paulista Premeditando o Breque ( numa sarcástica paródia de Sinatra): "é sempre lindo andar na cidade de São Paulo!". O grande problema de se andar hoje na metrópole paulistana é correr o risco de enfrentar desabamentos ou cair num buraco. Sabemos que por sua localização geográfica privilegiada, o Brasil é uma das regiões do mundo supostamente a salvo de cataclismos naturais como os terremotos, mas parece que não é preciso isso, segundo a lógica de gestão de nossos administradores públicos, para que a terra comece a tremer ou o teto de grandes edifícios desabe sobre nossas cabeças. Vide o exemplo da tragédia das obras do metrô paulista, onde num fatídico e ainda não esquecido dia 12 de janeiro de 2007, o cotidiano de engarrafamentos, helicópteros, filas e poluição do paulistano médio foi abalado por uma novidade digna dos filmes de cinema-catástrofe dos anos setenta. Naquele dia o túnel das obras da estação Pinheiros de metrô desabou, tragando tudo o que havia a seu redor. Numa fração de segundos, carros, caminhões, micro-ônibus foram engolidos pela terra e sete pessoas morreram tristemente soterradas, além de mais de duzentas pessoas perderem suas casas. Após isso, o sossego virou lenda ou conto da carochinha nas estorinhas que os pais contam para seus filhos dormirem, após colocarem o tapa-ouvidos, num cotidiano noturno de batida de bate-estacas, na já nem tão sonolenta assim metrópole paulista.
Na semana passada, após dois anos de intensa especulação sobre a responsabilidade do governo estadual tucano no desastre de 2007, como também acerca do papel dos membros da Companhia do Metrô, e dos representantes das empreiteiras integrantes do consórcio responsável pela obra, o Ministério Públicou denunciou 12 profissionais, prováveis 12 "bois de piranhas", os 12 condenados pela opinião pública em um desastre cujas proporções e grau de responsabilidade é bem maior do que os limites estabelecidos pela lei. Dizem que o assunto ainda é tabu e motivo de cochichos no Palácio dos Bandeirantes ou fator catalisador de gerar pigarros no excenlentíssimo chefe do Executivo.
Somando-se a isso, ontem, dia 19 de janeiro (macabra coincidência os grandes desabamentos em São Paulo ocorrerem no primeiro mês do ano?), os olhos dos expectadores brasileiros ficaram chocados ao ver a televisão, com mais uma das já cotidianas grandes tragédias nacionais desde as enchentes do final do ano passado em Santa Catarina. Desta vez, foi num lugar supostamente a salvo das maldades do homem, pois se tratava de um templo religioso, um edifício de Deus, um solo sagrado que, para os fervorosos que acreditam, deveria estar livre da ganância, da incompetência e da idiotice humana. Não foi isso que aconteceu! O teto do templo central da Igreja Renascer simplesmente desabou, levando consigo de forma antecipada para os céus mais 7 vidas tristemente encerradas (será que é coincidência que o número de mortos nas duas tragédias seja ímpar, e sempre crescendo em pequena progressão geométrica?). Apressaram-se em correr para o local, sob os flashes e holofotes da mídia, o governador José Serra, acompanhado de seu novo pupilo, o prefeito reeleito Gilberto Kassab. Para Serra, "o céu simplesmente caiu", como ele declarou em entrevista logo após o incidente. Resta saber qual o grau da parcela de responsabilidade da prefeitura, aliada declarada do governador em sua eterna pretensão presidencial, no tocante à fiscalização da segurança acerca da construção do templo. Afinal, tudo que se constrói em São Paulo, com exceção dos barracos de papelão dos sem-teto, necessita de alvará da prefeitura! Nesse momento de dor dos familiares pela perda de seus entes queridos, o céu a que se refere o nobre governador paulista provavelmente não é de brigadeiro, e resta perguntar se alguns incautos, ao se precipitar em isentar o poder público de responsabilidade, não vão alegar que os pobres fiéis da Renascer acabaram por ser vítimas de uma espécie de castigo divino, dadas as denúncias de falcatruas e a consequente prisão norte-americana dos principais fundadores da Igreja, os bispos Sonia e Estevam Hernandez. Tomara que o dízimo milionário que o jogador Kaká costuma depositar nos cofres da igreja seja suficiente para atender os feridos da tragédia, e quem sabe consolar as famílias, que muito provavelmente só estavam ali naquele templo, numa noite de domingo ,para tentar se afastar dos pecados do mundo, e foram vítimas do maior pecado que pode atingir aqueles mais necessitados a quem se destina os recursos públicos: a negligência.

2 comentários:

  1. Nas falas de todas as ditas "autoridades" políticas, religiosas e institucionais de todas as espécies, a retórica é constante! Mas, de fato, solidariedade e seriedade é o q pouco se constata de fato! Haja Hipocrisia!

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  2. Quanta hipocrisia!!! Das autoridades políticas e as ditas autoridades religiosas!!!

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GAZA

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Até quando teremos que ver isso?