quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A VIDA É UM CONCURSO!

Começamos agora nossas conexões anunciando o seguinte: como todo começo de ano, começou a corrida, a verdadeira maratona dos concursos públicos em solo nacional!! Quem tiver sua apostila, oriente-se! Preparar! Carregar a tinta na caneta! Apontar para o "x" da questão! JÁAA!!!
Desde o fim dos terceirizados anos da era FHC, o governo Lula foi pródigo na realização de concursos. Bom pra contratação de mão de obra, nem tanto para o erário. Mas quem é que se preocupa? Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Estado gasta primeiro pra depois arrecadar, e, comparando com a realidade do cidadão comum hoje no Brasil (especialmente o de classe média baixa, se é que ainda existe), muitos dos que, como eu, fizeram a mesma coisa, se vêem às voltas hoje com a possibilidade dos concursos.
Concursar ou não concursar? Competir ou não competir? O concurso já tomou conta da realidade nacional e do imaginário coletivo, como se fosse uma diretriz cultural já traçada desde que nascemos. Não duvido nada que em alguns lares do país já existam mães dizendo a seus filhos: "Olhe, meu filho, cresça, estude, faça um concurso e apareça!". O concurso é a mais evidente forma de seleção natural, que bem poderia ser aplicada por Darwin em seu evolucionismo. De um lado: teríamos os primatas maiores, os concursados, os bem de vida, os estáveis profissionalmente e financeiramente, que, ainda por cima, tem que trabalhar pouco ou podem dar uma escapadinha pro cafézinho da repartição, enquanto o dinheiro certo pinga na conta no final do mês; do outro lado: os primatas não concursados, classe inferior, analfabeta, semialfabetizados ou desastrados na reforma ortográfica, ou que simplesmente não contaram (para aqueles que crêem) com uma mãozinha do cara lá de cima pra passar numa prova, ou simplesmente, para os ateus, não obtiveram a palavrinha mágica: sorte.
Fico pensando em quantos concursos passamos na vida até conseguirmos alcançar o panteão sagrado dos privilegiados com vida estável. O concurso é o test drive da vida bem sucedida. Ou será que as entrevistas de emprego no setor privado também não são um tipo de concurso?Desde a escola primária somos submetidos a concursos toda vez que somos trocados de colégio e necessitamos preencher certos requisitos, que cada instituição tem, para então ingressar na vida escolar. Na adolescência até a vida adulta, as relações afetivas também são submetidas a concurso. Quem nunca concorreu com outros garotos pelo amor ou por um simples beijo da garota desejada ou pela atenção e boa vontade do pai dela. Fico imaginando a fila, enquanto o pai solene se pronuncia publicamente em edital: "fica instaurado o prazo para os interessados se candidatarem a desposar a mão de minha filha", ou, mesmo no ato da inscrição o candidato a noivo já se ater aos pré-requisitos: grana, ter emprego fixo, ter terminado ou estar fazendo faculdade, não ser homossexual e nem impotente, e, sobretudo, manter uma relação de subordinação ou subserviência ao seu superior hierárquico, sob pena de processo disciplinar.
E quando levamos bomba nos concursos? Não vão me dizer que nunca ninguém sentiu aquela sensação de desânimo, de sabor de limão chupado ou após ter assistido um jogo do Vasco de se sentir sem eira nem beira, o coliforme fecal do cavalo de Napoleão, aquilo que o gato enterra. É! Nossa sociedade é capitalista, eu sei! Viva a livre iniciativa! Bem dizendo, iniciativa até temos, resta saber se dá em alguma coisa. Assim como se dá no setor privado, fico impressionado às vezes com o teor de formalismo cortês de certas instituições ao dispensar um contingente de candidatos, após serem excluídos do processo seletivo. Por exemplo, um dizia: "por decisão do ilustríssimo(a) ( ou magnifíco(a), ou excelentissimo(a)) senhor(a) chefe da empresa tal, decidimos que sua contratação não foi priorizada por esta nobre instituição". Ou melhor, poderiam dizer assim: " o aproveitamento de seus talentos profissionais não é, no momento, prioridade absoluta desta empresa". Que pérolas da linguagem! Que exercício bem escrito de retórica profissional! Só resta um problema: quem se f... foi você!!
É, a vida é dura, mas assim como são os homens, assim são os cadernos de provas. A caravana passa e os concursos prosseguem! Tem concurso até pra gari com filas imensas em todo o território nacional! Não é que lixo é também matéria de prova?! Fico imaginando o dia que tiver concurso para guardador de carros, e aí, mediante o resultado mal sucedido, chega o chefe da comissão encarregada do concurso e lhe diz no linguajar típico das ruas: "pois é, mano, a casa caiu, perdeu, perdeu!". E o vizinho ou o amigo do lado que já passou pela maratona e como um Lewis Hamilton dos concursos sorri feliz com aquele olhar triunfante:"pois é, meu camarada, passei em primeiro lugar, quem estuda vence!". Poxa! Mas aquelas duzentas toneladas de apostilas e livros lidos por mim, serviram pra que? Nessa hora, é momento de correr aos sebos e saber se lá ao menos você fatura uma graninha vendendo pela metade do preço o que comprou. Afinal, vai ter uma fila de candidatos querendo fazer concurso e estudar o que você leu!
E tem o concursado militante. Aquele que na propaganda do governo Lula diz, estufando o peito, que é brasileiro e não desiste nunca. Chego a pensar que, no final das contas, todo candidato a concursos é meio botafoguense. Sim! Porque pra não desistir depois de levar tanta cacetada, só sendo torcedor da Estrela Solitária mesmo!
E os concursos pra juiz! Ah! Para alguns da área jurídica o inferno de Dante dos concursos, sobretudo se o cargo é pra juiz federal. O que tolhe os nervos do concursando não é tanto o caráter das provas (difícilimas, diga-se de passagem), mas sim as cruéis e extenuantes etapas. E a etapa final? A acalentada prova oral? Aí sim o "bicho pega"! Tenho amigos que se depararam com esse atroz exercício de sadismo e crueldade animal e justamente ali, viram seu sonho do salário de mais de vinte mil mangos, carro e casa quitada e quem sabe, uma lancha nos finais de semana, naufragar diante de uma impiedosa banca examinadora. Por falar nisso, deveriam verificar se no preenchimento de requisitos do cargo de carrasco, até então função pública nos tempos do Brasil Colônia, haveria algum pré-requisito de capacidade individual que envolvesse altos graus de perversão, que pudesse hoje ser comparada a de alguns de nossos digníssimos membros de bancas examinadoras.
E tem concurso também pra servir cafézinho. Ah! Esse eu garantiria que muitas de nossas tias lá do interior, solteironas e já idosas iriam ganhar de lavada, se fosse levado em conta apenas os conhecimentos domésticos. Afinal, pra que o candidato tem que saber de português e matemática, se na verdade a única coisa que tem que fazer é preparar um café quentinho pro chefe da repartição ou da empresa?
Também existem os concursos no meio eclesiástico. Certo amigo meu pastor presbiteriano contou-me uma vez dos percalços e da exigente preparação a que se viu obrigado de sete anos de formação teológica, para enfim ser galgado ao posto máximo de autoridade sacerdotal. Sete anos? Ó Glória!!! Uma verdadeira faculdade de medicina com direito à residência. Os irmãos presbiterianos inventaram o sub-concurso do concurso, quando o seminarista além das provas é obrigado a apresentar um rendimento médio pastoral, seguido de acompanhamento e monitoramento, além de ser sabatinado semestralmente durante o curso por uma comissão de presbíteros. A OAB que babe de inveja! Exame de Ordem após faculdade de direito é fichinha!
Por fim, já que falamos tanto da institucionalidade e do meio corporativo em nossas diversas conexões, por que não falar dos concursos no meio virtual? Sim, porque hoje o mercado virtual está em franca expansão, vendedores de tudo o que existe e não existe já se acotovelam entre os teclados concorrendo pra vender seus produtos em sites, blogs, pop-ups da vida e todo tipo de publicidade dos "mercados livres" da vida. Certo dia, decidi vender alguns livros que já tinha lido de meu acervo pra arrecadar uma graninha e afugentar as baratas, e fui repreendido pela dona de um sebo, que disse que o melhor negócio seria eu tentar vender meus livros numa "estante virtual".É, só que vi ali naquele mercado outrora promissor o advento da era dos concursos em matéria de hospedagem de sites, pois tive que enfrentar um extenso cadastro e ainda tive que esperar por dias até verificar se meu credenciamento estava aprovado. É, amigos, até pra vender livro velho a gente tem que fazer concurso. Viva a sociedade globalizada! Viva o concurso!
Ué? Será que tem concurso também pra blogueiro?

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